Vinte
anos depois da introdução do ensino bilingue em Moçambique, a formação de
professores e a disponibilidade de livro escolar são os principais desafios
deste processo. O Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano diz que
continua a investir nesta modalidade de ensino para quebrar barreiras
linguísticas na educação.
Actualmente,
o país conta com mais de 3200 escolas que leccionam com base na modalidade
bilingue, uma alternativa concebida para apoiar as crianças no processo de
ensino-aprendizagem, que, muitas vezes, só têm contacto com a língua portuguesa
na escola.
Em
pequenas demonstrações feitas esta nesta terça-feira, durante a celebração do
Dia Internacional das Línguas Maternas, efeméride que coincide com os 20 anos
da introdução do ensino bilingue em Moçambique, as crianças fizeram alguns
exercícios para mostrar habilidades de leitura e escrita na sua língua materna,
a sua língua primeira, geralmente adquirida em contexto familiar e comunitário.
Neste
tipo de escolas, as crianças da 1ª e 2ª classes aprendem a ler, a escrever e a
contar em changana, língua que falam nas suas comunidades, e, a partir da
terceira classe, são introduzidas outras disciplinas mais desafiantes.
Para
os encarregados de educação, esta modalidade de ensino permite que eles se
envolvam mais na vida escolar dos filhos.
Anselmo
Chiziane, encarregado de educação de duas crianças submetidas ao ensino
bilingue, explica que “é vantajoso para as crianças, para que cresçam a
conhecer a sua língua. Nos casos em que têm deveres de casa, escritos em língua
portuguesa, já consigo explicar-lhes o significado de cada coisa”.
No
entanto, para quem ensina, persistem desafios. Fernando Mubai é professor neste
sistema há quatro anos, mas afirma que ainda tem dificuldades nalguns
procedimentos e o que mais preocupa é a falta de acompanhamento por parte das autoridades.
“Os
professores não estão preparados. Não tivemos nenhuma capacitação, pelo menos
aqui em Maciene. Apenas fomos entregues as turmas para trabalharmos como
bilingue. Então, tudo é na base de tentativas e erros. Não sabemos se o que
fazemos está correcto ou não”, disse Fernando Mubai.
A
mesma situação verifica-se com Fernando Mubai, que diz que apenas recebeu uma
formação intensiva de quatro dias, o que o deixa inseguro perante tantos
desafios.
A
ministra da Educação e Desenvolvimento Humano, Carmelita Namashulua, reconhece
os desafios, mas fala de melhorias consideráveis.
“No
quadro da implementação da Lei do Sistema Nacional de Educação, o ensino
bilingue tem-nos permitido lograr ganhos significativos, que se revelam no
crescimento de efectivos, na satisfação das crianças, novos ingressos, no
ambiente escolar”, enumerou Carmelita Namashulua.
Segundo
a governante, o número de alunos abrangidos pelo processo subiu de 700, em
2003, para 1 028 004, em 2022; e de 14 professores, em 2003, para 15 626,
no presente ano lectivo 2023.
“Hoje,
o ensino bilingue em Moçambique é oferecido em 3346 escolas primárias contra as
14 da fase de experimentação, em 2003”, avançou.
Apesar
da situação, é preciso mais investimento nesta modalidade. “Como qualquer programa
em fase de experimentação, a modalidade bilingue passou por enormes desafios, o
que levou o sector a conceber uma estratégia de implementação, cujo horizonte
temporal é 2020–2029. Os principais pilares são a área de formação de
professores, a provisão do livro escolar, a transição positiva da língua
primeira para a língua segunda, bem como a mobilização comunitária. Estas são
bases para uma implementação efectiva e eficaz da modalidade bilingue nas
nossas escolas”, acrescentou.
O
ensino bilingue abrange 19 das 24 línguas nacionais. Inalcídio Uamusse –
Moçambique in “O País”
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