Lisboa - O escritor cabo-verdiano José Luiz Tavares descreve o seu novo livro “Sonoru Tenpestadi di Fumu Flor i Flexa”, que lança domingo, 13, na cidade da Praia, como uma obra de “índole dramática, lírica e filosófica”.
A
mais recente produção poética de Tavares chega a Cabo Verde através da editora
fundada pelo autor, a Pretomau, e terá uma sessão oficial de apresentação
conduzida por Mário Loff, no largo do Memorial Amílcar Cabral, pelas 15:00, no
último dia da Grande Feira do Livro.
A
obra, totalmente escrita em língua cabo-verdiana, é constituída pelas grandes
odes corais que integravam o volume “É Ka Lobu Ki Fase”, publicado em 2022, um
livro de índole dramática, lírica e filosófica, de 400 páginas, que nem chegou
às livrarias, dado ter-se vendida toda a tiragem feita nessa altura.
Em
entrevista à Inforpress, em Lisboa, José Luiz Tavares explicou porquê a opção
de publicar agora em separado as odes corais que integravam essa obra de 2022.
“É
porque inseridas na dinâmica dramática e filosófica, muitas vezes o leitor
podia não se dar conta da complexidade e da autonomia poética daqueles poemas,
que originalmente foram escritos autonomamente e só depois enxertados nessa
obra. Agora com esta edição autónoma, com algumas modificações, o leitor terá a
oportunidade de ler o poema sem outra qualquer condicionante, sendo estas odes
a primeira tentativa conseguida de poesia de grande fôlego discursivo,
metrificado e rimado”, contou Tavares.
O
poeta, que habitualmente reside em Portugal, diz esperar que o livro seja um
“valioso contributo” para a perenidade literária da variante-matriz da língua
cabo-verdiana.
Variante-matriz
da língua, prosseguiu, que o “Ministério da Educação de Cabo Verde tenta agora
assassinar com uma engenharia bairrista de laboratório, praticado por nortistas
e estrangeiras sem vínculo afectivo com a língua materna cabo-verdiana”, numa ilegalidade
que o escritor considera ser “criminosa”, acobertado pelo “ministro da Educação
e o coordenador nacional da língua cabo-verdiana ao nível do ensino
secundário”.
Ainda
uma outra razão para esta publicação agora é, segundo o autor, o conteúdo
destes poemas: parte deles são reflexões sobre o transcurso histórico, de que
uma parte acabou de ser celebrada há poucos dias, os cinquenta anos da
independência nacional.
Para
José Luiz Tavares, este facto pesou também nessa reunião, que pode ser um
factor de significância na apreensão destes poemas, mas visando sobretudo fazer
escola entre aqueles jovens ou menos jovens, que usam a língua cabo-verdiana
como meio de expressão literária, mas não só, dado que estas criações “inflam a
língua de um vigor novo”, que vai para lá da estrita expressão literária.
“Mas
a grande peça desse livro é um manifesto (po)ético-político-filosófico, um
longo poema de cerca de vinte páginas, e que esteve na origem desse livro, que
espero venha a inspirar muitos daqueles que hoje escrevem em língua
cabo-verdiana, com maior ou menor acerto”, reforçou.
Este
livro inaugura também a colecção Noti, o “seminal livro” de Koaoberdiano
Dambará, das edições Pretomau, a editora que o poeta criou para a publicação
dos seus próprios livros e dalguns outros, cuja “qualidade possa fazer a
diferença” no cenário literário cabo-verdiano.
“Infelizmente,
apesar de a Inforpress ter noticiado o aparecimento desta editora em Fevereiro,
com o lançamento da obra de combate contra o supremacismo linguístico
diglóssico, ´Uma Selvajaria civilizacional´, nenhum órgão de imprensa em Cabo
Verde fez menção ao facto, como se em Cabo Verde nascessem editoras do tipo
todos os dias”, lamentou.
Referiu,
no entanto, que a Pretomau veio para “incomodar e deixar uma marca indelével
até onde a minha disponibilidade e paciência resistirem”.
José
Luiz Tavares nasceu no dia de Camões, 10 de Junho, em 1967, em Txonbon,
cercanias do antigo Campo de Concentração, concelho do Tarrafal, ilha de
Santiago, Cabo Verde.
Estudou
Literatura e Filosofia em Portugal, onde vive em exílio voluntário, dedicado à
sua obra.
Publicou
22 livros desde a sua estreia em 2003, com “Paraíso Apagado por um Trovão”,
que, segundo o autor, “vêm pondo a nu a mediocridade do panorama poético
cabo-verdiano, apesar dos seus inchados pergaminhos, via certo Caliban e outras
mirabílicas misérias”.
Os
seus livros integram o Plano Nacional de Leitura de Cabo Verde e de Portugal.
Está
traduzido para inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, mandarim,
neerlandês, russo, finlandês, catalão, galês e letão. Traduziu Camões e Pessoa
para a língua cabo-verdiana. In “Inforpress” – Cabo Verde
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