O Nobel da Paz José Ramos-Horta antecipou que a CPLP não vai ter uma grande dimensão económica e sugeriu a criação de uma televisão ‘online’ da lusofonia para os jovens dos nove Estados-membros se conhecerem melhor
Ramos-Horta
falava numa entrevista gravada e exibida por vídeo no V Congresso da SEDES –
Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, que decorre desde
sexta-feira e até domingo em Carcavelos, concelho de Cascais
Questionado,
num painel sobre o futuro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),
sobre a intenção da presidência rotativa angolana da organização lusófona de
intensificar a sua componente económica, Ramos-Horta lembrou que a dimensão
económica da CPLP é defendida há muito, mas “a realidade entretanto impõe-se: a
CPLP não vai ter uma grande dimensão económica”.
O
ex-Presidente timorense lembrou que mesmo Portugal, que tem uma presença
diplomática forte em Timor-Leste e que tem relações fraternas profundas com
Díli, “não tem um grande investimento” no país.
Para
Ramos-Horta, a integração económica dos países da CPLP deve ser nos seus
mercados regionais.
“Sentimentalismos
à parte, cultura e romantismos à parte, cada um de nós tem de se habituar à sua
região, como Portugal faz na União Europeia”, disse, lembrando que Timor-Leste
se prepara para aderir à Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), um
mercado económico de 700 milhões de pessoas e com um PIB conjunto de quase três
biliões de dólares.
O
ex-chefe de Estado defendeu por outro lado que a CPLP não deve copiar as
organizações regionais, como a União Europeia ou a União Africana.
“A
CPLP praticamente replica a organização das organizações regionais, com
reuniões ministeriais de ministros de defesa, do turismo, comandantes da
polícia. Francamente para quê? Eu não me importo. Se me convidarem para uma
reunião de ministros de turismo na Foz de Iguaçu, no Brasil, eu alegremente vou
(…), mas não pode ser”, disse, motivando gargalhadas na audiência.
Para
o Nobel da Paz, a organização lusófona deve concentrar-se primeiro no esforço
da expansão da língua portuguesa, no enraizamento da língua portuguesa, mas
também na área da educação, da saúde publica, na área da investigação médica,
na área das vacinas.
E
para fazer isso “é preciso criatividade”, afirmou, sugerindo a criação de “uma
televisão ‘online’ para jovens”.
“Os
jovens dos países da CPLP, quando chega a hora de um programa CPLP, eles sentem
curiosidade e vão para o seu ‘tablet’ ou celular e vão fazer um clique para ver
o programa, para ver como vivem os povos nas aldeias em Moçambique ou os
sertanejos lá no Brasil ou nas aldeias de Timor”, afirmou.
“Se
for ao Brasil, quantos brasileiros sabem o que é a CPLP ou ouviram falar sequer
de Timor-Leste”, questionou.
Para
Ramos-Horta, a melhor forma de unir os povos lusófonos é aumentar o
conhecimento que têm uns dos outros, e essa televisão ‘online’, que o
entrevistador comparou a uma ‘netflix lusófona’, seria a resposta.
“É
preciso unir primeiro todas essas comunidades através da nossa inteligência e
criatividade, fazendo uso das tecnologias da comunicação do século 21, não é
através de reuniões de burocratas de ministros de turismo ou da defesa”,
concluiu.
Angola,
Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São
Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os nove Estados-membros da CPLP, que este ano
celebrou o seu 25.º aniversário, contando já com 32 países e organizações como
observadores associados. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo
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