Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 22 de março de 2025

Moçambique - Joel Macedo lança Conhecimento Religioso na cidade da Beira

“Conhecimento Religioso: Entre a fé e a razão” é o título da obra de estreia de Joel Macedo, a ser lançada no dia 27 deste mês, no Centro Cultural Português da Beira, a partir das 18 horas.

Segundo uma nota de imprensa, a obra aborda a intrincada relação entre o invisível e o visível, o confronto eterno entre a fé e a razão, num percurso que atravessa os primórdios da humanidade, muito antes do surgimento da Filosofia e da Literatura.

“O autor explora temas que desafiam a percepção comum da divindade, propondo até a possibilidade de que o universo seja fruto de um jogo divino, repleto de enigmas e questionamentos sobre o propósito da existência”, pode-se ler na nota de imprensa.

Joel Macedo é formado em Ciências da Educação com habilitação em Educação de

Adultos, pela Universidade Licungo. Desde cedo, demonstrou um profundo interesse por questões existenciais, que foi intensificado pelo seu encontro com a Bíblia e a Filosofia, que o inspiraram a buscar respostas e a compreender o sentido da vida.

Com a chancela da Mapeta Editora, a apresentação estará a cargo do académico Edu Manuel, Doutor em Ciências da Educação com especialização em Organização do Ensino, Aprendizagem e Formação de Professores pela Universidade de Coimbra, em Portugal. In “O País” - Moçambique


Iraque – Encontradas tábuas com 4 mil anos que revelam burocracia antiga

Arqueólogos do Museu Britânico e do Iraque descobriram mais de 200 tábuas cuneiformes de 4000 anos em Girsu, lançando luz sobre a complexa burocracia do primeiro império conhecido



Uma descoberta no sul do Iraque deu-nos um raro vislumbre do mundo da burocracia antiga. Investigadores do Museu Britânico e do Iraque desenterraram mais de 200 tábuas cuneiformes de argila e 60 selos, oferecendo um registo detalhado do antigo império acádio.

Essas tábuas de 4000 anos, descobertas na antiga cidade suméria de Girsu (atual Tello), revelam tudo, do mundano ao monumental: rações de cevada, transações de gado e até mesmo a morte de uma ovelha nas periferias do império.

“Estas são as plantas do império, a primeira evidência material do primeiro império do mundo”, disse Sébastien Rey, curador do Museu Britânico para a antiga Mesopotâmia e diretor do Projeto Girsu, ao The Observer.

Para que não pensemos que a burocracia era uma invenção moderna, Rey destacou a propensão do império para procedimentos burocráticos. “Eles anotam absolutamente tudo… Eles são obcecados com burocracia”, afirmou.

O tesouro de registos administrativos, que remonta ao período acadiano (2300-2150 a.C.), fornece a primeira evidência concreta do Império Acádio sob o rei Sargão – o primeiro império conhecido do mundo. Rey explicou que as tábuas foram armazenadas num edifício de arquivo do estado e documentam o funcionamento interno do império em grande detalhe. Estas são “as primeiras evidências materiais de como o império realmente funcionou”, acrescentou.

Como Rey esclareceu, as descobertas também revelam que as mulheres desempenharam papéis significativos neste império inicial. Ele observou que, embora a sociedade fosse patrilinear, as mulheres ocupavam cargos importantes, incluindo papéis de alta sacerdotisa – algo incomum para a época.

“As mulheres ocupavam cargos importantes dentro do estado. Então temos altas sacerdotisas, por exemplo, embora fosse uma sociedade muito liderada por homens. Mas o papel da mulher era pelo menos mais alto do que muitas outras sociedades, e é inegável com base nas evidências que temos”, ele disse ao Observer.

As tábuas, parte do Projeto Girsu – uma colaboração entre o Museu Britânico e o Conselho Estadual de Antiguidades do Iraque – ficarão no Museu do Iraque em Bagdad para estudos mais aprofundados.

Saiba mais sobre o Projeto Girsu aqui. Euronews.culture


Cabo Verde - Mica Sena lança videoclipe “Supera”

O vídeo conta com a participação dos modelos Nicole Neves, Samira Morais, Liliane Semedo e Kelvin



O cantor cabo-verdiano Mica Sena lança videoclipe do tema “Supera”, disponível no canal RM FAMILY-TV. A música, com letra e melodia assinadas pelo próprio artista.

A produção musical ficou por conta de Gspro (Gilson Furtado), com captação de voz na Raçamau.Cv Recordz e mixagem/masterização por Carlos Juvandes. O videoclipe, dirigido por Gilson Ramos e Marcelo Semedo, traz imagens captadas e editadas por Gilson Ramos (ResolviStudio), criando uma estética envolvente para acompanhar a narrativa da música. In “Dexam Sabi” – Cabo Verde


Cabo Verde - “IOL ANDA” é o novo single de IIolanda Pereira

A cantora e artista luso cabo-verdiana, IIolanda Pereira lançou o single IOL ANDA, bem como o seu videoclipe.



“No mês em que se celebra a mulher, esta canção, da autoria de Mário Lúcio Sousa, exalta a importância da ancestralidade, numa homenagem aos avós e, constitui uma obra musical que retrata a força de ser mulher”, lê-se num comunicado oficial. 

A artista, pretende, através da música, transmitir a “Essência na Voz”, título do álbum discográfico do qual faz parte e que está prestes a ser lançado.

Gravado recentemente no estúdio Timbuktu, em Lisboa, o novo álbum conta com a participação de renomados músicos como Bernardo Moreira no contrabaixo e na produção musical, João Moreira no trompete e Luiz Avellar no piano, e a colaboração de autores como Mário Laginha, Paulino Vieira, João Bosco, entre outros.

A cantora que iniciou a sua carreira em 1998, tem percorrido diferentes festivais, em vários continentes, levando a música cabo-verdiana e as sonoridades do jazz.

Criadora de dois projectos que homenageiam Cabo Verde e o seu povo, IIolanda Pereira, também foi nomeada na categoria de Melhor Artista Revelação nos Cabo Verde Music Awards, com o seu álbum de estreia «KriolaEnKantu». In “Expresso das Ilhas” – Cabo Verde


sexta-feira, 21 de março de 2025

Estados Unidos da América - Um riacho restaurado dá suporte a corrida de salmão selvagem

Em quase toda a Califórnia, o salmão está em declínio. Mas em Putah Creek – um riacho restaurado que atravessa o campus da Universidade da Califórnia, em Davis – o salmão selvagem não só está a aumentar, como também está a completar o seu ciclo de vida.



Um estudo da UC Davis, publicado na revista Ecosphere, é o primeiro a documentar o salmão originário de Putah Creek. O salmão Chinook tem sido observado no riacho desde 2014, mas estudos anteriores tinham demonstrado que se tratava de salmões vindos de maternidades. Este estudo confirma agora que alguns salmões que regressam a Putah Creek no outono para desovar nasceram efetivamente lá.

Isto não deveria ser novidade. Os salmões são famosos pelo seu ciclo de vida simples: Nasce num riacho, migra para o oceano e regressa ao riacho para desovar no final da sua vida. No entanto, na Califórnia do século XXI, os salmões são por vezes transportados de camião ou de avião para o oceano a partir de maternidades, devido a barragens, perda de habitat, aquecimento dos cursos de água, seca e outras ameaças que restringem a sua migração natural.

Este estudo mostra que em Putah Creek – e potencialmente noutros cursos de água alterados e controlados por barragens em todo o mundo – os cursos de água restaurados podem ajudar e até a criar corridas de salmão.

“O facto de haver peixes originários de Putah Creek é muito importante”, disse Andrew Rypel, diretor do UC Davis Center for Watershed Sciences na altura do estudo. “Ter uma população crescente e estável que é natal significa que é um ecossistema bem gerido. Significa que estamos a cuidar da água e da terra da forma correta e que há um futuro para os peixes nesse local. Também mostra que há esperança para outros riachos que estão degradados”.

A água trouxe de volta os pássaros, os insetos e o salmão

O riacho Putah é um afluente do rio Sacramento, que atravessa as cidades de Winters e Davis. Quase não fluía depois da instalação da Barragem de Monticello na década de 1950, que criou o Lago Berryessa e reduziu drasticamente a água do riacho Putah.

Depois, em 2000, uma ação judicial deu origem ao Acordo de Putah Creek, que determinou caudais durante todo o ano para proteger os peixes e o habitat. Desde então, membros da comunidade local, organizações sem fins lucrativos, agências estatais e investigadores da UC Davis têm trabalhado para restaurar e estudar o riacho. Descobriram que, quando a água regressou ao ribeiro, o mesmo aconteceu com os insetos, as aves canoras e, eventualmente, o salmão.

Peixes de incubação e novos salmões selvagens

Até este estudo, pensava-se que as centenas de salmões do riacho Putah eram todos vadios de incubadoras. “As pessoas começaram a especular se algum destes peixes que desovavam em Putah Creek estava a regressar a Putah Creek”, disse Rypel, professor no departamento de Biologia da Vida Selvagem, Peixes e Conservação da UC Davis. “Era um desafio científico difícil de resolver”.

A primeira autora Lauren Hitt, uma estudante de pós-graduação no laboratório de Rypel durante o estudo, usou otólitos – ou ossos da orelha – de carcaças de salmão Chinook adulto recuperadas de Putah Creek entre 2016 e 2021 para determinar sua origem.

Não maiores do que uma unha do polegar, os otólitos carregam dentro deles a química da água dos riachos que percorreram, permitindo aos cientistas mapear seus movimentos e migrações em relação aos traçadores químicos de riachos individuais.

Esta técnica poderosa permitiu a Hitt reconstruir o historial de vida de cada salmão. Ela mostrou que, embora os peixes originários de incubadoras fossem os mais abundantes, um punhado – 11 de 407 – de salmões de retorno analisados nasceram em Putah Creek, completando o seu ciclo de vida completo como salmões selvagens.

Esta nova série de salmões selvagens em Putah Creek descende de peixes de incubadoras – uma descoberta que pode alterar algumas perspetivas de longa data sobre o papel das incubadoras de peixes na conservação. As maternidades fornecem alimento e um impulso de pesca para os pescadores, mas têm sido frequentemente criticadas pelos seus impactos na genética, saúde e habitat dos peixes selvagens.

“A ideia de que as maternidades podem ser parte da solução pode apanhar as pessoas desprevenidas”, disse Rypel. “Mas pode haver efeitos positivos, desde que o salmão tenha um bom lugar para onde ir. Há muito potencial para termos mais Putah Creeks por aí”.

Amor local

Os salmões nascidos em Putah Creek enfrentam muitos desafios para completar o seu ciclo de vida. Têm de sair de Lower Putah Creek, entrar na planície de inundação de Yolo Bypass, viajar até Liberty Island, descer o rio Sacramento e entrar na baía de São Francisco antes de desaguar no Oceano Pacífico. No final da sua vida, podem fazer o percurso inverso. Ao longo do percurso, as restrições à passagem dos peixes, os caudais reduzidos, a água demasiado quente, insuficiente ou demasiado abundante na altura errada podem ser fatais.

Numa ilustração sóbria destes riscos, o salmão originário de Putah Creek de 2021 morreu antes de poder desovar porque um rio atmosférico enviou detritos e águas saturadas de amoníaco para Putah Creek precisamente quando o salmão em desova começava a chegar. Os autores dizem que tais contratempos são significativos, mas não intransponíveis, desde que haja uma gestão colaborativa de Putah Creek no futuro.

“Há muito amor local por estes peixes”, disse Hitt, atualmente estudante de doutoramento na Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia. “Espero que as pessoas reconheçam que o facto de se preocuparem com o sistema e de defenderem o sistema é o que fez as mudanças”. In “Sustentix.Sapo” - Portugal


Namíbia - Nandi-Ndaitwah tomou posse como primeira mulher presidente

Netumbo Nandi-Ndaitwah tomou posse, esta sexta-feira, como presidente da Namíbia, uma raridade no continente e uma estreia na história do país da África Austral.



Netumbo Nandi-Ndaitwah foi empossada depois de a sua vitória nas conturbadas eleições do final de Novembro ter sido confirmada em tribunal. Mulher de 72 anos, do histórico partido no poder, foi empossada em Windhoek, durante uma cerimónia na presença dos Chefes de Estado de Moçambique, Angola, África do Sul e Tanzânia e outros países.

O presidente cessante, Nangolo Mbumba, de 83 anos, entregou o poder a Nandi-Ndaitwah durante a cerimónia que decorreu no dia em que a Namíbia celebra o seu 35.º aniversário da independência.

“Não fui eleita por ser mulher, mas pelas minhas capacidades”, afirmou a nova presidente durante a cerimónia.

Nandi-Ndaitwah manifestou durante o discurso o seu apoio ao direito à autodeterminação dos palestinianos e apelou ao levantamento das sanções internacionais contra Cuba, a Venezuela e o Zimbabwe. In “O País” - Moçambique


Macau - Criará “melhores condições” para atrair empresas lusófonas

O Secretário para a Economia e Finanças assegurou que “Macau irá despender esforços necessários para desempenhar de forma efectiva o seu papel” de plataforma sino-lusófona, sendo que um dos objectivos é criar “melhores condições” para atrair empresas lusófonas a instalarem-se na RAEM. Num encontro com os embaixadores dos países lusófonos na China, estes manifestaram o desejo de que se possam “explorar novas oportunidades de cooperação”



Cooperação económica e comercial nas áreas do investimento e do sector financeiro e desenvolvimento do papel de Macau como plataforma entre a China e os Países de Língua Portuguesa (PLP) foram alguns dos temas que estiveram em cima da mesa, num encontro entre o Secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, e a delegação dos embaixadores dos PLP na China. Segundo um comunicado do Gabinete do Secretário, Tai Kin Ip pretende criar “melhores condições” para atrair empresas lusófonas para a RAEM.

O Secretário começou por sublinhar que “ao longo dos anos, Macau tem desenvolvido o seu papel” de plataforma – e esse caminho será para continuar a seguir. Assinalou depois que, nos últimos anos, as trocas comerciais bilaterais entre a China e os PLP aumentaram de forma estável e o intercâmbio cultural e humanístico tornou-se também mais frequente.

Tai Kin Ip disse ainda que o foco continuará a ser o posicionamento de desenvolvimento enquanto “Um Centro, Uma Plataforma, Uma Base”, e a participação “com afinco” na construção conjunta de “Uma Faixa, Uma Rota”. Além disso, a ideia é também continuar a “enriquecer” o conteúdo da plataforma entre a China e os países lusófonos.

Para tal, continuou, “Macau irá despender esforços necessários para desempenhar de forma efectiva o seu papel como ‘interlocutor com precisão’”, a fim de aprofundar a cooperação e intercâmbio internacionais, participar proactivamente na construção da Zona de Cooperação Aprofundada e da Grande Baía, bem como promover “com todo o empenho” o desenvolvimento das principais indústrias, “criando melhores condições para atrair empresas dos países de língua portuguesa a instalarem-se no território”.

Na ocasião, o governante aproveitou ainda para dirigir às empresas do Interior da China e dos PLP um convite para participação na 2ª edição da “Exposição Económica e Comercial China-Países de Língua Portuguesa (Macau)” (C-PLPEX) no corrente ano, “visando a plena potenciação do papel de Macau como plataforma sino-lusófona e exploração de mais oportunidades de negócios entre a China e os PLP”.

Por seu turno, a delegação dos embaixadores lusófonos, e segundo o comunicado divulgado pelo Gabinete de Comunicação Social, enalteceu a importância dada à parceria com a China. Apreciou igualmente o papel de plataforma desempenhado por Macau, como ponte de ligação na promoção económica e comercial entre a China e os PLP.

“Todas as partes manifestaram ainda o desejo de que, através das diligências do Fórum de Macau e da plataforma de Macau, se possa atrair mais investimento, e, ao mesmo tempo, explorar novas oportunidades de cooperação nos âmbitos da promoção económica e comercial e do intercâmbio cultural e humanístico, entre outros, fomentando a implementação de iniciativas e projectos nos dois sentidos”, pode ler-se. In “Jornal Tribuna de Macau” - Macau


Macau - Começa o XIV Festival Literário, uma convergência cultural de dez dias

Macau recebe a edição de 2025 do Festival Literário, um festival multidisciplinar que mistura literatura, fotografia, cinema e música, com artistas internacionais e um programa diversificado de eventos que se estende até ao dia 30 de Março



Arrancou hoje às 17h a décima quarta edição do Festival Literário de Macau, um festival de dez dias que reúne literatura, fotografia, cinema e música, até ao dia 30 de Março. O evento pretende envolver o público através de uma variedade de formatos, incluindo painéis de discussão, exposições de arte e fotografia, projecções de filmes e documentários e espectáculos ao vivo.

O festival teve início com um evento de pré-abertura ontem, marcado pela inauguração de “O Vento Sopra na Pradaria”, uma exposição de fotografia de Wang Zhengping. Hoje, a abertura oficial apresentará “Novas Independências”, uma exposição de fotografia de Alfredo Cunha, juntamente com um debate sobre a escrita de poesia na era da inteligência artificial, com a participação de Jia Wei, Xu Jinjin, Zang Di, Chan Ka Long e Shanshan Wang. Os eventos do dia de abertura encerram com um concerto de Peace Wong.

O programa inclui uma série de novos lançamentos, painéis literários e projecções de filmes no dia 22 de Março. Jessie Rao Yongxia conduzirá um workshop de fotografia, “Novo Tempo Nómada. Observação Singular”, enquanto André Letria apresentará a palestra, “Desenhar Palavras, Escrever Imagens”. O lançamento de livros inclui “A Rapariga que Sonhava”, de Sonia Leung, e “O Teu Rosto Será o Último”, de João Ricardo Pedro e Luís Filipe Rocha, que também será apresentado como filme posteriormente no festival. Entre os eventos adicionais contam-se um workshop de ilustração por André Letria, uma ‘masterclass’ de escrita criativa por Sonia Leung, e debates sobre a literatura de Hong Kong e Macau, bem como sobre a Rota Marítima da Seda.

Já no dia 23 de Março, haverá uma visita guiada a Macau, conduzida por Jason Wordie, uma palestra de Xu Jinjin sobre a escrita para uma poética de testemunho e o lançamento da revista “halftone#11 – Fabula Orientis & Other Stories”. Será também lançado o livro “Mais Uma Desilusão” de Valério Romão, seguido de um recital de poesia, “Voar Para Além de Novas Formas de Ignorância”. O dia contará ainda com um workshop de fotografia por Jessie Rao Yongxia, uma sessão de cinema e debate sobre habitação económica de Portugal a Macau e a projecção do filme “Cinzento e Negro”, de Luís Filipe Rocha.

A aposta na literatura e no património cultural prossegue no dia 24 com exposições de fotografia e sessões de cinema, mantendo a diversidade da programação ao reunir vozes de diferentes origens para debater os temas apresentados.

De 25 a 27 de Março, o festival promove sessões de cinema e debates, incluindo “Amor e Dedinhos de Pé” e “Sinais de Fogo”, de Luís Filipe Rocha, e documentários como “À Medida que Fomos Recuperando a Mãe” e “A Mulher que Morreu de Pé”.

Os eventos de encerramento do festival, nos dias 29 e 30 de Março, incluem debates sobre a escrita feminina de romances, as mudanças sociais em 2025 e a relação entre poesia e música. Também as palestras abordarão temas que vão desde a história de Angola, às alterações climáticas e à literatura lusófona. O lançamento de livros contará com obras de Marina Pacheco, Lin-Tchi-Fá, Tony Banham, Paul French e Thomas DuBois, a par de uma sessão de ilustração e contos com a participação de Catarina Mesquita, Lydia Ieong e Rodrigo de Matos, e um concerto da Lisbon Poetry Orchestra. O festival termina com “Um Banquete de Histórias – Sete Pratos, Sete Tradições”, uma experiência sensorial que combina narração de histórias e gastronomia.

Os locais da edição de 2025 do Festival Literário de Macau incluem o histórico Antigo Matadouro Municipal, o Teatro Capitol, o Teatro D. Pedro V, o Albergue SCM, o Artyzen Grand Lapa Macau e o Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong. Guiomar Salema – Macau in “Ponto Final”


quinta-feira, 20 de março de 2025

Portugal - Estudantes da Universidade de Coimbra desafiam jovens talentos para competição de programação aplicada à robótica

A BotOlympics, a maior competição de programação aplicada à robótica da região Centro, está de regresso à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), de 27 a 30 de março, para desafiar jovens talentos nesta área. A edição deste ano, à semelhança das anteriores, decorrerá no Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (DEEC) da FCTUC, e, a final, no Alma Shopping.


 

Este evento, organizado pelo Núcleo de Estudantes de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da Associação Académica de Coimbra (NEEEC/AAC), em conjunto com o Clube de Robótica (CR) da Universidade de Coimbra, tem como objetivo principal dar a conhecer o mundo da robótica a jovens aspirantes a engenheiros.

Durante os quatro dias de competição, os participantes, vindos do ensino básico, secundário e superior, terão a oportunidade de desenvolver e testar as suas capacidades de programação e resolução de problemas, aplicando os seus conhecimentos a desafios práticos em robôs autónomos. 

De acordo com a organização, as três provas da competição refletem diferentes cenários do mundo real e são ajustadas ao nível de ensino dos participantes. A prova ISR, destinada ao ensino básico, prevê que um robô percorra um trajeto rodoviário, enfrentando cruzamentos e obstáculos como passagens de animais. Já a prova Bot’n Roll - “Robot Delivery”, pensada para o secundário, passa por programar um robô para realizar entregas com eficiência e autonomia. Por fim, a prova FCTUC - “Polícia e Ladrão”, preparada para o ensino Superior, pressupõe que um robô polícia capture um robô ladrão, simulando um cenário de resposta rápida. 

De acordo com Luís Ventura, coordenador-geral da 10.º edição, «o BotOlympics distingue-se por aliar competição e formação num ambiente dinâmico e acessível, proporcionando uma experiência única aos participantes, independentemente da sua idade ou nível de experiência». 

Além da competição, o BotOlympics aposta também na divulgação da programação e da robótica junto do público em geral. No dia 29 de março, o Alma Shopping acolhe o programa paralelo BotKids, com demonstrações, desafios e atividades interativas dirigidas especialmente às crianças e às famílias.

«Queremos que este evento seja uma porta de entrada para o mundo da programação e da robótica. O BotKids permite que qualquer pessoa, especialmente as crianças, experimentem e compreendam como estas tecnologias fazem parte do nosso dia a dia», conclui a organização.

Ao longo dos últimos 10 anos, o BotOlympics tem crescido e afirmado a sua importância no panorama educativo e tecnológico português, sendo já a maior competição de programação aplicada à robótica da região Centro. A iniciativa continua a incentivar jovens a desenvolverem competências essenciais para o futuro, combinando criatividade, raciocínio lógico e trabalho em equipa.

Para mais informações sobre o evento consultar o sítio oficial. Universidade de Coimbra - Portugal


Timor-Leste - Bui-Lesa: a força de uma mulher na luta pela independência

Bui-Lesa, um nome que ecoa na história da resistência timorense, representa a força inabalável das mulheres na luta pela independência. Desde tenra idade, enfrentou os horrores da guerra, desafiando o medo e a opressão. O seu legado é um testemunho da coragem feminina na construção da liberdade



Ana Senhorinha Alves da Silva, conhecida como Bui-Lesa, é uma mulher destemida. Desde a adolescência, dedicou-se à luta pela independência de Timor-Leste, enfrentando os horrores da guerra com coragem inabalável. Além de combatente, desempenhou um papel essencial em funções de apoio estratégico, demonstrando a força das mulheres na resistência. A sua trajetória representa a contribuição fundamental das mulheres na busca pela liberdade e na garantia de direitos fundamentais, frequentemente negados.

Nascida a 12 de fevereiro de 1965, filha de Sebastião Alves e Miranda Olinda Alves da Silva, Bui-Lesa é a terceira de cinco irmãos, quatro mulheres e um homem.

Aos 13 anos, começou a envolver-se na luta pela independência de Timor-Leste, particularmente através da sua participação na Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN). O seu envolvimento não se limitava à educação, mas também procurava fortalecer o seu espírito de resistência pela liberdade e autodeterminação do seu país. Desde tenra idade, o seu compromisso com a causa e a determinação em contribuir para a mudança foram evidentes. A sua adesão à FRETILIN e a experiência na luta moldaram a sua compreensão da realidade política e das formas pelas quais poderia contribuir para um futuro mais justo.

Como se envolveu na luta?

Envolvi-me na luta através das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (FALINTIL) quando tinha apenas 13 anos. Em 1978, quando o inimigo [as forças indonésias] atacou, toda a população fugiu para o monte Matebian. Permanecemos lá por algumas semanas, até que o local foi bombardeado e muitas pessoas perderam a vida. Foi um período de medo e trauma, mas o facto de estar com toda a minha família ajudou-me a manter a coragem.

Quando soubemos que o inimigo iria queimar a área, os líderes das FALINTIL aconselharam a população a render-se para evitar mais vítimas, enquanto eles continuavam a lutar. Foi nesse momento que me separei da minha família. O meu irmão mais novo perdeu-se de nós, e os meus pais, junto com duas das minhas irmãs, foram procurá-lo. Eu e a minha segunda irmã mais velha, que acabou por se render anos depois, ficámos sob a proteção de um membro das FALINTIL para continuarmos a luta.

Foi uma separação difícil, mas não havia alternativa. O meu pai deixou-nos um conselho ao partir: “Levem-nas convosco. Se morrerem, se ficarem feridas ou se sobreviverem, devem estar sempre juntas, mas não as deixem render-se.”

A partir desse momento, esforcei-me para resistir, fortalecendo-me e seguindo o caminho da luta pela liberdade. Apesar das ameaças, continuei, porque sabia que estávamos a lutar não só pela libertação da nossa terra, mas também para garantir os direitos das mulheres, frequentemente negligenciados.

Quais foram os papéis importantes desempenhados pelas mulheres na guerra?

Naquela época, todas as pessoas, homens e mulheres, tinham papéis fundamentais na luta. No entanto, algumas funções eram mais frequentemente atribuídas às mulheres, como cozinhar, costurar, ajudar no transporte de equipamentos e infiltrar-se para recolher informações.

Além disso, as mulheres desempenharam um papel importante na segurança, mesmo quando só tínhamos pedras como armas. Enfrentámos desafios tanto por causa da guerra como das limitações impostas às mulheres no ambiente militar. No entanto, demonstrámos coragem e contribuímos para a resistência.

Muitas mulheres estiveram na linha da frente, ao lado dos homens, lutando com armas, transportando suprimentos, servindo como mensageiras e protegendo civis. Também tiveram um papel crucial na logística, na assistência médica improvisada e no fornecimento de informações estratégicas.

Como era a rotina durante a guerra?

Em 1980, Xanana Gusmão e outros líderes, como Kalisa e Ologari, organizaram uma reunião para estruturar o comando e distribuir funções. Cada pessoa foi designada conforme as suas capacidades. Eu fui escolhida como assistente na unidade Tuba-Rai, liderada pelo comandante Moisés Kina e pelo vice-comandante Nokodara.

Antes de me juntar à resistência armada, tinha estudado em Viqueque, no posto administrativo de Watulari, o que me permitia ler e escrever. Assim, integrei um grupo de companheiros que ensinava aqueles que ainda não sabiam ler. Usávamos folhas de palmeira e pequenos pedaços de madeira para escrever. Além da alfabetização, estudávamos conceitos políticos básicos, partilhando conhecimentos para fortalecer a luta.

Houve algum momento em que sentiu vontade de se render?

Pensei em desistir, mas nunca o fiz. Durante quase toda a minha vida, vivi desta forma. Muitas vezes, debaixo das árvores, refletia sobre quando a guerra chegaria ao fim. Se tivesse de morrer, estava preparada, mas render-me? Nunca.

Sempre me agarrei às palavras do meu pai: “Se morrermos, morremos com as FALINTIL. Mas render-nos? Nunca! “O nosso objetivo era claro: garantir que as mulheres combatentes vissem os seus direitos reconhecidos. Se nos sacrificássemos, que fosse por um resultado que valesse a pena.

Quando me infiltrei em Watulari, na aldeia de Makadiki, encontrei uma madre da congregação SSPS, cuja comunidade também existia na Indonésia. A certa altura, pediu-me que a acompanhasse até Atambua, garantindo que só regressaríamos quando a guerra terminasse. Via o sofrimento das mulheres combatentes dos Falintil na floresta e queria proteger-me.

Mas recusei. Respondi que permaneceria ali, a lutar ao lado dos meus companheiros.

Como era ser mulher no meio militar? Enfrentou desafios específicos?

Ser mulher no meio militar era extremamente difícil. Eu era ainda uma menina e não compreendia bem o que era a menstruação. O acesso a roupa interior era um problema. Tínhamos de recolher restos de tecido deixados pelos homens para costurar a nossa própria roupa. Além disso, lavar a roupa era um desafio, pois tinha de ser feito às escondidas.

Durante uma operação em Kribas, sob ordens de Xanana Gusmão, comunicávamos com a população através de sinais: incendiávamos casas e disparávamos contra animais para avisar a chegada dos FALINTIL. Foi um momento intenso.

O mais doloroso era ver as nossas mulheres tornarem-se vítimas de violência sexual e exploração. O sofrimento era insuportável. Muitas vezes, parecia preferível morrer a continuar a viver com aquela dor.

Como era a comunicação com a sua família?

Soube da morte do meu pai através dos companheiros que participaram na operação. Foi um momento de profunda tristeza, mas a luta tinha de continuar.

Em 1990, consegui enviar uma carta para saber notícias da minha família. Foi assim que soube que o meu irmão mais novo tinha conseguido concluir os estudos e que a minha mãe e as minhas irmãs estavam bem. A minha irmã mais velha, que tinha fugido com os sogros, já tinha tido um filho. Essas notícias deram-me forças para continuar.

Teve alguma missão que marcou sua trajetória?

As mulheres também participaram nas operações, juntamente com os homens, sendo designadas para diferentes funções. Algumas foram escolhidas para permanecer na retaguarda, enquanto outras tinham a missão de recolher materiais essenciais. Sempre que um ataque era realizado num determinado local, eram as mulheres que entravam para recuperar os itens necessários à resistência.

Relativamente às operações, também participei, juntamente com os homens, incluindo Falur Rate Laek, em atividades clandestinas em Watulari. Naquela região, a população vivia com medo, pois muitas famílias já tinham sido vítimas da repressão. Por isso, ninguém se atrevia a envolver-se na resistência clandestina. Diante dessa realidade, tornou-se essencial intensificar as ações secretas na zona. Recebi ordens de Falur Rate Laek, que me perguntou se eu tinha coragem de realizar uma operação de guerrilha urbana naquela área.

Naquele momento, após tanto tempo a presenciar a guerra sem saber quando terminaria, refleti sobre a situação. Muitas mulheres já se tinham rendido por diferentes razões, enquanto outras perderam a vida. No entanto, decidi seguir em frente e levar a operação adiante na aldeia, com a missão de capturar um fuzil, uma pistola e um rádio HT de um jovem que tinha sido perseguido em Viqueque. Porém, a missão foi cancelada quando recebemos a informação de que ele já não era um alvo.

Algum tempo depois, participei noutra operação em Watulari, onde precisei de me infiltrar sozinha numa zona de Makadiki. Durante quase um mês, escondi-me na casa de um morador local. A missão era extremamente perigosa, pois, se fosse descoberta pelo inimigo, toda a aldeia poderia ser massacrada. No entanto, finalmente consegui estabelecer comunicação com Malirin e Odir Miguel, que já faleceram. Eles ajudaram a organizar o contrabando de equipamento militar das forças indonésias, permitindo-nos realizar um ataque e capturar cinco das seis armas que estavam no local.

Acredita que sua experiência como veterana é bem reconhecida pela sociedade?

Apesar do reconhecimento oficial dos veteranos, nem todos aqueles que participaram na luta armada durante anos são devidamente valorizados. Por isso, continuamos a recomendar ao governo que considere esse aspeto.

Depois da independência, que mudanças espera para as mulheres em Timor-Leste?

Atualmente, vemos mais mulheres a assumir cargos importantes, mas muitas ainda vivem sem acesso pleno aos seus direitos. A luta pela igualdade continua. A crescente participação feminina na política e na sociedade demonstra que as mulheres têm um papel essencial no desenvolvimento do país. Lourdes do Rêgo – Timor-Leste in Diligente


A voz dos excluídos

Em seu derradeiro livro, Helio Brasil reconstrói, com uma linguagem dura, sem adornos, o mundo violento da periferia carioca

 

            I

Depois de lançar o romance A Pele do Soldado (Rio de Janeiro, Editora Mauad X), em 2022, Hélio Brasil volta a mostrar que continua em plena forma como ficcionista, ao publicar Onze Contos Malditos (Rio de Janeiro, Editora Lacre, 2024), obra em que, “na flor da idade, com seus noventa anos”, reúne textos “nada suaves, mas realistas, trágicos e, às vezes, chocantes”, como observa, com acerto, o escritor e advogado Gilberto Moog no texto de apresentação. 

Este lead já estava pronto quando veio a notícia infausta: o autor faleceu dia 14 de março de 2025, sexta-feira, no Rio de Janeiro, aos 93 anos, deixando vasta obra que inclui livros de contos, novelas, romances e memórias, especialmente sobre o bairro carioca de São Cristóvão, onde, praticamente, sempre morou.  

Seu último livro reúne contos que retratam o dia a dia que se vive numa grande metrópole, como o Rio de Janeiro, em que as pessoas saem às ruas todos os dias sem saber se voltam, tal a escalada de violência. O desprezo pelo ser (não só humano) atinge indiscriminadamente a todos, como se observa pelo conto que abre a obra, “Anima vili”, locução que se emprega a propósito de experiências científicas feitas originariamente em animais. Neste texto, conta-se a desdita de um chimpanzé de nome Bob, que, nascido em cativeiro, “habituado em experiências leves, seguidas por afagos e a oferta de frutas”, perdera a agressividade das feras e era “quase um homem entre homens”. Apesar disso, não escaparia de seu destino trágico, que não se conta aqui para que o leitor não perca o momento de surpresa, característica definidora do conto bem urdido.

Para Eliezer Moreira, escritor e jornalista, autor do excepcional romance Crônica da Passagem do Inglês (Recife, Companhia Editora de Pernambuco – Cepe, 2024), autor do prefácio, neste livro, “as palavras dizem o que as coisas são e como são, sem qualquer preocupação com a assepsia que o politicamente correto pretende impor à linguagem”. O que significa que aqui os personagens falam como se ouve nas ruas, esbanjando preconceito, grosseria e vulgaridade. 

É o que o leitor irá encontrar no miniconto intitulado “Não perca contato” em que o morador de um prédio faz uma análise despudorada de pessoas que o cercam diariamente: “(...) Não gosto daquela gente. Só converso com o Zenilson. É um pau-de-arara legal, meio boboca. Faz a limpeza do prédio como a cara dele... Agora, comigo é bem legal... Mas tem gente que não gosta de mim. É a cor. Quem nasce preto sabe disso muito cedo. “Ah, que garotinho bonitinho, gracinha... pena que é pretinho”. Já ouvi de muita boca bonita ou desdentada (...)”.


           II

Já no extenso conto “As sentenças”, que encerra o livro, o que o leitor vai acompanhar é a desdita de um coronel médico chamado Amoroso – que não se perca pelo nome... –, que vive numa confortável casa, depois de uma carreira coroada como caçador de esquerdistas à época da ditadura militar (1964 a 1985), “habituado a ver ordens cumpridas e jamais discutidas”, que, hoje sabe-se por relatórios escapados dos arquivos norte-americanos, incluíam o “desaparecimento” sumário de muitos que não concordavam com aquele regime de arbítrio e violência.

Para azar do coronelzão, a filha Lúcia, apesar dos traços físicos da mãe, sairia com o gênio autoritário do pai. Só para contrariá-lo, ela ainda por cima haveria de namorar com toda a libertinagem um esquerdista pobretão. O destino de ambos seria cruel, vítimas de uma tocaia armada por dois marginais da periferia.   

Como se vê, o que o leitor terá pela frente nestes onze contos é uma linguagem crua, sem adornos, como no miniconto “O último brilho da tarde”, que reproduz uma cena que ocorre no barraco de uma favela carioca em que um marginalizado, de nome Tonga, apaga outro, conhecido como Carneirinho, a mando de um comandante do tráfico: “(...) Tonga disparou. Uma vez. O outro retorceu-se, dobrando o corpo sobre a tábua, mão esticada na esperança de alcançar... o quê? Outro disparo. A brancura da face salpicou-se de vermelho enquanto os dedos crispavam-se no objeto procurado. Terceiro disparo. Um livro de encadernação negra voou qual morcego pelo aposento, batendo contra a parede. Carneirinho caiu no chão de terra batida e achatou-se na sopa rubra que lhe escorria do peito (...)”.    

Enfim, como diz Eliezer Moreira, “são histórias de um Rio de hoje, que, no entanto, têm um olhar para o de ontem. E pelo menos no que se refere à violência e ao submundo do sexo e da malandragem, as diferenças entre o que era e o que é a cidade são muito pequenas. É isso que mostra “Na Rua do Pecado”, por exemplo, conto ambientado no velho Mangue”.


                  III



Helio Brasil Corrêa da Silva (1931-2025), formado em 1955 em Arquitetura pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trabalhou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), atual BNDES, de 1955 a 1984, tendo supervisionado o projeto de construção da nova sede da entidade, inaugurada em 1982. Projetou em equipe edifícios residenciais, comerciais e industriais no Rio de Janeiro e em outros Estados. Lecionou durante 20 anos a disciplina Projeto de Arquitetura na Universidade Santa Úrsula e foi professor-visitante na UFRJ e na Universidade Federal Fluminense (UFF). 

Depois que se aposentou, passou a se dedicar totalmente à literatura, tornando-se um dos mais importantes ficcionistas da atualidade, com extensa obra que abarca variados gêneros. Dedica-se à escrita ficcional desde 1958, tendo obtido menções em concursos de contos. 

Fez estreia tardia em livro, aos 64 anos, com O Anjo de Bronze e Outros Contos (Oficina dos Livros, 1995). Depois publicou os romances A Última Adolescência (Bom Texto, 2004) e Ladeira do Tempo-Foi (Synergia Editora, 2017), ambientados no tradicional bairro de São Cristóvão, retornando ao gênero do conto em 2018 com O Perfume que Roubam de Ti... e Outras Histórias (Synergia Editora), título assumidamente inspirado nos versos da famosa canção “As rosas não falam”, do compositor carioca Angenor de Oliveira, o Cartola (1908-1980).

Nas áreas de História e de Arquitetura, como memorialista, publicou ainda o excelente São Cristóvão: Memória e Esperança (Prefeitura do Rio de Janeiro/Relume-Dumará, Coleção Cantos do Rio, 2004), O Solar da Fazenda do Rochedo e Cataguases (2010), em colaboração com José Rezende Reis; e Tesouro: o Palácio da Fazenda, da Era Vargas aos 450 anos do Rio de Janeiro (Editora Pébola, 2015), em parceria com o historiador e arquiteto Nireu Cavalcanti, ex-diretor da Escola de Arquitetura da UFF. 

Como novelista, publicou Pentagrama Acidental (Editora Ponteiro, 2014). Participou também das coletâneas de contos Doze Autores e Suas Histórias (2003); A Marquesa de Santos (2004); Tempos de Nassau (2005); Ásperos e Macios (2010); e O Feitiço do Boêmio (2010), em comemoração aos 100 anos do compositor e sambista Noel Rosa (1910-1937), publicadas pela Editora Bom Texto; e O Rei, o Rio e Suas Histórias (2013), publicada pela Editora 7 Letras. 

Em 2016, publicou Cadernos (Quase) Esquecidos (Sarau do Beco), crônicas autobiográficas em edição artesanal, e, em 2019, Delírios, poesias (edição de autor). Foi ainda artista plástico, sendo o responsável pelo guache que ilustra a capa de Delírios. São também suas as ilustrações que constam do livro Crônicas Históricas do Rio Colonial (Civilização Brasileira, 2004), de Nireu Cavalcanti.

 

                  IV

Ao comunicar a amarga notícia, Nireu Cavalcanti disse que havia perdido seu “irmão mais velho” e fez um retrospecto da amizade que mantiveram. “Foi em 1974 que tive um encontro, na Escola de Arquitetura da Universidade Santa Úrsula, com um “baixinho de terno e gravata” que vinha, pela primeira vez, lecionar no Curso de Arquitetura”, lembrou. 

“Procurei o baixinho para nos conhecermos. Helio disse que era carioca de São Cristóvão, arquiteto modernista e que gostava de cinema, teatro e de artes plásticas. Escrevia contos, poesias, crônicas, romances e produzia artigos sobre a cidade do Rio, sua paixão, publicando-os no jornal do BNDE, onde trabalhava. Era um homem bom e muito culto”, acrescentou, ressaltando que o amigo se “tornou um excelente professor, querido por seus alunos”. 

“Nas férias de 1974, encontramo-nos, por acaso, em Recife: Helio, com sua mulher, Clóris, eu e Regina Prado, minha mulher. Nesse momento, selou-se uma amizade entre os casais que se espalhou entre as duas famílias. Nossos corações se identificaram e nos tornamos amigos profundos. Irmãos adotivos”, recordou. “A nossa amizade cresceu com as realizações conjuntas nas áreas de projetos de arquitetura, de elaboração de textos sobre arquitetura e história urbana, assim como na literatura”, acrescentou.

“O encontro com o Helio me engrandeceu e me ensinou sobre a bondade, a integridade moral, a solidariedade, a criação, a cultura, o trabalho sério e a importância da amizade”, disse Nireu. “Sou muito agradecido ao amigo-irmão por termos nos encontrado e sei que no céu ele ensinará muito aos seus amigos e amigas que serão desenhados magistralmente”, ressaltou. E concluiu: “Que inveja fico desses santos, santas e anjos que lhe cercarão. Acho que Deus estava com inveja dos mortais terrestres que desfrutavam de sua amizade!”.

Casado com Clóris, Helio Brasil deixa três filhos: Gustavo, Glaucia e Livia. E uma vasta obra para ficar na história da Literatura Brasileira. Adelto Gonçalves - Brasil

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Onze Contos Malditos, de Helio Brasil, com prefácio de Eliezer Moreira e texto de apresentação de Gilberto Moog. Rio de Janeiro: Editora Lacre, 106 páginas, R$ 60,00, 2024. Site: www.editoralacre.com.br

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Adelto Gonçalves, jornalista, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP),  é autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003; São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015) e Os Vira-latas da Madrugada (Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1981; Taubaté-SP, LetraSelvagem, 2015), e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br


Estados Unidos da América - O perigo do totalitarismo

Qual o verdadeiro objetivo dos cortes nas pesquisas e instituições científicas dos Estados Unidos, pelo presidente e seu auxiliar direto Elon Musk? O que se pretende com o corte nas ajudas do governo às universidades e com os controles de professores e alunos antes não existentes?

A imprensa europeia ainda parece atônita diante das notícias trazidas por professores desejosos de vir ensinar na Europa, contrários ao governo Trump ou prestes a serem demitidos pelas chamadas medidas econômicas.

Difícil de responder mesmo porque o plano comercial de taxar pesadamente as importações equivale a provocar reações capazes de provocar um aumento da inflação nos EUA. A desativação ou diminuição das atividades de setores de ministérios, de ajudas mesmo se interessadas a países estrangeiros como as da USAID, é feita dentro de um plano bem programado ou com o objetivo de desativar as principais atividades sociais do Estado?

Alguma coisa parecida com aquilo posto em execução na Argentina pelo presidente Milei, elogiado pelos grandes grupos econômicos e bem recebido por economistas e patrões no Fórum Econômico de Davos?

Ou já se trata de se colocar em prática ou estar testando as medidas destinadas a se criar um mundo totalmente diferente controlado com a utilização de plataformas sociais e inteligência artificial? Uma versão atual e mais sofisticada do 1984 de George Orwell, um totalitarismo utilizando as câmeras de vídeo vigilância. O sistema de controle e vigilância de toda população, imaginado pelo escritor, não é mais ficção e já pode ser instalado em todas as residências, ruas e locais coletivos para funcionar o dia inteiro.

Nos nossos dias, existem diversos países com vontade de controlar a formação de pensamento do seu povo. Reeditando um procedimento mais comum na Idade Média, alguns países utilizam a censura felizmente sem fogueiras. E, embora possa parecer surpreendente, os Estados Unidos, um dos países nos quais mais se fala atualmente em exercício da liberdade de expressão, é um dos maiores utilizadores da censura.

O jornal suíço Le Temps dedicou duas páginas da sua edição de fim-de-semana para destacar a existência de mais de 4 mil livros censurados nas bibliotecas e escolas estadunidenses e pergunta: "qual será a sequência dessa vaga liberticida?"

Entre os livros censurados estão O diário de Anne Frank, 1984, de George Orwell, e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury.

Essa realidade foi mostrada no documentário Os Bibliotecários, de Kim A. Snyder, exibido no Festival do cinema independente de Sundance, em janeiro. "Isso nunca se viu, nem na época do macartismo ", se diz no documentário, mesmo se a Constituição norte-americana garante a liberdade de expressão e a liberdade acadêmica.

Mas não é tudo e não vem só de Trump mas dos fundamentalistas que o apoiam desde o primeiro mandato. Nos dois últimos anos, houve mais 10 mil pedidos processuais de censura de livros, além de álbuns e manuais escolares tratando do período da escravidão e da luta pela liberdade e direitos cívicos dos afroamericanos. Basta uma frase ou uma imagem para o livro ser catalogado como obsceno ou pornográfico pelas associações e grupos de pressão de fundo religioso nacionalista cristão.

O jornalista Jean-Jacques Roth afirma não serem só livros mas haver palavras e expressões proibidas pelo mundo trumpista numa ofensiva lançada contra a cultura, contra a ciência e contra a espinha dorsal do racionalismo moderno. Desde o primeiro mandato de Trump eram proscritos nos Centers for Disease Control os termos "feto", "diversidade", "transgênero", "baseados na ciência" e "apoiados por provas". 

Desde o retorno de Trump existe uma série de palavras ou expressões proibidas como "designado homem ao nascer", "identidade de gênero", "LGBT", "pessoas grávida". Existe também uma relação de palavras ou expressões a evitar como "diversidade", "justiça social", "raça e etnia", "discriminação", "racismo". Trata-se de uma guerra de purificação léxica destinada a desqualificar tudo quanto se relacione com a ideologia progressista e com os conceitos das ciências políticas e sociais. De acordo com Jean-Jacques Roth o objetivo é o de se criar um mundo onde o real não se relacione com a razão, mas à vontade do poder dominante, "um mundo no qual não se procura a verdade, mas no qual se decreta o que deve ser verdade. Isso tem um nome totalitarismo". Rui Martins – Suíça

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.


quarta-feira, 19 de março de 2025

São Tomé e Príncipe - Denuncia negócio de envio de estudantes para formação em Portugal

A ministra da Educação são-tomense denunciou um alegado negócio de envio de estudantes para formação profissional em escolas de Portugal que “não têm condições mínimas” e prometeu medidas para “pôr cobro a essa situação”.

“Nesses últimos anos, a imagem de São Tomé e Príncipe tem-se degradado de uma forma que nós temos que pôr cobro a essa situação e responsabilizar as pessoas que enviam os estudantes, principalmente para Portugal […]. Alguns até, eu não tenho problemas em dizer, que fazem negócio com essa inscrição dos estudantes em formações profissionais. As escolas não têm condições mínimas nem de alojamento, nem dos materiais”, apontou Isabel Abreu.

A ministra de São Tomé e Príncipe falava no final de um encontro com representantes de associações, fundações e outras instituições e pessoas que têm promovido o envio de estudantes são-tomenses para Portugal.

A ministra da Educação admitiu que “tem havido muitos problemas com jovens estudantes no exterior do país, principalmente aqueles que vão fazer formação técnica profissional” em Portugal.

A preocupação foi analisada no Conselho de Ministros da semana passada, que orientou a ministra da Educação a adotar medidas para o melhor seguimento destes processos.

“Os estudantes que vão não são preparados, não há nenhum encontro. Eles fazem inscrição e os pais também sacrificam, vendem tudo. Pouco que têm, eles compram termos de responsabilidade, compram bilhetes de passagem e os meninos vão”, apontou a ministra.

Isabel Abreu sublinhou que “nem todos concluem a formação para o regresso, nem tão pouco para o seu futuro”.

“Queremos estabelecer critérios para a saída doravante dos estudantes […]. Já criámos um gabinete do Ministério da Educação [em] que todos os processos passarão por cá”, adiantou Isabel Abreu. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”


Camboja - Reabre em Abril a Base naval de Ream cuja expansão foi financiada pela China

O porto naval no Camboja cuja expansão foi financiada pela China e que suscitou preocupações sobre o crescente alcance militar de Pequim na região vai retomar operações no próximo mês, anunciaram ontem as autoridades cambojanas



O porto vai receber um navio japonês como a primeira embarcação estrangeira a fazer uma visita ao local, segundo o major-general Thong Solimo, porta-voz das Forças Armadas do Camboja.

A Base Naval de Ream, situada na província de Sihanoukville, no sudoeste do Camboja — com um novo cais para acomodar navios muito maiores, uma doca seca para reparações e outras infraestruturas — será inaugurada a 2 de abril pelo primeiro-ministro Hun Manet, segundo Thong Solimo. “Dar prioridade aos navios de guerra japoneses é uma homenagem ao elevado nível de abertura na cooperação, relações e confiança mútua”, afirmou.

China e Camboja deram início ao projecto do porto em 2022, o que levou os Estados Unidos a expressarem preocupações de que este pudesse tornar-se num posto estratégico para a marinha chinesa no Golfo da Tailândia.

O golfo é adjacente ao Mar do Sul da China, uma via navegável essencial que a China reclama quase na sua totalidade. Os Estados Unidos recusam-se a reconhecer a ampla reivindicação da China e realizam manobras militares regularmente para reforçar o estatuto do mar como águas internacionais.

As preocupações iniciais aumentaram no ano passado, depois de navios de guerra chineses terem atracado no cais recém-construído durante meses, e de dois contratorpedeiros japoneses, que fizeram uma visita ao Camboja, terem sido desviados para uma instalação diferente nas proximidades.

Com o anúncio da visita planeada do Japão, o Camboja provavelmente está a tentar projetar a ideia de que está aberto a países além da China, disse Euan Graham, analista de Defesa do Australian Strategic Policy Institute. “Parece ser uma demonstração consciente do Camboja de que Ream não é exclusivamente para a China”, afirmou, citado pela Associated Press.

A Força de Autodefesa Marítima do Japão confirmou o convite do Camboja para navios japoneses, mas recusou-se a dar pormenores, citando regulamentos de segurança operacional.

A China é o maior investidor do Camboja e o seu parceiro político mais próximo. Nos últimos anos, expandiu rapidamente a sua marinha e tornou-se cada vez mais assertiva na defesa das suas vastas reivindicações marítimas.

As preocupações sobre a atividade da China na base de Ream surgiram em 2019, quando o Wall Street Journal relatou que um rascunho preliminar de um acordo, visto por responsáveis norte-americanos, permitiria à China usar a base por 30 anos, onde poderia colocar pessoal militar, armazenar armas e atracar navios de guerra.

O Governo do Camboja negou tal acordo ou qualquer intenção de conceder à China privilégios especiais na base, embora Pequim tenha financiado a sua expansão e atracado os seus navios de guerra lá durante meses consecutivos.

Em setembro, o Ministério da Defesa do Camboja afirmou que a China daria à marinha cambojana dois navios de guerra do tipo que estavam atracados na base enquanto o projeto de expansão ainda estava em andamento.

O porta-voz do Ministério da Defesa, general Chhum Socheat, disse ontem que o Camboja pretende que a instalação esteja aberta aos EUA e outros países. “Todos os navios de guerra de países amigos podem atracar no novo cais, mas devem primeiro cumprir as nossas condições”, disse, sem especificar quais seriam essas condições. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”


China - Mentor do teatro em patuá nomeado “herdeiro” do património nacional

Numa altura em que os Dóci Papiaçám di Macau preparam mais um espectáculo de teatro em patuá, incluído na edição deste ano do Festival de Artes, o grande mentor do grupo, Miguel de Senna Fernandes, foi seleccionado como “herdeiro representante do património intangível a nível nacional”. O Ministério da Cultura e do Turismo da China nomeou ainda John Lo como embaixador da crença e costumes de Tou Tei. Miguel de Senna Fernandes disse ao Jornal Tribuna de Macau que esta distinção é um “reconhecimento do trabalho” desenvolvido pelos Dóci Papiáçam. O título atribuído à pessoa responsável pelo item listado em 2021 como Património Cultural Intangível da China, dá também “maior relevância à cultura e comunidade macaenses”, sublinha. Face à crescente projecção dos espectáculos em patuá, o responsável pretende levar o grupo a Portugal em 2026 e realizar sessões na diáspora



O teatro em patuá acaba de receber mais uma honrosa distinção das entidades culturais da República Popular da China, desta feita na pessoa do seu grande mentor. Miguel de Senna Fernandes foi designado “herdeiro representante do Património Intangível a nível nacional”, numa nomeação divulgada pelo Ministério da Cultura e Turismo da China, que indicou igualmente John Lo como embaixador para a crença e os costumes de Tou Tei. A sexta lista de representantes do património nacional, que integra 942 pessoas, elevou para nove o total de embaixadores da RAEM.

No caso do teatro em patuá, cujos membros já estão em grande azáfama nos preparativos para apresentar mais um espectáculo no Festival de Artes de Macau, Miguel de Senna Fernandes considera que o título é “o reconhecimento do trabalho que tem sido feito”. Surge também na sequência da integração do teatro em patuá na lista do Património Cultural Intangível da china, em Junho de 2021.

“Esta distinção muito nos honra”, salienta o responsável do grupo Dóci Papiaçám di Macau, notando que a nomeação tem a ver com a confirmação da pessoa que está por detrás dos itens nomeados pela China para património intangível. “Neste caso, sou eu o elemento humano que representa o teatro em patuá”, afirma Miguel de Senna Fernandes.

Sobre o que daqui poderá resultar, o macaense diz que, pelo menos, fica consolidada a garantia de que haverá sempre teatro em patuá. “As entidades chinesas dão muita importância a este tipo de distinções, o que pode também ser interpretado como um polo importante, numa altura em que se fala tanto no intercâmbio entre o Ocidente e o Oriente e agora mais concretamente entre a China e, por exemplo, os países de língua portuguesa”.

Para Miguel de Senna Fernandes, o reconhecimento agora vincado pelo Ministério da Cultura e Turismo da China, “deve ser entendido nessa vertente e dá relevância à comunidade e cultura macaenses”.

Reconhecendo que a comunidade macaense é pequena, em comparação com a população em geral, entende que “continua a ser relevante no diálogo entre a China e outros países de língua portuguesa”, algo que “também é bom para a própria comunidade portuguesa”.

Certamente motivado por mais uma referência ao teatro em patuá, Miguel de Senna Fernandes fala na “necessidade de o grupo ter mais mobilidade” e, por isso, quer ver concretizada já para 2026 a terceira deslocação a Portugal.

“Vamos apostar nesta presença em Lisboa no próximo ano, depois de ali termos actuado em 1996 e 1999 e de no ano passado termos feito deslocar o nosso coro”, frisa o responsável.

Apresentar o teatro na diáspora

Para além de Portugal, a ideia é que o teatro se exiba noutras paragens. “Na diáspora, por exemplo, o que também é importante, na sequência dos vários pedidos feitos por membros das Casas de Macau espalhadas pelo mundo”, frisa.

O Continente chinês poderá também ser contemplado. “Aí a estratégia seria outra, uma vez que o espectáculo terá de divergir daquilo que costumamos fazer, pois temos de ter cuidado com a língua veicular e outros aspectos”, assume Miguel de Senna Fernandes.

Recorde-se que a exibição dos Dóci Papiaçám di Macau esteve perto de acontecer na Expo Xangai, em 2008.

O teatro em patuá foi, como referimos, acompanhado pela crença e costumes de Tou Tei na nova listagem de herdeiros dos representantes dos itens pertencentes ao Património Cultural Intangível da China, com John Lo Chung Seng a receber o título. Tou Tei é um deus chinês responsável pelos assuntos terrenos.

Ao jornal “Ou Mun”, o dirigente da Associação Cheok Chai Un Fok Tak Chi Tou Tei Mio Chek Lei Wui de Macau, declarou ter sido muito difícil conseguir incluir a crença e costumes de Tou Tei, na lista do património imaterial nacional e agora, como herdeiro deste projecto, sente que há uma missão importante pela frente. “Como herdeiro, irei reforçar a cooperação com os outros templos de Tou Tei em Macau, com o objectivo de fazer plena campanha desta boa crença e levar mais jovens a prestarem atenção à Festa de Tou Tei”, disse John Lo.

O embaixador da crença e costumes de Tou Tei espera continuar a contar com o apoio do Governo e de diferentes sectores, para poder integrar os elementos da festa de Tou Tei no turismo comunitário.

John Lo pretende também combinar mais culturas sobre os templos de Macau, com produtos culturais e artísticos, no sentido de ser divulgada a história do evento festivo. “Queremos que este património ganhe uma maior vitalidade na nova era”, adiantou.

O dirigente associativo afirma que, para este reconhecimento nacional, foi indispensável o apoio do respectivo ministério chinês e da tutela dos Assuntos Sociais e Cultura de Macau, incluindo do Instituto Cultural. Vítor Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


Macau - Poemas partilhados para preservar “diversidade linguística e cultural”

Uma sessão de poemas partilhados, em português ou chinês: é esta a sugestão da Fundação Rui Cunha para um serão no Dia Mundial da Poesia, que se comemora na sexta-feira. A ideia é “enriquecer a experiência comum” através da leitura de poemas especiais para os participantes



Para comemorar o Dia Mundial da Poesia, a Fundação Rui Cunha apresenta esta sexta-feira uma sessão especial intitulada “Dê Vida a um Poema”. Sob a forma de tertúlia, o público é convidado a passar pela Galeria da FRC e trazer um poema da sua preferência, em português ou chinês, para partilhar com os outros participantes, “num serão com o propósito de enriquecer a experiência comum”.

Co-organizado pela Associação dos Amigos do Livro em Macau e pela Associação de Poesia dos Amigos do Jardim da Flora, o encontro é visto como “uma oportunidade para incentivar a leitura, apoiar os poetas e preservar a diversidade linguística e cultural, através da palavra escrita e falada”. A sessão começa às 18h30.

O Dia Mundial da Poesia foi instituído pela UNESCO na 30ª Conferência Geral em Paris, em 1999, para homenagear a expressão poética e a sua importância cultural nas sociedades em todo o mundo. “A poesia, com a sua capacidade de emocionar, provocar reflexões e transmitir sentimentos, atravessa séculos e civilizações, sendo um dos pilares da arte literária”, refere a organização.

Mais do que um simples conjunto de versos, a poesia é uma manifestação da alma humana, que pode ser lírica, épica, social, filosófica ou experimental, adaptando-se às diferentes épocas e estilos, acrescenta. “Desde os sonetos de Camões e os poemas clássicos de Liu Yong, até aos versos livres da poesia contemporânea, este género literário tem sido um meio poderoso de comunicação e resistência”, pode ler-se.

Esta sessão de poemas partilhados será conduzida pelo médico e escritor Shee Vá, em representação da Associação dos Amigos do Livro, que convidará os participantes a revelar poemas com significado especial nas suas vidas. A conversa será realizada em português e chinês, conforme as leituras sugeridas. A entrada é livre. In “Jornal Tribuna de Macau” - Macau