Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Portugal - Começa a faltar pau para tanta cobra

Não sabemos quem são estas vinte mulheres e o que fizeram pela ciência, pelas artes ou no mundo dos negócios, mas sabemos quem é o assessor Frederico Pinheiro e a chefe de gabinete Eugénia Correia, que chamou a PSP e o SIS, a que horas Costa devolveu a chamada a Galamba e quantas fotocópias foram tirar e quantos murros ficaram por dar. Valha-nos a paciência, que é a riqueza dos infelizes, como dizia Camilo Castelo Branco

O Financial Times diz que o Porto lidera as cidades europeias do futuro e o The New York Times avalia Lisboa como uma das capitais mais dinâmicas da Europa. Empresas portuguesas são premiadas pelo Wine & Travel Week e pelo Eventex-2023 com ouro, prata e bronze em experiências de marketing mundial.

Cinco escolas de gestão portuguesas estão entre as melhores do mundo e bolsas milionárias são atribuídas à Universidade do Porto. Portugal é o segundo país com mais finalistas nos prémios de sustentabilidade e inclusão Novo Bauhaus Europeu e a L’Oréal premeia cientistas portuguesas.

E alguém ouviu falar de Diana Madeira, Joana Caldeira, Joana Cabral, Patrícia Reis ou de Salomé Pinheiro? E de Rafaela Alves, Filipa Rocha, Diana Sousa, Inês Machado, Sofia Viana, Ana Cardoso ou Susana Santos – mais sete magníficas que por estes dias foram premiadas, mas muito pouco noticiadas? Todas elas reconhecidas pelos centros de investigação, lá fora, mas praticamente ignoradas por nós, cá dentro.

Pouco ouvimos falar de Ana Moniz, que venceu o Global Teacher Prize pelo trabalho com crianças autistas, e muito menos de Inês Neves, que é a Rising Star no Direito da Concorrência da Península Ibérica. O mesmo com a dentista Inês Guerra, que foi convidada para a prestigiada Omicron Kapp Upsilon, por ter sido a melhor aluna do curso na Universidade de Chicago, ou de Inês Laíns, uma oftalmologista que está em Boston é já é considerada nos Estados Unidos como uma das melhores na sua área.

E podíamos dizer o mesmo de Daniela Braga, conselheira para a Administração Biden na estratégia para a Inteligência Artificial e considerada como uma das cem empreendedoras mais intrigantes pela Goldman Sachs; de Catarina Pais, a quem chamam ‘a próxima Horta Osório’ e a primeira mulher portuguesa a receber o Henry Ford Prize, ou das fundadoras da Something in Hands, Helena Garcia e Andreia Valente, que desenvolvem novos medicamentos para cancros metastáticos.

Não sabemos quem são estas vinte mulheres e o que fizeram pela ciência, pelas artes ou no mundo dos negócios, mas sabemos quem é o assessor Frederico Pinheiro e a chefe de gabinete Eugénia Correia, quem chamou a PSP e o SIS, a que horas Costa devolveu a chamada a Galamba e quantas fotocópias foram tirar e quantos murros ficaram por dar. Valha-nos a paciência, que é a riqueza dos infelizes, como dizia Camilo Castelo Branco.

Horas a fio de televisão em direto com os deputados das comissões parlamentares a disputar a graçola do dia; políticos e governantes a confundirem servir o Estado com servirem-se do Estado; Ministério Público, que mais do que fonte já é um verdadeiro fontanário, a promover a condenação na praça pública do que não consegue na barra dos tribunais; moderados a promover ou copiar os populistas e comentadores ‘tudologistas’ a destilar veneno sobre tudo e sobre nada. Como dizem os brasileiros, começa a faltar pau para tanta cobra e quando nos passam o martelo para a mão, martelamos em todo o lado porque tudo nos parecem pregos.

Mas quando achamos que vemos tudo, há sempre um ponto morto que nos impede de ver o essencial. Estamos numa sala com reflexos côncavos e convexos, onde não há espelhos planos. Os governantes já não procuram soluções, eles gerem sentimentos e ressentimentos e nós, cidadãos, por vezes temos de escolher entre o que está certo e o que é mais fácil. Luís Castro – Portugal in Sol


Egipto – Novos tesouros descobertos na necrópole de Saqqara

Uma equipa de arqueólogos encontrou novos tesouros na necrópole de Saqqara, a sul do Cairo, capital do Egipto


Foram desenterradas duas oficinas de embalsamamento humano e animal, assim como outras duas tumbas.

O vasto cemitério, na antiga capital egípcia Memphis, é Património Mundial da Unesco e abriga mais de uma dúzia de pirâmides, túmulos de animais e antigos mosteiros cristãos coptas.

Mostafa Waziri, líder do Conselho Supremo de Antiguidades do Egipto, explicou à agência AFP que as oficinas de embalsamamento, onde humanos e animais foram mumificados, “remontam à 30ª dinastia”, que reinou há cerca de 2400 anos.

Os investigadores “encontraram vários quartos equipados com camas de pedra onde os mortos se deitavam para a mumificação”, precisou o Ministério do Turismo e Antiguidades do Egipto.


Cada cama terminava em calhas para facilitar o processo de mumificação, com uma coleção de potes de barro próximos para guardar entranhas e órgãos, além de uma coleção de instrumentos e vasos rituais.

Os primeiros estudos sugerem que foi usada para a “mumificação de animais sagrados.”

A descoberta também inclui os túmulos de dois padres que datam dos séculos XXIV e XIV AC, respetivamente.

O primeiro pertencia a Ne Hesut Ba, que serviu na quinta dinastia como chefe dos escribas e sacerdote dos deuses Hórus e Maat.

A segunda tumba, a de um padre chamado Men Kheber, foi esculpida em rocha e apresenta representações do próprio falecido nas paredes, bem como em uma estátua de alabastro de um metro de comprimento. In “JN” – Portugal com “AFP”




Portugal - Estudo liderado pela Universidade de Coimbra obtém modelo que possibilita análise da evolução paleoclimática de Marte

Um estudo, realizado por investigadores do Departamento de Ciências da Terra (DCT) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), permitiu obter com precisão um modelo que pode possibilitar a análise da evolução paleoclimática de Marte.


Esta investigação, liderada por David Vaz, cientista do Centro de Investigação da Terra e do Espaço da Universidade de Coimbra (CITEUC), pretendia identificar quais os mecanismos responsáveis pela formação de ripples eólicos em Marte, cartografando a uma escala global estas estruturas sedimentares e medindo o seu tamanho, de maneira a testar várias teorias de formação avançadas anteriormente.

«Os ripples são ondulações que se formam em sedimentos por ação de um fluido em movimento. No caso dos ripples eólicos, a ação do vento leva ao transporte de areia o que origina pequenas ondulações na superfície das dunas, algo que todos já viram por exemplo na areia da praia», começa por explicar David Vaz. No caso do planeta Terra, continua, «os ripples são de pequenas dimensões, com espaçamento de cerca de 10 cm. Em Marte, devido às diferentes condições que existem na superfície do planeta, os ripples são muito maiores, com espaçamentos de 2 a 5 metros».

De acordo com o investigador do DCT, com este estudo foi possível concluir que existe uma relação entre o tamanho dos ripples e a pressão atmosférica na superfície do planeta vermelho, tal como previsto por um dos modelos estudados. «Compreender de que forma é que os processos eólicos moldam a superfície de Marte hoje em dia, e em particular, como estes processos variam com a pressão atmosférica permite interpretar e inferir as condições atmosféricas no passado», revela David Vaz.


«Graças aos métodos inovadores desenvolvidos neste trabalho, foi possível analisar com grande precisão uma extensão da superfície de Marte muito superior à de trabalhos anteriores. Estes novos dados permitem resolver algumas das contradições que existiam, possibilitando testar as duas principais hipóteses que procuram explicar a existência de ripples de grandes dimensões nas dunas marcianas», assegura.

Segundo o autor do estudo, os dados e modelos apresentados nesta investigação permitem ainda interpretar o registo sedimentar, podendo vir a ser utilizados para saber quando e como Marte perdeu uma parte significativa da sua atmosfera. «Tal mudança climática fez com que Marte tenha passado de um planeta com água na superfície para um planeta seco, frio e árido», conclui.

O artigo científico “Constraining the mechanisms of aeolian bedform formation on Mars through a global morphometric survey” pode ser consultado aqui. Universidade de Coimbra – Portugal







terça-feira, 30 de maio de 2023

Macau - Livro sobre grafemas enquanto expressão artística apresentado na Livraria Portuguesa

O lançamento de “A Letra como Elemento de Expressão Artistica” dos autores Cláudio Rocha e Flávio Tonnetti procurará ser palco de uma análise de diversos exemplos de obras artísticas, passando pela pintura, pela poesia visual, pela colagem e pelas vanguardas europeias do século XX. No mesmo dia, o tipógrafo e calígrafo macaense Aquino da Silva promove uma oficina com letras desenvolvidas a partir das placas e sinalizações de prédios históricos de Macau

A Livraria Portuguesa prepara-se para receber a apresentação do livro “A Letra como Elemento de Expressão Artística” dos autores brasileiros Cláudio Rocha e Flávio Tonnetti, no próximo dia 8 de Junho, quinta-feira, pelas 18h30. Antes, pelas 17h30, haverá lugar a uma oficina de Letter Press ministrada pelo tipógrafo e calígrafo macaense Aquino da Silva, oferecida gratuitamente antes do lançamento.

Com apresentação do professor da Universidade de Macau (UM) Roberval Teixeira e Silva e com uma conversa com os autores feita com a moderação de Sara Augusto, professora do Instituto Português do Oriente (IPOR), a apresentação da obra procurará ter ainda o condão de analisar diversos exemplos de obras artísticas, passando pela pintura, pela poesia visual, pela colagem e pelas vanguardas europeias do século XX. “Especial atenção será dada às experiências contemporâneas com o letterpress, no Brasil e no exterior, utilizado como técnica ‘pictórica’, num importante resgate desse sistema industrial”, revela um comunicado enviado às redacções.

Será ainda mostrado como os recursos de reprodução gráfica “são colocados ao serviço da criação artística, numa celebração do raciocínio visual, da materialização de uma ideia artística”. “Em alguns pontos são traçados paralelos com o sistema de escrita chinês e com elementos da cultura asiática”, pode ler-se ainda no mesmo comunicado.

“A Letra como Elemento de Expressão Artística” apresenta “um olhar sensível para as letras no contexto das artes visuais, uma abordagem estética da mensagem enquanto imagem: além de ser lida, a palavra foi feita para ser vista”, consideram os autores da obra.

Os conceitos discutidos na apresentação em Macau foram apresentados originalmente num encontro presencial na cidade de São Paulo, no Brasil, em 2018, conduzido por Cláudio Rocha e Flávio Tonnetti. As reflexões sobre o assunto e as imagens apresentadas durante o encontro foram registados e posteriormente transformados no livro que agora será apresentado por estas bandas. Distribuído digitalmente, “A Letra como Elemento de Expressão Artística” segue as directrizes do licenciamento Creative Commons, com distribuição gratuita e reprodução autorizada para fins académicos e científicos.

A oficina, que decorrerá uma hora antes do evento de lançamento do livro, será conduzida pelo tipógrafo e calígrafo macaense Aquino da Silva, membro da Macao Type Design Society, que vai oferecer uma experiência tipográfica gratuita com letras desenvolvidas a partir das placas e sinalizações de prédios históricos de Macau.

Cláudio Rocha nasceu em São Paulo, em 1957. É um artista visual, tipógrafo e type designer brasileiro. É formado em Editoração pela Anhembi Morumbi e é, também, autor de livros sobre tipografia. Co-edita da revista Tupigrafia. Já Flávio Tonnetti, que também nasceu em São Paulo, em 1982, é escritor e artista do livro. Actualmente é professor da Universidade Federal de Viçosa, no Brasil, ao mesmo tempo que desenvolve investigação sobre arte e cultura na UM. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Ponto Final”


Guiné-Bissau - Comissões nacionais de eleições da CPLP enviam missão de observação eleitoral

Bissau – A Rede dos Órgãos Jurisdicionais e de Administração Eleitoral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (ROJAE-CPLP) anunciou que vai enviar para a Guiné-Bissau uma missão para observar as eleições legislativas de domingo.

A missão eleitoral vai permanecer no país até 07 de Junho, segundo um comunicado enviado à imprensa através da Comissão Nacional de Eleições de Portugal, que chefia a missão.

A ROAJE-CPLP terá como objectivo “colaborar, sem interferir, no processo eleitoral, com a experiência acumulada pelos membros observadores, para aperfeiçoar e fortalecer o processo democrático no país, e de acompanhar a fase final da campanha eleitoral, o dia da votação e o apuramento parcial dos votos”.

A missão vai também “verificar a regularidade, idoneidade e integridade do acto eleitoral”.

Integram também a missão elementos da CNE de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

A Junta Eleitoral Nacional da Guiné Equatorial e o Tribunal Superior do Brasil estão incluídos, mas com o estatuto de observadores.

A Rede dos Órgãos Jurisdicionais e de Administração Eleitoral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (ROJAE-CPLP) foi criada a 13 de dezembro de 2018.

Duas coligações e 20 partidos políticos guineenses disputam as legislativas de 04 de Junho. In “Agência de Notícias da Guiné” – Guiné-Bissau com “Lusa”

 

Moçambique - “Blinguizinha, a Chefe de quarteirão” – Terceiro livro da Dama do Bling

A rapper moçambicana, Dama do Bling, vai lançar, em Junho deste ano, a sua terceira obra literária intitulada “Blinguizinha, a Chefe de quarteirão”, em homenagem a todas as crianças.

A notícia foi avançada pela Dama do Bling, nas suas redes sociais, onde escreveu que não há alegria igual e tão genuína como aquela que mora no olhar dos pequenos. “Eles são felizes sem saberem, sem preocupações e seus únicos medos são o escuro e as feras dos desenhos.” – escreveu.

Bling partilhou também que o livro vem como um meio que vai fazer lembrar a importância de cuidar, proteger e orientar as crianças, pois elas são o futuro do país.

Blinguizinha, a Chefe de quarteirão” conta a participação especial do advogado, consultor, docente universitário e activista ambiental Carlos Serra. In “Moz Entretenimento” - Moçambique

 


Estados Unidos da América - Arte de Natercia Caneira promete tirar nova-iorquinos da zona de conforto

A artista portuguesa Natercia Caneira levará a Nova Iorque em junho a obra “F%@K the Comfort Zone”, uma escultura performativa vestível que apresentará no ChaShaMa Gala, um evento imersivo com mais de 200 instalações


Utilizando o corpo como veículo de expressão, Natercia Caneira apresentará a sua obra ao longo de uma performance de três horas sem interrupções, no dia 08 de junho, e de seis horas, no dia 10 de junho, no centro de Manhattan, onde está localizada a ChaShaMa Gala, uma organização dedicada a dinamizar a arte e os artistas na cidade norte-americana de Nova Iorque.

Já a obra consiste numa escultura vestível que a artista movimentará sobre uma tela.

Segundo uma nota informativa sobre a instalação, o conceito da “F%@K the Comfort Zone” passa por “um olhar sobre como funciona o processo criativo de um artista”, assim como “a evolução para um estado meditativo de criação e as reações de desconforto ligadas a processos de vulnerabilidade perante o público”.

Utilizando uma abordagem baseada na escultura-performativa, o trabalho de Natercia Caneira é maioritariamente apresentado em instalações ‘site-specific’ onde as suas obras interagem com as características arquitetónicas e as particularidades contextuais dos espaços onde são realizadas.

A sua primeira exposição individual aconteceu em 2004 na Genovese Sullivan Gallery, em Boston, e desde então a artista portuguesa tem apresentado o seu trabalho entre as cidades de Lisboa, Londres e Nova Iorque. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


segunda-feira, 29 de maio de 2023

Uma visão do passado

Obra da professora Zina C. Bellodi resgata a trajetória de uma família de imigrantes italianos

                                                                                   

                                                                    I

Uma das discípulas do poeta, crítico, tradutor e novelista português Adolfo Casais Monteiro (1908-1972), perseguido pelo regime salazarista (1933-1974) e exilado no Brasil a partir de 1954, professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Araraquara, no interior de São Paulo, a partir de 1962, a professora Zina C. Bellodi (1941), além de livros sobre Teoria da Literatura, também tem se destacado na área de memorialística.

Um desses trabalhos notáveis de pesquisa é A Casa do Coco (Jaboticabal-SP Editora Maria de Lourdes Brandel/Gráfica Multripess, 2011), em que reconstitui a história de sua família de origem italiana que se estabeleceu no interior do Estado de São Paulo ainda nos anos finais do século XIX, atraída por uma propaganda oficial enganosa que prometia segurança no trabalho e boas condições de vida. Obviamente, quando chegaram ao Brasil, os membros dessa família, como os demais imigrantes, depararam com uma realidade que seria muito diferente daquela que lhes fora oferecida quando ainda estavam na Itália.

A família Bellodi, formada da união de Anselmo Bellodi com Adele Rossi, era uma típica família de imigrantes italianos, com muitos filhos, que começou o trabalho na lavoura, inicialmente, no regime de colonato, depois em terras alheias “a meia” ou “a terça”, poupou, adquiriu um pedaço de terra e fez fortuna pela dedicação e esforço comum de seus membros, angariando, dessa maneira, a admiração e o respeito, principalmente do povo de Jaboticabal e região.

 

                                                        II

O título da obra “A Casa do Coco” se refere à casa patriarcal, o lugar onde Anselmo e Adele fincaram as raízes de sua descendência e que serviu de suporte para o crescimento e consolidação da prole, no aspecto físico, espiritual e material. A partir de suas próprias lembranças, papéis velhos, objetos guardados desde aquela época e fotos, muitas fotos, a autora faz uma retrospectiva da saga dos Bellodi, que incluiu uma passagem pela cidade de Socorro, também no interior de São Paulo, até que chegaram às margens do córrego do Coco, em Jaboticabal.

Como lembra no prefácio o sociólogo, poeta, tradutor e escritor Lólio Lourenço. de Oliveira, igualmente descendente de italianos, Zina consegue, “com seu relato, fazer com que, sem que se perceba, participemos com ela de suas lembranças, de seu orgulho, de sua saudade, como alguém que um dia também tenha sido recebido na Casa do Coco e gozado da hospitalidade do nonno”.

Como se pode perceber, a obra, em grande parte, procura descrever a típica propriedade rural do imigrante italiano, a sua autossuficiência na produção dos alimentos, no cultivo de plantas, na confecção de roupas, no corte da madeira e na produção de tijolos.

Na apresentação, a professora Magaly Trindade Gonçalves (1941-2015), outra discípula do professor Casais Monteiro, observa que Zina Bellodi “tem a visão voltada para toda uma saga, não se percebendo, em geral, a “presença” da narradora, que atua como que “escondida”, para que a trama (tão bem por ela descortinada) seja sempre o centro de tudo, apenas o farol que a descortina”. E compara a sua maneira de narrar à de João Guimarães Rosa (1908-1967) em Grande Sertão: Veredas (1956), lembrando que a memorialística não está especificamente no narrador em primeira pessoa, “mas na maneira como o narrador simula uma história confessada pelo personagem que a viveu”.

 

                                                       III

Em resumo, o que se pode adiantar é que Adele e Anselmo, os patriarcas, casaram-se em Sermide, comuna da província de Mântua, na região da Lombardia, em 1890 e, em 1891, emigraram para o Brasil, a uma época em que ela já estava nos dias finais de gestação, tendo dado à luz em alto-mar o primogênito Sylvio, que faleceu em 1º de outubro de 1891, em Socorro. Ainda nesta cidade, veio Aristides, nascido em 1893 e, na sequência, nasceram Zina (1896), Oringa (1897), Gino (1899), Ivo (1901), Bárbara (1903), Maria (1905), Giácomo (1907), Fermo (1909), e Sylvia (1911), formando uma extensa família que se espalharia pelo interior do Estado de São Paulo.

Em 1897, os Rossi, outra família de imigrantes italianos, ao saber que os Bellodi não estavam bem em Socorro, enviaram-lhes, por meio de um mascate, uma carta em que sugeriam que fossem para a região do córrego do Coco. Assim, Adele e Anselmo e os filhos, à medida que cresciam, passaram a trabalhar em terras alheias até que, em 1918, adquiriram os primeiros 33 alqueires da família Casteletti. Um dos filhos, Aristides, haveria de se casar com Hermínia Casteletti e o casal teria doze filhos – o último seria Zina, a autora da obra.

Em suas rememorações, Zina destaca a capacidade empreendedora dos irmãos Bellodi, que passaram a adquirir pequenas e médias propriedades, dentre as quais a denominada Santo Antônio da Cachoeira, em Córrego Rico, pertencente ao tio-avô Aristodemo Rossi, que tinha um pequeno engenho e que viria a ser o início da Usina Santa Adélia, nome dado em homenagem à mãe, Adele. Em 1926, Bellodi e Rossi já apareciam como grandes proprietários de terra, donos de centenas de milhares de cafeeiros.

Enfim, ilustrada com muitas fotos de personagens e da atividade pecuária e agrícola, inclusive, com a reprodução de escrituras de propriedades, a obra, apesar de extensa e pormenorizada, pode ser lida de uma assentada, tal o estilo fluido e cativante da autora. Constitui, assim, nas palavras finais da autora, “uma forma de superar os traços amargos da vida, permitindo ter dela uma visão mais ampla, o que nos torna mais completos e mais capazes de sentir, amar e aceitar a nossa própria condição humana”.


             IV

Nascida em Córrego Rico, distrito de Jaboticabal, Zina Casteletti Bellodi formou-se em Letras Anglo-Germânicas na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, atual Faculdade de Ciências e Letras, da Unesp. Desenvolveu estudos nas áreas de Teoria da Literatura, Literatura Brasileira e Portuguesa, além de Literatura Infanto-juvenil. Participou de bancas de concursos acadêmicos e publicou artigos em periódicos universitários.

Publicou ainda “Função e forma do tradicional em Mário de Sá Carneiro”, tese de doutoramento, em Cadernos de Teoria e Crítica Literária (Araraquara, Unesp, 1975); “Florbela Espanca - Discurso do outro e imagem de si”, tese de livre-docência, em Cadernos de Teoria e Crítica Literária (Araraquara, Unesp, 1992); “Florbela Espanca - Discurso do outro e imagem de si” (texto condensado) em Arquivos do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, vol. XXXIII (Lisboa-Paris, 1994); Melhores poemas de Florbela Espanca (São Paulo, Global Editora, 2005); A construção de um sonho – Fazenda Santa Cruz (Jaboticabal, Gráfica Multipress, 2011); D. Maria Luíza Carrão Jakovac (Jaboticabal, Gráfica Multipress, 2011), e Teoria da LiteraturaRevisitada”, com Magaly Trindade Gonçalves (Petrópolis; Editora Vozes, 2005).

Com Magaly Trindades Gonçalves e Zélia Thomaz de Aquino (1941-2014), publicou Estudos de Literatura Infantil – Teoria e Prática (2000) e A figuração de Tiradentes na ficção brasileira (2002), além de quatro antologias de literatura brasileira (1995, 1996, 1998 e 2006). Reside em Jaboticabal. Adelto Gonçalves - Brasil

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A Casa do Coco de Zina C. Bellodi, com prefácio de Lólio L. de Oliveira e apresentação de Magaly Trindade Gonçalves. Jaboticabal-SP: Editora Maria de Lourdes Brandel/Gráfica Multipress, 410 páginas, 2010. Site: E-mail: zinabellodi@uol.com.br  ­­­­­­­­­­­­

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Adelto Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Fernando Pessoa: a Voz de Deus (Santos, Editora da Unisanta, 1997); Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003, São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1981; Taubaté-SP, Letra Selvagem, 2015), O Reino a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo – 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br




Portugal – Universidade do Porto de portas (ainda mais) abertas a estudantes de Macau

Comitiva de Macau esteve no Porto para renovar protocolo de colaboração que regulamenta o acesso dos estudantes macaenses à Universidade


A Universidade do Porto, o Instituto Português do Oriente (IPOR) e a Direção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude do Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) renovaram, no passado dia 25 de maio, o protocolo de cooperação que regulamento o acesso dos estudantes da RAEM aos ciclos de estudo da U.Porto.

Em vigor desde o ano letivo 2020/2021, o acordo agora renovado prevê a criação um contingente especial anual de cerca de 100 vagas, distribuídas pelas várias faculdades da U.Porto e destinadas especialmente a estudantes oriundos/as do antigo território português.

Segundo este protocolo, a U.Porto compromete-se a “aceitar, para efeitos de candidatura ao Concurso Especial para Estudantes Internacionais, os resultados do Exame Unificado de Acesso e, bem assim, o resultado das disciplinas específicas exigidas, que correspondam às provas de ingresso exigidas para cada ciclo de estudos”.

Este contingente especial engloba quase todos os cursos de Licenciatura e Mestrado Integrado da U.Porto. A única exceção são os Mestrados Integrados em Medicina da Faculdade de Medicina e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, que não preveem a admissão de estudantes internacionais.

De forma a dotar os estudantes de Macau das competências para a frequência do ensino superior em Portugal, o protocolo estabelece ainda que os/as estudantes admitidos/as na U.Porto frequentem um Curso Preparatório de Língua e Cultura Portuguesas, com a duração de 800 horas, antes de iniciarem os respetivos ciclos de estudos.

A primeira parte desta formação (300 horas) é feita ainda em Macau, nas instalações do IPOR. Uma vez no Porto, o/a estudante tem de frequentar uma segunda componente letiva, constituída por 500 horas, a realizar na Faculdade de Letras (FLUP).

O acordo agora assinado prevê, contudo, que os estudantes possam ser dispensados da formação na FLUP, caso apresentem um domínio adequado da língua portuguesa à chegada a Portugal.

De mãos dadas com a Universidade de Macau

A renovação do Protocolo de Cooperação para Prosseguimento de Estudos dos Estudantes da RAEM na Universidade do Porto foi formalizada na Reitoria da U.Porto. Assinaram o documento o Diretor da Direção de Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), Kong Chi Meng, o Diretor do IPOR, Joaquim Coelho Ramos, a Diretora da FLUP, Paula Pinto Costa, e José Castro Lopes, Vice-Reitor da U.Porto responsável pelos pelouros da Formação, Organização Académica, Saúde e Bem Estar.

Na mesma sessão, foi assinado um outro protocolo que aponta ao reforço da cooperação já existente entre a U.Porto e a Universidade de Macau, nos domínios da colaboração académica e de investigação e do “cultivo de talentos”.

Ao abrigo desta nova colaboração, as duas universidades comprometem-se a “reforçar a colaboração académica e de investigação em várias disciplinas, nomeadamente nos domínios do Direito, da Língua Portuguesa e da Medicina”.

Outras formas de cooperação previstas incluem a” candidatura conjunta a financiamento de projetos de colaboração”, a promoção de ações de intercâmbio de docentes, a coorganização de atividades educativas e científicas, bem como a colaboração no desenvolvimento e promoção da “Aliança de Bibliotecas Académicas entre a Região Administrativa Especial de Macau (China) e os Países de Língua Portuguesa”.

A U.Porto e a Universidade de Macau comprometem-se ainda a “desenvolver programas de colaboração, para cultivar talentos de alto nível para Portugal e Macau” e a “colaborar ativamente em atividades de intercâmbio de estudantes”.

Este acordo foi assinado pelo Reitor da Universidade de Macau, Yonghua Song, e pelo Vice-Reitor José Castro Lopes, em representação da U.Porto. Universidade do Porto - Portugal


Portugal - Cientista do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde vence Prémio Hologic Saúde da Mulher 2023

Projeto que levou à identificação de uma proteína importante para a metastização cerebral do cancro da mama valeu a Ana Sofia Ribeiro a conquista do galardão de 12 mil euros


A identificação de uma proteína que é importante para a metastização cerebral de cancro da mama permitiu à investigadora Ana Sofia Ribeiro, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), conquistar a primeira edição do Prémio Hologic Saúde da Mulher, no valor de 12 mil euros.  Com este novo biomarcador pretende-se prever precocemente o risco de desenvolvimento de metástases cerebrais, controlar melhor a doença e encontrar novas terapias personalizadas.

O cancro da mama é a neoplasia maligna mais comum e a principal causa de morte em mulheres devido a metástases distantes no osso, pulmão, fígado e cérebro. Dados mais recentes, adianta Ana Sofia Ribeiro, mostram que a “metastização cerebral tem vindo a aumentar e apresenta as piores taxas de sobrevida entre as doentes com cancro da mama metastático”.

Esta necessidade urgente de identificar biomarcadores preditivos que ajudem a identificar precocemente doentes com maior probabilidade de desenvolverem cancro de mama metastático, levou a investigadora do i3S a focar-se no estudo do secretoma tumoral, ou seja, tudo o que é libertado pelas células tumorais para a corrente sanguínea e que, explica, “pode estar envolvido no processo de metastização”.

Na sequência desse trabalho de investigação no grupo «Cancer Metastasis», liderado por Joana Paredes, Ana Sofia Ribeiro identificou a proteína VGF como uma das moléculas-chave deste processo, o que significa que pode ser um excelente biomarcador preditivo e de prognóstico para a metastização cerebral em mulheres com cancro da mama.

Conforme explica a investigadora do i3S, “a deteção precoce permite um tratamento mais eficaz e com melhores resultados. As mulheres diagnosticadas com cancro da mama em estadios iniciais apresentam uma sobrevida significativamente maior em comparação com as doentes que são diagnosticadas nos estadios mais avançados”.

Com este trabalho, garante Ana Sofia Ribeiro, “antecipamos uma abordagem significativa e inovadora para enfrentar esta condição mortal, com vista a melhorar o diagnóstico e a terapêutica para mulheres com cancro de mama metastático cerebral”.

Um trabalho “inovador e muito bem fundamentado”

Para a presidente do júri do Prémio Hologic Saúde da Mulher, Maria do Carmo Fonseca, “o júri selecionou unanimemente este projeto por se tratar de um trabalho de investigação inovador e muito bem fundamentado, focado na metastização cerebral do cancro da mama”.

Atualmente, justifica a investigadora, “não existem tratamentos eficazes para os cancros da mama que dão origem a metástases no cérebro, pelo que o trabalho premiado tem o potencial de gerar conhecimento de grande relevância para o acompanhamento médico das mulheres com este tipo de cancro”.

O prémio permitirá a Ana Sofia Ribeiro realizar mais experiências laboratoriais, aumentando assim a sua competitividade no processo de atração de fundos adicionais necessários para demonstrar a aplicabilidade clínica dos resultados.

Emilia De Alonso, Country Business Lead Iberia da Hologic, sublinha que este Prémio “reforça o nosso compromisso em continuar a promover o conhecimento e o desenvolvimento da Saúde da Mulher em Portugal, com o objetivo de melhorar a sua qualidade de vida e bem-estar».

A cerimónia de entrega do Prémio Hologic Saúde da Mulher decorreu na quinta-feira, 25 de maio, antecipando o Dia Mundial da Saúde da Mulher, celebrado a 28 do mesmo mês.

Sobre o Prémio Hologic Saúde da Mulher

O Prémio Hologic Saúde da Mulher pretende distinguir projetos científicos de excelência na área da saúde feminina, cuja inovação e/ou contribuição tenha impacto na melhoria das condições de saúde das mulheres nas diversas áreas que mais as afetam.

Com uma periodicidade bianual, trata-se do primeiro prémio, em Portugal, que tem como objetivo abranger as diversas áreas que afetam a saúde da mulher.

O Prémio conta com o apoio institucional da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), da Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC), das Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), da Sociedade Portuguesa de Contraceção (SPDC), da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), da Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR) e da Sociedade Portuguesa de Senologia (SPS). Universidade do Porto - Portugal


Portugal - Estudo conclui que resíduos mineiros de carvão em autocombustão têm impacte negativo no meio ambiente

Um estudo do Departamento de Ciências da Terra (DCT) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) concluiu que os resíduos mineiros de carvão em autocombustão representam um impacte negativo para o meio ambiente devido à produção de drenagem ácida que, como consequência, pode afetar os solos e os ecossistemas da área envolvente.

A investigação sobre os resíduos mineiros em autocombustão em Portugal, com início em 2007, além de incidir sobre a identificação de autocombustão de resíduos mineiros resultantes da exploração de carvão no passado, tem como objetivos identificar e compreender os impactes desse processo no ambiente, particularmente nos solos, nas águas e na atmosfera.


«O impacte mais significativo poderá estar relacionado com as emissões de compostos orgânicos voláteis durante a combustão. Foram detetadas substâncias, nomeadamente hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e outros compostos orgânicos, que são emitidas para a atmosfera e que são prejudiciais para a saúde humana. Esta situação pode ser particularmente preocupante quando as escombreiras em autocombustão se encontram perto de áreas habitadas», revela Joana Ribeiro, professora do DCT e autora do estudo.

De acordo com a investigadora da FCTUC, em Portugal, são conhecidos três casos de escombreiras de resíduos mineiros de carvão cuja ignição começou em 2005 devido a incêndios florestais. Uma dessas escombreiras, em São Pedro da Cova, Gondomar, permanece em autocombustão há quase duas décadas, sendo uma fonte de contaminação para a atmosfera devido à emissão de compostos orgânicos voláteis que resultam da combustão do carvão, e para o meio envolvente devido à drenagem ácida. Em 2017, outras duas escombreiras entraram em combustão, também devido a incêndios florestais, mas nestes casos a Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM) implementou um projeto de reabilitação que permitiu a extinção da combustão.

«Há sempre formas de resolver situações como a da escombreira de São Pedro da Cova, no entanto, são dispendiosas e complexas», assegura Joana Ribeiro, acrescentando que existem várias soluções, nomeadamente a que foi aplicada pela EDM que inclui a remobilização do material do local, arrefecimento com água e um agente retardador da temperatura, recolocação e compactação no local. «Essa compactação é fundamental uma vez que faz com o acesso e a circulação do oxigénio no interior da escombreira, que alimenta o processo de combustão, seja limitado», garante.

Segundo a professora do DCT, este é um processo que acontece em todo o mundo e que tem não só impacte ambiental e na saúde, mas também a nível económico, uma vez que pode ocorrer numa mina de carvão e nas camadas de carvão propriamente ditas, alterando e inviabilizando o recurso geológico.

Assim, Joana Ribeiro considera «muito importante fazer uma inventariação das escombreiras de carvão que existem em Portugal, das respetivas características e condições de deposição, assim como da situação em relação ao enquadramento em zonas florestais. Desta forma, o risco de ignição e consequente autocombustão de escombreiras de carvão poderia ser minimizado através da gestão florestal e territorial adequada», conclui.

Para além da participação de investigadores do DCT da FCTUC, a investigação contou também com investigadores da Universidade do Porto.

O artigo científico “Prediction of acid production potential of self-combusted coal mining wastes from Douro Coalfield (Portugal) with integration of mineralogical and chemical data”, publicado na International Journal of Coal Geology, pode ser consultado aqui. Universidade de Coimbra - Portugal


domingo, 28 de maio de 2023

Galiza - Comemorações pelo Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

O Centro Cultural Camões em Vigo organiza as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas na Galiza


A celebração terá início no dia 8 de junho, às 20h30, no Pub Momo de Santiago de Compostela, onde o fadista Jorge Gomes brindará o público presente com um concerto. A entrada é gratuita.

No dia a seguir, sexta-feira 9 de junho, as comemorações terão início às 18h00 com a divulgação dos vencedores da edição de 2023 do concurso de fotografia Portugal numa imagem. Portugal numa palavra.

Mais tarde, às 18h30, terá lugar a inauguração da exposição Naturezas, da artista portuguesa Sofia Brito, uma exposição de obras realizadas através da técnica manual de recorte papercut que estará patente no nosso centro cultural até dia 31 de julho.

Para terminar, às 20h30, decorrerá o concerto do fadista português Jorge Gomes no mesmo Centro Camões na cidade de Vigo.

Ainda, o centro cultural lança a terceira edição do concurso de fotografia Portugal numa imagem. Portugal numa palavra. As pessoas interessadas poderão participar até ao dia 1 de junho, preenchendo o formulário de inscrição e enviando a fotografia e o texto para o seguinte e-mail: cursosplecamoesvigo@gmail.com As três melhores fotografias receberão como prémio coleções de livros. Regulamento e formulário de Inscrição aqui. Centro Camões em Vigo in “Portal Galego da Língua” - Galiza


Brasil - Pianista José Eduardo Martins encerra carreira com concerto em Lisboa

O pianista brasileiro José Eduardo Martins encerra a carreira em Lisboa, na próxima terça-feira, com um concerto dedicado a compositores de Portugal e do Brasil, a realizar no Museu Nacional da Música, anunciou esta instituição


“Pianista perfeito”, como a crítica francesa o definiu, professor, investigador, divulgador, José Eduardo Martins escolheu para o seu derradeiro programa os compositores brasileiros Henrique Oswald, Francisco Mignone e Gilberto Mendes, a par dos portugueses Carlos Seixas, Francisco de Lacerda, Fernando Lopes-Graça e Eurico Carrapatoso, abrindo com uma ‘suite’ de Jean-Philippe Rameau.

Segundo testemunho do pianista, citado pelo Museu Nacional da Música, o programa foi escolhido tendo em conta a sua ligação afetiva a Portugal, e recorda episódios marcantes do seu percurso, como as Sonatas de Carlos Seixas que apresentou no seu primeiro recital em Lisboa, em 1959, na Academia de Amadores de Música, feito a convite do compositor português Fernando Lopes-Graça.

A última atuação ao vivo do pianista brasileiro acontece perto de 70 anos após a sua estreia em 1953, num recital em São Paulo.

José Eduardo Martins nasceu nesta cidade brasileira, em 1938, onde iniciou estudos de piano com o professor russo José Kliass. Seguir-se-iam os anos de trabalho em Paris, no final da década de 1950, com os mestres do Conservatório da capital francesa: Marguerite Long, a intérprete privilegiada de Maurice Ravel, Jean Doyen, que viria a dirigir a classe de piano, e Louis Saguer, o professor de Teoria Musical, que fora aluno de Darius Milhaud, Arthur Honegger e Paul Hindemith.

Saguer viria a revelar-se determinante no percurso de José Eduardo Martins e nas suas escolhas, como o próprio pianista sublinhou mais tarde: por um lado, era um crítico do virtuosismo vão, da repetição de repertório e “das programações massificadas, sem interesse musical e social”; ao mesmo tempo, era um conhecedor profundo da música portuguesa, desde o Renascimento de Manuel Rodrigues Coelho, ao Século XX de Fernando Lopes-Graça, de quem era amigo.

“A influência de Louis Saguer […] foi duradoura”, escreveu José Eduardo Martins em 2009, sobre o seu antigo professor. “Os princípios do mestre permaneceram como farol, e muitos dos conceitos depositados em seus textos fazem parte daquilo que foi assimilado [por este seu] discípulo.”

Desde o início da carreira, a música francesa esteve presente no repertório de José Eduardo Martins. Interpretou Gabriel Fauré, Ravel, fez ciclos integrais de Rameau e Claude Debussy, mas também abordou Mussorgsky e Alexander Scriabin, sobre o qual escreveu.

Numa discografia com 25 títulos, feita sobretudo na Europa, para ‘selos’ como Portugaler e Portugal/Som, Esolem (França) e De Rode Pomp (Bélgica), dedicou seis álbuns à música portuguesa.

Gravou a integral de Francisco de Lacerda, incluindo a versão para piano das “Trente-six histoires pour amuser les enfants d'un artiste”, fez a primeira gravação integral das “Viagens na Minha Terra”, de Lopes-Graça, que considerou “um dos mais destacados músicos do seu tempo”, dedicou dois álbuns às Sonatas de Carlos Seixas, defendendo que, “enquanto não estiver justamente conhecido e interpretado nas principais salas de concerto do mundo, uma falta irreparável estará a ser perpetrada.”

Do compositor romântico brasileiro Henrique Oswald, empreendeu o resgate de uma obra esquecida, tendo gravado a integral da sua música para violino e piano (com Paul Klinck), violoncelo e piano (com Antônio Del Claro) e o Quarteto com piano, além de uma grande parte da sua obra para piano solo, como Valsas, Noturnos e a Sonata em Mi maior.

Ao compositor do Rio de Janeiro, que se fixaria em Itália, dedicou também o livro “Henrique Oswald, Personagem de Uma Saga Romântica”.

O repertório de José Eduardo Martins é extenso. Remonta ao Barroco, com Kuhnau, Bach, e estende-se por mais de três séculos de música, pelos universos de Mozart, Tchaikovsky, Rachmaninov, sem esquecer compositores do Brasil e de Portugal, como Villa-Lobos, Cláudio Santoro, Gilberto Mendes e Jorge Peixinho, nem novas expressões europeias, como os belgas como Lucien Posman, Hans Cafmeyer, Frederick Devreese e Raoul De Smet.

A par da carreira de pianista, José Eduardo Martins foi professor da Universidade de São Paulo, desde o início da década de 1980 a 2007, tendo dirigido o departamento de música.

A sua obra teórica, em artigos, ensaios, monografias, inclui títulos como “A Música na Estratégia Colonial Iluminista”, “O Fado: Da Dança Afro-Brasileira à Saudade Portuguesa”, “O Descompromisso do Estado e a Ascensão da Cultura de Alto Consumo”, “Impressões Sobre a Música Portuguesa – Panorama, Criação, Interpretação, Esperanças” e “História Breve da Música Ocidental”, estando editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra, a Université Paris-Sorbonne e a Universidade de São Paulo, entre outras instituições.

Em Portugal, depois do concerto no Museu Nacional da Música, José Eduardo Martins fará duas conferências em Évora e Coimbra.

A sua carreira foi distinguida com a ‘Ordre de La Couronne’, da Bélgica, a Ordem do Rio Branco do Brasil, diplomas de Gratidão e de Honra ao Mérito de São Paulo. Recebeu o doutoramento ‘honoris causa’ da Universidade Constantin Brancusi, é membro honorário da Academia Brasileira de Música e da Academia Fernando Lopes-Graça de Lisboa.

“José Eduardo [Martins] é um intérprete excecional, com uma discografia exemplar”, escreveu o compositor e crítico francês François Servenière, num longo ensaio sobre o pianista brasileiro, publicado em 2011. “Martins é perfeito”, garante Servenière. "A música […] flui como uma corrente, nada a dispersa nem constrange. Poder-se-ia ouvir [os seus discos] sem parar, como uma antecâmara do paraíso.” In “Sapo Mag” – Portugal com “Lusa”


Larga tudo


 








Vamos aprender português, cantando

 

Larga tudo

 

Larga tudo e vem passar a eternidade desta madrugada

num quarto de hotel com vista pro céu

larga

larga do que vão dizer na sua casa

larga do que vão falar nessa cidade

larga que a felicidade pode estar pra cá desta porta

 

Larga tudo e vem passar a eternidade desta madrugada

num quarto de hotel com vista pro céu

que quando chegar a alvorada eu já vou na estrada

que é o que me leva

 

Larga tudo e vem passar a eternidade desta madrugada

num quarto de hotel com vista pro céu

larga

larga do que vão dizer na sua casa

larga do que vão falar nessa cidade

larga que a felicidade pode estar pra cá desta porta

 

Larga tudo e vem passar a eternidade desta madrugada

num quarto de hotel com vista pro céu

que quando chegar a alvorada eu já vou na estrada

que é o que me leva

 

Adriana Calcanhotto – Brasil

 

Vamos recordar, cantando

Devolva-me