Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Angola – Jovem escritora apresenta obra que apela aos pais a uma maior atenção à alimentação

A escritora Ombembwa, de 12 anos, realizou, no passado sábado, na Praça da Independência, em Luanda, o lançamento do seu segundo livro intitulado “O Pomar Mágico”


Durante a apresentação do livro, a autora explicou que procurou, com os diálogos entre as frutas de um pomar, localizado no município da Quiçama, destacar a importância da inclusão das frutas na dieta diária das crianças.

Segundo Ombembwa, o manual surge, igualmente, com a intenção de promover a interacção entre pais e filhos, através da leitura conjunta.

A escritora considera o hábito da leitura entre pais e filhos, como um grande aliado para a criação de vínculos. Além disso, disse contribuir positivamente para o desenvolvimento vocabular, cognitivo e emocional da criança.

Ombembwa, que começou a ler aos quatro anos de idade por influência do pai que sempre colocou à disposição da menina várias opções de leitura, realçou a importância do livro na vida das pessoas, sobretudo das crianças.

"Quanto mais for o contacto da criança com o livro, sobretudo com o texto literário, maior será o seu desenvolvimento”, afirmou.

A pequena escritora espera que, muita gente possa adquirir "O Pomar Mágico” nas próximas sessões de venda.

Mais sobre o livro

Em 30 páginas, a escritora descreve um pomar lindo, com paisagens belas, árvores de frutas típicas de Angola, pássaros, insectos e outros animais, que dão lugar à discussão entre as oito amigas-frutas típicas do nosso campo e mercado, demonstrando a vaidade de umas e os ciúmes de outras.

Para alegria de umas e tristeza de outras, uma altruísta aparece para aconselhar e mediar a discussão acerca da importância dos nutrientes que cada uma possui, mostrando-se um aparador de consenso, pelo valor que cada uma possui.

Assim, as frutas, na sua conversa falam das suas origens e dos nutrientes que possuem, demonstrando com clareza em que parte do corpo do homem actuam e em especial como contribuem para melhorar a saúde das crianças.

O manual foi publicado com a chancela da editora AJEA, conta com a ilustração de Lucas Paulo, design de capa de Lukeny José e prefácio de Akiz Neto.

Detentora de vários prémios

Ombembwa, expressão da região etnolinguística umbundu, que em português significa Paz e Benção, é o pseudónimo literário de Sadimauria Ivone Bessa Ferreira, que declama desde os quatro anos.

Sadimauria Ivone Bessa Ferreira nasceu a 24 de Março de 2012. É declamadora desde os quatro anos, ainda no jardim de infância. Foi vencedora da segunda edição do concurso nacional "Kids Talents Awards”, na categoria de "Poesia: Melhor Declamadora”, e na quarta edição, na categoria de "Literatura: Melhor Texto Literário”.

A escritora tem textos assinados em duas antologias poéticas internacionais, nomeadamente "O Sonho da Criança”, editado em 2021 pela Cultive Suíça, e "A Donzela – O Sonho da Criança e Independência”, de 2022.

Ombembwa é membro da Academia Virtual de Poetas da Língua Portuguesa e da Liga das Escritoras Africanas em Angola. É criadora das frases "A criança é uma flor que desabrocha ao amanhecer”, "Quem oferece um livro, oferece uma visão e educação” e "Todas as crianças podem realizar os seus sonhos se amarem os livros”. É membro mais nova da Brigada Jovem de Literatura de Angola (BJLA), desde 2020. In “Jornal de Angola” - Angola


Portugal - Investigadores da Universidade de Coimbra desenvolvem aerogéis compósitos de sílica e polímero para criação de novas baterias sólidas

Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) desenvolveram aerogéis compósitos de sílica e polímero para a criação de novas baterias sólidas.

O objetivo do projeto “Silica-Polymer Composite Aerogels As Solid Sodium Electrolytes (AeroNaLyte), um dos vencedores da 4.ª edição dos Prémios Semente de Investigação Científica Interdisciplinar da Universidade de Coimbra, passou por encontrar materiais que pudessem ajudar a desenvolver uma nova geração de baterias e proporcionar avanços em relação ao aumento da segurança (mais estáveis e não inflamáveis) e de durabilidade de futuras baterias pós-lítio.

«A questão das baterias atuais é serem de lítio, um recurso finito considerado pela União Europeia como matéria-prima crítica e que está distribuído de forma muito desequilibrada pelo mundo. Alguns países beneficiam da exploração do lítio, enquanto outros estão à mercê. Portanto, existe um esforço global para diminuir esta dependência, mas também a utilização de certos materiais, como o cobalto, que é um metal cuja exploração está associada à violação dos Direitos Humanos», esclarece João Vareda, investigador do Departamento de Engenharia Química (DEQ) e coordenador do projeto.

De acordo com João Vareda, «as baterias de sódio podem ser a solução para a substituição do lítio, pois existe em todo o mundo e tem um preço muito acessível. Além disso, as baterias de sódio já permitiriam substituir alguns daqueles metais que são problemáticos», assegura. 

Portanto, com o propósito de dar mais um passo para um futuro mais verde, o projeto “AeroNaLyte” focou-se na criação de aerogéis compósitos de sílica e polímero, usando materiais biocompatíveis e solventes verdes como eletrólitos sólidos para uma possível nova geração de baterias, bem como em testar a funcionalidade desta abordagem e a sua aplicação. Os resultados são muito positivos e promissores, mas é necessário trabalho futuro para concretizar o potencial desta estratégia.

Os problemas de segurança das baterias de lítio atuais, devido à sua inflamabilidade, e dificuldade ou quase impossibilidade de reciclagem são outras das razões que levaram o jovem investigador a pensar na utilização dos aerogéis nas baterias. Além disso, João Vareda não deixou de referir os problemas causados pela extração dos metais, nomeadamente no que se refere a questões ambientais e sociais.

Para o engenheiro químico, a criação desta nova geração de bateria pode «permitir a chegada de eletricidade a locais onde ainda não existe. Se calhar, não vão conseguir ter uma rede elétrica como a nossa, mas a acumulação da energia elétrica em baterias vai ser muito importante para democratizar a eletricidade a todo o mundo», considera.

«As baterias vão ser muito importantes», acredita o investigador, concluindo que «estarmos a contribuir para a possibilidade de todo o mundo dispor de rede elétrica, certamente, vai ter impacto social, ambiental e económico». Universidade de Coimbra - Portugal


Portugal - Cientistas da Universidade do Porto desvendam mistério secular sobre a cor dos cucos

A variação natural característica das espécies encontra-se, por vezes, restrita a um só sexo, criando um enigma ao qual os cientistas há muito procuram resposta. Num novo estudo publicado na conceituada revista científica Science Advances, um consórcio internacional coliderado por investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto, aplicou ferramentas de genómica de nova geração para estudar um mistério natural com mais de 200 anos – a fêmea de cuco “hepática”. O estudo revela a razão genética que explica o facto de fêmeas de diferentes espécies de cucos possuírem cores muito distintas.


Em 1788, o naturalista sueco Anders Sparrman, um discípulo do famoso Lineu, descreveu uma variedade de cucos arruivados à qual chamou “cuco hepático”, e que considerou tão distinta dos habituais cucos cinzentos que a catalogou como uma nova espécie de ave. Ao longo dos séculos seguintes, tornou-se claro para os naturalistas que os cucos hepáticos eram apenas uma variedade colorida do cuco-canoro europeu mais comum (Cuculus canorus), mas com uma particularidade: enquanto os machos de cuco são sempre cinzentos, as fêmeas podem ser ou cinzentas (semelhantes aos machos), ou ser da variante arruivada, apelidada “hepática”.

Esta descoberta tornou-se mais intrigante quando se descobriu que outras espécies de cuco, para além do mais famoso cuco-canoro europeu, também tinham a mesma variação cinzenta-ou-hepática restrita às fêmeas.

A cor é essencial para o estilo de vida parasítico dos cucos: a fêmea dispõe apenas de segundos para pôr os seus ovos nos ninhos de outras aves; para o fazer, o seu dorso cinzento e o peito barrado mimetizam a cor de aves de rapina como o gavião, afugentando temporariamente o hospedeiro. Os cientistas têm-se por isso debatido com várias questões: qual é a razão para esta cor alternativa, porque é que apenas as fêmeas são variáveis, e porque é que tantas espécies de cucos mostram esta variação?

“As diferenças de aspeto entre indivíduos de sexos diferentes são comuns em animais, mas variação que é restrita a um sexo é muito menos comum” explica Miguel Carneiro, investigador principal no BIOPOLIS-CIBIO e um dos autores do estudo.

“Um exemplo é a perda de cabelo com a idade, que afeta alguns homens e outros não, mas que não afeta as mulheres. Exemplos como este não são habituais, em particular em espécies selvagens, por isso esta oportunidade de estudar a variante hepática do cuco foi muito aliciante”, acrescenta o investigador.


A chave está numa mutação com cerca de 1 milhão de anos

“Nós começamos por estudar uma população de cucos da Hungria na qual as fêmeas hepáticas coexistem com fêmeas cinzentas,” descreve Cristiana Marques, coautora principal do estudo e estudante do doutoramento em Biodiversidade, Genética e Evolução da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), a desenvolver o seu projeto no BIOPOLIS-CIBIO.

Depois de os cientistas descodificarem os genomas dos cucos, encontraram algo estranho: “as fêmeas cinzentas e hepáticas têm um perfil genético comum, tão semelhantes como qualquer vizinho. No entanto, quando olhamos para os cromossomas sexuais, vimos que, no cromossoma W, que é um cromossoma específico das fêmeas de aves, eram tão diferentes que parecia que estávamos a olhar para duas espécies distintas”, explica a investigadora.

Será que as outras espécies de cuco poderiam ajudar a resolver esta questão? Os investigadores focaram-se, de seguida, no cuco-oriental, uma espécie asiática na qual as fêmeas também por vezes são da variante hepática. Quando consideraram a informação genética das duas espécies, a história das fêmeas hepáticas tornou-se mais clara: “Reconstruímos a árvore evolutiva destes cucos e descobrimos que, ao contrário do resto do genoma, no cromossoma W o parentesco é maior consoante a cor da fêmea. Ou seja, uma fêmea de cuco-canoro hepática tem um W mais semelhante ao de uma fêmea hepática de cuco-oriental, do que o da fêmea cinzenta da mesma espécie” acrescenta, por sua vez, Pedro Andrade, também investigador no BIOPOLIS-CIBIO e coautor do artigo. “Para chegar ao fundo da questão, testamos se esta partilha de variação ocorria devido ao acaso, por hibridação, ou se a variação era tão antiga que precedia as espécies atuais”.

“E os nossos dados sugerem que esta variação é efetivamente muito antiga. A mutação original ocorreu provavelmente há cerca de um milhão de anos, antes do aparecimento do cuco-canoro e do cuco-oriental atuais, e tem sido passada geração após geração à medida que as espécies evoluíram”, explica Cristiana Marques.

De acordo com a equipa, este é um excelente exemplo de como, por vezes, diferentes variedades da mesma característica podem ser vantajosas, em contraponto à visão mais clássica da evolução na qual uma variante se sobrepõe às outras e leva a mudanças nas populações ao longo do tempo.

Segundo Miguel Carneiro, “os resultados demonstram como é que variação restrita a um sexo pode ser determinada pelos cromossomas sexuais, o que à primeira vista parece intuitivo, mas que surpreendentemente até agora tinha sido difícil de demonstrar”.

Para os cucos, manter duas formas diferentes numa população poderá impedir os hospedeiros dos ninhos de aprenderem a distinguir as fêmeas das aves de rapina que mimetizam, salvaguardando a espécie.

Neste momento prosseguem esforços para demonstrar se estas cores têm facilitado o estilo de vida parasítico dos cucos ao longo da sua evolução. Universidade do Porto - Portugal





Macau - 155 alunos frequentam curso de português pré-universitário

O curso pré-universitário de aprendizagem de Português, lançado este ano, conta com a participação de 155 alunos, indicou a chefe do Departamento do Ensino Não Superior da DSEDJ


Um total de 155 alunos do ensino secundário estão a frequentar o curso de Português pré-universitário, de quatro anos, lançado este ano pela Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), indicou Choi Man Chi chefe do Departamento do Ensino Não Superior. As informações foram avançadas na 1ª reunião plenária ordinária de 2024 do Conselho de Educação.

Segundo Choi Man Chi, através deste curso, os alunos podem participar em actividades de experiência do Português que cruzam diversos anos escolares, em campos de Verão e receber apoio para o exame de nível de Português. Além disso, afirmou, algumas instituições de ensino superior portuguesas lançaram em conjunto um plano de prosseguimento de estudos junto de estudantes de Macau.

Já a chefe da Divisão de Cooperação e Intercâmbio do Ensino Superior, Tam Sio Wa, garantiu que a DSEDJ vai continuar a organizar a deslocação das instituições de ensino superior de Macau ao Interior da China, a Portugal, à Malásia, à Tailândia, ao Vietname e outros países e regiões, “para realizarem intercâmbio com instituições de ensino superior e educativas e culturais desses locais”.

A directora substituta do Centro de Difusão de Línguas da DSEDJ, Leong Lai San, também apresentou os trabalhos relacionados com o ensino da Língua Portuguesa. Sublinhando que o ensino não superior foi promovido como ponto de entrada para a aprendizagem da Língua Portuguesa, acrescentou que foram lançados cursos diversificados “no sentido de expandir o grupo de alunos interessados pela aprendizagem”.

Através do aprofundamento da cooperação educativa com as instituições de ensino superior de Portugal, foram também lançados planos de prosseguimento de estudos, destinados a alunos de Macau. A DSEDJ criou também uma página electrónica, de modo que alunos e encarregados de educação possam inteirar-se das informações sobre o prosseguimento de estudos em Portugal.

No início da reunião, o chefe do Departamento de Recursos Educativos, Tang Wai Keong apresentou o rumo da elaboração do regime de desenvolvimento profissional do pessoal docente do ensino não superior. Com vista a implementar as exigências de diversas leis, foram iniciados os trabalhos sobre a elaboração deste regime, “de forma a articular eficazmente com as necessidades educativas e de desenvolvimento das escolas e apoiar o desenvolvimento profissional do pessoal docente”, frisou.

O encontro foi presidido pela presidente do Conselho de Educação e Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, tendo Kong Chi Meng, director da DSEDJ e vice-presidente do Conselho estado também presente. Da agenda constaram ainda temas como o relatório sobre os trabalhos relativos à optimização do sistema de gestão das instituições de ensino superior e o relatório sobre o plano de trabalho da promoção e cooperação externa do ensino superior de Macau. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


domingo, 28 de abril de 2024

Canadá - Luso-Can Tuna vai integrar o Portuguese Canadian Walk Of Fame

A Luso-Can Tuna passará a integrar o Portuguese Canadian Walk Of Fame, a partir de 25 de maio, dia em que acontecerá a cerimónia de indução dos homenageados deste ano. A partir desta semana, vamos tentar perceber o significado que os escolhidos deste ano atribuem a este momento de reconhecimento pelo seu trabalho e/ou personalidade


Começamos pelos mais novos e por esta associação que tanto tem feito pela promoção de Portugal e da sua cultura, com particular destaque para as tradições académicas. Chiara Picão é atualmente a presidente da Luso-Can Tuna e partilhou com o Milénio como foi acolhida esta notícia, pelos diversos atuais tunos. Resumindo, não há forma de descrever a alegria que sentiram.

Milénio Stadium: Como é que o Luso-CanTuna recebeu a notícia de que, a partir de 25 de maio, vai ser incluído no Portuguese Canadian Walk Of Fame?

Chiara Picão: Quando recebemos a notícia, ficámos completamente radiantes! Ser incluído no Portuguese Canadian Walk Of Fame é uma grande honra. Estamos incrivelmente gratos à nossa comunidade pelo seu apoio e pela decisão de reconhecer o nosso trabalho desta forma, isso significa muito para nós. Obrigado à direção da PCWOF, bem como à comunidade luso-canadiana por nos apoiarem sempre e à nossa missão.

MS: 25 anos após a fundação da Tuna, que significado atribuem a esta distinção?

CP: Este ano foi muito especial para nós. Terminámos o nosso 25º ano com a realização do Lusofonia, um festival de música, onde celebrámos não só com outras tunas de Portugal, mas também com várias gerações do nosso grupo. Ver tantas pessoas a juntarem-se para celebrar connosco, quer fossem membros veteranos ou amigos do nosso grupo, foi muito reconfortante. Este foi um grande aniversário que significou muitos anos de trabalho árduo e receber a notícia da nossa indução, logo após o nosso festival, é uma grande honra. Estamos muito emocionados por sentir o amor e o apoio da comunidade luso-canadiana nestes últimos 25 anos.

MS: A inclusão da Tuna Luso-Canadiana no PCWOF traz responsabilidades acrescidas para o futuro? Sentem-se encorajados a continuar o trabalho de promoção da cultura portuguesa durante pelo menos mais 25 anos?

CP: A tuna trabalha para dar continuidade a estas tradições académicas, para promover a cultura portuguesa e o valor da educação, particularmente junto dos nossos jovens. Sentimos uma profunda responsabilidade nesse sentido, bem como em representar a nossa comunidade com orgulho em todo o lado onde vamos. A nossa inclusão no Portuguese Canadian Walk Of Fame só nos motiva a continuar a nossa missão durante mais 25 anos e, esperemos, ainda mais! Num momento tão especial como este, é difícil também encontrar palavras para agradecer. É de facto uma honra tão grande que é difícil até descrever o quão felizes nos sentimos! In “Milénio Stadium” – Canadá


A Inconfidência revisitada

Nova obra do historiador britânico Kenneth Maxwell analisa a trajetória do Brasil no século XXI e reconstitui a história da conjuração mineira de 1789  

                                                                            

                                                          I

Uma revisão, praticamente, completa da chamada Inconfidência Mineira – até porque, em História, nunca se pode definir um estudo como completo porque sempre haverá a possibilidade de se localizar documentos esquecidos ou perdidos – é o que o leitor vai encontrar no longo ensaio “Imagined Republics: the United States of America, France, and Brazil (1776-1792)”, que constitui a segunda parte de Brazil in a Changing World OrderEssays by Kenneth Maxwell (Robbin Laird, editor, Second Line of Defense, 2024), obra que acaba de sair à luz na Inglaterra e que, por sua importância capital, está a exigir a sua publicação o mais rápido possível por uma editora brasileira.

Já a primeira parte reúne breves textos escritos entre 2011 e 2024 sobre a conjuntura política no Brasil, especialmente os acontecimentos que levaram ao impeachment da presidente Dilma Roussef, à prisão do então ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e à eleição de Jair Bolsonaro, o assim chamado “Tropical Trump”, bem como a eleição pela terceira vez de Lula para a presidência da República, sem deixar de discutir a atuação do Brics, pretenso bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, entre outros temas, inclusive um primoroso texto sobre as relações militares entre Brasil e Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). 

Responsável por obras fundamentais para o estudo do movimento ocorrido em Minas Gerais em 1789, ano da Revolução Francesa, como A Devassa da Devassa (Rio de Janeitro, Editora Paz e Terra, 1977), seu primeiro livro, publicado em 1973 sob o título Conflicts and Conspiracies: Brazil and Portugal, 1750-1808 (Cambridge University Press), Chocolate, piratas e outros malandros (Editora Paz e Terra, 1999) e Mais malandros e outrosensaios tropicais (Editora Paz e Terra, 2005), Maxwell é  autor de outros títulos igualmente imprescindíveis para o conhecimento do que foi o século XVIII português, como Marquês de PombalParadoxo do Iluminismo (1996),  ou ainda o que representou a precoce aventura imperial de Portugal na África, na Ásia e nas Américas, de que Naked Tropics: Essays on Empire and Other Rogues (2003) é outro imperdível exemplo.

 

                                                         II                       

Nem por isso Maxwell se imagina dono da palavra final sobre a História de Portugal e do Brasil, como se deduz do excepcional estudo que mostra como uma obra publicada na França por iniciativa de Benjamin Franklin (1706-1790), um dos fundadores dos Estados Unidos e um dos líderes da Revolução Americana (1776), inspirou os conspiradores de 1788-1789 em Minas Gerais. Trata-se de Recueil des Loix Constitutives des Etats-Unis, ou apenas “Recueil”, obra que circulou entre os insurgentes, como comprova o exemplar que desde 1989 faz parte do acervo da Casa do Pilar do Museu da Inconfidência em Ouro Preto, a antiga Vila Rica, e que foi trazido de Birmingham, Inglaterra, pelo inconfidente José Álvares Maciel (1760-1804), em 1788.

Neste longo ensaio que constitui a segunda parte da obra, o estudioso não deixa de citar livros de outros historiadores que, a partir da leitura do seu clássico A Devassa da Devassa, igualmente localizaram documentos que são discorridos em uma centena de notas de rodapé e que permitem uma análise ainda  mais aprofundada do que representou o século XVIII no mundo português. E que, enfim, permitem concluir que, por trás dos ideais do inconfidentes, havia também interesses subalternos, como os dos grandes arrematantes de contratos João Rodrigues de Macedo (1739-1807) e Joaquim Silvério dos Reis (1756-1819), que se haviam tornado grossos devedores, ao deixar de repassar para o Erário Régio os tributos que recolhiam em seu nome. Ou seja, a corrupção que se vê hoje em dia vem mesmo de longe e faz parte da própria formação do País.

Aliás, esse teria sido o verdadeiro motivo do fracasso da conspiração, pois, ao que tudo indica, Silvério, diante da indecisão do tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade (1752-1808), comandante dos Dragões de Minas, em colocar a rebelião nas ruas, decidira pular para o outro lado, sempre pensando no perdão de suas dívidas.

 

                                                        III

A par disso, com base em documentos de arquivo, Maxwell expõe também que, por trás dos ideais republicanos, estava principalmente o exemplo dos americanos do Norte, como fica claro na carta que um insurgente, José Joaquim Maia e Barbalho (1757-1788), então estudante na Universidade de Montpellier, encaminhou em outubro de 1786 a Thomas Jefferson (1743-1826), autor da declaração de independência dos Estados Unidos, que à época representava seu país em Paris. Nessa carta, atrás do pseudônimo Vendek, esse estudante apresentava a necessidade que os insurgentes tinham de um apoio decisivo da “poderosa nação”. E acrescentava: “Eles consideram a Revolução Norte-Americana um precedente para a deles. Eles olham para os Estados Unidos como quem têm maior probabilidade de lhes dar apoio honesto e, por uma variedade de considerações, têm as mais fortes razões para atuar em nosso favor”.  Para Vendek, as capitanias do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia instigariam o levante e esperava-se que as outras seguissem o exemplo. 

Maxwell cita também Eleutério José Delfim (1769-?), outro estudante brasileiro em Montpellier, filho de Antônio José Delfim, grande empreiteiro de obras públicas no Rio de Janeiro e influente intermediário no comércio de escravos com Moçambique. Era alegado que o jovem Delfim teria levado, em 1786, carta de apresentação da maçonaria do Rio de Janeiro para que Maia e Barbalho pudesse se aproximar de Thomas Jefferson, hipótese que o autor considera improvável, observando que “não há evidência confiável de influência maçônica em 1788”.

De fato, Maxwell demonstra em suas notas de rodapé que, nos Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, publicados pelo governo de Minas Gerais nos anos 1970/80, as observações de um dos editores, Tarquínio J.B. de Oliveira (1915-1980), a respeito da influência maçônica na Inconfidência, não são confiáveis. Mas acrescenta que as notas de rodapé do outro editor, o historiador Herculano Gomes Mathias (1916-2002), são inteiramente confiáveis.

Maxwell prefere ficar com a hipótese segundo a qual havia mais interesse em estimular a separação das capitanias brasileiras do reino de  Portugal por parte dos mercadores do porto francês de Bordeaux, que já se haviam se beneficiado enormemente do comércio de escravos (slave trade)  com a África Ocidental e a colônia francesa de São Domingos. Nesse caso, Delfim teria ido lá para reforçar os laços comerciais de sua família com aqueles mercadores.  

Esse Eleutério José Delfim, que por muito tempo ficou esquecido na História, haveria de se instalar na ilha de Moçambique e, por coincidência ou não, foi a partir de sua chegada que o tráfico de escravos com o Rio de Janeiro haveria de crescer de maneira extraordinária.  Aliás, em pouco tempo, ele viria a se tornar um dos grandes comerciantes negreiros da ilha.

Outro detalhe é que Eleutério José Delfim haveria de ficar com a carta-patente de “tenente-coronel da infantaria auxiliar”, cargo vago no ano de 1793 por falecimento de Alexandre Roberto Mascarenhas (1753-1793), sogro do poeta Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), ex-ouvidor em Vila Rica, que para lá fora deportado como punição por sua participação nos conciliábulos da projetada conjuração mineira, acusado por Silvério dos Reis “de ter trabalhado na preparação da dita insurreição,  preparando as leis que iriam regular o novo governo”.

           

                                                        IV

Maxwell lembra que das discussões entre os conspiradores, entre o final de 1788 e o início de 1789, durante o período anterior à prevista imposição da “derrama”, participaram magistrados, advogados, comerciantes e clérigos, mas o que se destaca é “a inspiração ditada pelo exemplo da independência das 13 colônias britânicas na América do Norte, a influência da constituição do Estados Unidos, especialmente a constituição da Pennsylvania de 1776, bem como o papel de escritores como o abade Raynal (1713-1796), inclusive sua obra A Revolução na América”, e o comentário do abade Mably (1709-1785) sobre a constituição dos norte-americanos publicado em Recueil”.

Mais adiante, Maxwell observa que os conspiradores mineiros, aparentemente,  nunca fizeram nenhuma abordagem com o governo britânico nem com o francês. “Suas esperanças repousavam nos Estados Unidos”, garante. No entanto, ressalta que Thomas Jefferson concluiria que os interesses dos Estados Unidos estariam mais bem servidos se o bom relacionamento que havia com Portugal fosse mantido do que encorajar uma aventura de risco na América do Sul.

No extenso ensaio, o historiador vai além da conjuração mineira de 1789, ampliando sua análise a respeito da influência que a “Recueil” exerceu sobre outros acontecimentos mundiais. Por isso, considera o exemplar trazido por José Álvares Maciel, no qual constam anotações provavelmente feitas por Gonzaga e também pelo poeta, advogado, fazendeiro e minerador Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), que morreu em circunstâncias suspeitas na casa do arrematante João Rodrigues de Macedo, como “o mais precioso documento guardado nos arquivos da Casa do Pilar do Museu da Inconfidência”.

  

                                                        V         

Kenneth Maxwell foi diretor e fundador do Programa de Estudos Brasileiros do Centro David Rockefeller de Estudos Latino-Americanos (DRCLAS), da Universidade de Harvard (2006-2008), e professor do Departamento de História de Harvard (2004-2008). De 1989 a 2004, foi diretor do Programa para a América Latina no Conselho de Relações Exteriores e, em 1995, tornou-se o primeiro titular da cátedra Nelson e David Rockefeller em Estudos Interamericanos. Atuou como vice-presidente e diretor de Estudos do Conselho em 1996. Lecionou anteriormente nas universidades de Yale, Princeton, Columbia e Kansas.


Fundou e foi diretor do Centro Camões para o Mundo de Língua Portuguesa da Universidade de Columbia e foi diretor de Programa da Tinker Foundation, Inc. De 1993 a 2004, foi revisor de livros do Hemisfério Ocidental para Relações Exteriores desta fundação. É colaborador regular da New York Review of Books e foi colunista semanal entre 2007 e 2015 do jornal Folha de S.Paulo e é colunista mensal do O Globo desde 2015.

Foi ainda Herodotus fellow no Instituto de Estudos Avançados de Princeton e Guggenheim fellow e membro do Conselho de Administração da The Tinker Foundation, Inc. e do Conselho Consultivo da Fundação Luso-Americana. Também é membro dos Conselhos Consultivos da Brazil Foundation e da Human Rights Watch/Americas. Fez  bacharelado e mestrado no St. John's College, Cambridge University, e mestrado e doutorado na Universidade de Princeton. É colaborador regular do site Second Line of Defense.

Em maio de 2004, renunciou ao cargo de diretor de Estudos Latino-Americanos do Conselho de Relações Exteriores de Nova York por ter criticado Henry Kissinger (1923-2023), ex-secretário de estado dos Estados Unidos (1973-1977), em resenha de livro sobre o golpe militar encabeçado por Augusto Pinochet (1915-2006), no Chile, em 1973, e de não ter tido uma resposta publicada na revista Foreign Affairs. Adelto Gonçalves - Brasil 

__________________________

Brazil in a Changing World Order – Essays by Kenneth Maxwell. Londres, Robbin Laird, editor, Second Line of Defense, 348 páginas, 2024, Amazon: paperback: $ 15,95; hardcover: $ 24,95. Site da editora: https://sldinfo.com/bookshop/ E-mail do autor: krobertmaxwell@gmail.com

_____________________________________

Adelto Gonçalves, jornalista e historiador, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Fernando Pessoa: a Voz de Deus (Santos, Editora da Unisanta, 1997); Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Editorial Caminho, 2003; São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1981; Taubaté-SP, Letra Selvagem, 2015), O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo – 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br.





Rumba cigana










Vamos aprender português, cantando

 

Rumba cigana

 

Já fui abandonada

traída e maltratada

mas nunca me perdi do meu caminho

 

Já tive mil desgostos

deixando em meu rosto

as marcas de uma vida sem carinho

 

Mas para acalmar a dor

e o mal que me destrói

eu danço rumba e esqueço o meu destino

 

Eu sou feliz

esqueço de mim

até no amor

não sinto dor

dançando rumba

dançando rumba

 

Eu sou feliz

vivo a sorrir

até meu olhar

não chora mais

dançando rumba

dançando rumba

rumba cigana

 

Já fui abandonada

e também condenada

a uma vida que eu não quis pra mim

 

Já tive mil desgostos

deixando em meu rosto

as marcas de uma tristeza sem fim

 

Mas para acalmar a dor

e o mal que me destrói

eu danço rumba e esqueço o meu destino

 

Eu sou feliz

esqueço de mim

até no amor

não sinto dor

dançando rumba

dançando rumba

 

Eu sou feliz

vivo a sorrir

até meu olhar

não chora mais

dançando rumba

dançando rumba

rumba cigana

 

Dançando rumba

 

Eu sou feliz

 

Eu sou feliz

esqueço de mim

até no amor

não sinto dor

dançando rumba

dançando rumba

 

Eu sou feliz

vivo a sorrir

até meu olhar

não chora mais

dançando rumba

dançando rumba

 

Eu sou feliz

esqueço de mim

até no amor

não sinto dor

dançando rumba

dançando rumba

 

Eu sou feliz

vivo a sorrir

até meu olhar

não chora mais

dançando rumba

dançando rumba

rumba cigana

 

Cláudia Nayara - Portugal


 

sábado, 27 de abril de 2024

Bélgica - Celebrou-se Abril numa “sala de cravos” em Bruxelas

Foi numa sala cheia de cravos, de pais e filhos de Abril que decorreram as celebrações dos 50 anos do 25 de Abril, na emblemática “Salle des Mariages” do Hôtel de Ville da Commune de Saint-Gilles, organizadas pela embaixada de Portugal na Bélgica e pelo Instituto Camões


“Um evento emocionante onde foram reinterpretadas, pela inconfundível voz de Ana Rocha e pelos instrumentos do virtuoso Rui Salgado Trio, músicas revolucionárias dos anos 60 e 70 cantadas pelas grandes vozes femininas daquela época”, adiantou a embaixada nas redes sociais.

Na mesma publicação, a embaixada remeteu um “agradecimento especial ao Burgomestre da Commune de Saint-Gilles, Jean Spinette e a toda a sua extraordinária equipa, por terem sempre abertas as portas à nossa Comunidade e por celebrarem connosco a liberdade, a democracia e a pluralidade”. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


Luxemburgo - Central sindical OGBL comemora o 25 de Abril

A OGBL, central sindical luxemburguesa, através do seu Departamento dos Imigrantes, organiza a celebração do 50° aniversário da Revolução dos Cravos através de um serão de debate e convívio em Esch-sur-Alzette, no próximo dia 3 de maio de 2024


O serão tem início às 18:30 com uma mesa-redonda, que conta com vários convidados: Mars Di Bartolomeo, deputado do LSAP e que em 1974 era jornalista e editor da rubrica política do jornal luxemburguês Tageblatt; Carlos Trindade, antigo dirigente da CGTP-IN e atual membro do Comité Económico e Social Europeu (CESE); Maria Eduarda Macedo, ex-conselheira comunal do partido Déi Gréng da cidade do Luxemburgo e colunista do Bom Dia, entre outros convidados.

Depois do debate segue-se um jantar-cocktail e a atuação de vários artistas. Entre estes, destaque para o músico, compositor, cantor e contrabaixista sertanense Miguel Calhaz, que acaba de lançar “ContraCantos”, um álbum de homenagem ao 25 de Abril de 1974 e aos músicos que cantaram Abril: Zeca Afonso, Fausto Bordalo Dias, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira e Sérgio Godinho.

A fadista, atriz de cinema, teatro e televisão luso-luxemburguesa, Magaly Teixeira declamará alguns poemas de Abril. Magaly Teixeira é uma das atrizes mais promissoras do Luxemburgo. Integrou o elenco do filme “Até pró ano” (2018) de Philippe Machado e a segunda temporada da série luxemburguesa “Capitani” (2021). Atualmente, encontra-se em digressão pelo Luxemburgo com a peça de teatro “Les nuits d’Aurore”, que aborda o assédio no meio escolar.

O recém-formado conjunto “Grupo de Cantares Alentejanos” subirá ao palco para interpretar o hino da Revolução dos Cravos, “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, entre outros temas.

Este serão decorre na Maison du Peuple, sede histórica da OGBL, em Esch-sur-Alzette (60-62 boulevard J.-F. Kennedy). A entrada é livre para os sócios da OGBL e custa 25 euros para os não-membros. Para todos, a inscrição é obrigatória (maria.dasilva@ogbl.lue/ou tel. 540545-274) até 29 de abril. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo