Jesuíta natural de Caldas das Taipas vive há 53 anos naquele país
O
Presidente da República Democrática de Timor-Leste, José Ramos-Horta, visitou o
padre jesuíta João Felgueiras, que vive naquela ilha do Sudeste Asiático há
mais de 50 anos, apelidando-o de “profeta” e invocando a sua naturalidade: “Só
pode ter vindo de Guimarães”.
Através
das redes sociais, o chefe de Estado timorense lembra que o padre João é
natural de Guimarães, “cidade Berço de Portugal” e local onde “Afonso Henriques
tramou contra a mãe, consolida o poder, avança para o Sul, expulsa os Mouros e
no Ano Cristão de 1143 fundou Portugal”.
E
elogia: “Um homem de tão invejada longevidade, ainda lúcido e animado aos quase
102 anos de idade, só pode ter vindo de Guimarães herdando o ADN do Primeiro
Rei de Portugal. Em Timor-Leste há mais de 50 anos de missão de servir com
total entrega”.
Ramos-Horta adiantou que a
conversa com o padre João foi “animada” e durou “mais de uma hora”, com o
jesuíta a dirigir “uma oração” pela “saúde e sabedoria” do governante.
Em
reportagem da Agência Lusa, datada de maio de 2022, o padre João Felgueiras é
descrito da mesma forma em que hoje recebeu o Presidente daquela recente nação:
“Sentado, ao lado da pequena capela do Centro Juvenil Padre António Vieira, em
Díli, num banco castanho de madeira algo desgastado, o cabelo curto e fino e do
mesmo branco da barba e da batina até aos pés, tapados com sapatos beges
claros, quase da cor da pele”.
Natural
de Caldas das Taipas, concelho de Guimarães, é o mais novo de oito irmãos, três
rapazes e cinco raparigas: “Somos dois padres e quatro religiosas, uma família
de missionários”, disse, considerando-se “português e timorense”.
“Vim
para aqui como missionário para trabalhar, enquanto a Companhia de Jesus
quisesse e assim foi até agora. Todos contribuímos. O passado foi vivido, e
estou contente de ter vivido em paz, não fiz nada contra ninguém, nada de mal
contra o povo e estou contente poder ter contribuído alguma coisa”, explicou na
mesma reportagem.
Felgueiras
foi um educador que dedicou mais de metade da sua vida a Timor-Leste e aos
timorenses, vivendo até hoje, na alma, todas as lutas da população.
Em
maio de 2016, quando o então chefe de Estado Taur Matan Ruak condecorou o padre
Felgueiras com a Insígnia da Ordem de Timor-Leste, lembrou a sua dedicação como
“educador infatigável de sucessivas gerações de timorenses, e na preservação da
nossa identidade nacional e promoção do desenvolvimento cultural do país”.
Antes,
em 2002, foi condecorado como Grande Oficial da Ordem da Liberdade, pelo então
Presidente português, Jorge Sampaio, em reconhecimento da sua luta pela
preservação da língua portuguesa em Timor-Leste.
A
educação, e a educação em língua portuguesa, foram os grandes motes da vida de
João Felgueiras.
Mesmo
nos tempos mais duros, quando ensinar português era proibido, dedicou-se ao
ensino da língua, escondido e na clandestinidade, sempre com o sonho de ver
nascer uma escola.
Finalmente,
em 2017, viu nascer esse projeto, a ampliação da Escola Amigos de Jesus,
projeto de vida do jesuíta que vive há 53 anos em Timor-Leste e que ensinou
português na clandestinidade.
No
dia da inauguração, a 04 de fevereiro de 2017, João Felgueiras falava do sonho
que se concretizava, mas cuja primeira pedra tinha começado a ser construída
muito antes, fruto da atividade pastoral dos padres jesuítas durante a ocupação
indonésia.
Anos
antes, em maio de 1999, João Felgueiras já falava, apaixonado, sobre a sua
terra, e a versão inicial da ‘escola’ era uma casa e algumas árvores onde
algumas centenas de timorenses aprendiam português, meio às escondidas.
Na
altura, o padre Felgueiras recordava que houve períodos em que falar português
em Timor-Leste representava quase uma condenação imediata:
“Nos
primeiros anos houve muitos timorenses que foram perseguidos e maltratados por
terem livros em português. Houve alguns que morreram apenas porque usavam a
língua portuguesa”, contou na altura.
Diz-se
motivado pelos “bons exemplos”, que teve em casa, na família, na escola e na
Companhia de Jesus: “Como que um jardim sempre a acompanhar-me de valores, que
me ajudaram muito a transmitir esses valores aos outros”.
Em
2021 perdeu o seu maior amigo em Timor-Leste, o também jesuíta padre José
Martins, de Barcelos, de quem sente grandes saudades.
“Era
um grande amigo que tínhamos cá. A vida é assim. tenho pena e uma saudade muito
grande. Tenho lá a fotografia dele ao pé das dos meus irmãos. Um amigo desde o
princípio, que viveu todos os problemas ao meu lado”, disse. In “O Minho”
- Portugal
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