Líderes mundiais que diariamente viajam de avião
contribuindo para o aumento de emissões de dióxido de carbono, esquecendo-se
que devem ser os primeiros a darem o exemplo
Um
caminho de esperança, de determinação e soluções sustentáveis. Um caminho que
mantenha os combustíveis fósseis no terreno e que leve à neutralidade de
carbono até 2050.
Uma
proposta que não danifique a saúde e a segurança de todos neste planeta. Um
caminho que lide, de forma eficiente, contra a crise climática.
Ciência
Foi
assim que o secretário-geral da ONU iniciou seu discurso na Conferência das
Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP 25, aberta neste 2 de dezembro, em
Madrid, na Espanha.
Para
António Guterres, este é o único caminho para limitar o aumento da temperatura
em 1,5º C até o fim deste século.
Ele
lembrou que as melhores informações científicas, expressas através do Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática, indicam que ultrapassar esta marca
levaria o mundo a um desastre catastrófico.
Para
o chefe da ONU, a COP 25 é uma oportunidade de tomar a decisão acertada. O
secretário-geral voltou a mencionar os protestos de jovens pelo mundo pedindo
ação climática imediatamente.
Efeito estufa
António
Guterres citou alertas recentes de agências da ONU como a Organização Mundial
de Meteorologia que ressaltou os níveis recordes de emissões de gases que
causam o efeito estufa. E disse que a última vez que o mundo registrou uma
concentração tão alta de partículas na atmosfera foi entre três e cinco milhões
de anos atrás.
Os
últimos cinco anos também foram os mais quentes da história, desde o início dos
registros. Com isso, o mundo teve mais eventos extremos de temperatura e outros
desastres naturais como furacões, secas e incêndios florestais.
Guterres
lembrou do degelo das glaciais. Somente na Groenlândia, foram 179 bilhões de
toneladas de gelo que derreteram em julho. Os níveis dos oceanos também estão
subindo mais rapidamente do que o esperado, colocando em risco algumas das
cidades mais importantes para a economia mundial.
Oceanos
Mais
de dois terços das grandes cidades estão localizados no mar.
Os
oceanos absorvem mais de um quarto de todas as emissões de dióxido de carbono,
CO2, na atmosfera e gera mais da metade do oxigênio do mundo.
O
secretário-geral alertou sobre a continuação de usinas de carvão, em várias
regiões do mundo, que continuaram a serem planejadas e construídas em grandes
quantidades. Para Guterres, a saída é clara: ou se suspende o que ele chamou de
“vício de carvão” ou todas as ações para combater a mudança climática serão
fadadas ao fracasso.
Mas
os combustíveis fósseis são somente uma parte do problema. O outro são
agricultura, transporte, aço, cimento e outras indústrias baseadas numa
produção intensa de carvão.
Guterres
disse que o mundo tem que mudar de formas rápida e profunda a sua maneira de
fazer negócio, de gerar energia e de construir suas cidades, assim como de se
locomover e de se alimentar.
Vida em risco
Caso
não haja esta mudança de vida, a vida mesma estará em risco.
Ele
voltou a defender um preço para o carbono assim como impostos sobre o produto,
nenhuma construção nova de usinas de carvão depois de 2020 e o fim do
financiamento dos contribuintes para o que ele classificou de “subsídios
perversos a combustíveis fósseis”.
Para
Guterres, a transição para uma economia verde é apenas uma transição e é
preciso neste processo cuidar dos trabalhadores que serão impactados com todos
os recursos de uma rede de previdência social, educação a longo prazo e novos
postos de trabalho.
O
chefe da ONU lembrou que ninguém muda sozinho, mas que todos devem cooperar
neste processo.
O
plano é claro: para limitar o aumento da temperatura em 1,5º C até o fim do
século será preciso reduzir as emissões de CO2 em 45% dos níveis de 2010 até
2030 e alcançar a neutralidade em carbono até 2050.
Para
se chegar a este patamar, o mundo precisará reduzir as emissões em 7,6% ao ano.
G-20
Guterres
disse que os governos precisam honrar seus compromissos estabelecidos no Acordo
de Paris sobre Mudança Climática em 2015.
O
chefe da ONU lembrou que convocou um Encontro de Cúpula sobre Ação Climática em
setembro com este propósito. E que está feliz com a decisão de muitos países e
investidores a abandonar os combustíveis fósseis em suas matrizes e produção.
Mas
alertou que muitos países ainda estão longe de fazer o mesmo.
Ao
elogiar a decisão do Banco Europeu de Investimentos pelo anúncio de que irá
suspender todos os projetos baseados em combustíveis fósseis até o fim de 2021,
Guterres lembrou que os países do G-20 precisam iniciar mudanças. Juntos, as 20
maiores economias do mundo produzem 75% das emissões globais de CO2.
Povos índígenas
Para
ele, os maiores emissores precisam fazer mais aumentando suas contribuições
nacionais no próximo ano, como previsto no Acordo de Paris. Segundo o chefe da
ONU todos os temas pendentes da COP 24, especialmente a falta de consenso sobre
o Artigo 6, que requer mudanças nas ações nacionais devem ser resolvidos.
Sem
isso, os esforços de outros nessa área serão minados.
Guterres
finalizou dizendo que a COP 25 é o momento de se alcançar avanços no combate à
crise climática.
O
secretário-geral lembrou que a COP também tem que avançar em temas sobre
desmatamento, povos indígenas, cidades, financiamento, tecnologia, gênero e
muitos outros.
Guerra contra a natureza
Para
Guterres, não há tempo a perder. E a reunião em Madrid deve apresentar ao mundo
determinação para mudar o curso atual da crise climática. Segundo ele, é hora
de acabar com a guerra contra a natureza. E é preciso lembrar que o mundo
precisar assegurar pelo menos US$ 100 bilhões por ano para ações de mitigação e
adaptação nos países em desenvolvimento.
Segundo
Guterres, as decisões tomadas este ano em Paris e na preparação para a COP 26,
em Glasgow, na Escócia, estão sendo observadas pelo mundo e por multidões que
exigem mudança. Para ele, é hora de demonstrar a vontade política que o mundo
espera para não trair as gerações presentes e vindouras sobre este tema. “ONU
News” – Nações Unidas
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