Bissau
- O líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC),
Domingos Simões Pereira, afirmou quinta-feira que a situação na Guiné-Bissau é
"catastrófica" e que se aproxima "perigosamente" de um
"não Estado".
"A
situação do país é catastrófica. Hoje, não é só o PAIGC que o diz, penso que
hoje todos os atores políticos e sociais chegam a essa compreensão. Pior, se
ouvirmos com alguma atenção, os próprios titulares dos órgãos da soberania
admitem isso", afirmou Domingos Simões Pereira, em declarações aos
jornalistas na sede do partido, em Bissau.
Para
Domingos Simões Pereira, a Guiné-Bissau está a aproximar-se "perigosamente
de uma situação de não Estado".
"A
situação de não Estado é uma situação de anarquia, porque ninguém garante
segurança a ninguém", afirmou, salientando que se trata de uma anarquia
"física e prática" na qual a sobrevivência "aceita que todos os
métodos possam ser utilizados para que as pessoas tenham acesso à satisfação
dos seus interesses.
O
líder do PAIGC, partido vencedor das legislativas de 2019, mas que não está no
poder, exemplificou com o avião retido no aeroporto internacional de Bissau por
ordem do primeiro-ministro guineense, Nuno Gomes Nabiam, e que terá aterrado no
país a pedido da Presidência guineense.
Nuno
Gomes Nabiam decidiu impedir o avião de sair do país e anunciou uma
investigação externa ao caso, pedindo apoio da comunidade internacional.
"Temos
um objeto estranho no aeroporto internacional Osvaldo Vieira e nós temos órgãos
de soberania e a população guineense a viajar a partir do aeroporto e a chegar
ao aeroporto como se de nada se tratasse. A nossa soberania está absolutamente
violada, mas temos de fingir que vivemos um quadro de normalidade. Isso
acontece em relação às nossas fronteiras marítimas, fronteiras terrestres",
afirmou Domingos Simões Pereira.
Para
o antigo primeiro-ministro, o caso não é isolado e não é um "simples acaso
o que está a acontecer".
"O
acaso terá sido o facto de o avião ter sido abordado e ao abordarem o avião
descobrirem que o avião não está propriamente à vontade para provar a sua
legalidade, não só em termos de proveniência, como em relação à carga que
transporta. Se outros aviões que passaram por cá tivessem sido abordados, já há
muito tempo que teríamos tido essa situação", salientou.
"Para
ele (chefe de Estado) ter um avião no aeroporto sem identificação da
proveniência e da carga é perfeitamente normal, como é normal ele entrar e sair
do país com voos não comerciais que não passam pelas regras de segurança, como
é normal ter exércitos estrangeiros a fazer exercícios no território nacional
sem conhecimento da Assembleia Nacional Popular, como é normal que haja
assinatura de acordos para exploração de recursos naturais sem o conhecimento
da Assembleia Nacional Popular", afirmou.
Para
Domingos Simões Pereira, é o "somatório" de tudo aquilo que vem
mostrar que não se está perante um "Estado de Direito democrático".
"Não
podíamos estar perante um Estado de Direito democrático, porque os titulares
dos órgãos soberania sabem da sua incoerência, da sua ilegalidade e da sua
falta legitimidade", salientou o líder do PAIGC. In “Agência
de Notícias da Guiné” – Guiné-Bissau com “Lusa”
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