O mais recente relatório da Agência Europeia do Ambiente
lança um alerta de urgência e assinala mais de 400 mil mortes prematuras por
ano, só na Europa, devido à poluição
As
doenças e mortes causadas pela poluição ambiental têm um impacto mundial
"três vezes superior que a SIDA, a tuberculose e malária combinadas",
sustenta o mais recente relatório da Agência Europeia do Ambiente – "O ambiente na Europa: estado e perspetivas 2020
(SOER 2020)" -, publicado esta quarta-feira, 4 de
dezembro.
"O
peso global das doenças e mortes prematuras relacionadas com a poluição
ambiental é três vezes superior ao da SIDA, tuberculose e malária
combinadas", começa por dizer o documento, que traça um cenário
preocupante no que se refere ao impacto destes fatores na saúde e bem-estar
humanos.
O
relatório lança um alerta de urgência para a Europa e para a forma como os
europeus vivem, e respetivos efeitos na poluição e ffnas alterações climáticas,
detalhando que a saúde dos europeus é afetada pela "exposição ao ar
poluído, barulho, químicos perigosos e riscos crescentes das alterações
climáticas". Contudo, as diferenças geográficas e económicas fazem com que
esse impacto não seja igual em todo o continente.
"Os
riscos ambientais na saúde não afetam toda a gente da mesma maneira e há
diferenças locais e regionais pronunciadas na Europa, em termos de
vulnerabilidade social e exposição a riscos ambientais para a saúde",
refere o documento, que destaca os "grupos socio-económicos dos estratos
mais baixos" como os mais "negativamente afetados". A isso
acresce o facto de as projeções de redução dos problemas ambientais com impacto
na saúde e bem-estar, até 2030, serem incertas e, em muitos casos,
insuficientes, dada a multiplicidade de factores em jogo.
"A
persistência de problemas ambientais, como a perda de biodiversidade,
degradação dos ecossistemas e alterações climáticas, entre-cruzadas com as
atividades económicas e o atual nível de progresso, tornam [as medidas]
insuficientes para cumprir as metas climáticas e energéticas em 2030 e em
2050". Tudo isso, sustenta o documento, traz, direta e indiretamente,
danos à saúde humana.
Mais de 400 mil mortes só na Europa
O
relatório salienta que "a exposição a partículas finas é responsável por
cerca de 400 000 mortes prematuras na Europa". Mais uma vez, o documento
mostra que o impato é diferenciado nas diferentes regiões do continente,
"afetando desproporcionalmente os países da Europa Central e
Oriental".
De
acordo com o relatório existem ainda "problemas persistentes em algumas
áreas e as perspetivas são preocupantes", uma vez que "quase 20% da
população urbana da União Europeia vive [ainda] em zonas com concentrações de
poluentes atmosféricos superiores a pelo menos um dos padrões de qualidade do
ar".
A
Europa do Sul, onde se inclui Portugal, particularmente vulnerável às
alterações climáticas, com ondas de calor, secas prolongadas e incêndios
florestais, enfrenta o risco de poder vir a ser uma das regiões onde a
mortalidade mais pode aumentar.
Há
também uma "preocupação crescente", no documento, com os produtos
químicos perigosos e aos riscos que estes representam.
No
futuro, as perspetivas de redução dos riscos ambientais para a saúde seriam
melhoradas com uma melhor integração das políticas de ambiente e saúde.
Como
o Contacto noticiou
em janeiro deste ano, o ar que se respira no Luxemburgo contém partículas finas
libertadas por centrais termoelétricas de países vizinhos, que podem ser
nocivas à saúde da população.
Na
altura, o Ministério da Saúde explicou que os riscos para a população,
associados à libertação das partículas finas, "são principalmente
respiratórios e cardiovasculares", remetendo para "estudos
científicos que relacionam a poluição do ar com perturbações nas funções
cognitivas, nas funções endócrinas (diabetes) e na evolução da gravidez (baixo
peso no nascimento)" e com o "desenvolvimento de infeções agudas das
vias respiratórias inferiores", sobretudo nas crianças.
Ambiente na Europa está em "ponto de viragem"
O
mais recente relatório da Agência Europeia do Ambiente apresenta-se como a
"avaliação ambiental mais exaustiva alguma vez realizada na Europa".
Não só por dar uma imagem rigorosa da situação da Europa no que diz respeito ao
cumprimento dos objetivos de política para 2020 e 2030, como também por mostrar
os objetivos e ambições a longo prazo para 2050 de uma transição para um futuro
sustentável, de baixo carbono.
No
que respeita a aspetos positivos, o documento assinala que a Europa realizou
"progressos significativos nas últimas duas décadas em termos de mitigação
das alterações climáticas", reduzindo as emissões de gases com efeito de
estufa, e em termos de combate à poluição do ar e da água. A par disso, começou
a introduzir novas políticas para reduzir os resíduos de plástico e reforçar a
adaptação às alterações climáticas, à economia circular e à bioeconomia.
Para
a Agência Europeia do Ambiente, "a iniciativa da UE no domínio do
financiamento sustentável é a primeira do género sobre o papel do setor financeiro
na transição necessária para um futuro sustentável".
Apesar
desses resultados, o relatório alerta que "a Europa não alcançará a sua
visão de sustentabilidade de 'viver bem dentro dos limites do planeta' se
continuar a promover o crescimento económico e a procurar gerir os impactes
ambientais e sociais".
O
documento insta, por isso, os países, os dirigentes e os decisores políticos
europeus "a utilizar a próxima década para ampliar e acelerar radicalmente
as ações destinadas a colocar novamente a Europa no caminho certo para cumprir
os seus objetivos e metas de política ambiental a médio e longo prazo, a fim de
evitar alterações e danos irreversíveis".
"O
ambiente da Europa está num ponto de viragem. Nos próximos dez anos, temos uma
estreita janela de oportunidade para ampliar as medidas destinadas a proteger a
natureza, reduzir os impactos das alterações climáticas e reduzir radicalmente
o consumo de recursos naturais", conclui Hans Bruyninckx, diretor
executivo da AEA. Ana Tomás – Luxemburgo in “Contacto”
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