Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Portugal - Universidade de Coimbra tem microrrede elétrica que pode garantir fornecimento de energia em situações extremas

O Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) tem uma microrrede elétrica resiliente, para grandes edifícios ou comunidades de energia, que pode garantir o fornecimento elétrico a cargas críticas durante situações extremas ou catastróficas, em que ocorra falha da rede elétrica pública.


 

No passado dia 28 de abril, aquando do maior apagão que afetou toda a Península Ibérica e parte da Europa, esta tecnologia, desenvolvida no Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (DEEC) da FCTUC, teve a sua prova de fogo com condições reais, conseguindo, com sucesso, fornecer eletricidade às cargas críticas do edifício e funcionar de forma autónoma da rede publica. 

«As microrredes são uma tecnologia que permite ter um sistema elétrico independente da rede elétrica inserido numa área geográfica específica e definida, como, por exemplo, um edifício, bairro ou localidade pequena. São usadas para fornecer eletricidade em zonas remotas onde a infraestrutura é fraca ou inexistente, para otimizar eficiência energética, custos e integração de energia renovável e, em casos extremos, garantir o fornecimento de energia elétrica aos clientes por si abrangidos quando tudo o resto falha», revela Alexandre Matias Correia, estudante do mestrado em Engenharia Eletrotécnica ISR/FCTUC. 

Esta microrrede tem como foco a resiliência e está concebida precisamente para fornecer eletricidade a cargas críticas (substituindo os geradores de emergência diesel) durante períodos prolongados de tempo (até 72h). Para tal, tem instalado um sistema fotovoltaico dedicado, dois sistemas de baterias, equipamento de potência especializado para gestão e sincronização de rede e carregamento bidirecional para veículos elétricos.


 

De acordo com o estudante da FCTUC, «este último sistema permite alimentar a rede elétrica local através da energia armazenada em veículos elétricos o que possibilita aumentar ainda mais a duração do fornecimento de energia elétrica, assim como disponibilizar potência em locais onde a infraestrutura é inexistente ou foi danificada». Para além disso, conclui Alexandre Matias, «a microrrede possui também uma capacidade regenerativa, usando os painéis fotovoltaicos e um sistema de gestão de cargas para recarregar baterias durante o dia, prolongando ainda mais o fornecimento às cargas críticas».

A microrrede resiliente é um projeto desenvolvido no âmbito da tese de Doutoramento de Alexandre Matias Correia, intitulada "Optimization and management of microgrids to deliver high power quality in critical and disaster situations", tendo sido já utilizada como protótipo piloto para outros trabalhos de investigação e ensino de Engenharia Eletrotécnica. Universidade de Coimbra - Portugal


Timor-Leste - Comissão Anticorrupção pede aplicação da lei de protecção de testemunhas

A Comissão Anticorrupção (CAC) de Timor-Leste recomendou a aplicação da lei de proteção de testemunhas em processos penais para diminuir as dificuldades do trabalho de investigação criminal



“Relativamente à lei de proteção de testemunhas, esta ainda não é efetiva. Ao longo dos últimos tempos, a CAC já apresentou recomendações às autoridades competentes para que implementem esta lei. A atividade de investigação criminal tem enfrentado grandes desafios”, afirmou o comissário da CAC, Rui dos Santos.

Segundo o comissário, há sempre preocupação com a proteção das testemunhas, especialmente em casos de corrupção, em que as pessoas ficam com medo e sem coragem para colaborar.

O responsável falava no parlamento durante a apresentação do relatório de 2024 da instituição, criada em 2009 pelo parlamento timorense para combater e prevenir a corrupção.

Outra dificuldade para os investigadores, apontada pelo comissário da CAC, é a falta de arquivos nas instituições do Estado. “Uma das grandes dificuldades que enfrentamos, sobretudo na investigação criminal, é a recolha de documentos nas instituições estatais. Reconhecemos que a gestão de arquivos ainda não é adequada. As mudanças de governação muitas vezes resultam na eliminação dos arquivos em formato digital, com muitos ficheiros a serem apagados dos computadores. Esta é uma preocupação da CAC”, sublinhou.

Rui dos Santos afirmou que quando se investiga casos que envolvem figuras políticas a CAC tem maior dificuldade em encontrar documentos. “Alguns documentos são até destruídos. Isto torna extremamente difícil para nós, como instituição, conseguir apresentar provas documentais e testemunhais necessárias para sustentar as acusações”, disse.

O comissário da CAC lamentou também a falta de recursos financeiros que comprometem o cumprimento da missão daquela instituição na prevenção e combate à corrupção e que seja estabelecido um regime de recuperação de ativos para serem detetados bens depositados ou transferidos para o estrangeiro. “Solicitamos ao Parlamento Nacional que aprove um orçamento razoável para a CAC, de modo a reforçar os esforços e ações de prevenção da corrupção de forma mais adequada e eficaz”, sugeriu Rui dos Santos.

O responsável precisou que em 2024, a CAC realizou 28 casos de investigação com base em denúncias públicas ou iniciadas diretamente pela instituição. Daqueles casos, oito foram enviados para o Ministério Público.

O Ministério Público, por outro lado, enviou para a CAC 17 casos, dos quais seis já foram concluídos, e 11 continuam a ser investigados.

Em relação, à declaração de património de dirigentes do Estado, o relatório refere que foram aplicadas multas a 439 infratores. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”


Macau – Cônsul português “muito irritado” por única ligação aérea entre a Região e a Europa não ser para Portugal

Alexandre Leitão, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, mostrou-se frustrado devido ao facto de a única ligação aérea directa de carga entre Macau e a Europa não ir para Portugal e sim para Madrid. O responsável indicou, na Feira Internacional de Turismo de Macau, que tem vindo a insistir com as autoridades portuguesas para que essa ligação fosse feita para Lisboa ou para o Porto

O cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong lamentou que a única ligação aérea directa de carga entre Macau e a Europa seja feita para Madrid e não para Lisboa ou para o Porto. Esta ligação, a cargo da Ethiopian Airlines, foi inaugurada há duas semanas e faz parte de uma rota triangular com Adis Abeba, capital daquele país africano.

Numa apresentação no pavilhão do Turismo de Portugal na Feira Internacional de Turismo de Macau, Alexandre Leitão afirmou: “Há dias escrevi [uma carta] para Lisboa, muito irritado, quando a Ethiopian Airlines inaugurou o seu voo de carga triangular Adis Abeba-Madrid-Macau e com isso criou a primeira ligação directa de Macau para a Europa”.

Citado pelo Diário de Notícias, Alexandre Leitão afirmou na ocasião que tem vindo a insistir junto das autoridades portuguesas, ao longo dos últimos dois anos, para que essa ligação fosse feita por uma companhia portuguesa, com um aeroporto nacional como plataforma europeia. O cônsul-geral justificou a posição dizendo que em Macau existem 153 mil portugueses, inseridos numa região que num raio de 200 quilómetros tem dois polos urbanos como Shenzhen, Cantão e Hong Kong.

“Aqui existem mais de uma centena de restaurantes que se reclamam portugueses; há concessionárias, há comércio e este ano vão abrir mais dois restaurantes portugueses”, afirmou, acrescentando: “Repito, não me convencem de que não é viável um voo que faça uma dupla função de transporte de pessoas e transporte de mercadorias”.

“Expliquem-me lá porque é que Lisboa não é placa atlântica e também europeia, além de ser lusófona para mercados como o Brasil, que são servidos como nenhum outro? Ou o Porto? E porque é que as capitais africanas, lusófonas, não são também instrumentos, plataformas de distribuição das mercadorias e serviços para outros países em África que querem vir para cá?”, criticou, citado pelo diário português.

Ressalvando não ser especialista nos assuntos de aviação, Alexandre Leitão pediu explicações ao Governo português e à TAP. “Até que me expliquem por A mais B que não faz sentido nenhum, eu continuarei a insistir nisso”, referiu, concluindo: “Todas as pessoas interessadas em Portugal, [olhem para] este potencial antes que a Etiópia ou outra companhia qualquer decida mesmo fazer o voo de passageiros directo para Madrid ou para Paris, onde quer que seja. Assim, a tarefa torna-se mais difícil. E é este o apelo que eu vos faço”. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”


Nações Unidas - Alerta para violações de direitos humanos na Guiné-Bissau

Organizações de mulheres e defensores do meio ambiente estão a ser alvo de intimidações e detenções arbitrárias. Apelo é para que as autoridades aproveitem a oportunidade da Revisão Periódica Universal para envolverem-se de forma mais construtiva com a sociedade civil



O Escritório de Direitos Humanos da ONU está preocupado com as inúmeras alegações de intimidação, assédio e, em alguns casos, prisões e detenções arbitrárias de defensores dos direitos humanos e do meio ambiente, jornalistas e sindicalistas na Guiné-Bissau.

Numa nota publicada nesta terça-feira, a porta-voz do Escritório de Direitos Humanos, Liz Throssell, relata que organizações de mulheres e defensores do meio ambiente parecem ter sido alvos específicos.

Liberdade de expressão

O Escritório afirma que é crucial que vozes independentes sejam protegidas. A nota adiciona que todos os defensores dos direitos humanos e do meio ambiente e representantes da sociedade civil, incluindo aqueles que criticam as autoridades, devem poder expressar as suas opiniões e realizar as suas atividades legítimas sem medo de retaliação ou represálias.

Segundo a porta-voz, aqueles detidos arbitrariamente por exercerem os seus direitos ou liberdades devem ser libertados, enquanto outros que enfrentam acusações devem ter os seus direitos a um processo e julgamento justos respeitados.

O apelo é para que as autoridades aproveitem a oportunidade da Revisão Periódica Universal, RPU, para se envolverem de forma mais construtiva com a sociedade civil, tomarem medidas para proteger os defensores dos direitos humanos e do meio ambiente, jornalistas e sindicalistas.

Além de se comprometerem a implementar integralmente as recomendações feitas à Guiné-Bissau por meio do processo de revisão.

Avaliações e recomendações

A situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau vai ser avaliada pela quarta vez pelo Grupo de Trabalho da RPU, no dia 2 de maio, em Genebra. A adoção das recomendações será feita no dia 7 de maio.

O país em análise pode pedir para expressar a sua posição sobre as recomendações que lhe são apresentadas durante a avaliação. A primeira, segunda e terceira avaliações ocorreram em maio de 2010, janeiro de 2015 e janeiro de 2020.

O Grupo de Trabalho da RPU é composto pelos 47 Estados-membros do Conselho dos Direitos Humanos. No entanto, todos os 193 Estados-membros da ONU podem participar na avaliação de um país. ONU News – Nações Unidas


terça-feira, 29 de abril de 2025

Angola - Movimento Lev’Art defende hábito de leitura nas crianças

A massificação das artes para o fortalecimento da intelectualidade e o hábito de leitura nas crianças, são mecanismos que promovem a criatividade no seio da juventude na região, defendeu, sexta-feira, em Caxito, o director do Movimento Lev’Art na província do Bengo



David Samba, que falava durante a quarta edição da Feira de Arte e Cultura Angolana (FACA), em alusão ao 45º aniversário da província do Bengo, comemorados, sob o lema “Lev’Art interagir para humanizar”, destacou a necessidade de se apostar cada vez mais nas artes em Angola.

“As artes têm uma grande importância na vida das pessoas, nas suas mais diversas manifestações, contribuindo para o desenvolvimento de uma personalidade integrada e harmoniosa na sociedade. A nível da província do Bengo, o Movimento Lev’Art realiza actividades que impactam no seio da juventude, sobretudo o hábito de leitura na infância”, salientou ao Jornal de Angola.

Na ocasião, o director do Gabinete Provincial da Educação do Bengo, Manuel Fernando Kurizemba, afirmou que a Feira de Arte e Cultura Angolana, não é apenas um espaço de exibição, mas sim um agente transformador da arte. Edvaldo Lemos – Angola in “Jornal de Angola”


Bolloré, o magnata da imprensa francesa

O Brasil já teve seus empresários donos da imprensa fixando a linha política do país. Basta lembrar dos nomes de Adolph Bloch com Manchete e de Victor Civita com a editora Abril. O panorama mediático da França mostra uma situação semelhante com o surgimento recente de um magnata da imprensa, cujas compras e controle de jornais, revistas e canais de televisão têm o objetivo de influenciar na formação da opinião do eleitorado francês.

Trata-se de um industrial e homem de negócios bretão. Vincent Bolloré, com um objetivo democrata-cristão, mas cujas diretrizes aplicadas nos seus grupos de imprensa e edição vão na direção da extrema-direita de Marine Le Pen e seu escolhido Jordan Bardella.

Suas primeiras medidas ao adquirir ou se tornar majoritário num órgão de imprensa são sempre de demitir os redatores considerados com tendência de esquerda e de acabar com os programas humorísticos ou sérios de análise e crítica política existentes.

Uma de suas iniciativas é bem atual: seu canal de televisão CNews vem promovendo o cardeal guineense Robert Sarah, considerado ultra conservador e reacionário, como o melhor nome para suceder ao Papa Francisco no Conclave, com início no próximo dia 7.

Essa campanha não tem possibilidade de sucesso. Entretanto, Bolloré está jogando pesado numa vitória do Rassemblement National, (partido de extrema-direita) nas eleições presidenciais de 2027, na sucessão de Emmanuel Macron. Se apesar do recurso apresentado à Justiça, Marine Le Pen continuar inelegível, Vincent Bolloré utilizará seu enorme aparelho mediático em favor de Jordan Bardella.

Como se bastasse sua coleção de jornais, revistas, canais de tv e editoras, Vincent Bolloré liderou um grupo de investidores na compra da Escola Superior de Jornalismo de Paris, provocando um manifesto assinado por 650 estudantes de jornalismo, no qual denunciam "uma nova expressão da subordinação da independência jornalística a interesses econômicos, políticos e ideológicos".

O grupo de investidores inclui os proprietários dos principais jornais franceses: Vincent Bolloré (Canal+, Europe 1, CNews, Le Journal du Dimanche, etc.), Bernard Arnaud (Parisien, Echos, Paris Match), Rodolphe Saadé (BFMTV, La Provence), a família Habert-Dassault (Le Figaro).

Os autores do manifesto acentuam que "esse ataque à mais velha escola de jornalismo do mundo é um ataque contra a profissão e isso desde sua formação." Haverá agora o respeito à deontologia jornalística, ao aprendizado da profissão e ao seu exercício? perguntam os estudantes.

E acrescentam: essa intrusão visa utilizar a mídia para assegurar um projeto político conservador e reacionário. De acordo com o jornal Libération, oito bilionários e dois milionários controlam 81% da difusão dos jornais diários nacionais. Cinco bilionários possuem 57% das audiências dos canais de televisão e 47% das rádios nacionais. "Como garantir uma formação de qualidade, completa, livre, independente e pluralista? perguntam os estudantes. Rui Martins – Suíça

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.


Angola - Início da ligação ferroviária à Zâmbia arranca em 2026

Confirmação dada por Ricardo Viegas d"Abreu no seguimento da reunião com o "Council Africa", que junta os principais investidores americanos em África



O "Council Africa" é uma concentração de entidades sediadas nos Estados Unidos, interessadas no financiamento ao desenvolvimento de África. Integram estas estruturas iniciativas como a Corporação Financeira Internacional do Banco Mundial (IFC), responsável pela mobilização de financiamento para empresas do sector privado, e a Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos da América (DFC), cuja principal missão é garantir que os financiamentos mobilizados tenham o menor custo (taxa de juros) para o país beneficiado.

Na reunião da passada segunda-feira em Washington estiveram também presentes os ministros angolanos das Finanças, Vera Daves de Sousa, e dos Transportes, Ricardo Viegas d´Abreu, que receberam a confirmação da disponibilidade destas entidades em continuar com os financiamentos ao sector privado nas operações do Corredor do Lobito. De acordo com Samaila Zubairu, a IFC vai desembolsar 400 milhões de dólares como parte de um financiamento (que segundo o Governo ascende aos 4 mil milhões de dólares). O foco está centrado na criação de infra-estruturas e melhoria da mobilidade para ligar Angola até à Zâmbia e deste ponto interligarem-se a outras rotas.

O ministro Ricardo Viegas d"Abreu explicou que a prioridade é que as obras para a construção dos 800 quilómetros de corredor ferroviário para ligar Angola à Zâmbia possam ter início já em 2026. Neste momento, afirmou, está-se a trabalhar na mobilização dos recursos por parte do IFC, para garantir até ao final deste ano a implementação deste projecto.

O ministro disse ainda que o Governo pretende garantir que o Corredor do Lobito passe dos actuais um para seis comboios diários de carga transportada. Segundo o governante, este objectivo passa por diversas fases, e está-se a trabalhar com os parceiros/investidores para garantir que a carga transportada no corredor chegue às 400 mil toneladas de carga transportada, ainda este ano.

"Temos hoje a oportunidade de abrir um novo capítulo, no sentido de, além de falarmos de um corredor de infra-estrutura, falarmos de um corredor de desenvolvimento económico. Esse é o objectivo final de todo esse trabalho que temos feito, para que o impacto real dessas infra-estruturas, que são grandes, com investimentos reais, possa ser transmitido às nossas comunidades, à população e aos jovens, que buscam empregos e oportunidades para desenvolver as suas vidas", acrescentou.

Importante também a declaração do CEO da IFC, que garantiu que nunca se colocou qualquer possibilidade de desistência de uma infra-estrutura que tem de necessariamente ser vista como crítica para o desenvolvimento de África e também do comércio mundial, para além de gerar desenvolvimento nas comunidades e com isso combater a pobreza no seio das famílias. Hermenegildo Ferreira – Angola in “Expansão”


Portugal - Bolsa de Doutoramento Nuno Grande premeia estudo sobre Doença do Enxerto Contra Hospedeiro

Leonardo Moço, estudante do ICBAS, é o vencedor da 3.ª edição da Bolsa de Doutoramento Nuno Grande (BDNG), com trabalho na área da hemato-oncologia

O projeto vencedor da Bolsa de Doutoramento Nuno Grande (BDNG) 2024, da autoria de Leonardo Moço, estudante do 1.º ano do Programa Doutoral em Ciências Médicas do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, procura encontrar uma terapêutica eficaz que garanta o bem-estar dos doentes sem necessidade de recorrer ao uso intensivo e prolongado de corticoides para a Doença do Enxerto Contra Hospedeiro (DECH). Trata-se de uma patologia resultante da transplantação de medula óssea, a que muitos doentes com cancros hematológicos (principalmente leucemias agudas) são submetidos.

Em Portugal, cerca de 4700 pessoas são diagnosticadas, anualmente, com cancros no sangue ou sistema linfático cujo tratamento, para além de uma quimioterapia intensiva, pode passar por um transplante de medula. “Quando a doença assume características de alto risco, o tratamento curativo poderá passar por um transplante de progenitores hematopoiéticos, ou seja, submete-se o doente a uma quimioterapia muito intensiva que faz o reset da sua medula óssea, para posteriormente repovoá-la com o sistema hematopoiético e imunológico de um dador (alogénico) – para que o sistema imunitário dessa outra pessoa reconheça as células malignas do doente como estranhas e as combata”, explica o vencedor do prémio.

Ainda segundo Leonardo Moço, “este fenómeno – excerto contra o tumor/leucemia – é eficaz, mas tem um grande problema, o reverso da moeda, que está precisamente no facto de as células do dador poderem atacar também as células boas do doente, conduzindo ao fenómeno excerto contra hospedeiro”, esclarece.

Mais de um quarto dos doentes submetidos ao transplante de medula óssea desenvolve a Doença do Enxerto Contra Hospedeiro, sendo que destes, cerca de 11% desenvolve doença aguda de grau 3 ou 4 (os mais severos). Trata-se de uma doença que, na fase aguda, afeta essencialmente a pele, o fígado e o tubo digestivo. Para além disso, a taxa de sobrevivência, nos casos mais severos de DECH, ronda os 40% ao fim de um ano. Números muito significativos que “fazem desta doença a principal causa de morte não decorrente da recaída do cancro”.

No trabalho vencedor da BDNG 2024, Leonardo Moço propõe-se a desenvolver um fármaco que reduza os efeitos colaterais e as comorbilidades associadas ao tratamento da DECH que assenta na toma de corticóides, “cuja exposição a longo prazo sabemos ter efeitos muito negativos, como obesidade, diabetes mellitus tipo 2, osteoporose severa, fraturas patológicas, patologia articular, cataratas, perturbações psiquiátricas, maior vulnerabilidade a infeções, entre outras. Para além disso, ao suprimir o sistema imunitário com corticóides, estamos a diminuir o efeito positivo enxerto contra tumor, e a aumentar a probabilidade de recaída da doença oncológica primária”, explica.

O trabalho de investigação premiado propõe-se a encapsular uma molécula de corticóide numa nanopartícula, dirigida às células T do dador (a principal maquinaria responsável pelo efeito enxerto contra hospedeiro), pretendendo-se assim uma resposta mais duradoura, mais eficaz, mais seletiva e com menos efeitos secundários.

Este trabalho é coordenado por Delfim Duarte, hematologista e responsável pelo grupo Hematopoiesis and Microenvironments no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), em parceria com Bruno Sarmento, investigador responsável pelo grupo de investigação Nanomedicines & Translational Drug Delivery, também no i3S.

Para o Leonardo Moço “este prémio será essencial para a aquisição de ferramentas e para o desenvolvimento de missões de aprendizagem que, acredito, me farão crescer muito como médico-investigador”. Além disso, constitui um enorme reconhecimento por parte de uma casa “que me diz muito, afinal foi no ICBAS que me constituí, em grande parte, como a pessoa e profissional que sou hoje – devo muito a esta instituição, por todas as experiências que me proporcionou, todas as pessoas que me deu a conhecer e por me ter trazido até aqui. Para além disso, ganhar este prémio, de um nome maior que todos nós, no ano em que se comemoram os 50 anos do ICBAS, é sem dúvida um enorme, e simbólico, privilégio”.

A Bolsa de Doutoramento Nuno Grande é uma iniciativa da família do histórico médico, professor e fundador do ICBAS, do próprio Instituto e da Fundação BIAL, à qual Nuno Grande esteve ligado mais de 20 anos. A edição deste ano será entregue, formalmente, no Dia do ICBAS, agendado para maio, no Edifício Histórico Abel Salazar. Universidade do Porto - Portugal


segunda-feira, 28 de abril de 2025

Macau - Portugal e Grande Baía usam música como “ponte” no Festival Luso-Chinês de Música e Artes

O evento de três dias vai apresentar concertos, competições e diversas experiências interactivas, como ‘flash mobs’ ou realidade virtual, em que a música é protagonista e elo de ligação entre as culturas chinesa e portuguesa em Macau. O destaque vai para o concerto da banda Tuna Macaense, que este ano celebra o seu 90.º aniversário



O Centro Internacional de Convenções do Galaxy Macau vai receber o Festival Luso-Chinês de Música e Artes Macau 2025 (FLCMAM 2025) entre 30 de Maio e 1 de Junho. O evento, subordinado ao tema “Honrar o Passado e Criar o Futuro – Usando Música e Arte como Ponte, Construindo Harmonia e Diversidade”, ramifica-se em três eixos: concursos musicais, concertos e ainda apresentações e experiências que pretendem promover o intercâmbio cultural e artístico entre a Área da Grande Baía e os países lusófonos.

A primeira competição, o “Campeonato de Canto da Tuna Macaense”, serve como homenagem ao aniversário da banda homónima, estabelecida em 1935, que ao longo de 90 anos tem encetado esforços no sentido de preservar a cultura macaense. O concurso consistirá na interpretação de temas da Tuna Macaense e terá uma natureza trilingue, englobando as línguas chinesa, portuguesa e inglesa.

O “Concurso Internacional de Orquestra e Música da Câmara de Macau” e o “Torneio de Música China-Chique da Área da Grande Baía” decorrem no dia 1 de Junho, consistindo na participação de jovens músicos de diferentes países. De acordo um comunicado de imprensa divulgado pela organização, pretende-se, assim, promover “a integração e a inovação” das culturas musicais clássicas oriental e ocidental, ao qual acresce um elemento moderno com a incorporação de ‘pop’ e de outros estilos contemporâneos no concurso de música “china-chique”. Este termo refere-se a uma tendência estética, musical e comercial em ascensão na última década, combinando a identidade tradicional chinesa com influências modernas, futuristas ou ocidentais.

Quanto aos concertos, o primeiro ocorrerá logo na noite de 30 de Maio, com a Tuna Macaense a tocar os seus temas mais famosos e a reavivar “o precioso património cultural e as memórias musicais através de canções macaenses únicas”. Na noite seguinte, o concerto temático “Aliança Sónica: Batalha Musical – Choque de Culturas na Baía da Melodia de Macau” terá lugar no Centro Internacional de Convenções do Galaxy e contará com a participação de “músicos renomados”, de acordo com o mesmo comunicado.

Por fim, o concerto de encerramento e a cerimónia de entrega de prémios das três competições estão agendados para o último dia, 1 de Junho, prevendo-se “os diálogos musicais e a integração cultural mais emocionantes da competição de três dias”.

Em paralelo aos eventos principais, serão ainda dinamizadas actividades interactivas como ‘master classes’ de instrumentos, ‘workshops’ de música macaense, ‘flash mobs’, exposições de instrumentos de corda e experiências imersivas de realidade virtual (VR na sigla inglesa) em que os participantes podem “vivenciar ainda mais o charme a herança das culturas musicais chinesa e portuguesa em todos os aspectos”.

As inscrições para os concursos e actividades já se encontram abertas, recordando a organização que a música amadora é bem-vinda e que os vencedores terão direito a prémios em dinheiro. O FLCMAM é co-organizado pela Associação de Amizade de Intercâmbio Cultural China-Portugal de Macau e o Espaço de Música e Arte de Macau, com o patrocínio do Galaxy Entertainment Group e o apoio do Instituto Cultural e da Direcção dos Serviços de Turismo de Macau. Entre os vários colaboradores, incluem-se a Associação de Artes Intersectoriais de Macau, a Associação Internacional de Intercâmbio Cultural e Artístico de Jovens de Macau ou a Associação de Intercâmbio Educativo e Cultural da Ásia-Pacífico. In “Ponto Final”


China - Agências portuguesas esperam que haja mais voos para o país

O presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) disse à Lusa esperar que o novo Governo possa promover mais voos directos com a China. “Veremos se, quando recuperarmos a estabilidade política em Portugal, haverá espaço e tempo para se começarem a desenvolver mais ligações aéreas [com a China]”, disse Pedro Costa Ferreira.



Portugal vai a eleições legislativas antecipadas a 18 de Maio, na sequência da crise política que levou à demissão do Governo PSD/CDS-PP, liderado pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro.

Pedro Costa Ferreira disse não ter dúvidas de que voos directos entre Portugal e a China “serão sempre um êxito” e que o actual problema “não será nunca económico”. “É a questão de encontrar um espaço no aeroporto e os [operadores] interessados em voar. (…) Será eventualmente [um problema] logístico e esperamos que possa ser resolvido”, acrescentou.

Actualmente existe apenas uma ligação directa entre a China e Portugal, com uma frequência de quatro voos por semana de Lisboa, com destino a Hangzhou, a capital da província de Zhejiang, uma das mais prósperas da China. “Estamos muito longe daquilo que queremos e longe daquilo que são, naturalmente, as ambições dos dois lados”, disse o presidente da APAVT.

Também o líder do bloco europeu de agências e operadores turísticos, Eric Drésin, disse à Lusa que a falta de voos para a China é o principal desafio para atrair mais visitantes da Europa. “O problema principal (…) é a conectividade. Voar é caro”, lamentou o secretário-geral da Confederação Europeia das Associações de Agências de Viagens e Operadores Turísticos (ECTAA, na sigla em inglês).

“As companhias aéreas europeias não conseguem chegar à China sobrevoando a Rússia por causa da guerra na Ucrânia, pelo que reduziram o número de voos para a China continental”, recordou Drésin.

A União Europeia fechou o espaço aéreo aos aviões russos após a invasão da Ucrânia, e Moscovo retaliou com proibições semelhantes, tornando mais longas e dispendiosas as ligações entre a Ásia e a Europa.

“Assim, dependemos muito de companhias aéreas não europeias para trazer viajantes” até ao continente asiático, explicou Drésin, incluindo empresas de Singapura, Japão e Coreia do Sul.

No caso da China, “não é muito comum os viajantes europeus viajarem com companhias aéreas chinesas. Precisam de estabelecer melhor a sua marca na Europa”, referiu o francês. As companhias aéreas chinesas ainda estão a retomar as rotas que ligavam a China ao resto do mundo antes da pandemia de covid-19, depois do país asiático ter limitado o tráfego aéreo internacional a menos de 2% do existente em 2019.

Drésin, que falava durante o primeiro dia da 13ª Expo Internacional de Turismo (Indústria) de Macau, disse ainda que o número de europeus a visitar os EUA deverá continuar a cair, sobretudo devido a Donald Trump.

Cônsul de Portugal critica falta de rotas directas com Portugal

O Cônsul-Geral de Portugal em Macau lamentou que a única ligação aérea directa de carga entre Macau e a Europa se faça não para Lisboa ou para o Porto, mas sim para Madrid. “Há dias escrevi [uma carta] para Lisboa, muito irritado, quando a Etiópia Airlines inaugurou o seu voo de carga triangular Adis Abeba-Madrid-Macau e com isso criou a primeira ligação directa de Macau para a Europa”, afirmou Alexandre Leitão na Expo Internacional de Turismo, citado pelo Diário de Notícias. Segundo disse, tem vindo a insistir com as autoridades portuguesas que essa ligação poderia ser feita por uma companhia portuguesa, com um aeroporto nacional como plataforma europeia. “Venho insistindo nisso há dois anos, por isso não me convencem que não é viável”, afirmou, lembrando que em Macau vivem 153 mil portugueses, inseridos numa região que num raio de 200 quilómetros tem dois pólos urbanos como Shenzen e Cantão, além de Hong Kong. Os voos da Etiópia Airlines, explicou, vão trazer 20 000 toneladas por ano de carga “através de um voo puramente comercial”. “Expliquem-me lá porque é que Lisboa não é placa atlântica e também europeia, além de ser lusófona para mercados como o Brasil, que são servidos como nenhum outro? Ou o Porto? E porque é que as capitais africanas, lusófonas, não são também instrumentos, plataformas de distribuição das mercadorias e serviços para outros países em África que querem vir para cá?”, criticou. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”


Associação dos Comités Olímpicos de Língua Oficial Portuguesa vai abrir candidaturas para os Jogos da Lusofonia

Os Jogos da Lusofonia deverão regressar no próximo ano com modalidades de praia e os membros da Associação dos Comités Olímpicos de Língua Oficial Portuguesa têm os próximos meses, até Dezembro, para apresentar candidatura à organização. A decisão de avançar com a retoma da prova foi tomada na assembleia-geral da ACOLOP que se realizou em Cabo Verde e na qual Macau marcou presença



Os países ou regiões que integram a Associação dos Comités Olímpicos de Língua Oficial Portuguesa (ACOLOP) aprovaram a retoma dos Jogos da Lusofonia, que têm estado suspensos desde 2014. Na reunião realizada na Praia, cidade capital de Cabo Verde, os membros manifestaram-se receptivos a avançar com a competição e, até Dezembro, os interessados irão apresentar as candidaturas para a competição de 2026.

Filomena Fortes, presidente da ACOLOP, vice-presidente da Comissão de Mulheres e Desporto da Associação dos Comités Olímpicos Nacionais de África e número um do Comité Olímpico de Cabo Verde, disse ao Jornal Tribuna de Macau que tudo aponta para que “o regresso dos Jogos da Lusofonia aconteça em 2026”.

Sobre o formato da prova, Filomena Fortes confirma o que foi aventado na reunião do ano passado em Cascais, com o evento multidesportivo a ser composto por modalidades de praia, como voleibol, futebol, corridas na areia, natação, ténis e surf. O novo sistema, com custos inferiores às edições passadas, coaduna-se com a situação geográfica de todos os membros da ACOLOP, ou seja, todos eles são costeiros.

Dentro de pouco tempo será apresentado o caderno de encargos e até Dezembro os respectivos comités olímpicos terão tempo para se candidatar à organização, devendo a próxima assembleia-geral da ACOLOP, a realizar durante esse mês em Angola, ter já dados e candidaturas para aprovação.

Recorde-se que os Jogos da Lusofonia arrancaram em 2006 em Macau, seguindo-se Portugal, em 2009, e Goa, em 2014. A partir daí, não mais se realizaram, não obstante algumas intenções, concretamente de Angola, mas sem concretização, em virtude dos elevados custos que o formato envolvia, nomeadamente no que diz respeito às instalações para albergar as várias modalidades.

Em princípio, os três locais que já organizaram a competição deverão ficar de fora de nova candidatura, restando, assim, Cabo Verde, Angola, Moçambique e Brasil, estes apontados como os mais fortes candidatos, e ainda Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Índia, através da Associação Olímpica de Goa, Guiné Equatorial e Sri Lanka são membros associados, com base nas suas relações históricas com Portugal.

Durante a sessão da ACOLOP, que contou com a presença de João Fonseca, como representante do Comité Olímpico de Macau, foram igualmente fortalecidas parcerias com outras organizações, tendo sido assinados “importantes protocolos e memorandos”, segundo refere uma nota de balanço da reunião.

No dia anterior, teve lugar o Congresso Olímpico da Lusofonia, que se dedicou ao tema “Para uma abordagem conjunta no desenvolvimento através do desporto” e reuniu representantes dos comités olímpicos nacionais, federações desportivas, parceiros internacionais e membros do movimento olímpico e desportivo da lusofonia.

Durante a cerimónia de abertura, a presidente da ACOLOP destacou a importância do evento para “promover os princípios e valores olímpicos e contribuir para o desenvolvimento sustentável do desporto nos países lusófonos”. Na ocasião, o ministro adjunto do Primeiro-Ministro de Cabo Verde, Carlos do Canto Monteiro, enfatizou o papel crucial do desporto “enquanto ferramenta de união, desenvolvimento e cooperação entre as nações lusófonas”.

Entre os assuntos abordados destacam-se a apresentação de Diogo Nabais, do Comité Olímpico de Portugal, sobre o “Estatuto de Utilidade Pública e Estatuto de Observador da CPLP”, seguida pela exposição de Jorge Carvalho, coordenador do Desporto do Conselho de Ministros da Juventude e Desporto da CPLP, sobre “Jogos Multidesportivos – CPLP e Lusofonia”. A sessão encerrou com uma intervenção de Miguel Toscano, do Ericeira Surf Clube, abordando “Planeamento e Gestão de Projectos em Ambiente de Consórcio Internacional”.

Na parte da tarde, a inovação digital esteve em foco, com intervenção de Andres Santi Gonzalez, especialista da Associação dos Comités Olímpicos Nacionais, que abordou o tema “Inteligência Artificial e Acelerador Digital”. Vítor Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


Macau - Mais do que pastéis de nata: a Manteigaria quer trazer uma fatia de “portugalidade” à Região

A Manteigaria abriu há quatro meses no centro de Macau com a missão de revolucionar o conceito de “pastel de nata”, tantas vezes associado a ‘egg tarts’ macaenses que apenas se assemelham ao doce conventual português no molde circular. Diogo Vieira, o gerente da marca, explica ao Ponto Final que a missão não termina aí: para além do “melhor pastel de nata autêntico”, apenas levemente retocado para se adaptar ao paladar chinês, a Manteigaria quer proporcionar em Macau uma experiência imersiva do que significa ser português



Em plena Avenida da Praia Grande, uma das artérias mais movimentadas da cidade de Macau, é possível regressar a Portugal apenas transpondo uma porta. Identifica-se a metros de distância pelo logótipo inconfundível da marca Manteigaria e uma campainha que soa a cada poucos minutos, anunciando uma nova fornada de pastéis de nata ainda fumegantes. No interior, os aromas a manteiga quente, canela e café misturam-se numa atmosfera pouco habitual em Macau e remetem para os cafés típicos da baixa lisboeta, em que o pastel de nata se quer doce e estaladiço e sempre acompanhado pelo caneleiro e a bica.

O ‘egg tart’ é um dos símbolos mais difundidos de Macau, em simultâneo com a iconografia das Ruínas de São Paulo ou a mascote do turismo Mak Mak. Em cada esquina, germinam estabelecimentos de comida que vendem as famosas tartes de recheio suave, semelhante a gema de ovos cozida a vapor, envolto numa massa de consistência quebradiça. Apesar das diferenças evidentes na textura e no sabor das duas variedades, algumas lojas optam por rotular os seus produtos como “pastéis de nata” ou “‘portuguese egg tarts’”, talvez para lhes conferir uma sonoridade mais exótica. O pastel de nata autenticamente português, com sabor intenso a nata e manteiga e textura folhada, é bem mais raro de encontrar.

“Não posso alegar que temos o único pastel de nata autêntico em Macau, mas somos garantidamente o melhor”, afirma Diogo Vieira, gerente da Manteigaria do território. Recebeu o Ponto Final na manhã da passada quinta-feira, no dia em que se completaram precisamente quatro meses desde a inauguração do espaço, em Janeiro. Há lojas da concorrência a meros minutos de distância, muitas delas com clientela fiel há décadas e um sabor leve, pouco adocicado e mais focado no ovo do que na nata, concebido com atenção ao paladar asiático. Ainda assim, o gerente não acredita que a Manteigaria tenha vindo integrar-se num mercado saturado. Pelo contrário: numa região com uma oferta tão pouco diversificada, a marca portuguesa distingue-se por apresentar o sabor genuíno do outro canto do mundo.

“Em comparação com a oferta local, não somos melhores nem piores”, ressalva. “Somos diferentes daquilo que eles oferecem. Chamam-no de ‘portuguese egg tart’, o que não é a denominação correcta; é um produto parecido visualmente, mas que tem uma consistência diferente, parecida com pudim, e um sabor completamente diferente do nosso”. Dentro da categoria específica de pastel de nata, correspondente aos mesmos padrões de Portugal, Diogo Vieira não se coíbe de admitir: “Existem outras padarias locais que até podem ter pastéis de nata portugueses, mas que não têm a mesma receita ou a qualidade do nosso. Basta ver a comparação das críticas que os clientes deixam ‘online’, tanto em Portugal como em Macau”.

Não é só o pastel de nata que veio do extremo ocidente europeu. No cardápio de bebidas, embora também surjam os cafés americanos e os ‘lattes’ muito apreciados localmente, são o expresso, o vinho do Porto e a ginja que solidificam as cores de Portugal na loja e suscitam a curiosidade dos clientes, pouco habituados a esta oferta. “A nossa ginja é um produto português produzido especificamente para Macau por uma marca local, a ginja do Senado. Queremos fazer parcerias com pequenos negócios locais, para incentivar o espírito de comunidade e de entreajuda”. Em alternativa, os clientes mais enraizados a velhos hábitos podem optar pelo chá caseiro de gengibre, menta e limão. “Tentamos ter bebidas mais localizadas para este mercado, que vão ao encontro dos gostos asiáticos e da cultura do chá”.

Um cliente entra na loja e dirige-se ao balcão. Seguem-se “bom dia” e “como está?” trocados de um lado para o outro, enquanto a combinação clássica do café e da nata é servida. Ser português, nota Diogo Vieira, refere-se a mais do que um pastel polvilhado com canela ou um expresso curto e cremoso – é exalar hospitalidade e acolher cada cliente como um amigo de longa data, com as suas próprias características que o individualizam do anterior. “Sabemos que nas pastelarias há muito o hábito de colocar os produtos nos expositores e é o cliente que se vai servindo no tabuleiro, para depois ir à caixa pagar. Isso faz com que não haja uma interacção directa entre as duas partes”, lamenta. A Manteigaria, como reduto da cultura portuguesa em território macaense, procura destacar-se do ‘self-service’ comum nas pastelarias em redor com uma cordialidade muito característica dos países do sul da Europa.

“Tentamos ao máximo dar uma experiência portuguesa na globalidade, incluindo um serviço à portuguesa. É algo que tento incutir à minha equipa, mesmo que os funcionários sejam filipinos ou chineses: uma vontade genuína de interagir com o cliente, perguntar como está, como foi o seu dia… lógico que, quando a loja está cheia e a fila é grande, as pessoas querem consumir rápido e sair. Mas, sempre que houver oportunidade, queremos ter esse tipo de interacção com as pessoas. Faz parte da nossa portugalidade e da nossa maneira de estar”. A intenção é que o cliente, do outro lado do balcão, mimetize estes hábitos culturais e os retribua de igual maneira, começando por um “olá” e terminando num “obrigado”.



Rumo à expansão na Ásia, com menos 50% do açúcar 

“A nossa produção é aberta ao público. Esta área foi concebida exactamente para o processo estar à vista e para que os clientes possam ver os nossos pasteleiros a trabalhar. Não temos nada a esconder”. Diogo Vieira e Pedro Quintaneiro, subchefe pasteleiro, guiam o Ponto Final até ao andar de cima. Não há mesas nem cadeiras: embora seja possível consumir no local, não é tanto uma zona de degustação como uma ocasião para parar e admirar o método de confecção do doce português desde a incipiência. E, talvez, para tirar umas quantas fotos para as redes sociais.

A produção da doçaria teve de ser dividida em dois pisos, devido às limitações logísticas. “Não conseguimos colocar tudo no mesmo espaço, como fazemos em Portugal”, explica o gerente, apontando para o andar de baixo onde uma das características mais distintivas será, provavelmente, um separador de vidro que permite ao cliente acompanhar o processo a que os pasteleiros chamam de “abertura, enchimento e cozimento”. “Essa parte lá em baixo talvez seja a mais fotografada, em que se trabalha com as mãos a abrir os moldes, encher o forno, tirar do forno… Até porque, aqui em cima, é um processo de preparação que se faz numa altura específica do dia, da parte da manhã. O resto do trabalho é focado lá em baixo durante a tarde”.

Um dos principais selos de qualidade da Manteigaria é a garantia de que tudo é confeccionado no instante pelas mãos dos pasteleiros, desde a pesagem da farinha à cozedura. “O processo é todo manual; nada é automatizado. Não temos máquinas a dar-nos esse apoio”. O número de tabuleiros é gerido consoante a procura do dia, garantindo que o tempo entre a saída do forno e o consumo pelo cliente é o mais reduzido possível. Como explica Diogo Vieira, “o pastel vendido à tarde não foi cozido de manhã. Cozinhamos para períodos de uma ou duas horas, o que nos dá a possibilidade de fazer o ‘stock’ do dia desde as oito da manhã até perto das oito da noite, quando fechamos”.

No piso de cima, um pasteleiro vai trabalhando a massa folhada e envolvendo-a num bloco espesso de manteiga, que segue depois para os frigoríficos. Pedro Quintaneiro, responsável pela formação dos pasteleiros desde o início do projecto, mantém os olhos fixos no que acontece do outro lado do vidro e, ocasionalmente, entra para trocar uma palavra ou um conselho. Pedro foi convidado a integrar a equipa sob uma condição: teria de passar quase três meses em Portugal imerso no mundo da Manteigaria, a receber formação com mestres pasteleiros que incluíam os próprios criadores da receita exclusiva da marca. De regresso a Macau, tornou-se o formador da equipa local e o responsável por garantir a qualidade do produto, sobretudo durante as duas semanas iniciais de grande adesão – não apenas pela população residente, mas consequente do enorme fluxo de turistas do Ano Novo Chinês.

“Na altura, tivemos o reforço de outros dois pasteleiros portugueses, exactamente porque já calculávamos que teríamos uma grande procura ao início e não dispúnhamos de mão-de-obra local suficiente para dar resposta. Depois, as coisas acalmaram e eles voltaram à base”, restando Pedro Quintaneiro como responsável a tempo inteiro. Se, na abertura em Janeiro, eram vendidos mais de quatro mil pastéis de nata diários, actualmente o número desceu para entre 1500 e dois mil, “dependendo dos dias”. Diogo Vieira desdramatiza: “Abrimos numa altura muito forte, com muito turismo. A comunidade local estava curiosa, os turistas fizeram filas… é normal, numa fase de abertura. Agora, como podemos ver, a cidade está mais calma. Estamos à espera de um aumento em Maio, na altura da semana dourada”.

O responsável refere-se aos feriados do dia do Trabalhador no interior da China, que coincidem com os cinco primeiros dias do mês. A receita original dos pastéis de nata foi, aliás, adaptada para corresponder ao paladar chinês, menos tolerante a sobremesas adocicadas do que o português. “Antes de abrirmos o projecto, fizemos testes com grupos de clientes locais e chineses para aferir a receptividade à receita portuguesa. Concluímos que a receita que usamos em Lisboa é demasiado doce para o mercado local e tivemos de fazer um ajustamento ao nível do açúcar, com uma redução de 50%”. Frisa, porém: “O processo e os ingredientes continuam iguais. Ficou uma receita boa, bastante equilibrada”, sem mudar o essencial daquilo que popularizou a fábrica de doces conventuais desde a inauguração da primeira casa, no Chiado, há mais de uma década. Até os ingredientes são importados directamente de Lisboa, com excepção daqueles que podem ser comprados em Macau sem comprometer a qualidade do resultado final, como o açúcar ou o limão.

À medida que a manhã tardia se aproxima da hora de almoço, o movimento de clientes portugueses e turistas vai aumentando no piso de baixo. É dia de comemoração, mas Diogo Vieira, mergulhado na gestão da Manteigaria e na projecção de planos futuros, não se apercebeu da data no calendário. “Dia 24, Janeiro… pois é, pois é”, reconhece, com uma mão aberta em contagem dos quatro meses que passaram desde a abertura do espaço. Para o próximo punhado de meses, as expectativas passam por consolidar o alcance da marca no território, atraindo turistas e residentes de origem asiática a um mercado de clientes portugueses que já se habituou a pedir “um café e um pastel de nata, por favor” nas pausas do emprego.

Os planos mais ambiciosos estão agendados para depois do Verão, com a expansão da marca para a Rua do Cunha, na Taipa Velha – uma zona com forte atracção turística, grande visibilidade e uma proximidade estratégica com o restaurante Portugália, do mesmo grupo. Cobertas as “duas principais zonas turísticas de Macau”, o próximo passo natural será o de alargar a marca até à vizinha Hong Kong – região com as suas próprias heranças gastronómicas influenciadas pelo colonialismo e uma tradição de ‘egg tarts’ adaptadas das ‘custard tarts’ inglesas em sabor e textura. Em qualquer parte do mundo, a ambição é a mesma: criar uma espécie de bolha intacta de portugalidade dentro da loja, independentemente do país que a acolhe no exterior. In “Ponto Final” - Macau


domingo, 27 de abril de 2025

Galiza - “Poesia é Revoluçom”, Séchu Sende levará os seus dous últimos livros ao Centro Social A Pedreira de Ponte Vedra

O evento decorrerá na sexta-feira dia 9 de maio, às 21h, e sob a legenda “Poesia é Revoluçom” o autor apresentará os seus dous últimos livros, o poemário Passa-montanhas, editado em Chan da Pólvora, e ensaio O Povo improvisador, aventuras sobre regueifa e poesia oral, editado na Através Editora, e do que acaba de sair do prelo a segunda ediçom



O Povo improvisador é um ensaio que mapeia com múltiplas perspectivas a prática da improvisaçom oral em verso na Galiza.

O livro fala descreve a prática, curiosidades e potencialidade da poesia oral em verso no nosso país. Pretende, fugindo dos tópicos, ligar a criatividade popular e a rebeldia, utilizando a poesia oral como ferramenta emancipatória. Fala sobre a capacidade das pessoas para desenvolver a poesia. Fala de mistérios, aventuras e curiosidades do repente galego, um mundo cheio de oportunidades para mudar a realidade do século XXI com as vozes, as músicas e as palavras do povo.

Séchu Sende (Padrom, 1972) é poeta e narrador, sociolinguista, ativista social e domador de pulgas no ‘Galiza Pulgas Circus’. A sua obra Made in Galiza foi traduzida ao curdo, ao turco, ao catalão, ao euskera. Os seus textos convertem-se em canções, obras de teatro, lemas de camisolas, curta-metragens ou campanhas de publicidade social. Também escreve textos de guerrilha da comunicação, manifestos da Resistência, listas da compra e palavras como tattoos nas mãos das suas duas filhas. In “Portal Galego da Língua” - Galiza


Brasil – Moçambicano Álvaro Taruma leva a sua voz ao Museu da Língua Portuguesa no Dia Mundial da Língua Portuguesa 2025

O poeta moçambicano Álvaro Fausto Taruma é um dos convidados especiais da programação do Dia Mundial da Língua Portuguesa, que será celebrado no próximo dia 5 de Maio, no emblemático Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, Brasil.

Taruma participa com uma intervenção sonora inédita na realização - instalação Rádio Cósmica Mêike Rás Fân, concebida pelo artista brasileiro José Paes de Lira, conhecido como Lirinha. Este projecto convida o público a uma escuta expandida da diversidade cultural e linguística da chamada galáxia lusófona, reunindo vozes, sotaques, poemas e paisagens sonoras de diferentes países que falam a língua portuguesa. A provocação que guia a apresentação — “Nós falamos a mesma língua?” — ganha resposta poética através da presença de Taruma.

Com uma abordagem singular, Taruma oferece à Rádio Cósmica a sua voz, a sua escuta e a sua língua – uma composição rica em camadas, que entrelaça o ronga, o português e as memórias aquáticas do Oceano Índico. O poeta contribui ainda com a leitura de um poema de sua autoria, bem como a sugestão de uma música que dialoga profundamente com a sua obra e com o seu universo poético.

O evento integra a programação anual do Museu da Língua Portuguesa, um dos mais importantes espaços de celebração e reflexão sobre a língua portuguesa no mundo. A curadoria está a cargo de Luiza Romão, Ana Frango Elétrico e da Cinemateca Brasileira.

Ao lado de uma constelação de artistas de diversas origens, Álvaro Taruma celebra a língua portuguesa como um organismo vivo, em constante mutação e profundamente plural — uma língua de encontros, memórias e transformações. In “Moz Entretenimento” - Moçambique


Ponte… nas ondas!








Vamos aprender português, cantando


Ponte… nas ondas!


As ondas vêm da ribeira

as ondas brilham ao luar

na praia abraçam a areia

deixando lembranças dum outro lugar.


As pontes são de madeira, 

pedra, cimento e bambu

existem de tantas maneiras

rompendo fronteiras 

entre mim e tu.


A ponte, a ponte, a ponte

é para atravessar

do Brasil a Cabo Verde,

da Galiza a Portugal.


De Moçambique a Angola,

de São Tomé à Guiné

palavras parece uma dança

da língua na ponta do pé.


Passei por Açores e Madeira,

por Goa, Macau e Timor

são muitos no mundo lá fora

ah que cruzam as pontes 

nas asas do mundo.


A ponte, a ponte, a ponte

é para atravessar

do Brasil a Cabo Verde,

da Galiza a Portugal.


Nem pau, nem pau, nem pedra

nem é o fim do caminho

ah sempre cruzamos as pontes 

nunca o fazemos sozinhos.


As pontes são de madeira, 

pedra, cimento e bambu

existem de tantas maneiras

rompendo fronteiras 

entre mim e tu.

 

De Moçambique a Angola,

de São Tomé à Guiné

palavras parece uma dança

da língua na ponta do pé.


Passei por Açores e Madeira,

por Goa, Macau e Timor

são muitos no mundo lá fora

que cruzam as pontes 

nas asas do amor.


A ponte, a ponte, a ponte

é para atravessar

do Brasil a Cabo Verde,

da Galiza a Portugal.


A ponte, a ponte, a ponte

é para atravessar

a ponte, a ponte, a ponte

é para atravessar

a ponte, a ponte, a ponte

é para atravessar

a ponte, a ponte, a ponte

é para atravessar

a ponte, a ponte, a ponte

é para atravessar


José Cid – Portugal

Composição:

Uxia – Galiza

Sérgio Tannus - Brasil


sábado, 26 de abril de 2025

França - Paris acolhe “Irreversible”, a nova exposição de Bordalo II

O artista português Bordalo II vai inaugurar em Paris, no dia 24 de maio, a exposição “Irreversible”, um verdadeiro manifesto visual contra os excessos e a destruição provocada pela sociedade atual. A mostra, com entrada gratuita na galeria Mathgoth, apresenta uma nova série de obras intitulada “Provocs”, onde o artista continua a sua missão de provocar reflexão através da arte feita com desperdícios



Nesta nova coleção, Bordalo II dá nova vida a objetos do quotidiano e elementos urbanos, transformando-os em peças que questionam os protagonistas da sociedade contemporânea e as suas contradições. Com o seu estilo característico e recurso a materiais reutilizados, o artista propõe uma leitura crítica e original do mundo que nos rodeia.

Os objetos utilizados por Bordalo II na criação das peças desta série, “normalmente encontrados no espaço público”, “serão deslocados para um ambiente neutro, onde ganharão novos significados”.

“Através deste ato de descontextualização, o artista convida os visitantes a questionarem os seus próprios pensamentos, comportamentos sociais e perceções sobre o ambiente urbano e o seu papel na sociedade”, lê-se no comunicado.

“Irreversible” inclui também retratos de animais, que Bordalo II cria a partir de resíduos plásticos, “simbolizando as consequências desastrosas da globalização sobre a biodiversidade”.

A mostra irá ocupar “um espaço bruto e não convencional de 300 metros quadrados no 13º bairro de Paris, na galeria Mathgoth”.

Artur Bordalo (Bordalo II – o primeiro era o avô, o artista plástico Real Bordalo, que morreu em junho de 2017, aos 91 anos), nascido em Lisboa, em 1987, começou pelo ‘graffiti’, que o preparou para o trabalho pelo qual se tornou conhecido: esculturas feitas a partir de recurso a lixo e desperdícios.

Nos últimos anos tem espalhado por todo mundo “Big Trash Animals” (“Grandes Animais de Lixo”), retratos de animais feitos com aquilo que os destrói.

“Irreversible” estará patente até 28 de junho, de quinta-feira a domingo. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


Estados Unidos da América - Luso-americanos alertam para risco de esquecimento do 25 de Abril

Cinquenta e um anos depois da revolução do 25 de Abril, luso-americanos que viveram a ditadura e emigraram para os Estados Unidos alertaram para a necessidade de preservar a memória e não deixar que as novas gerações se iludam

“Há uma tentativa de mitificar o salazarismo”, afirmou o professor Diniz Borges, num evento organizado pelo Instituto Português Além-Fronteiras, a que preside, na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno.

“Tenho as memórias de uma terra pobre e triste”, contou, falando da sua origem numa pequena freguesia dos Açores, de onde saiu aos 10 anos.

No evento, intitulado “Revolução dos Cravos: Perspetivas de Portugueses na América”, o professor reformado José Luís da Silva considerou que há hoje uma “tentativa de limpar a imagem” de Salazar por certas franjas da sociedade.

“O tempo é perigoso, faz esquecer muita coisa e dourar o passado. Temos de evitar o saudosismo do antigo”, salientou. O vice-presidente da Luso-American Education Foundation lembrou que o regime usava o medo e o analfabetismo para controlar a população, e que em grande parte do país – incluindo a sua freguesia, Relva – não havia água canalizada nem eletricidade.

“Havia a Casa do Povo, a escola até à quarta classe e era isso”, apontou. “Era o regime do medo e do atraso com alguns avanços brandos, tudo muito pacato. Enquanto a Europa avançava, nós estávamos a marcar passo na Europa e no mundo”.

Também Anísio Correia, luso-americano que viveu a revolução em Portugal, apontou para o perigo da falta de memória e do ensino do que foi o regime ditatorial e como ele acabou.

“Tenho muito receio que as pessoas se esqueçam e comecem a idealizar um tempo horrível, antes da Revolução. E comecem a acreditar no que lhes dizem charlatães”, afirmou, realçando que há vozes que estão a crescer em influência e vendem uma visão do regime que não corresponde ao que realmente se passava.

Correia lembra que, nas primeiras eleições democráticas e livres em Portugal, a 25 de abril de 1975, foi atingido o recorde de participação de 91,7%, algo que é “impensável” hoje em qualquer democracia.

“Os problemas que agora surgem em Portugal são muito mais universais, são problemas e desafios à democracia que temos de ter em conta”, disse o consultor. “Espero que nós, como sobreviventes de uma época em que a democracia não existia, possamos dar o exemplo a quem não conheceu esse tempo”.

Ilídio Pereira, banqueiro que emigrou para os Estados Unidos em 1978, considerou que uma das maiores conquistas de Abril foi a eliminação da PIDE. “Ao ser extinta esta polícia de informação, tirou poder a quem a implantou e deu liberdade a quem a detestava”, apontou.

O movimento sindical que deu direitos aos trabalhadores e a liberdade de educação foram outros avanços importantes para o luso-americano, que se mostrou crítico da forma branda como a data tem sido assinalada na diáspora e até no país.

“Fico triste que haja autarquias em Portugal que não celebraram nada”, disse, referindo-se ao cancelamento de cerimónias devido à morte do Papa Francisco.

Pereira também notou que muitas associações portuguesas nos Estados Unidos preparam celebrações focadas na gastronomia, mas sem grandes referências ao 25 de Abril, algo que Diniz Borges confirmou.

“A falta de celebração do 25 de Abril pelo corpo diplomático português é assustadora”, afirmou o professor, reivindicando também maior atenção ao ensino de português na diáspora.

“Se Portugal tivesse investido no direito aos filhos dos imigrantes de aprenderem português, 50 anos mais tarde não tínhamos o problema que temos hoje”. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


Lusofonia - Universidade de Coimbra aposta na língua portuguesa para se afirmar nas antigas colónias

“É através da valorização da língua portuguesa que vamos conseguir, cada vez mais, afirmar-nos como universidade de prestígio no mundo inteiro”, afirmou o vice-reitor para as Relações Externas e Alumni, João Nuno Calvão da Silva



A Universidade de Coimbra (UC) aposta na língua portuguesa como fator que determina a sua afirmação no mundo, especialmente nas antigas colónias e noutros territórios de expressão lusófona, disse à Lusa fonte da instituição.

“É através da valorização da língua portuguesa que vamos conseguir, cada vez mais, afirmar-nos como universidade de prestígio no mundo inteiro”, afirmou o vice-reitor para as Relações Externas e Alumni, João Nuno Calvão da Silva.

Em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 50 anos das independências das antigas colónias de África e de Timor-Leste, sublinhou que a língua de Camões “tem de ser a marca decisiva” da instituição a nível global.

Nuno Calvão da Silva tutela a Casa da Lusofonia, um espaço inaugurado em 2013, com a missão de “facilitar a criação de pontes entre os estudantes dos países lusófonos e os estudantes nacionais e internacionais” e que funciona como sede de associações de alunos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

“A Casa da Lusofonia é o retrato do que é a Universidade de Coimbra, ancorado na nossa história de 735 anos”, referiu.

E a universidade fundada pelo rei D. Dinis, em 1290, ela própria “é uma marca de prestígio” que deve orgulhar os seus membros e responsáveis de sucessivas gerações.

“Todo este mundo de língua portuguesa olha para nós com especial encanto, respeito e consideração”, salientou o professor da Faculdade de Direito (FDUC).

“Fomos durante muito tempo a única universidade do mundo de língua portuguesa. Não podemos deixar de reconhecer a nossa memória como um fator estratégico para a sua afirmação e para o gizar de uma estratégia para o futuro”, preconizou.

O vice-reitor para as Relações Externas realçou que a UC “tem a maior comunidade de estudantes brasileiros” fora do maior país lusófono, cerca de 2500, num universo de 25 mil alunos, a que se juntam universitários dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mas também de Timor-Leste e Macau.

“Eles vêm porque querem estudar em língua portuguesa, senão iriam mais para os Estados Unidos ou para o Reino Unido”, observou, para vincar “uma aposta que se impõe e que é reconhecida” no mundo lusófono.

Ao lembrar que o ordenamento jurídico de Macau “foi esculpido por professores da FDUC”, vigorando até 2049, Nuno Calvão da Silva revelou que a Faculdade de Medicina de Coimbra está agora também envolvida em parcerias com essa região administrativa especial da China, que foi colónia de Portugal durante mais de 400 anos.

“A língua portuguesa pode deixar âncoras para a nossa internacionalização”, acentuou.

A UC reúne boas condições para “dialogar com todas as universidades do mundo, respeitando as diferenças e não alienando o seu património fundamental, que é o do humanismo”, o que, na sua opinião, constitui uma vantagem “intemporal e independente dos ciclos políticos”.

Nas últimas décadas, por proposta das diferentes faculdades, a UC distinguiu com o título de doutor “honoris causa” líderes políticos de países que há 50 anos se tornaram independentes de Portugal.

Estão no grupo os presidentes de Cabo Verde Aristides Pereira (1989) e António Mascarenhas Monteiro (2000), antigo estudante da UC, e o homólogo de Moçambique Joaquim Chissano (1999), todos agraciados por iniciativa da Faculdade de Economia, além do atual primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão (2011), doutorado a título honorífico pela Faculdade Letras da Universidade de Coimbra.

Ao todo, são seis os presidentes do Brasil que receberam o grau de doutor “honoris causa” na Sala dos Capelos, onde, em 1862, o então estudante Antero de Quental e companheiros da secreta Sociedade do Raio protagonizaram a Revolta dos Capelos.

João Café Filho (1955) e Juscelino Kubitschek de Oliveira (1960) integraram a lista em plena ditadura de Salazar, enquanto os restantes foram galardoados após o 25 de Abril de 1974 e já com a democracia restaurada no Brasil: Tancredo Neves (1985), José Sarney (1986), Fernando Henrique Cardoso (1995) e Lula da Silva (2011).

Destes seis estadistas do Brasil, apenas Fernando Henrique foi doutorado pela Economia, tendo a proposta partido da Faculdade de Direito nos restantes casos.

O primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto, frequentou a Faculdade de Medicina de Coimbra e viveu na dependência local da Casa dos Estudantes do Império, em meados do século XX, antes de se envolver, em Lisboa, nas atividades anticoloniais. InJornal Económico” – Portugal com “Lusa”