Achado raro foi feito quando se fazia prospeção para complexo residencial perto de Bordéus e vai permitir conhecer melhor a arquitetura naval da Alta Idade Média
As
traves paralelas de madeira escurecida não deixam margem para dúvidas: trata-se
do cavername de um navio naufragado. Mas este navio possui uma particularidade
que o torna único. Os arqueólogos estimam a sua idade em cerca de 1300 anos. Só
há mais uma embarcação em França desta época e com estas características. Só
que a outra encontra-se debaixo de água.
O
achado remonta a 2013, quando foram feitas prospeções para um complexo
residencial em Villenave-d’Ornon, perto de Bordéus, sudoeste de França.
Primeiro, foi encontrada uma vila romana no local. Depois, debaixo da vasa,
surgiram os antiquíssimos vestígios de madeira num excecional estado de
conservação.
Outrora,
o navio estaria estacionado num ribeiro afluente do Garona, o rio impetuoso que
atravessa a capital do vinho.
“Havia
como que um ruído de fundo de uma ocupação nesta zona próxima do Garona, mas
ninguém imaginava que seria encontrado este naufrágio”, disse o arqueólogo
Laurent Gimbert, responsável pelos trabalhos de recuperação, ao diário francês
20 minutes. “Os meus colegas tropeçaram neste barco ao escavar uma trincheira,
ao princípio só se via uma pequena parte”.
A
estrutura estende-se por 12 metros, o que indica que o navio à vela devia ser
um pouco maior, atingindo talvez os 15 metros. Embora não tenha sido detetada
qualquer vestígio de carga, pensa-se que poderia servir para transportar
produtos alimentares desta fértil região, famosa pelos seus vinhos.
Marc
Guyon, arqueólogo-mergulhador e especialista em arquitetura naval do INRAP, o
instituto francês que se dedica à conservação preventiva, explicou ao 20
minutes: “Trata-se de um fluvio-marítimo, que podia navegar no oceano, pois
está montado sobre uma quilha”. Estima-se que tenha sido construído entre os
anos 680 e 720, ou seja, várias décadas antes de Carlos Magno se tornar rei dos
Francos, em 768. Por isso os arqueólogos batizaram-no ‘Pepino o Breve’, pai de
Carlos Magno.
Além
da estrutura da embarcação, as escavações revelaram magros indícios da época:
fragmentos de cerâmica, uma colher de madeira e ossos de animais, que poderiam
ser restos de refeições.
Começa
agora a fase mais delicada do trabalho: as traves, que impregnadas de água
chegam a pesar 300 kg, vão ser levadas para um laboratório para as análises que
permitirão determinar com exatidão a capacidade e método de construção do
navio. E, uma vez retirada a estrutura, as obras para o complexo residencial
poderão naturalmente seguir o seu caminho. In “Jornal I online”
- Portugal
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