Uma
grande figura, uma homenagem à sua dimensão. No ano em que se assinala o
centenário do nascimento do poeta José Craveirinha (passado dia 28 de Maio),
Maria de Lurdes Mutola não ficou indiferente à efeméride.
Influenciada
pelo primeiro moçambicano a vencer o Prémio Camões e que a desviou do futebol
para o atletismo, modalidade em que viria a brilhar e tornar-se campeã
olímpica, Lurdes Mutola não quis deixar passar este momento de evocação ao
poeta-mor.
É
neste sentido que, no próximo dia 16 de Julho, a Fundação Lurdes Mutola, da
qual é patrona, vai organizar uma légua que terá como ponto de partida e
chegada a Praça da Independência.
E
porque José Craveirinha teve “olho de lince” ao descobri-la e lançá-la para o
atletismo pela mão do filho Stélio Craveirinha, a campeã olímpica e mundial dos
800 metros faz mesmo questão de participar activamente nesta légua como uma das
corredoras.
A
apresentação deste evento, que se espera que seja de grande dimensão, está
prevista para esta quinta-feira, 2 de Junho, na capital do país.
Mutola,
de resto, não deixou de recordar o papel fundamental que José Craveirinha teve
para a sua afirmação ao nível mundial. Falando na I Conferência Internacional
Centenário José Craveirinha, evento promovido pela Associação dos Escritores
Moçambicanos (AEMO), Lurdes Mutola, visivelmente emocionada, recordou:
“Craveirinha não foi só poeta, mas alguém que serviu de pai e tutor e que, sem
o qual eu não teria todo este sucesso”.
Craveirinha
identificou, desde logo, no bairro do Chamanculo, talento na menina de ouro.
Fez, por isso, as démarches para que deixasse o atletismo e abraçasse o
futebol. Mutola acenou positivamente, mas quis desistir devido às exigências da
modalidade. Todavia, Craveirinha insistiu-a e teve um grande papel na ascensão
da única atleta moçambicana a conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos.
“Quando
o vi, não acreditei e, a partir daquele momento, mudei de mentalidade. Fomos à
minha casa para falar com o meu pai e explicar o que pretendia, assim, foi-lhe
dada a liberdade de ser meu tutor. Comecei a entender que, afinal de contas,
parece que tenho um pouco de talento e dediquei-me até chegar ao topo”,
recordou Lurdes Mutola.
De
resto, como Renato Caldeira, o decano do jornalismo desportivo moçambicano,
retratou em palavras ao “O País”, Stélio Craveirinha sentenciou: “Esta menina
que me trouxeste é ouro, pai! Logo nos primeiros treinos, obteve marcas que não
estão ao alcance de qualquer uma!”, lê-se no artigo publicado a 12 de Outubro
de 2020.
Caldeira,
que acompanhou a carreira de Lurdes Mutola, refere que foi a partir desta
constatação feita por Stélio, então treinador do Desportivo, que surgiu, por
parte do pai, a insistência para que Mutola optasse e apostasse no atletismo. A
partir daí, ela participou em maratonas locais, colocando-se, muitas vezes, à
frente de atletas masculinos. Depois ganhou algumas provas na nossa Zona.
Sempre
com Stélio a orientar, foi à Olimpíada de Seul, em 1988, ainda sem grande
notoriedade. Seguiu-se o desafio norte-americano, a partir do qual Lurdes
venceu marcas e medos.
Stélio,
com a paixão de sempre, abraçou outros projectos, na primeira linha dos quais
surgiu uma outra estrela: Argentina da Glória. No Mundial de Estugarda,
Alemanha, 1993, não fosse um tropeção desta e tê-la-íamos no pódio, para além
do ouro de Mutola, uma outra medalha para o nosso país, tal era a forma e o
momento da nova coqueluche nacional. In “O País” - Moçambique
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