Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

CPLP - Índice de Percepção da Corrupção 2023

O Índice de Percepção da Corrupção (CPI) foi criado pela Transparency International em 1995 e é, desde então, uma referência na análise do fenómeno da corrupção, a partir da percepção de especialistas e executivos de negócios sobre os níveis de corrupção no setor público.

É um índice composto, ou seja, resulta da combinação de fontes de análise de corrupção desenvolvidas por outras organizações independentes, e classifica de 0 (percepcionado como muito corrupto) a 100 (muito transparente) 180 países e territórios.

Em 2012, a Transparency International reviu a metodologia usada para construir o índice, de forma a permitir a comparação das pontuações de um ano para o seguinte.

Resultados da CPLP

No seu conjunto, e tal como nos anos anteriores, os países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) apresentam uma pontuação média muito baixa (39). A TI Portugal e outras organizações da sociedade civil dos Estados-membros continuam, como tal, a pugnar para que a agenda da CPLP inscreva o combate à corrupção como uma prioridade.



À exceção de Portugal (61) e de Cabo Verde (64) – que é agora o país com a pontuação mais alta dentro desta Comunidade, tendo subido 4 pontos desde o ano passado – todos os países da CPLP têm uma pontuação inferior a 50, correspondendo a nações com sérios problemas de corrupção.

Embora Angola (33), tal como em 2022, continue a ser um dos países que registou um avanço mais significativo (iguala a pontuação do ano passado, tendo subido 14 pontos desde 2018), mantém-se ainda muito distante do meio da tabela global, que pontua numa escala de 0 (percecionado como muito corrupto) a 100 (muito transparente). 

Resultados de Portugal

A edição de 2023 do Índice de Percepção da Corrupção, publicado anualmente pela Transparency International, revela que o combate à corrupção em Portugal continua a não avançar e tem falhas ao nível da integridade na política.

No Índice de Percepção da Corrupção 2023, Portugal, que é avaliado no conjunto dos países da Europa Ocidental e União Europeia, obteve 61 pontos, fixando-se na 34ª posição em 180 países. Volta a igualar a pontuação registada em 2020, a pior registada desde 2012, continuando abaixo do valor médio da sua região (65 pontos). Desde 2012 que Portugal apresenta variações anuais mínimas na sua pontuação deste Índice.

Especificamente sobre Portugal, o relatório da Transparency International coloca-o como um dos países da Europa em que se registam falhas ao nível da integridade na política. No entender da Transparency International, o facto de Portugal ter mergulhado numa crise política quando o Primeiro-Ministro António Costa se demitiu na sequência da detenção do seu chefe de gabinete, no âmbito da “Operação Influencer”, é um exemplo de como os escândalos de integridade política persistem, salientando a necessidade de serem reforçadas as regras relativas aos conflitos de interesses, às normas éticas e à transparência no exercício de funções públicas e nas atividades de lobbying.  A Transparency International insta mesmo Portugal a colocar como prioridade na agenda política uma regulamentação mais rigorosa em matéria de lobbying, após vários anos de atrasos.

A análise da Transparency International sobre os resultados do Índice de Percepção da Corrupção 2023 analisa a forma como a injustiça e a corrupção se afetam mutuamente em todo o mundo. De acordo com o Rule of Law Index, o mundo está a registar um declínio no funcionamento dos sistemas de justiça. Os países com as pontuações mais baixas neste Index têm também pontuações muito baixas no Índice da Transparency International, o que revela uma clara ligação entre o acesso à justiça e a corrupção. Tanto os regimes autoritários como os líderes democráticos que minam a justiça contribuem para aumentar a impunidade da corrupção e, nalguns casos, até a incentivam, ao eliminarem as consequências para os infratores. Margarida Mano - Transparência Internacional Portugal

Resultado dos PALOP

Segundo a edição deste ano do Índice de Percepção da Corrupção (CPI, na sigla em inglês), elaborado pela Organização Não-Governamental Transparência Internacional, em termos estatísticos Angola melhorou 14 pontos desde 2019, fixando-se no 121º lugar entre 180 países e territórios e, na África Subsaariana, no 21º entre os 49 Estados considerados.

O relatório destaca que Angola adoptou medidas anti-corrupção, que aplicou "de forma consistente” para recuperar bens roubados e responsabilizar abertamente os alegados autores, através dos sistemas judiciais nacionais.

Angola finalizou uma estratégia anti-corrupção para o período de 2018-2022 e estes esforços, juntamente com outras reformas judiciais, conduziram à recuperação de 3,3 mil milhões de dólares (aproximadamente 2.747.250.000.000 de kwanzas) em activos pelo Fundo Soberano, acrescenta-se no documento, citado, ontem, pela RTP.

Contribuiu, ainda, para a nota positiva atribuída a Angola os resultados divulgados muito recentemente no processo de combate à corrupção, tendo a Direcção Nacional de Recuperação de Activos da PGR, tornado público, na sua página oficial, os bens recuperados em Angola e no exterior do país.

A investigação e a acção penal contra altos funcionários culminaram, também, na recuperação de cerca de sete mil milhões de dólares (5.827.500.000.000,00 de kwanzas) em activos financeiros e tangíveis. A tendência nos últimos cinco anos traduziu-se numa subida de sete pontos, e considerando os últimos 11 anos, a melhoria é ainda mais significativa: 11 pontos.

O CPI foi criado pela Transparência Internacional em 1995 e é, desde então, uma referência na análise do fenómeno corrupção, a partir da percepção de especialistas e executivos de negócios sobre os níveis de corrupção no sector público.

Trata-se de um índice composto, que resulta da combinação de fontes de análise de corrupção desenvolvidas por outras organizações independentes e classifica de zero (percepcionado como muito corrupto) a 100 pontos (muito transparente) 180 países e territórios. Em 2012, a organização reviu a metodologia usada para construir o índice, de forma a permitir a comparação das pontuações de um ano para o seguinte.

Moçambique e São Tomé descem, Guiné-Bissau e Cabo Verde sobem

Moçambique desceu cinco lugares e é o 35º Estado mais corrupto entre os 49 países considerados da África Subsaariana, segundo o relatório. A nação do Índico passou para 147º, entre 180, alcançando 25 pontos numa escala de zero a 100. A tendência de Moçambique nos últimos cinco anos traduziu-se na perda de um ponto e, considerando os últimos 11 anos, perdeu seis.

São Tomé e Príncipe desceu três lugares e é, entre os 49 Estados considerados, o 7º país menos corrupto da África Subsaariana, de acordo com o relatório. A edição deste ano mostra que São Tomé e Príncipe passou para a 68ª posição, entre 180, chegando aos 45 pontos numa escala de zero a 100. A tendência nos últimos cinco anos traduziu-se na perda de um ponto e, considerando os últimos 11 anos, averbou mais três.

A Guiné-Bissau subiu um lugar e é o 40º país mais corrupto entre os 49 da África Subsaariana. No índice global, galgou para 160º lugar, entre 180 países e territórios, obtendo 22 pontos, numa escala que vai de zero a 100, segundo o documento. A tendência nos últimos cinco anos traduziu-se numa subida de quatro pontos, mas, considerando os últimos 11 anos, perdeu três.

Já Cabo Verde é o segundo país menos corrupto da África Subsaariana – depois das Ilhas Seychelles –, e o 30º entre os 180 Estados e territórios considerados no relatório. O país obteve 64 pontos e o relatório destaca que Cabo Verde aprovou, recentemente, uma lei que cria uma plataforma electrónica para os operadores judiciários, "a fim de reduzir atrasos e processos pendentes”.

A tendência nos últimos cinco anos traduziu-se numa subida de seis pontos e, considerando os últimos 11 anos, a melhoria foi de quatro pontos. In “Jornal de Angola” - Angola


Portugal - Cientistas desenvolvem nova solução tecnológica com revestimento polímero-cerâmico anti riscos, reciclável e mais duradoura

Uma equipa de cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) desenvolveu uma solução tecnológica para dispositivos hápticos (táteis) com revestimento polímero-cerâmico anti riscos e reciclável que confere uma maior durabilidade, a vários componentes plásticos de uso quotidiano.


Ana Paula Piedade, professora e investigadora do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM), é a responsável pelo projeto Smart Display na FCTUC, no qual «foi desenvolvida uma nova solução para componentes hápticos, neste caso um interruptor. A solução conjuga, de forma integrada, na parte exterior um revestimento anti riscos, e na parte interior a impressão direta de um circuito elétrico, com o objetivo, neste protótipo, de ativar o interruptor por proximidade ou por pressão direta dos botões».

«A grande novidade é o revestimento polímero-cerâmico. Para aumentar a resistência mecânica, sobretudo ao risco e ao desgaste, de um plástico, uma das soluções é utilizar um material cerâmico, que apesar de frágil é mais duro. No entanto, por estes materiais serem quimicamente “incompatíveis”, tivemos que fazer um gradiente químico, iniciando o revestimento sobre o interruptor de plástico com um material polimérico (plástico) que depois vai dando lugar ao revestimento cerâmico, tudo isto numa espessura de 400 nanómetros», explica a docente.

De acordo com Ana Paula Piedade, a parte mais exterior deste novo revestimento é composto por um cerâmico técnico, de engenharia, com propriedades mecânicas e de durabilidade enormes.

«Acredito que aumentámos o tempo de vida do componente em plástico no mínimo em dez vezes, o que pode ter bastante impacto, pois além de continuar a ser um material reciclável, estamos a reduzir a quantidade de matéria-prima utilizada, e, ao mesmo tempo, o facto do componente ser transparente, permite à empresa variações de cor ao nível do gosto do cliente, ou seja, é personalizável». 

Apesar desta nova solução ter sido aplicada e testada apenas no componente de um interruptor, pode ser utilizada em diversos equipamentos que usamos no nosso dia a dia, nomeadamente em painéis de carros, telemóveis ou de frigoríficos inteligentes, tornando a superfície exterior mais dura e, consequentemente, mais resistente aos riscos.

Paralelamente, «foram também estudadas, otimizadas e aplicadas técnicas de impressão direta na impressão de circuitos eletrónicos diretamente na superfície interior do interruptor. Esta parte esteve a cabo da equipa liderada por Mahmoud Tavakoli, investigador e docente do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da FCTUC, tendo por base a primeira tinta condutora desenvolvida e patenteada por esta equipa», conclui. Universidade de Coimbra - Portugal

Para saber mais sobre o projeto Smart Display, promovido pela empresa KLC Technical Plastics, pode consultar a seguinte ligação:

https://www.klc.pt/pt-pt/solutions/innovation/



Agência da ONU protege o Hamas?

Talvez não haja no Brasil uma grande repercussão, mas as acusações contra a agência da ONU pelos refugiados palestinos, UNRWA, fizeram e ainda são manchetes na mídia europeia, como o jornal francês Libération e o suíço Le Temps. O grande espaço no Le Temps, deve-se também ao fato de ser um suíço-italiano, Philippe Lazzarini, o responsável por esse comissariado da ONU pelos refugiados da ONU.

Nos últimos dias, as acusações forçaram Lazzarini a demitir uma dezena dos funcionários sob sua direção, acusados de implicados direta ou indiretamente no massacre do 7 de outubro de civis israelenses. Alguns desses funcionários teriam mesmo participado dos assassinatos, demonstrando com isso terem sabido previamente dos ataques e agido como cúmplices. Pior, teria a agência UNRWA participado dos planejamentos do Hamas?

Na dúvida, mas sob forte suspeita, já são 15 os países que suspenderam sua ajuda ao órgão da ONU de ajuda aos palestinos, temendo ter havido desvio dessas contribuições para a criação do arsenal e forte armamento do Hamas na Faixa de Gaza, onde resistem há quatro meses às represálias israelenses.

Essa suspeita cresceu nestes últimos dias, tanto que a União Europeia pediu uma auditoria dentro da UNRWA, enquanto o conselho nacional do governo suíço convidou Philippe Lazzarini, o responsável pela UNRWA, para fazer uma análise da situação aos parlamentares suíços. Logo nos primeiros dias depois dos ataques do Hamas, corriam denúncias de ter havido comemorações em algumas escolas de Gaza, dirigidas por professores pertencentes à agência onusiana.

Embora se fale num próximo cessar-fogo em Gaza, de 45 dias com a libertação de apenas 35 dos reféns israelenses, um acordo não parece muito próximo. Apesar da pressão dos familiares dos reféns sobre o dirigente israelense, Benyamin Netanyahou rejeita uma trégua pela qual o Hamas possa explorar a imagem de ter saído vencedor sobre Israel.

O escritor, sociólogo e professor Gilles Kepel, especialista do Islão e do mundo árabe contemporâneo, numa entrevista à revista L ́Express, lembra ter sido também num 7 de outubro a Guerra do Kippur, há 50 anos, que Anuar el Sadate et Hafez el Assad, atacaram Israel, mudando a situação no Oriente Médio. Entretanto, enfatiza Kepel, tanto o Egito como a Síria não tinham por objetivo destruir Israel, como deseja o Hamas, mas para criar uma relação de equilíbrio de força com Israel e dar uma legitimidade aos regimes de Sadate e El-Assad. Rui Martins – Suíça

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

 

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Austrália anuncia reforço da cooperação na segurança e apoio social com Timor-Leste

O ministro da Indústria de Defesa e do Desenvolvimento Internacional e do Pacífico australiano, Pat Conroy, anunciou ontem o reforço da cooperação entre a Austrália e Timor-Leste nos sectores da segurança e apoio social. “Hoje anunciamos 35 milhões de dólares australianos [cerca de 21 milhões de euros] ao longo de cinco anos para cooperação policial, 1,6 milhões [cerca de 970 mil euros] para ajudar com o El Niño e alívio da seca nas áreas rurais e quatro milhões [2,4 milhões de euros] para formação de trabalhadores que estão a ir para a Austrália e apoiar as suas famílias”, afirmou Pat Conroy.

O ministro australiano falava aos jornalistas após um encontro com o primeiro-ministro Xanana Gusmão, no Palácio do Governo, em Díli. “A mensagem do governo australiano é a de que estamos aqui para agir de acordo com as prioridades de Timor-Leste, respeitar a sua soberania e agir no espírito de amizade entre os nossos dois países”, disse Pat Conroy.

O ministro da Indústria de Defesa e do Desenvolvimento Internacional e do Pacífico australiano referiu também a importância de Timor-Leste para a Austrália, salientando que desde que o Governo australiano tomou posse já três ministros visitaram Díli. “Portanto, isso é um sinal do carinho e respeito que temos pelo povo de Timor-Leste”, disse Pat Conroy.

O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, destacou que a Austrália vai apoiar o país em áreas que Timor-Leste precisa e para “fortalecer o Estado”. “Precisamos mesmo de desenvolver o país e fortalecer o Estado nas áreas sociais, como saúde e educação, criação de emprego e segurança”, afirmou o primeiro-ministro.

Xanana Gusmão disse também que durante o encontro com Pat Conroy falaram sobre o oceano, a economia azul e a ilha de Ataúro, centro de biodiversidade. “Vamos continuar a conversar e a explorar sobre o que precisamos. Vão ajudar-nos. O único princípio é que nos ajudem naquilo que precisamos. É o único princípio que vai reforçar a nossa relação e amizade”, salientou o chefe do Governo timorense.

Durante a sua estada em Díli, o ministro australiano terá encontros com vários membros do Governo para “reforçar o compromisso da Austrália com o desenvolvimento económico e humano” do país, salienta, em comunicado, a embaixada da Austrália. In “Ponto Final” - Macau

 

Timor-Leste e Indonésia acordam continuar negociações sobre fronteiras

Timor-Leste e a Indonésia acordaram continuar as negociações para uma resolução das fronteiras entre os dois países, depois de um encontro entre o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, e o chefe de Estado indonésio, Joko Widodo


“Discutimos várias coisas. Primeiro, concordámos em encorajar a conclusão das negociações das fronteiras entre os dois países”, disse Joko Widodo, segundo a agência Antara, após o encontro com o líder timorense, que viajou quinta-feira para a Indonésia.

Joko Widodo saudou também a reativação do comité conjunto para a gestão das fronteiras terrestres da Indonésia e Timor-Leste, incluindo postos transfronteiriços.

Sobre o mesmo assunto, o primeiro-ministro timorense saudou o trabalho que tem sido feito pela equipa de negociações para concluir os limites da fronteira terrestre. “Temos agora uma compreensão mais clara da questão e acreditamos que encontraremos uma solução para o problema. O interesse em estabelecer a fronteira com a Indonésia fortalecerá a soberania dos nossos países”, afirmou Xanana Gusmão.

Em declarações à imprensa timorense, que o acompanhou na visita, após o encontro, Xanana Gusmão disse que não assinou nenhum acordo sobre fronteiras e que Timor-Leste tem os seus princípios, assim como a Indonésia, salientando que será assinado num futuro próximo.

A questão da finalização da fronteira terrestre com a Indonésia está envolta em polémica, depois de a comunidade de Naktuka, em Oescussi, ter denunciado que lhes foram retirados 270 hectares de terra arável timorense, que passou para a Indonésia, sem serem consultados pela equipa técnica.

Aquela comunidade admite não entregar as terras à Indonésia, explicando que aquela zona pertencia a Portugal antes da ocupação indonésia, em 1975, devido a um tratado assinado entre portugueses e holandeses em 1914.

A sociedade civil e a oposição política timorense denunciaram também a situação e consideraram que a assinatura de qualquer tratado com a Indonésia sobre fronteiras é “ilegal”, porque cabe ao parlamento nacional, que tem a competência de delimitar fronteiras.

Em Dezembro, num discurso proferido no parlamento nacional, o primeiro-ministro anunciou que as equipas técnicas de negociações de fronteiras terrestres com a Indonésia tinha conseguido “fechar o segmento de fronteira Noel-Besi-Citrana, que estava por resolver em Oecussi”. “Com a conclusão deste segmento final, vamos prosseguir com as negociações de fronteiras marítimas com a Indonésia no próximo ano”, acrescentou Xanana Gusmão.

A Indonésia e Timor-Leste assinaram também um memorando de entendimento sobre cooperação em tecnologia de informação. O Presidente da Indonésia reafirmou o apoio do seu país à adesão de Timor-Leste à Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”


Macau - Macaense assume-se hoje como fruto de mistura e não “como um português”, diz antropóloga

A antropóloga Marisa Gaspar defende que o macaense se assume hoje como fruto de uma mistura étnica e “não como um português”, como antes da transição de Macau, e que Pequim tem dado sinais de valorizar a comunidade


“O que acontece depois da transição de Macau para a China é que os macaenses começam a assumir-se como tal, não como um português, como acontecia antes, ainda que português de Macau, que não é igual ao português de Portugal, mas começam a assumir este modelo de crioulidade, de mistura étnica”, nota a académica do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, que se encontra no território a fazer trabalho de investigação.

A estudar a comunidade há mais de uma década, Marisa Gaspar assume em entrevista à Lusa a dificuldade em caracterizar em poucas palavras esta comunidade euro-asiática, composta sobretudo por lusodescendentes com raízes em Macau. Fala, sim, de uma definição “tão fluida e tão maleável”.

A antropóloga começa por dizer que “é muito mais do que o binómio entre português e chinês”, como várias vezes tem sido descrita, tratando-se de “uma mistura rica de muitas pessoas, ao longo dos séculos”. “Inicialmente, as famílias chegaram a Macau quando Macau foi estabelecido, sendo famílias que já vinham de Goa, de Malaca, de entrepostos comerciais, e que quando chegaram, estes mercadores traziam as próprias famílias, já elas misturadas”, refere, indicando que esta é a teoria que se admite ser a mais correcta.

Autora da obra “No tempo do bambu: Identidade e ambivalência entre macaenses” (2015), adaptação para livro da tese de doutoramento, em que explora como mudanças pós-transição se reproduziram em termos de alterações identitárias, Marisa Gaspar deixou no título pistas para representar a comunidade. O bambu é “algo que é flexível, que se pode vergar, erguer, que se adapta”, considera. E mais: “Uma identidade fluida, pouco definida, pouco clara, que se pode adaptar da forma como se quer e que dá mais vantagens em determinado momento. E eu falo disso como uma estratégia (…) mas num sentido positivo, não como algo depreciativo. Tens essas características e podes ir-te movendo nestes mundos”, salienta.

Vantagens para uma comunidade que vive a atualidade de um “quase laboratório social”, como a antropóloga classifica Macau, que, após um período de três anos fechada ao mundo devido à covid-19, testa “novas políticas públicas”.

Estas políticas, para áreas como o turismo e o património, com vista a diversificar a economia do território, fortemente dependente do setor do jogo, são temas que a especialista está a trabalhar para o pós-doutoramento, em que aborda igualmente o turismo gastronómico.

Macau foi classificada em 2017 cidade criativa em gastronomia pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), e, quatro anos mais tarde, a cozinha macaense entrou, em conjunto com o teatro em patuá, para a lista do património cultural intangível da China. “É um marco a China reconhecer um património que de facto é estrangeiro e tem uma base portuguesa clara como um património nacional seu. E isto acho que também é demonstrativo de que quer integrar a comunidade macaense como uma comunidade da China”, refere.

A docente do ISEG tem observado “a proliferação de restaurantes portugueses nestes últimos anos” em Macau e reconhece que “os macaenses podiam estar muito mais, se calhar, a aproveitar esta conjuntura e a cidade da gastronomia”. De qualquer maneira, Marisa Gaspar sublinha que são todas estas geografias a habitar a região semiautónoma que conferem uma identidade ao território: “É aquela misturada toda, a que mistura o galo de Barcelos com o gato [do Japão; Maneki-neko], com a serradura. (…) É esta misturada de coisas que não importa exatamente saber qual é a origem, ou se mantém a autenticidade ou não das coisas. Eu acho que o produto final, que é o que vende ao turismo, é o facto de ver Macau como uma cidade não chinesa”.

Na obra “No tempo do bambu: Identidade e ambivalência entre macaenses”, lançada há quase dez anos, Marisa Gaspar estimava que sete mil macaenses residiam nessa altura no território e que os membros da comunidade dispersos pelo mundo pudessem rondar os 150 mil, números que poderão não ser actuais, segundo referiu. In “Ponto Final” - Macau com “Lusa”


São Tomé e Príncipe - Vai criar Instituto de Saúde Pública para “harmonizar” políticas de saúde

São Tomé - São Tomé e Príncipe vai a curto prazo criar um Instituto de Saúde Pública para coordenar e harmonizar as políticas de saúde pública no País, soube-se de fontes oficiais na cidade de São Tomé.


A necessidade da existência deste instituto fez-se sentir, na última semana, quando o País organizou com o apoio da CPLP o primeiro plano estratégico de Saúde Pública.

Bonifácio de Sousa, director do Centro Nacional de Endemias, que, tudo indica pode vir a ser transformado nesse instituto, disse à STP-Press que ‘’é imprescindível que todos os Estados Africanos tenham um Instituto de Saúde Pública porque é a partir deste organismo que fazem o elo de ligação, nomeadamente para implementar e coordenar políticas de Saúde Publica’’.

De acordo ainda com este responsável,” há pouco tempo tivemos o COVID-19, o Dengue e outras enfermidades. CDC-África, é o exemplo disso e onde deve haver indissociavelmente essas parcerias’’, explicou Bonifácio Sousa.

‘’CDC-África lida obrigatoriamente com o Instituto de Saúde Pública. E estes Países que não têm, eles ajudam a criar tal estrutura’’ adiantou Bonifácio Sousa.

Sublinha-se que a nível dos nove Estados da CPLP, só não existem Institutos de Saúde Pública a nível de dois Países, nomeadamente, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. In “STP Press” – São Tomé e Príncipe


segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Portugal - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar criam nanopartícula para combater tumores gastrointestinais

Estratégia inovadora permite direcionar as drogas para as células tumorais de um dos tipos de cancro com maior incidência no mundo


Uma estratégia inovadora que conduz a droga diretamente ao alvo: a célula tumoral. É assim que Celso Reis e Joana Gomes, investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) descrevem a nanopartícula recentemente desvendada num estudo publicado na revista internacional Acta Biomaterialia, e que tem como objetivo encapsular os fármacos e conduzi-los diretamente às células do cancro gastrointestinal, contribuindo para atenuar o crescimento dos tumores.

Ao direcionar os fármacos para o tumor, esta espécie de “cápsula” permite “aumentar a eficiência e reduzir os efeitos secundários tão indesejados que muitas vezes constituem limitações ao próprio tratamento”, revela Celso Reis, líder do grupo «Glycobiology in Cancer», no i3S, e docente no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).

Desenhada e desenvolvida pela equipa do i3S, esta estratégia foi concretizada num trabalho de doutoramento do ICBAS, realizado pela estudante Francisca Diniz, em colaboração com o grupo do i3S liderado pelo investigador Bruno Sarmento.

De acordo com Celso Reis, o nanossistema “tem como grande arma a utilização de partículas que carregam as drogas modificadas e são revestidas com anticorpos direcionados para as alterações presentes no cancro gastrointestinal”, revelando-se por isso uma estratégia promissora num tipo de cancro muito desafiante para a ciência.

“O cancro gastrointestinal tem uma incidência relativamente alta no mundo, nomeadamente em Portugal, e infelizmente tem um prognóstico muito negativo, principalmente se for detetado em estadios avançados”, reconhece o investigador.

Os resultados em modelos animais permitiram verificar uma maior eficiência do fármaco quando encapsulado na nanopartícula, se comparado com a sua administração não direcionada.

“Em estudos clínicos, esta droga revelava-se bastante citotóxica, causando efeitos secundários adversos”, afirma Joana Gomes, investigadora responsável pelo estudo.

Os ensaios laboratoriais permitiram ainda verificar uma redução significativa na proliferação dos tumores tratados através deste método, já que, nos modelos animais estudados, verificou-se um menor crescimento tumoral, conforme confirmou a investigadora.

Um trabalho de anos, um futuro à espera

Esta estratégia inovadora resulta de largos anos de investigação na identificação das modificações moleculares que ocorrem no cancro, realizada pelo grupo Glycobiology in Cancer. “Nós sabemos que a glicosilação é muito importante na resistência à terapia.

A utilização destas moléculas como alvo nas células tumorais e a possibilidade de libertar drogas de forma controlada, abre um leque de possibilidades terapêuticas inovadoras”, afirma Joana Gomes.

Com os resultados obtidos a nível experimental, o projeto encontra-se  numa fase de valorização da tecnologia e captação de financiamento com vista a possíveis ensaios clínicos. Universidade do Porto - Portugal


Portugal - Universidade de Coimbra apresenta projeto que aposta na monitorização do Borrelho-de-coleira-interrompida para conservação e gestão sustentável de praias e zonas húmidas

O Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) apresenta esta quinta-feira, 1 de fevereiro, um projeto europeu que aposta na monitorização do Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) para conservação de habitats e outras espécies salvagens que dependem das praias e zonas húmidas.


A apresentação do projeto “Iberalex - Gestão sustentável de praias e zonas húmidas ibéricas: conservação do Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) como ferramenta para compatibilizar os usos humanos e a biodiversidade” terá lugar no auditório do DCV, no Colégio de S. Bento, entre as 9h30 e as 12h45.

«Este projeto pretende utilizar o Borrelho-de-coleira-interrompida como uma espécie guarda-chuva, e propõe um conjunto ações que servirão para melhorar o seu estado de conservação no espaço transfronteiriço Espanha-Portugal. Pretende ainda compatibilizar ações de conservação com atividades recreativas e extrativas humanas num cenário de alterações climáticas, evidenciado pelo aumento contínuo do nível do mar e pela erosão costeira», revela Jaime Ramos, professor e investigador no DCV.

Um espécie guarda-chuva é uma espécie cuja conservação implica necessariamente a conservação de outras espécies. «Geralmente, são espécies como predadores de topo que necessitam de grandes áreas de habitat ou de condições ecológicas particulares, pelo que a sua conservação implica que essas condições sejam salvaguardadas», explica o coordenador do projeto na FCTUC.

Segundo o investigador do DCV, esta ave necessita de praias arenosas e de zonas húmidas em boas condições ecológicas para se reproduzir, dado ser muito sensível a perturbação humana e a predadores. Portanto, a perturbação humana excessiva nas praias, por exemplo na época balnear, implica que esta espécie deixe de se reproduzir em tais áreas. Também as mudanças de habitat, devido às alterações climáticas, implicam que a mesma fique com menos área disponível de praia para nidificar.

«Assim, a conservação desta espécie implica que outras espécies no mesmo habitat tenham também condições adequadas para a sua sobrevivência. De igual forma, o aumento da predação muitas vezes está associado a atividades antropogénicas que provocaram alteração dos habitats e que devem ser controladas», conclui.

O Iberalex é um projeto financiado pelo Programa Interreg V Espanha-Portugal (POCTEP) 2023-2027 e inclui como participantes além da Universidade de Coimbra, a Direção Geral do Património Natural (Xunta de Galicia), as Universidades de Santiago de Compostela, Extremadura, Cádiz, Aveiro e a Associação para a conservação da natureza portuguesa, Vita Nativa. Universidade de Coimbra - Portugal


Cabo Verde – Espectáculo "Txabeta" apresentado em Barcelona

O artista Cabo-Verdiano Djam Neguin apresenta dia 31 de Janeiro em Barcelona o seu espetáculo <Tx[@]be/t_a | |=* - uma performance multidisciplinar imersiva/interativa futurística, conduzida por Hevah, @ primeir@ e último@ ser human@, que conduz os participantes numa viagem alucinante através da sabedoria ancestral do Batuku – género de música e dança tradicional cabo-verdiana.


Com a produção de AfricaMoment, o espetáculo estará em cena no ArtsSantaMonica e é a estreia internacional desta peça, que teve a sua criação no âmbito da bolsa de criação do Fórum Dança Lisboa, e fez a sua primeira participação pública no Festival de Teatro Mindelact em Novembro de 2023.

O espetáculo seguirá para o Brasil no mês de Março e Abril, para os festivais Porto Alegre em Cena e Bienal de Dança do Ceará. Soulart Press – Cabo Verde

Portugal - TX@BET_A de Djam Neguin no Fórum Dança Lisboa





UCCLA - Inauguração da exposição “Liberdade - Portugal, lugar de encontros”

No ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril, a UCCLA vai inaugurar a exposição “Liberdade - Portugal, lugar de encontros” no dia 8 de fevereiro, às 18 horas.


Com curadoria de João Pinharanda, a exposição pretende dar voz à expressão artística propiciada pela conquista da Liberdade em Portugal. Com o 25 de Abril de 1974 e o fim da Guerra Colonial criaram-se condições para uma multiplicidade de encontros.

Na seleção curatorial de João Pinharanda são-nos apresentados 28 olhares artísticos contemporâneos, oriundos dos países que se expressam oficialmente em língua portuguesa. Estes artistas têm em comum o facto de terem tido ou ainda terem em Portugal um lugar de encontro e trabalho, que pode não ser central nem determinante no seu olhar, mas que não deixa de ser um laço, com a restante realidade artística. A manifesta pluralidade de perspetivas decorre não só da diversidade de origens geográficas e das vivências pessoais, que moldaram a respetiva sensibilidades e criatividade individual.

A mostra assume-se como uma exposição de cruzamentos e de encontros, daqueles que partiram e regressaram, dos que chegaram e ficaram, ou partiram de novo, ou nunca mais regressaram… Mas todos eles olharam para Portugal e registaram um encontro em imagens; ou olharam, a partir de Portugal, para os seus próprios mundos. Fizeram-no com Liberdade criativa e crítica, oferecendo-nos peças de um puzzle que outros artistas completarão e que nós próprios somos chamados a completar.

De destacar as múltiplas as técnicas utilizadas na produção das peças expostas, que incluem pintura, serigrafia, fotografia, escultura, azulejo e tapeçaria. 

As obras presentes permitem-nos viajar à descoberta de um mundo onírico e de criatividade onde se percecionam muitas das influências que inspiraram estes artistas e as respetivas gerações, com especial destaque para a expressão da liberdade e do espírito anticolonial, as influências espirituais ou religiosas, as influências culturais e literárias e as questões relacionadas à identidade. 

A entrada é livre.

A exposição engloba um núcleo no Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV), que será inaugurado no dia 15 de fevereiro.

Lista de artistas expostos:

Abraão Vicente Alfredo Cunha

Ana Marchand

Ângela Ferreira

António Ole

Carlos Noronha Feio

Cristina Ataíde

Emília Nadal

Eugénia Mussa

Fidel Évora

Francisco Vidal

Gonçalo Mabunda

Graça Morais

Graça Pereira Coutinho

Herberto Smith

Joana Vasconcelos

José de Guimarães

Keyezua

Manuel Botelho

Mário Macilau

Nú Barreto

Oleandro Pires Garcia

Pedro Chorão

Pedro Valdez Cardoso

René Tavares

Vasco Araújo

Vhils (Alexandre Farto)

Yonamine

 

Morada:

UCCLA - Avenida da Índia, n.º 110 - Lisboa

CCCV - Rua de São Bento, n.º 640 - Lisboa

Horário:

UCCLA - 8 de fevereiro a 10 de maio de 2024

Segunda a sexta-feira, das 10 às 18 horas

CCCV - 15 de fevereiro a 15 de abril de 2024

Terça a quinta-feira, das 12 às 19 horas; Sexta e sábado, das 13 às 20 horas


domingo, 28 de janeiro de 2024

Centenário da morte de Teófilo Braga: o homem, o erudito e o político

Foi um dos fundadores do Partido Republicano, depois Presidente da República, escrevia compulsivamente, investigou Camões — que elegeu como símbolo da nacionalidade —, nunca atravessou a fronteira. Teófilo Braga visto por si e pelos contemporâneos — admiradores e críticos —, no centenário da sua morte. (Publicado originalmente na revista do Expresso, edição de 27 de Janeiro de 2024, pp. 50-52)


Passou a vida a escrever. Foi encontrado morto na sua mesa de trabalho. Tinha 80 anos. Faleceram os três filhos e, anos depois, a mulher. Teófilo Braga morava só. Rodeado de livros, asfixiado por ressentimentos e sempre empenhado em completar e concluir os temas que o absorveram a vida inteira. Deixou uma obra de investigação e de crítica com mais de 200 títulos. Ele próprio assim se definiu: “Dentro de um poço, desde que lá tivesse os meus livros, uma resma de papel e um lápis, conseguiria viver.” 

Por sua vez, Ramalho Ortigão, que o conheceu com proximidade, afirmou: “Simples, sóbrio, duro, com hábitos de uma austeridade de espartano, sabendo reduzir as suas necessidades a toda a restrição a que lhe reduzam os meios, vivendo no seu isolamento como Robinson na sua ilha. (...) Não publica um volume por semana, pela razão única de que não há prelos, em Portugal, que acompanhem a velocidade vertiginosa da sua pena. Escreve de graça, desinteressadamente, em satisfação do seu prazer supremo, o prazer de espalhar ideias.”

Na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, Teófilo Braga (1843-1924) foi um dos autores com maior número de obras publicadas sobre a história da literatura portuguesa, desde os primórdios até João de Deus e Antero de Quental. Assinalam-se, neste contexto, as investigações sobre Camões, nos múltiplos aspetos da obra épica, lírica e teatral; “Gil Vicente e as Origens do Teatro Português”; “Bernardim Ribeiro e o Bucolismo”; Cristóvão Falcão, autor da “Écloga Cristal”; Bocage, sua vida e Época; “Filinto Elísio e os Dissidentes da Arcádia”; a “História do Romantismo em Portugal”; e “Garrett e a sua Obra”.

A curiosidade de Teófilo estendeu-se a outros temas: o povo português, nos seus costumes, crenças e tradições; o cancioneiro e o romanceiro popular; os contos tradicionais. Também se consagrou à política. Encontra-se ligado à fundação, ao desenvolvimento e à projeção do Partido Republicano Português. Desempenhou as funções de presidente do governo provisório e de Presidente da República.

Acrescente-se o percurso na Universidade de Coimbra, a propósito das opções pedagógicas que se refletiram na cultura e na sociedade portuguesas: Sistema de Sociologia (para alargar as previsões, comprová-las e acelerá-las pela intervenção política e governativa); Soluções Políticas da Política Portuguesa, para demonstrar que o povo estava preparado para receber a República.

De estudante a professor

Nasceu em Ponta Delgada a 24 de fevereiro de 1843. Enquanto aluno do liceu, principiou a atividade literária em jornais e revistas em São Miguel. Aprendeu, ainda, rudimentos da tipografia. Dirigiu-se, aos 18 anos, para Coimbra. Tinha a ambição de ser professor na universidade.

Arrostando com os maiores sacrifícios, sem quaisquer apoios financeiros, vivendo apenas de explicações, tirou, entre 1862 a 1867, o curso de Direito, com elevadas classificações. Um ano depois fez provas de doutoramento com uma tese acerca da história do direito português — os forais. Reconheceram-lhe os méritos. Contudo, para ascender à cátedra, foi preterido por um candidato que possuía relações privilegiadas com o júri. Tentou, em seguida, lecionar Direito Comercial na Academia Politécnica do Porto. Voltou a ser rejeitado. Finalmente, concorreu, em 1872, a uma cátedra sobre Literaturas Modernas no Curso Superior de Letras, um concurso público muito renhido. Entre os candidatos encontravam-se Pinheiro Chagas e Luciano Cordeiro. Eram os outros candidatos e tinham as maiores proteções no corpo docente. Teófilo conseguiu, finalmente, vencer. Teófilo Braga radicou-se, a partir de então, em Lisboa, até falecer a 28 de janeiro de 1924. Nunca atravessou a fronteira. A sua vida, de enorme sobriedade, circunscreveu-se entre a intimidade e os contactos quotidianos: o Curso Superior de Letras; instalado no edifício da Academia das Ciências, da qual foi vice-presidente. (O rei, por razões estatutárias, era o presidente de honra). Deslocava-se, ainda, para fazer pesquisas documentais à Torre do Tombo que funcionava no Palácio de São Bento, e à Biblioteca Nacional, estabelecida no antigo Convento de São Francisco, na área do Chiado. Pertenceu a uma tertúlia na rua do Arsenal, na livraria Carrilho Videira, que reunia e editava obras de republicanos. Andava a pé ou nos transportes públicos, mesmo quando foi Presidente da República.

Ramalho Ortigão procurou, ainda, defini-lo nestes termos: “Este débil de aspeto um pouco valetudinário, dorso curvo, ventre chato, estômago escavado, deixando descair as calças em pregas sobre os sapatos, é o mais forte, o mais rijo, o mais enérgico temperamento que tenho conhecido.” Os caricaturistas retrataram-no com ironia. Joshua Benoliel fixou-o em dezenas de fotografias. Tornara-se uma figura típica de Lisboa.

As polémicas

A atividade literária, histórica, filosófica e política de Teófilo Braga desencadeou sucessivas controvérsias: Castilho atacou a sua participação na Questão Coimbrã; Camilo, pelos mais diversos motivos, constituiu um dos seus mais acérrimos adversários; Ricardo Jorge, a propósito de um estudo acerca de Rodrigues Lobo, denunciou-o como plagiário.

Todavia, entre os críticos mais severos, avulta Antero de Quental: “Os primeiros passos no estudo da história literária portuguesa — escreveu — foram dados pelo sr. Teófilo Braga, essa glória ninguém lhe tira. Tem defeitos: a impaciência que o leva muitas vezes a conclusões prematuras; e o espírito sistemático que o leva também a conclusões falsas. (...) O lado inferior e frágil — acentua Antero de Quental — são as teorias gerais, a parte filosófica; sente-se que não é essa a vocação do sr. Teófilo Braga. Ao mesmo tempo quimérico e sistemático, dá às suas doutrinas gerais uma feição dogmática que lhes tira aquele poder de ductilidade e compreensão, sem o qual uma teoria, para acomodar os factos ao seu rigor inflexível, tem de os forçar, umas vezes e outras vezes, de pôr de lado. Isto é — adverte Antero de Quental — o que torna abstrusas certas obras, como a ‘Poesia do Direito’.” (in “Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa”, Porto 1872)

Camões, o símbolo nacional

Camões foi um dos temas que, durante meio século, mais entusiasmou Teófilo. Interessaram-lhe todos — ou quase todos — os aspetos da vida e a obra do poeta. Fez uma reflexão e estudo dos textos mais antigos de biógrafos e comentadores, o chantre Severino de Faria, o licenciado Manuel Correia, o historiador e filólogo Manuel Faria de Sousa e o memorialista João Soares de Brito.

Formulou hipóteses e extraiu conclusões, muitas das quais se revelaram precárias, em torno das circunstâncias relativas à conceção, publicação e divulgação de “Os Lusíadas”; e a outros assuntos como a tença, a morte e a sepultura de Camões; e, ainda, a permanência em África e no Oriente. Sejam quais forem as reservas, os estudos de Teófilo proporcionam pistas para investigação do tempo histórico e da amplitude da obra do poeta, que não ficou alheio ao desconcerto do mundo e às vulnerabilidades da condição humana.

Procedeu a uma campanha de opinião pública para celebrar, em todo o país, o terceiro centenário da morte de Camões. A informação existente indicava o dia 10 de junho. Foi exatamente nesse dia que se realizaram, em 1880, as comemorações, com a participação de intelectuais, políticos e elevado número de populares. Destinavam-se a promover a coesão do Partido Republicano, unindo as várias tendências e grupos dispersos, no pensamento e na ação. Recorde-se que, pouco antes de falecer, concedeu uma entrevista ao “Diário de Notícias”, na qual insistiu que a data do nascimento de Camões era 5 de fevereiro de 1524. O Governo, presidido por Álvaro de Castro e tendo António Sérgio como ministro da Instrução, determinou que o dia 5 de fevereiro passasse a ser feriado nacional. A data foi aprovada pelo Congresso da República e promulgada pelo chefe de Estado, Manuel Teixeira Gomes. Concretizava-se assim, a título póstumo, a aspiração cívica de Teófilo: o sentimento nacional é um dos pilares fundamentais para a unificação dos portugueses. “Pelo amor do seu território, pela necessidade de manter a independência”, escreveu, “é possível alcançar uma ação comum, um sentimento coletivo que fortifica o sentimento da pátria e da nacionalidade.” (...) “Camões”, sintetizou, “deu expressão a esse sentimento, que transformou uma pátria numa nacionalidade”.

Presidente da República

Proclamada a República, Teófilo Braga foi escolhido para chefe do governo provisório (5 de outubro de 1910 a 4 de setembro de 1911). Acompanhou a apresentação, o debate e a votação da legislação que estruturou o novo regime. A ditadura de Pimenta de Castro (28 de janeiro de 1915 a 14 de maio de 1915) que encerrou o Parlamento e conduziu à demissão do Presidente da República Manuel de Arriaga (eleito a 24 de agosto de 1911 e a desempenhar funções até 26 de maio de 1915). Perante esta crise, que provocou uma das mais sangrentas e devastadoras revoluções, solicitaram a Teófilo Braga para ocupar o cargo, porque reconheciam nele uma reserva moral e cívica. Eleito em sessão do Congresso a 29 de maio de 1915, obteve 98 votos a favor, contra 1 voto para Duarte Leite e três votos em branco. Durante quatro meses assegurou a chefia do Estado, em circunstâncias particularmente complexas, a nível nacional e internacional. A defesa dos territórios portugueses de África, em especial Angola e Moçambique, perante ameaças da Alemanha, determinou a expedição de contingentes do Exército e da Marinha. A 5 de agosto de 1915 a Europa eclodiu o que viria a ser a Grande Guerra.

Os efeitos do conflito acentuaram-se com muito impacto nas lutas partidárias e na subida dos preços dos bens de consumo diário. Gerou-se a corrida aos bancos para levantar os depósitos. Havia uma profunda instabilidade política e social. Contudo, a entrada de Portugal na guerra, em solidariedade com a Inglaterra — e devido à secular aliança subscrita entre os dois países — só se verificaria a 7 de agosto de 1916. Deu lugar a mais outra controvérsia entre as forças militares e os principais partidos políticos.

Europa e Atlântico

Teófilo Braga, ao tomar posse, referiu que a sua orientação visava “a harmonia de todos os poderes do Estado, o reconhecimento de que o poder soberano da nação reside essencialmente no Congresso, de que o presidente não é senão um mandatário. O contrário seria eu a exercer um imperialismo presidencialista”.

Fez questão de salientar que, perante “esta espécie de solidariedade humana, que corrige os excessos do egoísmo nacional (...), um outro equilíbrio europeu tem de fundar-se.” Assim, “a política externa de Portugal deriva completamente da sua situação geográfica; ela solidarizou-se com a Europa, quando combatia o imperialismo da Espanha no século XVII e quando no século XIX desmoronava o imperialismo napoleónico, ela nos fará cooperar na atividade mundial dos grandes Estados, com o apoio no Atlântico”. Noutro passo, Teófilo Braga concluiu: “Apresentando estes dois aspetos de política, interna e externa, da nação portuguesa, dela se deduz um plano do Governo. E ao proferir as palavras de compromisso de honra, desta hora em diante só aspiro que, ao regressar dignamente ao lar, se possa dizer: cumpriu o que prometeu; guiou-se pelo bom senso e pelo desinteresse.”  

Consagração Nacional

Teófilo Braga, tal como João de Deus e Guerra Junqueiro, após o seu falecimento teve honras nacionais e foi sepultado nos Jerónimos — à data o Panteão Nacional. Em 1925, Alfredo Guisado, poeta da “Orpheu” e vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, inscreveu-o na toponímia. A rua onde residia, a Travessa de Santa Gertrudes, passou a denominar-se Rua Teófilo Braga. Também Alfredo Guisado deu o nome de Teófilo Braga ao Jardim da Parada, no centro do bairro de Campo de Ourique. Pouco depois, a 16 de outubro de 1926, inaugurava-se, no Jardim da Estrela, um monumento dedicado a Teófilo Braga, da autoria do escultor Teixeira Lopes. Em pleno salazarismo, o monumento saiu do Jardim da Estrela e foi enviado para Ponta Delgada, por ocasião do centenário do seu nascimento. Ficou junto ao Forte de São Brás, a curta distância da casa onde nasceu.

Embora muito combatido por intelectuais de várias tendências, também contou com a fidelidade e dedicação de amigos como Francisco Maria Supico e de discípulos como Teixeira Bastos, Reis Dâmaso, Fran Paxeco, A. do Prado Coelho. Um dos seus admiradores, Álvaro Neves, inventariou a sua interminável bibliografia e organizou o “In Memoriam”.

Ao dissiparem-se as incompatibilidades pessoais e aversões políticas, chegou a hora da reabilitação da vida e da obra em trabalhos de investigação e crítica de Joaquim de Carvalho, Luís da Câmara Reys, Mário Soares e, presentemente, Amadeu Carvalho Homem. Um facto é evidente: o homem, o erudito, o cidadão e o político merecem ser evocados no ano do centenário da sua morte. Destaca-se, quaisquer que sejam as reservas, o pioneiro da história da literatura que elegeu Camões como o símbolo da nacionalidade. Foi um dos fundadores do Partido Republicano que contribuiu para a transformação da sociedade portuguesa, para a mudança do regime e para a solução de algumas crises institucionais.

O “orgulho de ser açoriano”

Saiu de Ponta Delgada aos 18 anos e nunca mais voltou à ilha de São Miguel. Guardava memórias amargas da infância e da adolescência. Manteve um contacto epistolar assíduo com Francisco Maria Supico, diretor do jornal “A Persuasão”, que lhe acompanhou os primeiros passos e o incentivou a fazer carreira universitária. Entre as numerosas obras que publicou, faz referências a autores açorianos como Gaspar Frutuoso, propôs o camonianista José do Canto para sócio da Academia das Ciências e ocupou-se de temas açorianos. É o caso de “Cantos Populares do Arquipélago Açoreano” (1869). Este trabalho baseia-se na recolha feita por João Teixeira Soares de Sousa (1827-1882), a pedido de Garrett. Acerca da poesia popular — escreveu Teófilo — existem duas modalidades: “uma atual, móvel, continuamente em elaboração porque é um eco da vida, uma linguagem das paixões e dos sentimentos de hoje; a outra é tradicional, histórica, em desarmonia com os costumes presentes, mas repetida ainda religiosamente como lembrança de costumes e sucessos que já passaram.” Constitui: “o rapsodo de todas as alegrias e tristezas do poema da vida. A poesia — para o povo — é o ritmo do esforço no trabalho, o esquecimento da miséria, a expressão dos desejos, o tesouro da sua moral e tradições antigas, a linguagem do amor, o gemido, enfim, a verdade simples da sua alma.” Compreende, por conseguinte, “fados e canções da rua, orações, profecias nacionais e aforismos poéticos da lavoura”. Ao ser entrevistado por Albino Forjaz de Sampaio, declara que “nunca tivera a doença do açoriano, o apego ferrenho às suas ilhas, a nostalgia que sentimos quando delas nos afastamos. No entanto, através da minha longa vida, sempre me interessou tudo o que pudesse interessar aos Açores, especialmente à minha terra”. Afirmou, ainda com veemência: “Tenho orgulho de ser açoriano. As nossas ilhas são o foco da melhor tradição nacional. Nunca reneguei a minha terra. Sou ilhéu, nasci nesses rochedos donde irradiou o espírito das autonomias.” António Valdemar – Portugal in “Blog de São João del-Rei” 

António Valdemar - Jornalista, investigador, sócio efetivo da Academia das Ciências.  

Portugal - Conheça o devorador de pinhões, o Leptoglossus

Esta espécie exótica é um sugador, que se alimenta de pinhas e flores de diversas espécies de resinosas. Dono de uma espécie de trompas pontiagudas, o inseto de pouco mais de dois centímetros consegue penetrar a pinha para alimentar-se, absorvendo o pinhão em formação. O resultado são os denominados ‘pinhões chochos’.


Com uma capacidade de sobrevivência rara, numa região em que não tem inimigos naturais, dado tratar-se de uma espécie exótica, o Leptoglossus não tem fronteiras. Além de absorver o pinhão, estraga a pinha enquanto ainda está a formar-se – uma pinha demora três anos a ficar madura.

Segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), este inseto exótico – que, recorde-se, é mais uma praga a ameaçar a floresta autóctone e as exportações portuguesas (com o pinheiro bravo, por exemplo) – chegou à Europa, mais exatamente ao Norte de Itália, já em 1999, “tendo-se aclimatado e disseminado rapidamente por vários países europeus”. A presença em Portugal foi confirmada em 2010 na península de Troia e no norte do país.

Depois da Espanha, Portugal é atualmente o país com maior área de pinheiro manso. Assim, a Península Ibérica possui cerca de 75% da área de distribuição mundial do pinheiro manso e que nos últimos 10 anos o povoamento em Portugal aumentou mais de 50%. In “Green Savers” - Portugal