Um estudo, em que participa o Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), concluiu que as ervas marinhas nos Estuários do Tejo e Sado expostas a efluentes de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) e de uma fábrica de alimentos são mais saudáveis.
De
acordo com Arthur Veronez, investigador do Centro de Ecologia Funcional da
FCTUC, este estudo pretendeu «analisar a saúde das manchas de ervas marinhas
sujeitas a concentrações variáveis de nitrogénio e fósforo como consequência de
adições antropogénicas em espaços naturais. Neste âmbito, foram também
realizadas reanálises e comparações entre estudos realizados anteriormente em
diferentes localidades do mundo (Brasil, Costa Rica, Ilhas Britânicas, Irlanda
e Itália) para diferentes espécies com habitats e influências antropogénicas
parecidas».
A
investigação “Seagrasses benefit from mild anthropogenic nutrient
additions” teve como foco, em Portugal, os prados de Zostera
noltei (espécie de erva marinha) do Centro e Sul do país. «Os prados
monitorizados nos estuários do Tejo e do Sado e na Ria Formosa apresentam ervas
menores, indicação de que são mais saudáveis, sob concentrações moderadas de
nutrientes na água», revela o coautor do estudo.
No
estuário do Tejo «os prados mais saudáveis estavam localizados exatamente ao
lado de uma ETAR e de uma fábrica, onde as concentrações de amoníaco eram
semelhantes às observadas para os prados da Ria Formosa, quando comparado com
estações de amostragem com distâncias intermediárias da ETAR local», esclarece.
Segundo
o cientista do DCV, «sob descargas menores de nutrientes, a erva dos prados de Zostera
noltei (Z. noltei) aumentou, sugerindo que estavam sob privação de
nutrientes. Essas descargas mais baixas ocorreram nos prados da Ria Formosa, do
Tejo e do Sado mais distantes das ETARs. Além disso, os prados do Sado eram
menos saudáveis que os do Tejo e da Ria Formosa sob descargas igualmente baixas
de amoníaco, sugerindo que a falta de fosfato piorou o seu estado».
Esta
investigação sugere ainda que, sob uma carga mais alta de nutrientes, houve
também um aumento da erva dos prados de Z. noltei, indicando que estas
estavam a sofrer de toxicidade (verificado em prados da Ria Formosa localizada
mais próximo ETAR local). No entanto, «em comparação com os prados de Z.
noltei dos outros locais de amostragem e relatos de outros estudos,
evidenciou-se que os prados da Ria Formosa e do estuário do Tejo, sob adições
moderadas de nutrientes antropogénicos, estavam entre os mais saudáveis já
relatados», indica Arthur Veronez.
Para
o investigador da FCTUC, a monitorização da Z. noltei, em Portugal, «foi
uma experiência inédita, realizada durante o verão de 2021», que incluiu nove
estações no Tejo e seis estações no estuário do Sado (pontos localizados em
regiões intertidais). «É relevante salientar que este estudo representa um
trabalho de alto impacto para melhor entendimento científico de como as ervas
marinhas se beneficiam através de adições de nutrientes por vias antropogénicas,
bem como demonstra o uso de uma metodologia de estudo cosmopolita, ativa e
robusta», conclui.
Este
estudo envolveu mais de uma dezena de investigadores de nove instituições
diferentes, espalhadas pelo mundo. Universidade de Coimbra - Portugal
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