Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 20 de julho de 2025

Guiné-Bissau - Português foi de férias e acabou por mudar vidas no país

Um pedido da população de Cacheu a um grupo de turistas portugueses fez José Pereira mudar de vida e encontrar na cidade do norte da Guiné-Bissau um novo lar e uma empreitada de voluntariado


Natural da zona de Viana de Castelo, em Portugal, José Pereira nunca tinha estado em África e, na primeira visita que fez, ficou, tornando-se no elo com Cacheu da Associação de Cooperação com a Guiné-Bissau, uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD).

Em pouco mais de uma década, construíram a maternidade pedida pela comunidade, a casa das mães, uma casa para pessoas com deficiência, um infantário, um espaço multiusos e uma cantina.

Mais de um milhão de euros em obras, sem contar com o apoio de empresas e o trabalho voluntário que José Pereira continua a fazer em Cacheu, de onde não espera sair tão depressa, confessou à Lusa.

O empreiteiro minhoto foi de férias a Cacheu, em 2007, com um grupo de ex-combatentes portugueses na guerra colonial.

Nessa altura, contou, a população pediu-lhes uma maternidade e, a partir daí, começaram a trabalhar no projeto.

Ao fim de três anos, tinham dinheiro para começar a obra, construída em aproximadamente um ano.

Em 2011, entregaram a maternidade à comunidade e José Pereira ficou em Cacheu.

“Gostei do clima, sobretudo, e comecei a passar os meus invernos cá. Comecei a gostar disto, acabei por construir a minha casa e vivo cá mais tempo agora do que vivo lá [em Portugal]”, partilhou.

Os projetos continuaram e, depois da maternidade, no mesmo local, construíram a casa para as pessoas com deficiência e a casa das mães.

Já este ano, inauguraram, com a presença do primeiro-ministro da Guiné-Bissau, a maior de todas as obras, três blocos com infantário, um multiusos e cantina/restaurante.

“Já gastámos para cima de um milhão de euros, no total do que fizemos até hoje. Não estão contabilizadas as ofertas de muitas empresas e o trabalho”, afirmou.

No trabalho está incluída mão-de-obra, nomeadamente do próprio que participou na construção, algumas vezes sozinho.

Todo o trabalho é voluntário, salientou, apontando que, mesmo entre os membros da associação, “cada um paga as suas despesas” quando se desloca a Cacheu.

José Pereira tem ajudas de custos pela função que desempenha com um novo projeto em curso, a ampliação do centro de recurso de Cacheu, com ludoteca, biblioteca, internet e outros meios de que a população não dispõe.

A “grande recompensa” que diz ter por este trabalho é, em primeiro lugar, o impacto em indicadores que preocupam na Guiné-Bissau como a mortalidade materno-infantil.

“É quase nula, não é cem por cento, mas é quase”, garantiu, indicando que as mulheres passaram a ter condições para o parto, que não tinham, com enfermeiras e parteiras disponíveis 24 horas por dia.

“Sobretudo as mulheres que vinham das tabancas, que tinham [de andar] meio dia ou um dia para chegarem aqui a pé, não chegavam à maternidade sequer e agora chegam, tudo por causa da Casa das Mães. Já vêm atempadamente, com uma semana, duas semanas antes de parirem”, concretizou.

“E isso é uma nossa recompensa grande”, reiterou, referindo-se também às crianças guineenses que “são agradáveis, são sorridentes”.

Fazer o que for possível para ajudar esta comunidade é o propósito de José Pereira e da Associação, num país que “carece de tudo”, disse.

“Com o tempo, Cacheu já está a ficar mais ou menos apetrechado de certas coisitas e eles estão a tirar muito bom partido disso e parabéns a eles”, afirmou.

Enquanto tiver saúde e condições físicas, José Pereira promete que vai continuar com a associação, por Cacheu. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo com “Lusa”


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