A enfermeira espanhola trouxe, pela primeira vez, a vacina contra a varíola para Macau e Cantão, no âmbito da Real Expedição Filantrópica da Vacina – mais conhecida por Expedição Balmis, entre 1803-1806 – liderada pelo médico Francisco Javier de Balmis. A Organização Mundial da Saúde considerou Zendal como a “primeira enfermeira da história em missão internacional”. Chegou ao território no dia 5 de Outubro de 1805
Já
ouviu falar de Isabel Zendal Gómez? Faz este ano 250 anos que nasceu na Galiza,
em Espanha. E porque é que esta mulher é tão importante para Macau e,
inclusive, para a China? Porque em 1805 chegou ao território, então
administrado por Portugal, no âmbito da Real Expedição Filantrópica da Vacina –
também conhecida por Expedição Balmis, entre 1803-1806 – trazendo, pela
primeira vez, a vacina contra a varíola, a bordo da corveta Maria Pita.
Sabendo
que a vacina não tinha chegado à China, o médico Francisco Javier de Balmis –
líder da expedição espanhola – pediu autorização para aportar em Macau,
autorização que lhe foi concedida, saindo de Manila, nas Filipinas – então
colónia espanhola – a 3 de Setembro de 1805, e chegando um mês depois, a 5 de
Outubro.
A
expedição, da qual Isabel Zendal Gómez era a principal enfermeira e única
mulher da equipa – entre dez integrantes –, vacinou a população de Macau e de
várias cidades chinesas até chegar a Cantão. O seu grande propósito foi o de
vacinar o maior número possível de pessoas contra a doença e contou com o
“total apoio” do Rei Carlos IV de Espanha, cuja filha havia morrido da maleita.
A
Real Expedição Filantrópica da Vacina partiu de Corunha e chegou até à América
do Norte, aportando no México, e na América do Sul, chegando ao Chile. Depois
seguiu viagem até à Ásia, onde chegou às Filipinas, antes de rumar à China.
Estima-se que tenham sido vacinadas mais de 350 mil pessoas durante a
expedição, desconhecendo-se quantas pessoas foram vacinadas em Macau e na
província de Cantão.
Nascida
a 26 de Fevereiro de 1773, a galega natural de Órdenes, na Corunha, foi
considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1950, como a “primeira
enfermeira da história em missão internacional”. Curioso o facto de a sua mãe,
Ignacia Gómez, ter morrido precisamente de varíola, em 1786, quando Isabel
tinha 13 anos. Em 31 de Julho de 1793, nasceu o seu filho Benito Vélez, que
Isabel criou como mãe solteira. A 14 de Outubro de 1803 publicou-se o decreto
em que incorporava Isabel Zendal Gómez no projecto expedicionário.
Ao
longo da sua vida – desconhecendo-se em que ano morreu, mas acredita-se que
terá falecido no México –, Zendal Gómez foi também supervisora e reitora do
orfanato Casa de Expósitos, situado na Corunha, e o seu papel na expedição foi
o de cuidar de um grupo de 22 crianças, órfãos portadores do vírus com o qual a
vacina foi preparada.
A
vacina contra a varíola é o primeiro fármaco do género a ter ido ao encontro da
humanidade. O antídoto serviu para fazer frente a uma doença considerada “a
maior assassina”, conforme escreveu o médico Donald R. Hopkins no seu livro
“The Greatest Killer – Smallpox in History”, editado em 1983 e reeditado em
2002.
Recorde-se
que a vacina contra a varíola foi inventada em 1796 pelo naturalista e médico
franco-inglês Edward Jenner, falecido há precisamente 200 anos, em Berkeley, no
Reino Unido.
Entre
os diversos reconhecimentos ao trabalho de Isabel Zendal Gómez, para além do
seu nome ter sido dado a diversas ruas em Espanha, também o romance da
escritora Julia Alvarez, “Saving the World”, em 2006, baseia-se na experiência
da enfermeira durante a expedição. Em 2016, foi criada a Associação Isabel
Zendal para investigar, divulgar e promover, local, nacional e
internacionalmente, o protagonismo da Galiza na expedição. Posteriormente, em
2018, o grupo farmacêutico espanhol CZ Veterinaria mudou de nome para Zendal em
homenagem à galega. Também no mesmo ano foi publicado o livro de banda
desenhada “Nuevo Mundo. Isabel Zendal en la expedición de la vacuna”, da
autoria de El Primo Ramón. Mais recentemente, durante a pandemia de Covid-19, a
capital Madrid deu o nome da profissional de saúde ao Hospital de Emergências
Enfermera Isabel Zendal, que foi construído, precisamente, em resposta à doença
que ainda assola o mundo. Diversas outras publicações e até filmes foram feitos
com base na história de vida de Zendal Gómez e da Real Expedição Filantrópica
da Vacina. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Ponto
Final”
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