A artista plástica Nália Agostinho vai inaugurar, esta terça-feira, a exposição de pintura “Rasgo na Névoa”, no Centro Cultural Português em Maputo. A individual conta curadoria de Jorge Dias e com texto de apresentação de José dos Remédios
Ao
fim de dois anos sem expor, Nália Agostinho regressa às individuais de pintura.
Com a mostra “Rasgo na névoa”, a artista plástica apresenta uma travessia
visual e sensível, numa tentativa de tornar visível o que muitas vezes
permanece encoberto, tanto no plano íntimo como no colectivo.
Com
curadoria de Jorge Dias, a exposição de pintura surge do desejo de artista
romper camadas de silenciamento, de confusão, de não-dito, que se acumulam
sobre o corpo, sobre a história, sobre a memória. No entanto, não se trata de
uma proposta conclusiva. Pelo contrário, é um gesto de abertura, de interrupção
do silêncio, de criação de uma fresta por onde se possa respirar, ver, sentir.
É um espaço de escuta e de presença.
Durante
a produção da individual de pintura, Nália Agostinho revela que “Aprendi a
aceitar a névoa como parte do caminho, não como um erro ou obstáculo, mas como
um território fértil de sensações e intuições. Nem tudo precisa de ser claro de
imediato”.
Segundo
disse a artista, que tem exposto em Moçambique, África do Sul, Portugal e
Espanha, o processo criativo exigiu coragem para estar no não-saber, para
habitar as ambiguidades. E confessa: “Houve momentos em que precisei de escavar
memórias, revisitar feridas, desmontar certezas. Mas foi também um tempo de
reencontro com a minha voz, com a minha própria pulsação criativa, após
períodos de bloqueio e transição. Aprendi que o rasgo nem sempre é brusco, por
vezes é lento, quase imperceptível. Mas, uma vez feito, transforma tudo à sua
volta”.
Ao
nível mais simbólico, a individual de pintura de Nália Agostinho representa o
momento em que algo se revela, mesmo que parcialmente, mesmo que por instantes.
É a fresta por onde passa a luz, o som, o corpo que se afirma. É o gesto de
romper com silenciamentos, tanto internos como externos. “A névoa, para mim,
representa o estado em que muitos de nós vivemos: entre sobrecargas emocionais,
pressões sociais, histórias interrompidas. Já o rasgo é o acto de resistência,
um gesto íntimo e político de ver e de ser vista”, reforçou a artista:
“Representa também o feminino na sua força suave, na capacidade de criar a
partir da névoa, de costurar o invisível com delicadeza, sem medo da
vulnerabilidade”.
De
acordo com o ensaísta José dos Remédios, que assina o texto de apresentação da
mostra, “Com uma determinação inabalável, identificada nos traços contínuos e
nos objectos propostos, Nália Agostinho tão-somente dá ouvidos à imaginação
criativa, que, geralmente, se complementa com a definição do corpo, mas quando
a alma é, disfarçadamente, a realização maior. Quer dizer, os acrílicos sobre
tela, combinados com carvão e pastéis, integram uma mostra movediça no lugar da
imprevisibilidade temática e estética”. E o ensaísta diz mais, ao sublinhar
que, em “‘Rasgo na névoa’, a pretensão preponderante vai além da imagem
aparente. Na verdade, o que move a artista é um conflito tácito entre os
anseios minimalistas e as realizações experimentalistas, entre a cólera e o
afecto, o caos e a esperança, claro está, que se dilui no efeito às vezes
sombrio da cor”.
No
Camões – Centro Cultural Português em Maputo, “Rasgo na névoa” estará patente
entre 29 de Julho, com inauguração às 17h30, e 15 de Agosto.
Sobre a artista
Nália
das Dores R. J. Agostinho nasceu em 1990, em Maputo. É formada em Ciências
Políticas, em Trento. Filha de amantes da música e das artes, Nália foi
estimulada desde cedo a explorar a sua criatividade e a olhar o mundo através
das diversas formas de expressão artística.
Formada
na Escola Nacional de Música, em 2006, no entanto, foi em 2018, após seu
retorno a Moçambique, que a sua verdadeira paixão pela pintura floresceu,
quando a necessidade de se expressar de maneira mais profunda e autêntica se
tornou urgente. A sua arte é um espaço de fusão, onde o visível e o invisível,
o micro e o macro, o espiritual e o terreno se encontram.
Nália
Agostinho já expôs na Casa da Cultura, no Centro Cultural Moçambicano- Alemão,
na FACIM, no 16 Neto, em Maputo; na Xavier Gallery, e na Gallery K, em
Joanesburgo, África do Sul; no Espaço Espelhos d’Agua, em Lisboa, Portugal; no
Delírio Estúdio, em Madrid, Espanha. In “O País” - Moçambique
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