O fundador da Rádio Portugal USA, na Califórnia, disse que há pouco conhecimento e interesse em Portugal sobre os meios de comunicação da diáspora portuguesa, o que se reflete na falta de apoios
“Portugal
não se interessa pela comunicação social da diáspora, na minha opinião”,
afirmou João Manuel Dias, também responsável pela criação do Diáspora Media Group
nos Estados Unidos.
“Portugal
não tem conhecimento absolutamente nenhum do que as nossas rádios na diáspora
fazem a favor da comunidade e em nome de Portugal”, salientou. “Nós é que
estamos a desenvolver o nome de Portugal”.
João
Manuel Dias falava esta madrugada na última edição semestral do projeto “As
Nossas Vozes”, organizado em parceria pelo Conselho de Liderança
Luso-Americano (PALCUS) e o Instituto Português
Além-Fronteiras (PBBI), sob o tema “A Rádio de Língua
Portuguesa nos Estados Unidos”.
À
frente da estação WJFD em New Bedford, Paulina Arruda também participou no
debate e corroborou a ideia de que há pouco interesse em Portugal sobre o que
se faz nas comunidades.
“Portugal
não reconhece a importância e o valor da comunicação social portuguesa nas
comunidades e não reconhece a importância e o valor das comunidades
portuguesas”, afirmou a responsável.
“Há
gerações de americanos que cresceram com os portugueses. Têm interesse em
visitar Portugal por causa das comunidades portuguesas e Portugal não faz a
mínima ideia disso”, salientou, referindo que a presença portuguesa em
Massachusetts influenciou desde a economia e cultura à música e gastronomia.
Na
frequência 97.3 FM e a transmitir em português desde 1949, a WJFD chega a todas
as comunidades que falam português em Massachusetts e Rhode Island, incluindo
portugueses, cabo-verdianos, brasileiros, angolanos, moçambicanos e guineenses.
São
“à volta de 400 a 500 mil falantes de português”, disse Paulina Arruda.
A
estação tem 11 funcionários e transmite em português 24 horas por dia, sendo a
maior parte da programação feita ao vivo com entretenimento, música, notícias
locais e futebol.
Há
mais de 20 anos que mantém uma parceria com a RTP e colabora com festivais e
universidades.
“Fazemos
muitos segmentos de interesse público”, disse Paulina Arruda. “Também somos a
ligação entre as várias comunidades, com Portugal e muitas vezes entre as
gerações”, continuou, indicando que as gerações mais novas interessam-se por
notícias de Portugal e são atraídas pela qualidade dos artistas musicais.
Cerca
de 80% a 85% da publicidade na WJFD vem de empresas da comunidade portuguesa,
em especial pequenas e médias, mas Arruda salientou que grandes companhias
portuguesas, como transportadoras aéreas ou organizações turísticas, não colocam
quaisquer anúncios nas rádios da diáspora e, na sua opinião, deviam fazê-lo.
“Cada
vez mais, nós somos a ligação entre a comunidade portuguesa e a comunidade
americana”, afirmou. “Achamos que é nossa responsabilidade fazer essa ligação e
representar a comunidade, ajudar a manter uma comunidade forte”.
A
conquista dos mais jovens é um dos desafios, visto que têm interesses
diversificados e não é fácil encontrar animadores de rádio que falem bem
português e tenham perfil para o projeto.
Essa
foi uma das questões levantadas por João Manuel Dias, cuja estação de rádio
está disponível na internet e via aplicação móvel e conquistou uma audiência
global em 38 países.
“O
principal desafio que nós temos é conseguir que a juventude nos siga e nos
escute”, afirmou. “Uma das coisas que estamos a tentar fazer é o uso de
notificações, que leva à audiência a informação de que um programa está no ar e
podemos informar de programas comunitários que estejam a acontecer”.
Na
Califórnia, a dispersão geográfica das comunidades torna mais difícil cobrir
eventos, mas João Manuel Dias apontou para a oportunidade de montar uma rede de
correspondentes que possam fazer a ponte e fornecer estes conteúdos.
“Tudo
isto começou como um desporto, mas tornou-se numa forma de servir a comunidade
e de estar ao seu lado”, indicou o radialista. “Temos uma audiência
extraordinária e somos reconhecidos dentro da comunidade como uma companhia que
vai ao encontro deles”.
O
presidente do Instituto Português Além-Fronteiras, Diniz Borges, e um dos
apresentadores de “As Nossas Vozes”, referiu na sessão que a rádio em português
foi um elemento fundamental para o desenvolvimento das comunidades
luso-americanas.
“Eu
não sei se teríamos a mesma comunidade sem a rádio em língua portuguesa”,
considerou. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo
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