Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Brasil – Língua portuguesa é reflexo da história do país, afirma o professor Noslen Borges


O português é a língua oficial de mais de 214 milhões de brasileiros. No entanto, o país reúne uma diversidade linguística. Dados oficiais apontam 274 línguas indígenas faladas no país. Este ano, o Dia Internacional da Língua Materna ressalta a importância delas, assim como os idiomas das minorias e os chamados “não-dominantes”.

As Nações Unidas celebram a data neste 21 de fevereiro com foco na educação multilíngue e no fomento de idiomas que correm risco de desaparecer. O tema faz parte das celebrações da Década Internacional das Línguas Indígenas.


Português falado no Brasil

Segundo o último Censo Demográfico do Brasil, a população conta com mais de 800 mil indígenas de 305 diferentes etnias. Os dados da Unesco revelam que cerca de 77% dos indígenas brasileiros com mais de cinco anos falam português enquanto 33% são capazes de se comunicarem em um idioma nativo.

A ONU News conversou com o professor Noslen Borges, que é dono do maior canal de ensino de língua portuguesa do YouTube mundial, sobre o desafio do ensino do idioma, que recebe tantas influências e reflete a identidade do país.

“O grande lance das nossas línguas maternas é exatamente a história. Temos uma história importantíssima que ela está presente no nosso Brasil. E essa parte histórica não pode ser deixada de lado. Quando a gente não fomenta a aprendizagem dessas línguas tradicionais, a gente vai perdendo essa língua e não pode, porque faz parte da nossa identidade. A língua é um elemento de identidade do povo. É preciso resgatar a história, o que nós somos hoje faz parte dessa construção histórica”.

Para o professor, ensinar a língua oficial do Brasil passa por um reconhecimento histórico já que muitas palavras vêm de raízes indígenas e africanas, um reflexo do multilinguismo que deve ser valorizado e fomentado.

“Tem muitas palavras que a gente utiliza no dia a dia aqui no Brasil, por exemplo, o atabaque (instrumento musical de percussão) é uma palavra que vem do tupi-guarani e da África. Essas junções, essas palavras que vêm do que os povos africanos que vem dos povos indígenas, precisa estar vivo dentro da gente e essa história que seja escutada. E a língua é uma maneira de resgatar a história também. Então, é muito importante ter isso, fomentar isso nas escolas e fomentar não só a língua pela língua, mas a história dessa língua, mas de onde vem, porque ela importante... Porque isso faz parte da nossa formação como estrutura de povo mesmo. O povo brasileiro tem isso enraizado em si e precisa valorizar”.

Em 2019, a coordenadora da Cátedra Unesco de Direito à Educação, Nina Ranieri, contou à ONU News que em 1988 o país estabeleceu que a educação para as comunidades indígenas é bilingue, português e a língua originária.

Segundo a advogada e professora, são mais de 3 mil escolas bilíngues no Brasil e há cursos especiais em universidades federais para formar professores indígenas.

A Unesco promove abordagens bilíngues ou multilíngues baseadas na língua materna na educação, que destaca ser um fator importante para a inclusão e a igualdade. Segundo a agência da ONU, os dados mostram que isso tem um impacto positivo nos resultados de ensino e aprendizagem.

Transformações

Além das influências de diferentes povos, o português falado no Brasil tem absorvido e adaptado palavras usadas na internet e vindas da língua inglesa. Para o professor Borges, a transformação da língua é natural, mas é fundamental que o uso da linguagem esteja apropriado para cada conversa, garantindo a plena comunicação.

“Quando eu vou ensinar a língua portuguesa hoje, sim, é preciso lembrar às pessoas que existe o internetês, que tem um termo stalkear, por exemplo, que vem de uma junção do stalk, do inglês, mais a construção de um verbo. Esse neologismo que a gente faz, essa construção de novas palavras ao tempo, está o tempo todo acontecendo. [...] esse é um desafio de saber o que é aceitável, que não é aceitável porque eu acho que existe muita situação de uso”.

Popularidade da língua portuguesa

Em evidência nas plataformas sociais, o professor relata que observa que além das pessoas que tem o português como primeira língua, muitos estrangeiros querem aprender o idioma falado no Brasil.

“Com certeza de que português é pop. E eu acho que para quem está fora do Brasil, ela é mais pop do que para quem está dentro. E u vejo que tem muita gente de fora que valoriza a língua portuguesa, que é aprender a língua portuguesa e entender um pouco mais quem fala, se comunicar minimamente com a língua portuguesa. Nós ainda temos esse discurso que a nossa língua difícil, complicada...”

Ele revelou que escuta com frequência que a língua portuguesa é difícil. Por isso, em seu canal, ele leva a sério – mas de forma divertida – o objetivo de facilitar o aprendizado da língua.

“Para mim isso é uma alegria, estar fomentando e levar a língua portuguesa cada vez mais longe. Esse é um desafio meu também, poder deixar o português ainda mais pop ainda. Essa língua portuguesa que acho tão linda, tão bela e que acho que as pessoas merecem e precisam aprender, entender um pouco mais sobre ela”. ONU News – Nações Unidas


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