SÃO
PAULO – O embaixador Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, é
diplomata de carreira, com destacada atuação no âmbito do Mercosul e junto às
Comunidades Europeias em Bruxelas, bem como nas embaixadas na Alemanha, no
Canadá e nos Estados Unidos, além de ter sido diretor do Departamento dos
Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos, cargo que exerceu até ser
designado para comandar o Ministério.
Por
isso, não se pode admitir que o governo brasileiro tenha sido passado para trás
ingenuamente pelo governo norte-americano, ao abrir mão de seu status
especial na Organização Mundial do Comércio (OMC) como país emergente, atirando
pela janela vários benefícios, em troca de um possível apoio dos Estados Unidos
para o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). Obviamente, diante do currículo do ministro, só se pode
atribuir ao deslumbramento do presidente brasileiro o fato de o Brasil ter se
deixado levar pela conversa do presidente norte-americano. Como se sabe, o
presidente Donald Trump, apesar da pretensa promessa, preferiu indicar a
Argentina, deixando de apoiar a proposta brasileira.
Dos
164 membros que compõem a OMC, apenas 40 desfrutam daquele status, o que
dá uma ideia do desastre diplomático do governo brasileiro. Sem contar que o
diretor-geral da OMC é o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo, há cinco anos no
cargo e reconduzido em 2017 por unanimidade para permanecer na função até 2021,
que, de alguma forma, ajuda a defender os interesses do País.
Com
essa decisão precipitada, o Brasil deixa também de se beneficiar do Sistema
Geral de Preferências (SGP) da OMC, do qual era participante há muito tempo.
Além disso, com o status especial que tinha na OMC, os interesses
comerciais brasileiros eram protegidos por salvaguardas. Sem contar que o País
não tinha necessidade de oferecer reciprocidade de liberalização do seu mercado
interno em relação a países desenvolvidos. Outra vantagem é que a OMC apoia o país-membro
nas disputas de comércio e o ajuda a implementar normas técnicas, bem como oferece
custos mais baixos em créditos oferecidos internacionalmente. Tudo isso que foi
perdido ainda pode custar ao País empresas quebradas, um parque industrial cada
vez mais sucateado, milhares de empregos e queda nas exportações e importações.
Além disso, com certeza, serão necessários vários anos para que aquele status
venha a ser recuperado.
Se
tivesse um pouco mais de habilidade política, o principal mandatário devia ter
sempre presente consigo uma frase famosa atribuída ao antigo secretário de
Estado norte-americano John Foster Dulles (1888-1959), segundo a qual “não há
países amigos, mas interesses comuns”. Se assim agisse, só teria apoiado a
pretensão norte-americana de esvaziar a OMC em troca de vantagens ainda
maiores, mas todas devidamente sacramentadas por um acordo.
É
de se ressaltar que esse esvaziamento pretendido pelos Estados Unidos passa
pela substituição do atual Órgão de Soluções de Controvérsias (OSC) por um
comitê de arbitragem, a ser designado pelo diretor-geral da OMC, mas com uma
atuação mais limitada. Efetivamente, não
se sabe se o governo norte-americano irá obter êxito nessa empreitada. O que se
tem de concreto é que a OMC, como sucessora do antigo Acordo Geral de Tarifas e
Comércio (GATT, na sigla em inglês), estabeleceu não só regras estáveis como
estimulou o crescimento do comércio de
41% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 1995, ano de sua criação, para
58% em 2017. E que, a princípio, deveria ser preservada tal como está em sua
defesa do multilateralismo. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional das Empresas Transitárias, Agentes
de Cargas, Comissárias de Despachos e Operadores Intermodais (ACTC). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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