O advogado Tiago Banca e o engenheiro agrónomo Sanhá Correia, ambos naturais das ilhas Bijagós, acreditam que o turismo e a publicidade à Guiné-Bissau serão reforçados com o reconhecimento pela UNESCO do arquipélago como Património Mundial Natural. Os dois técnicos reagiram, a pedido da Lusa, ao reconhecimento que deverá ser anunciado amanhã, em Paris, e que ambos afirmam ser “marco importante” na vida dos povos das ilhas Bijagós e do próprio país.
“Com
esse reconhecimento o arquipélago passa a ser um forte destino turístico
mundial, devido à beleza natural das ilhas, por um lado, e, por outro lado,
passa a ter mais divulgação a nível dos media, algo que trará benefícios para o
nosso turismo nacional”, defendeu Tiago Banca.
Filho
de pais oriundos das ilhas de Bubaque e Canhabaque, Banca só lamenta que o
arquipélago ainda esteja confrontado com “tantas dificuldades”, nomeadamente
falta de meios de transporte de ligação, de infra-estruturas condignas e água
potável.
Tiago
Banca vive e trabalha em Bissau, mas regularmente desloca-se às ilhas Bijagós
para descansar ou visitar os familiares.
O
engenheiro agrónomo, Sanhá João Correia é um activista pela conservação dos
recursos naturais e do meio ambiente, que tenta, há largos anos, levar a
mensagem da preservação em nome da Organização Não Governamental Tiniguena.
Filho de pais originários das ilhas de Canhabaque e Galinhas, Sanhá Correia
disse à Lusa que leva a mensagem da conservação a todas as 23 ilhas habitadas
do arquipélago dos Bijagós.
Sanhá,
como é conhecido, já não sabe ao certo a que ilha pertence, apenas tem
consciência de que o reconhecimento da UNESCO vai ajudar a divulgar a mensagem
da Tiniguena sobre a importância da conservação em todo o arquipélago. “Sendo
um técnico que trabalha nas ilhas Bijagós no âmbito da conservação e
desenvolvimento comunitário, essa decisão vai impactar bastante porque vai
ajudar a reforçar a capacidade do nosso trabalho, vai também permitir as
informações chegarem mais longe”, afirmou.
O
engenheiro agrónomo acredita que o reconhecimento da UNESCO vai permitir que se
conheça melhor as ilhas Bijagós a nível mundial, mas também fará com que as
organizações que trabalham na conservação dos recursos da pesca, por exemplo,
tenham mais apoios contra os pescadores clandestinos.
Correia
aponta para os pescadores de países vizinhos da Guiné-Bissau que invadem as
zonas protegidas, onde a pesca é limitada, com as suas embarcações, isto é,
desrespeitando as regras de pesca nesses locais.
Sanhá
Correia vive e trabalha nas ilhas, mas regularmente desloca-se a Bissau para
comprar víveres e receber orientações da Tiniguena sobre como sensibilizar as
populações para a conservação.
As
Bijagós são consideradas um tesouro natural e cultural da Guiné-Bissau, ainda
pouco conhecidas do turismo internacional. Com ‘resorts’ em algumas das
88 ilhas e ilhéus, a dinâmica turística existente é sustentada, sobretudo, por
expatriados de organizações internacionais a trabalhar na Guiné-Bissau. A pesca
desportiva é outro atractivo das ilhas, com maior procura de pescadores franceses
e de países francófonos.
Além
das praias atlânticas, são também chamativos das Bijagós a desova das
tartarugas, em Novembro, ou os hipopótamos na biodiversidade dos três parques
naturais das ilhas e que são o centro da candidatura a Património Mundial,
concretamente Poilão, João Vieira e Orango.
A
cultura do povo Bijagó, com o seu modo de vida tribal, em comunhão com a
natureza, distingue também as ilhas guineenses e é valorizada na candidatura a
Património Mundial.
As
ilhas, consideradas um tesouro natural e cultural, fazem parte da lista de 32
sítios de todo o mundo candidatos a Património Mundial, que vão conhecer a
decisão da UNESCO esta sexta-feira. A 47ª reunião do Comité do Património
Mundial decorre até 16 de Julho, na sede da UNESCO em Paris.
Marinheiros das Bijagós clamam por formação
Santinho
e Kaby, dois dos mais experientes marinheiros de botes que ligam a zona
continental da Guiné-Bissau às Bijagós, disseram que é preciso formar
marinheiros no âmbito do reconhecimento das ilhas como Património Mundial
Natural. “É preciso formar marinheiros para, pelo menos, conhecerem a Carta da
Navegação para que saibam quais os rios navegáveis da Guiné-Bissau”, observou
Santinho, piloto há mais de 20 anos a operar botes do Instituto da
Biodiversidade e Áreas Protegidas. Santinho Joaquim da Silva, vulgarmente
conhecido por Santinho, e Kaby, aliás, Libânio Natália Lima Lopes, operador das
embarcações da Ponta Anchaca, um dos hotéis de referência em Bubaque, antevêem
que o reconhecimento pela UNESCO fará aumentar o fluxo de turistas às ilhas
Bijagós. “Teremos mais responsabilidade. Precisamos de bons motores, coletes e
telefones. Viajar com alguém que nunca andou no mar é complicado, sobretudo
quando se apanha com o mau tempo”, observou Kaby. Além de pilotos competentes,
Santinho propõe que sejam formados guias turísticos, “conhecedores da realidade
das ilhas Bijagós” e desta forma evitar que sejam pessoas de países da
sub-região a fazer esse serviço. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”
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