Autodidacta, autor de uma infinidade de mornas e marchas
de carnaval e hinos de clubes, B. Leza é considerado um inovador da morna, ao
introduzir o chamado “meio-tom” brasileiro
B.
Leza, Francisco Xavier da Cruz, nasceu na ilha de São Vicente em 03 de Dezembro
de 1905 e morreu a 14 de Junho de 1958. Os últimos anos da sua vida foram de
grande sofrimento físico e espiritual, facto este que está patente nas suas
últimas criações, de que “Lua nha testemunha” é claro exemplo.
Além
de Cabo Verde, também viveu alguns anos em Portugal, onde se casou, depois de
participar na Exposição do Mundo Português (Lisboa), em 1940, como integrante
de um grupo de músicos. Foi aqui que escreveu, por exemplo, “Ondas sagradas
di Tejo”.
Em
Cabo Verde, além de São Vicente, viveu e trabalhou na ilha do Fogo, onde foi
chefe da Estação Postal dos Serviços dos Correios, Telefones e Telégrafos (CTT)
– a sua morna “Partida” foi, precisamente, escrita nessa ilha e pode ser
vista como uma “variação” a um tema caro a Eugénio Tavares, “Hora di bai”,
de quem era admirador.
Autodidacta,
autor de uma infinidade de mornas e marchas de carnaval e hinos de clubes, B.
Leza é considerado um inovador da morna, ao introduzir o chamado “meio-tom”
brasileiro.
Enquanto
filho de São Vicente, também absorveu a influência do tango através dos navios
que escalavam o outrora movimentado porto da ilha.
Bana,
com o inestimável suporte do Voz de Cabo Verde, torna-se a partir dos anos
sessenta no principal divulgador deste compositor. Aliás, reza a história, que,
ainda garoto, Bana começou a cantar com B. Leza, gravando na memória várias das
composições do seu mentor.
Eclipse, Miss Perfumado, Resposta de Segredo Cu Mar, Lua
Nha Testemunha, Pensamento, Morgadinha, Luísa, entre várias outras, são algumas das mornas de B. Leza
mais cantadas e ouvidas pelos cabo-verdianos ainda hoje.
Reza
a lenda que “Lua Nha Testemunha” foi composta no leito do hospital, dias
antes da sua morte a 14 de Junho de 1958, daí o seu tom de “testamento”. São
várias as mornas dedicadas à mulher, Luísa, sendo as mornas “Luísa” e “Trás
de horizonte” dois exemplos emblemáticos.
Também
diz a lenda (ou a verdade) que “Eclipse” surgiu de um desafio que lhe
foi lançado por Baltasar Lopes da Silva, de quem era amigo.
O
desafio passava por ver como é que um compositor popular haveria de reagir a um
tema como “Eclipse” e que dias depois do combinado os dois amigos se
encontraram para ver o resultado da respectiva criação. B. Leza mostrou ao
autor de Chiquinho a sua criação; depois de a ler, Baltasar pegou no seu poema
e rasgou-o.
Além
de mornas, publicadas em livro, Francisco Xavier da Cruz também publicou uma
brochura, “Razão da Amizade Caboverdiana pela Inglaterra” (Rio de
Janeiro, 1950), sobre a presença dos ingleses em São Vicente, onde procura
explicar a influência britânica nos mais vários níveis da sociedade mindelense
e não só.
A
revista Claridade, no seu número 2, em 1936, publicou o poema Vénus, de Xavier
da Cruz. Segundo o autor de “Chiquinho”, B. Léza era “um polo de atracção de
toda a gente que se interessava pela música popular cabo-verdiana, e com um
prestígio enorme”, uma espécie de ídolo do Mindelo, cidade-ilha que tanto
amava, tendo “derramado” esse amor em várias das suas composições. “Alô,
Sanvicente” e “Noute di Mindelo” são dois exemplos disso. In “A Nação”
– Cabo Verde
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