O
português é a língua oficial de mais de 214 milhões de brasileiros. No entanto,
o país reúne uma diversidade linguística. Dados oficiais apontam 274 línguas
indígenas faladas no país. Este ano, o Dia Internacional da Língua Materna
ressalta a importância delas, assim como os idiomas das minorias e os chamados
“não-dominantes”.
As Nações Unidas celebram a data neste 21 de fevereiro com foco na educação multilíngue e no fomento de idiomas que correm risco de desaparecer. O tema faz parte das celebrações da Década Internacional das Línguas Indígenas.
Português falado no Brasil
Segundo
o último Censo Demográfico do Brasil, a população conta com mais de 800 mil
indígenas de 305 diferentes etnias. Os dados da Unesco revelam que cerca de 77%
dos indígenas brasileiros com mais de cinco anos falam português enquanto 33%
são capazes de se comunicarem em um idioma nativo.
A
ONU News conversou com o professor Noslen Borges, que é dono do maior canal de
ensino de língua portuguesa do YouTube mundial,
sobre o desafio do ensino do idioma, que recebe tantas influências e reflete a
identidade do país.
“O
grande lance das nossas línguas maternas é exatamente a história. Temos uma
história importantíssima que ela está presente no nosso Brasil. E essa parte
histórica não pode ser deixada de lado. Quando a gente não fomenta a
aprendizagem dessas línguas tradicionais, a gente vai perdendo essa língua e
não pode, porque faz parte da nossa identidade. A língua é um elemento de
identidade do povo. É preciso resgatar a história, o que nós somos hoje faz
parte dessa construção histórica”.
Para
o professor, ensinar a língua oficial do Brasil passa por um reconhecimento
histórico já que muitas palavras vêm de raízes indígenas e africanas, um
reflexo do multilinguismo que deve ser valorizado e fomentado.
“Tem
muitas palavras que a gente utiliza no dia a dia aqui no Brasil, por exemplo, o
atabaque (instrumento musical de percussão) é uma palavra que vem do tupi-guarani
e da África. Essas junções, essas palavras que vêm do que os povos africanos
que vem dos povos indígenas, precisa estar vivo dentro da gente e essa história
que seja escutada. E a língua é uma maneira de resgatar a história também.
Então, é muito importante ter isso, fomentar isso nas escolas e fomentar não só
a língua pela língua, mas a história dessa língua, mas de onde vem, porque ela
importante... Porque isso faz parte da nossa formação como estrutura de povo
mesmo. O povo brasileiro tem isso enraizado em si e precisa valorizar”.
Em
2019, a coordenadora da Cátedra Unesco de Direito à Educação, Nina Ranieri,
contou à ONU News que em 1988 o país estabeleceu que a educação para as
comunidades indígenas é bilingue, português e a língua originária.
Segundo
a advogada e professora, são mais de 3 mil escolas bilíngues no Brasil e há
cursos especiais em universidades federais para formar professores indígenas.
A
Unesco promove abordagens bilíngues ou multilíngues baseadas na língua materna
na educação, que destaca ser um fator importante para a inclusão e a igualdade.
Segundo a agência da ONU, os dados mostram que isso tem um impacto positivo nos
resultados de ensino e aprendizagem.
Transformações
Além
das influências de diferentes povos, o português falado no Brasil tem absorvido
e adaptado palavras usadas na internet e vindas da língua inglesa. Para o
professor Borges, a transformação da língua é natural, mas é fundamental que o
uso da linguagem esteja apropriado para cada conversa, garantindo a plena
comunicação.
“Quando
eu vou ensinar a língua portuguesa hoje, sim, é preciso lembrar às pessoas que
existe o internetês, que tem um termo stalkear, por exemplo, que vem de
uma junção do stalk, do inglês, mais a construção de um verbo. Esse
neologismo que a gente faz, essa construção de novas palavras ao tempo, está o
tempo todo acontecendo. [...] esse é um desafio de saber o que é aceitável, que
não é aceitável porque eu acho que existe muita situação de uso”.
Popularidade da língua portuguesa
Em
evidência nas plataformas sociais, o professor relata que observa que além das
pessoas que tem o português como primeira língua, muitos estrangeiros querem
aprender o idioma falado no Brasil.
“Com
certeza de que português é pop. E eu acho que para quem está fora do Brasil,
ela é mais pop do que para quem está dentro. E u vejo que tem muita gente de
fora que valoriza a língua portuguesa, que é aprender a língua portuguesa e
entender um pouco mais quem fala, se comunicar minimamente com a língua
portuguesa. Nós ainda temos esse discurso que a nossa língua difícil,
complicada...”
Ele
revelou que escuta com frequência que a língua portuguesa é difícil. Por isso,
em seu canal, ele leva a sério – mas de forma divertida – o objetivo de
facilitar o aprendizado da língua.
“Para
mim isso é uma alegria, estar fomentando e levar a língua portuguesa cada vez
mais longe. Esse é um desafio meu também, poder deixar o português ainda mais
pop ainda. Essa língua portuguesa que acho tão linda, tão bela e que acho que
as pessoas merecem e precisam aprender, entender um pouco mais sobre ela”. ONU
News – Nações Unidas
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