Graça
Machel diz que está na hora de os negros afirmarem-se pelo seu contributo para
o desenvolvimento da humanidade, fazendo soar e ouvir a sua voz. A activista
falava num evento alusivo à sua homenagem, junto a Paulina Chiziane.
Foi
perante antigos governantes, membros dos órgãos de justiça e soberania que
Graça Machel e Paulina Chiziane foram, pela primeira vez, homenageadas na terra
que as viu nascer.
A
homenagem organizada pela Folha Verde
e parceiros tinha a razão de ser, afinal, estas duas mulheres são um orgulho
afro-moçambicano.
“É
sobejamente conhecido por toda a sociedade moçambicana que Paulina Chiziane e
Graça Machel são as nossas referências. As melhores conservadoras da nossa
integridade como mulheres. Achamos que era oportuno, apesar de todas as
vicissitudes que estamos a passar, agora, homenageá-las e agradecer-lhes por
tudo que elas têm sido para nós, os moçambicanos”, indicou Esperança Mangaze,
promotora da iniciativa.
Aliás,
Graça e Paulina já foram laureadas internacionalmente, por isso, para Esperança
Mangaze, “nada melhor que fazermos isso cá, em casa, para que elas sintam que o
esforço que têm estado a fazer e as lutas que têm estado a travar não são em
vão”.
E
uma das lutas que Graça Machel e Paulina Chiziane têm travado estão ligadas à
afirmação da raça e cultura negras pelo mundo, em particular no Brasil.
Chamada
ao pódio, a antiga Primeira-Dama de Moçambique e da África do Sul começou por
trazer uma abordagem sobre como os negros são vistos pelo mundo.
“Em
que instituições que os negros, sejam eles em África, nas Américas e em todo o
mundo, são representados pelo que são. Nós somos representados pelo que
sofremos. A nossa visibilidade é por aquilo que sofremos”, afirmou a activista
social, Graça Machel, citando alguns exemplos: “Somos refugiados, os pobres que
estamos sempre a receber a caridade de toda a gente, somos aqueles que são
analfabetos e morrem mais quando houver uma calamidade”.
Uma
situação que, segundo Graça Machel, devem ser os próprios negros a colocar o
basta!
“Sermos
nós a pintar com as nossas próprias cores, a definir com o timbre da nossa voz
sobre o que é ser cidadão do mundo, mas que coincide ser de raça negra”,
exortou Graça Machel.
E
foi por causa desta defesa pelos seus que fez com que a activista social fosse
homenageada pelo Troféu Raça Negra, no Brasil, em Novembro do ano passado.
Graça Machel só precisou de fazer perguntas para merecer o prémio.
“Apenas
no futebol e na cultura é que os negros têm visibilidade. Só visibilidade. Não
estou a dizer que têm reconhecimento e eu fiz perguntas porque me incomodava,
claramente. E porque violentam a minha mente. Porquê?”, questionou,
retoricamente, a activista social.
Pauliana
Chiziane esteve ausente no evento, mas foi representada pelo ensaísta Dionísio
Bahule, que não poupou elogios a estas duas vozes da raça e cultura negras.
“Graça
e Paulina, dois rostos com uma eucaristia do povo, isto é, dois rostos que se
dão pelo povo. De um lado Graça, que luta para que a dignidade humana seja
respeitada e tenha o básico. Doutro lado, temos a Paulina, que,
independentemente das críticas, nos desperta a reflectir sobre quem somos nós a
nível cultural”, descreveu Dionísio Bahule, ensaísta e crítico literário.
O
antigo presidente do Conselho Constitucional enalteceu, também, o papel dessas
duas mulheres na valorização da africanidade.
“Graça
Machel é um farol que brilha e ilumina a todos nós. Eu diria, em suma, tem luz
própria e só os astros têm luz própria e a Dra. tem luz própria e é, de facto,
um orgulho para todos nós, moçambicanos, e temo-la como guia. O prémio Camões
[a Paulina Chiziane] é a consagração, reconhecimento e afirmação da cultura
africana e da mulher no mundo”, elogiou Hermenegildo Gamito, antigo presidente
do Conselho Constitucional.
De
resto, foram a dança e a música moçambicanas que marcaram o dia de homenagem a
Graça Machel e a Paulina Chiziane, embaixadoras da raça e cultura negras no
mundo. Dario Cossa – Moçambique in “O País”
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