A exposição “Home’s where the heart is” reúne aguarelas de Ada Zhang no espaço “Hold on to Hope Project”, na vila de Ká-Ho. A mostra que estará patente até 26 de Junho, reflecte as visões da artista que se formou depois de perder o emprego que tinha na indústria do jogo
“Home’s
where the heart is” é o nome da exposição de Ada Zhang, que pode ser vista no
espaço “Hold on to Hope Project”, que a Associação de Reabilitação dos
Toxicodependentes de Macau (ARTM) gere na vila de Ká-Ho. Porém, a mostra podia
também ser um resumo dos últimos setes anos de vida da artista, desde que veio
viver para Macau em 2015.
O
conjunto de aguarelas, e algumas pinturas a óleo, que compõem a mostra têm como
fio condutor um conceito retirado da obra do clássico poeta chinês Su Shi,
nascido há quase mil anos, durante a dinastia Song. “O significado da frase que
dá nome a esta exposição é a insignificância do lugar em que estamos, a
localização geográfica da nossa terra natal é de menor importância. O que
importa é o sítio onde nos sentimos confortáveis e em paz”, explica Ada Zhang.
Oriunda
da província de Sichuan e a viver no território há cerca de sete anos, a
artista revela que o conceito de “lar interior” foi algo que sempre lhe agradou
e que encontrou em Macau. “É uma terra acolhedora, tranquila, que transmite o
tipo de calma e boas emoções conducentes à pintura”, acrescenta.
Além
das paisagens mais emblemáticas de Macau, os quadros da artista transpiram
frescura e vivacidade, mas também a sobreposição de camadas de cor típicos da
pintura clássica chinesa.
Oportunidade de ouro
Apesar
de pintar desde criança, as voltas que a vida dá acabaram por colocar a arte
numa esfera além do passatempo.
Depois
de passar para licença sem vencimento e a receber metade do salário enquanto
analista de dados numa concessionária de jogo, Ada Zhang passou a ter mais
tempo para pintar e viu na tela uma alternativa. “Desde a infância que gosto de
pintar, mas nunca pensei que poderia vir a fazê-lo a tempo inteiro. O tédio de
passar metade do mês sem nada para fazer levou-me à pintura. Entrei num grupo
de Facebook, fiz muitos amigos e, por vezes, pintamos juntos.”
Com
uma atitude refrescantemente humilde, Ada Zhang confessou ao HM preocupar-se
com as opiniões do público, e da forma como a sua arte é recebida. Nesse
sentido, “Home’s where the heart is” podia ser o antídoto perfeito, uma vez que
em pouco tempo de exibição, já foram vendidas cerca de 90 por cento das obras
expostas. A artista conta que a larga maioria dos quadros foi comprada por
estrangeiros. “Acho que os residentes chineses não têm o hábito de comprar
arte, mas os residentes que falam português e inglês, assim como os macaenses,
compram”, revela.
Clássico e contemporâneo
“É
claro que, por vezes, faço questão de pintar cenários que não são populares no
mercado artístico. Por exemplo, tentei retratar um grupo de pessoas a jogar às
cartas. Deu-me muito trabalho, demorei semanas a completá-lo. Mas, apesar do
processo de criação exaustivo, diverti-me muito a pintar e nem tenho planos
para vendê-lo”, contou a artista ao HM.
“Macau
é uma cidade de jogo. A imagem de pessoas a jogarem às cartas é como uma
representação do microcosmo da cidade. Por isso, pintei os jogadores com uma
gaiola no fundo.”
Na
colecção de paisagens retratadas por Ada Zhang constam “postais” incontornáveis
do território, como o Templo de A-Má, as Ruínas de São Paulo e a Torre de
Macau, numa espécie de abordagem moderna ao imaginário bucólico das aguarelas
de George Chinnery.
A
exposição “Home’s where the heart is” tem alguns trabalhos pintados a óleo,
porém, as aguarelas ocupam o espaço central. Além de entender que a aguarela é
mais popular, a artista acha que implica um método de criação mais divertido.
Além disso, é da opinião que a aguarela permite maior progresso no domínio da
técnica e “uma forma mais fiável de verificar o nível de qualidade das obras”,
algo que não consegue aferir nas pinturas a óleo, uma vez que a falta de
talento pode ficar camuflada pelo estilo artístico. João Luz – Macau in “Hoje
Macau”
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