Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 31 de março de 2025

Portugal – Universidade de Coimbra lança guia prático para tornar renovação energética acessível nas comunidades rurais europeias

Uma equipa de investigadores do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) desenvolveu, no âmbito da sua participação no projeto RENOVERTY, Roteiros de Renovação Rural, um guia prático pensado para tornar a renovação energética acessível às comunidades rurais em toda a União Europeia (UE).



Num momento em que a eficiência energética se torna essencial para combater a pobreza energética, estes roteiros pretendem ajudar os proprietários rurais a melhorar as suas habitações (condições de conforto e salubridade do espaço interior), contribuindo simultaneamente para melhorar a sua qualidade de vida e alcançar a descarbonização do parque edificado, seguindo os objetivos climáticos da UE.

Os roteiros, desenvolvidos em colaboração com grupos de ação local (GAL) da Croácia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Hungria, Itália, Osona e Portugal, tentam responder aos desafios enfrentados pelas zonas rurais. Este guia prático oferece orientações claras e práticas sobre as opções técnicas, legislativas e financeiras, disponíveis em cada região, numa tentativa de simplificar o processo de renovação das habitações das famílias que enfrentam uma situação de pobreza energética. 

Como explica Paula Fonseca, investigadora do ISR, «estes instrumentos permitem adaptar cada intervenção às necessidades específicas de cada caso, ao orçamento disponível e aos incentivos aplicáveis. Além disso, pretendem ajudar a superar desafios comuns, como a complexidade dos requisitos administrativos, a iliteracia energética, a escassez de informação, as limitações no acesso a financiamento e a falta de profissionais qualificados. Ao oferecerem uma visão clara e orientada para as necessidades, os roteiros tornam o processo de renovação mais acessível, eficiente e bem-sucedido». 

De acordo com os especialistas, o envelhecimento do parque imobiliário europeu representa um desafio urgente, uma vez que 35% dos edifícios têm mais de 50 anos e 75% continuam a ser ineficientes do ponto de vista energético, contribuindo para 40% do consumo de energia da UE e 36% das emissões de CO₂. 

«As zonas rurais enfrentam vulnerabilidades próprias que intensificam a pobreza energética, nomeadamente o envelhecimento das populações, as elevadas taxas de pobreza e o parque imobiliário mais velho e ineficiente. Muitos agregados familiares que vivem nestas zonas dependem de combustíveis fósseis com elevado teor de carbono para aquecimento, como o carvão e o gasóleo, devido às opções energéticas mais limitadas», realçam os investigadores.

Assim, «os roteiros RENOVERTY abordam estes desafios, apresentando medidas passíveis de apoiar as comunidades rurais, contribuindo para a diminuição das desigualdades e ajudando os cidadãos que mais necessitam de apoio. Além de sensibilizar e respeitar o ambiente rural, este projeto pretende contribuir para manter e promover o conhecimento local, a identidade cultural e a preservação da natureza», concluem. 

Neste âmbito, os especialistas estão a promover, até 7 de abril, um concurso que convida  municípios, agências de energia, peritos do setor e outras partes interessadas a unir esforços no combate à pobreza energética rural, aplicando os conhecimentos adquiridos, aproveitando simultaneamente as oportunidades de colaboração e as soluções comprovadas para a renovação rural. Mais informações sobre este concurso aqui. Universidade de Coimbra - Portugal


China pediu a Portugal reciprocidade na isenção de vistos

A China pediu a Portugal para facilitar a entrada dos seus cidadãos, uma vez que há uma isenção de vistos desde Outubro de 2024 para portugueses que se desloquem ao país asiático, disse o embaixador chinês Zhao Bentang

“A China já pediu à Europa, a Portugal, que facilite a entrada a cidadãos chineses. Se os portugueses podem ir muito facilmente à China para fazer negócios, os seus parceiros na China querem vir e não conseguem ou é muito difícil”, afirmou.

Em entrevista à agência Lusa, o diplomata chinês em Portugal referiu que o “Governo chinês espera que o Governo português, governos europeus também facilitem [entradas] aos turistas, comerciantes e empresários chineses no tema de vistos”.

“Sempre falámos com o Governo português. Eu falei muitas vezes. Acredito que durante a visita do ministro [dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel] também a parte chinesa falou deste tema”, acrescentou o embaixador, referindo-se à deslocação do chefe da diplomacia portuguesa ao país asiático.

Zhao Bentang recordou que desde outubro de 2024 os portugueses podem viajar para a China sem necessidade de vistos, em determinadas condições, na sequência de uma “política unilateral” e cujo final está previsto para dezembro.

“Mas [a continuidade da isenção] depende da apreciação, da procura. Acredito que quando chegar a altura, se for necessário, a parte chinesa pode considerar algum prolongamento, alguma renovação. Mas ainda não chegou a altura de avaliar”, referiu.

No final de setembro de 2024, a China anunciou o alargamento da política de isenção de vistos a cidadãos portugueses, em estadias até 15 dias, inserindo assim Portugal numa lista que abrangia outros 16 países europeus.

O alargamento, que foi confirmado em comunicado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, surge depois de Pequim ter incluído a Noruega, Eslovénia, Grécia, Dinamarca e Chipre na lista de países cujos cidadãos poderão permanecer no país asiático para turismo, negócios ou trânsito durante 15 dias, isentos de visto. A medida entrou em vigor no dia 15 de outubro de 2024 e vigora até 31 de dezembro de 2025.

Pequim tenta estimular o turismo internacional e o investimento estrangeiro, paralisados pela pandemia de covid-19, durante a qual a China impôs um encerramento quase total das fronteiras.

Em novembro de 2023, o país asiático anunciou que os nacionais de França, Alemanha, Itália, Países Baixos e Espanha beneficiariam de uma isenção de visto unilateral. Em março de 2024, alargou a política para estadias de até 15 dias a mais seis países europeus — Suíça, Irlanda, Hungria, Áustria, Bélgica e Luxemburgo.

Quando se assinala o 20.º aniversário da parceria estratégica global entre Lisboa e Pequim, decorre desde terça-feira a visita do chefe da diplomacia portuguesa à China e que “dá um sinal muito importante” porque se fala das “boas cooperações em todas as áreas”, desde a política à tecnologia, considerou Zhao Bentang. “O retorno de Macau [à China] é um exemplo de como resolver problemas através de negociações pacíficas entre países” e no âmbito do apoio português ao modelo “um país, dois sistemas, apoia Macau a desenvolver-se e a manter-se em estabilidade e a adaptar-se a novas realidades”, além de fomentar a qualidade das relações bilaterais.

Zhao Bentang notou ainda a “importância” da visita de Paulo Rangel por ser a “primeira” de um líder da diplomacia da Europa depois da recente sessão anual da Assembleia Popular Nacional. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”


Portugal - Equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde publica primeiro mapa celular do fígado embrionário

Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e do Instituto Pasteur, publicou recentemente o primeiro mapa celular do fígado embrionário, um órgão fundamental para o desenvolvimento das células estaminais do sangue ou hematopoiéticas. Os investigadores esperam que esta nova ferramenta contribua para a descoberta de mecanismos para multiplicar com sucesso células estaminais hematopoiéticas para uso terapêutico.



As células estaminais do sangue foram as primeiras células estaminais a serem isoladas e as primeiras a serem utilizadas com grande sucesso na prática clínica, nomeadamente nos transplantes de medula óssea para tratamento de mais de 80 doenças. Estas células estão presentes em zonas muito específicas da medula óssea do adulto e no sangue do cordão umbilical, mas, em ambos os casos, em número reduzido, o que limita o seu uso. Além disso, sempre que se tenta expandir o seu número fora do organismo (dividirem-se ex vivo) estas células começam a sofrer algum tipo de diferenciação, perdendo todo o potencial terapêutico inicial, ou seja, gerar de forma continuada qualquer outro tipo de célula.

É, por isso, urgente encontrar formas de multiplicar estas células em laboratório para que possam depois ser transplantadas com sucesso e em número. E isto depende de compreendermos quais os sinais e quais os controlos que as células vizinhas e o ambiente onde residem essas células exercem sobre elas ao ponto de as manterem neste estado.

As equipas de Perpétua Pinto-do-Ó, no i3S, e de Ana Cumano, no Instituto Pasteur, optaram por um caminho alternativo e decidiram estudar o fígado embrionário, local onde as células estaminais do sangue se desenvolvem antes de transitarem para a medula óssea, e conseguiu, pela primeira vez, mapear com detalhe a sua localização neste órgão do embrião.

“Se ao fim de tantos anos a medula óssea do adulto não nos tem dado uma resposta para a proliferação das células estaminais hematopoiéticas, talvez a solução esteja no fígado do embrião», adianta a primeira autora do trabalho, Márcia Mesquita Peixoto. Foi assim que “começámos a estudar em detalhe o microambiente em que estas células adquirem competências para reconstituir o sangue e o sistema imune do adulto e conseguimos não só mapear as populações conhecidas como também identificar novas populações das células do fígado embrionário e a sua localização relativa no tecido», acrescenta.

Estes resultados, explicam as investigadoras, representam “uma contribuição única para a compreensão do microambiente celular em que as primeiras células estaminais do sangue terminam a sua formação e aumentam o número em que irão estar disponíveis na medula óssea durante a vida adulta”.

A forma como o fígado embrionário se organiza, adiantam Perpétua Pinto-do-Ó e Ana Cumano, “é muito diferente da medula óssea. Por isso, talvez a chave para perceber o que controla a capacidade de divisão e o potencial regenerativo destas células poderá ser mais facilmente acedido se percebermos o que se passa no microambiente do fígado embrionário; talvez se encontre aqui a resposta que nunca foi encontrada na medula óssea. O primeiro passo, que foi a construção deste minucioso atlas celular, já está dado”.

Este trabalho, que resulta de mais de dez anos de investigação das duas equipas, foi capa da edição de fevereiro da prestigiada revista Journal of Experimental Medicine. Universidade do Porto - Portugal


Namíbia - Ministros passam a ser avaliados pelo desempenho

Novo governo com maioria de mulheres em lugares-chave, a começar pela pasta das finanças



Ericah Shafudah vai liderar as Finanças, ministério onde trabalhou 21 anos antes de se juntar ao Programa Alimentar Mundial, o que sinaliza a aposta na segurança alimentar. A indústria do petróleo e gás, emergente no país, fica sob responsabilidade directa da segunda mulher eleita Presidente em África, Netumbo Nandi-Ndaitwah.

Os ministros do novo governo da Namíbia vão passar a ser medidos pelo seu desempenho, alertou a recém-empossada Presidente do país, Netumbo Nandi-Ndaitwah, na primeira reunião do Executivo, constituído maioritariamente por mulheres e composto por ministros escolhidos "pela sua capacidade e vontade de trabalhar". No oitavo governo da República não haverá lugar para "business as usual", expressão que significa "fazer negócios como sempre", nem serão aceites atrasos na implementação dos projectos, avisou a Chefe de Estado, que tomou posse a 21 de Março.

"Ao integrar o gabinete e o executivo, todos vocês concordaram em fazer parte de um processo que envolve excelência, trabalho em equipa e tomada de decisões coletivas", declarou Nandi-Ndaitwah, de 72 anos, que prometeu aumentar os investimentos no sector agrícola e diversificar a economia focada nos recursos, numa tentativa de lidar com as elevadas taxas de desemprego, que afectam sobretudo os jovens.

A segunda mulher eleita Presidente em África, depois de Ellen Johnson-Sirleaf, na Libéria, e a primeira na África Austral exigiu uma "conduta ética e irrepreensível" aos ministros, deixando claro que o desempenho de cada um "será avaliado regularmente, a partir dos primeiros três meses", com base em indicadores de desempenho. "Haverá um painel onde irei monitorizar o progresso de cada projeto em implementação", esclareceu a diploma de carreira, que em 2017 assumiu a vice-presidência da SWAPO, partido que governa o país desde a independência, salientando que os namibianos "precisam de ter acesso a melhores serviços nos sectores social e económico".

Além de oportunidades de emprego, Nandi-Ndaitwah elencou como prioridades a habitação, educação e saúde, sem descurar a assistência às pequenas e médias empresas "para se tornarem competitivas" e fazerem crescer a economia.

O sector agrícola "deve ser reforçado para garantir a produção de alimentos" e assegurar a "segurança alimentar" e o sector mineiro "deve ser transformado para servir de catalisador para o processamento dos recursos naturais" e a criação de emprego. "A nossa economia deve ser devidamente planeada para servir melhor o povo", sublinhou a Presidente, que formou um governo reduzido, maioritariamente feminino, mas liderado por um homem, o primeiro-ministro Elijah Ngurare. Treze mulheres compõem o Executivo de 21 membros, com muitas delas a ocuparem lugares-chave, além da Presidente e da vice-presidente, Lucia Witbooi.

Ericah Shafudah vai liderar as Finanças, um ministério onde trabalhou durante 21 anos antes de se juntar ao Programa Alimentar Mundial, como vice-directora nacional, que assume também a gestão dos Subsídios Locais. E Selma Ashipala-Musavyi é a nova ministra das Relações Internacionais e Comércio. Entre as ministras, contam-se ainda Lucia Iipumbu, na chefia do Ministério do Interior, Imigração, Segurança e Protecção; Emma Theofelus, nas Tecnologias da Informação e Comunicação; Esperance Luvindao, na Saúde e Serviços Sociais; Emma Kantema, na Igualdade de Género e Bem-Estar Infantil.

Eliminar duplicações e reduzir a despesa pública

Para as Minas e Energia, Netumbo Nandi-Ndaitwah escolheu um homem, Natangwe Ithete, que assumirá também o cargo de vice-primeiro ministro e que terá a coadjuvá-lo, como vice-ministra da Industrialização, Minas e Energia, Gaudentia Kröhne. A gestão da indústria do petróleo e gás, emergentes no país, ficará sob a responsabilidade directa da presidência, que reduziu o executivo para 14 ministros e sete vices, ao fundir gabinetes e transferir pastas, com o objectivo de "eliminar duplicações, reduzir a despesa pública e melhorar a implementação dos programas nacionais de desenvolvimento".

O comércio passou para o Ministério das Relações Internacionais, os subsídios sociais ficam sob a responsabilidade do Ministério das Finanças para melhorar a entrega eficaz dos subsídios sociais aos beneficiários, eliminando estrangulamentos na sua distribuição nas 14 regiões do país". A pesca e os recursos marinhos foram transferidos para o Ministério da Agricultura, Água e Reforma Agrária para melhorar a gestão e o desenvolvimento sustentável das pescas e recursos aquáticos. A industrialização migrou para o Ministério das Minas e Energia, para garantir a implementação eficaz do impulso de industrialização nacional e diversificação económica, através de iniciativas de agregação de valor. Isabel Bordalo – Angola in “Expansão”


domingo, 30 de março de 2025

Cabo Verde - Livro "De Valor" de Manuelisa Cardoso chega ao público no Dia Internacional do Livro Infantil

Cidade da Praia - A psicóloga Manuelisa Cardoso vai, no dia 02 de Abril, data em que se celebra o Dia Internacional do Livro Infantil, lançar na Praia, o seu primeiro livro, “De Valor”, que visa transmitir valores essenciais às crianças.



Manuelisa Cardoso revelou à Inforpress, que a inspiração para escrever "De Valor" surgiu de uma grande amiga, para cujo filho costumava contar histórias.

Com o tempo, essas histórias tornaram-se memórias marcantes para a criança, que as guardou na mente mesmo após mudar-se para a Inglaterra.

"Um dia, a minha amiga ligou-me e disse que as minhas histórias deveriam ser partilhadas com outras crianças, pois o filho nunca se esqueceu delas", contou a autora.

Motivada por esse incentivo, Manuelisa Cardoso decidiu materializar as suas narrativas em livro.

A obra aborda temas fundamentais para o desenvolvimento infantil, como igualdade de género, bullying, trabalho infantil, separação de pais, o papel dos avós e dos professores na educação, além da meditação infantil.

"A minha intenção é passar valores que possam deixar marcas positivas e ajudar as crianças a crescerem com saúde mental. Acreditar que podemos dar desfechos positivos aos desafios da infância é essencial para nos tornarmos adultos saudáveis", explicou a escritora.

"Espero que este livro toque o coração das crianças, crie memórias afectivas e fortaleça os laços entre pais e filhos", destacou Manuelisa Cardoso.

A autora já planeia novos projectos literários e revelou que a sua próxima obra não será infantil, mas sim voltada para mulheres.

"Ainda não terminei, mas certamente, após este lançamento, irei finalizá-lo", adiantou.

"De Valor" estará disponível para venda no evento de lançamento, na cidade da Praia, proporcionando ao público a oportunidade de conhecer de perto a autora e a mensagem inspiradora que pretende transmitir através da sua escrita. In “Inforpress” – Cabo Verde


França - Embaixador de Portugal diz que o país tem de decidir o que quer fazer do ensino de português no estrangeiro

Na primeira entrevista que deu ao LusoJornal, quando assumiu as funções de Embaixador de Portugal em França, José Augusto Duarte disse que uma das suas prioridades era a questão do ensino da língua portuguesa neste país. Mais tarde, numa outra entrevista dizia que o Senegal tem mais alunos a aprender português do que a França. Agora, no fim da sua missão em território francês e antes de assumir funções de Embaixador de Portugal em Madrid, considera que, nesta questão do ensino de português “ainda não estamos lá”.

Na última entrevista que deu ao LusoJornal, foi confrontado com o facto desta questão não constar do Tratado bilateral recentemente assinado entre a França e Portugal, aquando da visita de Estado do Presidente Emmanuel Macron, mas garante que foi assinado um Acordo bilateral em matéria de ensino. “Não está no Tratado, mas concluímos também um acordo para o ensino da língua portuguesa em França e da língua francesa em Portugal que é uma revisão do Acordo bilateral de 1970. Faz parte dos 8 acordos que foram assinados por ocasião da visita do Presidente da República de França a Portugal, na cidade do Porto. É um dos 8 instrumentos legais assinados, só que… ainda não estamos no patamar desejável” confessou José Augusto Duarte.

Já noutras alturas, José Augusto Duarte tinha deixado entender que não estava satisfeito com este ponto da relação bilateral entre os dois países.

Portugal continua “preso” a um Acordo que foi assinado com a França ainda antes do 25 de Abril e que, apesar de ter sido revisto várias vezes, não tem permitido um avanço substancial nesta matéria. “Na minha opinião ainda não estamos lá. Este é o acordo possível neste momento, mas na minha opinião não é uma plena reciprocidade de tratamento, ou seja, Portugal continua a fazer um investimento de mais de 20 milhões de euros para o ensino da língua francesa em Portugal, no ensino público, e gasta mais de 6 milhões de euros aqui em França para a divulgação do ensino da língua portuguesa, com um estatuto complicado, porque nem sempre é integrado plenamente dentro do ensino oficial. Em grande parte, são aulas complementares àquilo que é o currículo normal de cada aluno” confirma o Embaixador de Portugal.

“Hoje em dia, a língua portuguesa não pode ser reduzida apenas à Comunidade portuguesa. Na minha opinião, a língua portuguesa é uma língua internacional, de trabalho, é uma das línguas que mais cresce no mundo inteiro, em termos de falantes e era bom termos mais alunos de português em França, sejam eles de origem portuguesa ou não, pouco importa, o que interessa é que não faz sentido, na minha opinião, com a proximidade afetiva que existe entre Portugal e a França, com a proximidade até de valores que nós temos, haver um estudo tão fraco da língua portuguesa aqui” assume José Augusto Duarte. “Isso também não é um trabalho para que se modifique de um dia para o outro, leva certamente anos, temos que contribuir pouco a pouco para esse objetivo”.

Mas o Diplomata português considera também que “é importante nós termos um debate interno em Portugal sobre o que queremos para a língua portuguesa em França: se é um acordo revisto como o acordo de 1970, que é essencialmente de carácter mais de assistência à Comunidade portuguesa e orientado para a Comunidade portuguesa, ou se queremos abdicar desse conceito e achar que hoje em dia a Comunidade portuguesa está também ela própria integrada dentro da sociedade francesa e então entrar no domínio da bilateralidade completa e da reciprocidade de tratamento”.

José Augusto Duarte considera que em Portugal isso ainda não está claro. “Há um debate, com correntes diferentes. Não tem a ver com partidos políticos. Dentro de cada partido existem correntes diferentes de pensamento sobre aquilo que se quer, que é uma atenção muito particular às Comunidades e ao mesmo tempo, querer também ter sentimento de reciprocidade. É um debate que temos que fazer e temos que consolidar e também estou convencido – estou firmemente convencido – que, quando um dia tivermos um consenso nacional, no nosso país, sobre o que queremos, aí estaremos maduros para combater aqui, para lutar por aquilo que queremos”.

José Augusto Duarte cessa esta semana as funções de Embaixador de Portugal em França. Carlos Pereira – França in “LusoJornal”


O caminho que eu quero








Vamos aprender português, cantando


O caminho que eu quero


Eu te desejo com todos 

os demônios do meu corpo 

quero refinar no sexo, 

mas o meu desejo é louco 

o meu desejo é animal 

com fantasias depressivas


Quero fugir pro deserto

espero o momento certo 

vou logo matar minha fome 

entrando dentro do teu íntimo

e destruir os fragmentos 

dos desejos que me fazem 


Quando então o tédio chegar 

e a tua lábia não me desnortear 

vou seguir vou seguir vou seguir o caminho 

que o homem para se tornar forte 

não pode evitar, é o caminho de ficar sozinho 

com os seus demônios contidos no Altar


Eu quero te amar com a certeza 

que tudo que eu sou lhe satisfará 

dormir e acordar bem tranquilo

sem o que provar 


Enquanto destros e canhotos 

se golpeiam aqui em baixo 

eu já sei que lá em cima 

é um só balai de gato meu

alternativo não desgasta o meu sapato 


Vou destruir dentro de mim 

Esse tal de fanatismo me reconstruir de novo

com um novo objetivo 

pois meu clube não entende 

o motivo por que eu brigo 


Quando então o tédio chegar 

e a tua lábia não me desnortear 

vou seguir vou seguir vou seguir o caminho 

que o homem para se tornar forte 

não pode evitar, é o caminho de ficar sozinho 

com os seus demônios contidos no Altar


Eu quero te amar com a certeza 

que tudo que eu sou lhe satisfará 

dormir e acordar bem tranquilo

sem o que provar vou seguir o caminho 

que o homem para se torna forte 

não pode evitar, é o caminho de ficar sozinho 

com os seus demônios contidos no Altar

 

Eu quero te amar com a certeza 

que tudo que eu sou lhe satisfará 

dormir e acordar bem tranquilo

sem o que provar


Tony Gambel - Brasil


sábado, 29 de março de 2025

Angola - Presente no seminário sobre Valor Económico da Língua Portuguesa

A cônsul-geral de Angola no ‎Porto, Portugal, Dulce Gomes, participou, quinta-feira, no Seminário sobre o Valor ‎Económico da Língua Portuguesa, a convite do Instituto do Mundo Lusófono

O objectivo do evento, de acordo com um comunicado de imprensa, foi discutir e aprofundar o valor da língua portuguesa no mercado dos negócios e de como aproveitar este potencial para fazer crescer as relações económicas e as empresas.

‎O encontro sob o tema “O Valor Económico da Língua Portuguesa” contou com importantes oradores com ligações e conhecimento do ‎mundo dos negócios bem como personalidades diplomáticas e entidades políticas.

‎Os prelectores concluíram que as projecções para o final do século apontam que no continente africano se registará o maior aumento de falantes da língua portuguesa, com forte contribuição de Angola e Moçambique, que deverão ter nessa altura, populações superiores a 170 milhões e 130 milhões de pessoas, respectivamente.

‎Na ocasião, a cônsul-geral de Angola no Porto considerou o tema do seminário actual, pelo facto do espaço lusófono comportar uma comunidade de cerca de 280 milhões de falantes do português espalhados pelos quatro continentes.

‎Para a diplomata, os falantes têm a ‎responsabilidade de preservar o português como um património comum nas suas diferentes variantes, falado em Angola, Brasil, Cabo Verde, ‎Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, facto ‎que constitui uma riqueza para a lusofonia. In “Jornal de Angola” - Angola ‎


Portugal - Greve nas escolas de Timor-Leste, Moçambique, Angola e São Tomé e Príncipe

Os professores nas Escolas Portuguesas de Timor-Leste, Moçambique, Angola e São Tomé e Príncipe iniciaram esta quinta-feira uma greve de dois dias pela “equidade de condições laborais entre docentes”



A paralisação, convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.TO.P), decorreu até esta sexta-feira.

Para o sindicato, esta é uma “forma inédita” dos docentes das Escolas Portuguesas no Estrangeiro se unirem num protesto.

Segundo o S.TO.P, depois de os professores da Escola Portuguesa de Luanda “terem realizado uma greve de cinco dias com elevada adesão, na última semana de fevereiro, a luta expande-se agora a mais escolas de forma conjunta, revelando que os problemas são generalizados nas mesmas”.

Em causa está o facto de os docentes contratados e os dos quadros das Escolas Portuguesas no Estrangeiro da rede pública (EPERP) do Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) – apesar de terem finalmente obtido o estatuto de efetividade -, enfrentarem “condições laborais inferiores às dos colegas em Portugal e dos seus colegas de escola que se encontram em mobilidade estatutária”, refere o sindicato.

O S.TO.P salienta que o custo de vida naqueles países é muito elevado, que o acesso aos cuidados de saúde é difícil e o acompanhamento à família complexo e oneroso, defendendo que os professores que agora irão fazer esta greve estão, “na prática, a batalhar para que o futuro dos docentes nestas escolas não seja de precariedade”.

E realça que os professores têm contado, algumas vezes, com o esforço das direções das próprias escolas para colmatar a diferença salarial, a falta de um subsídio de auxílio de suporte ao custo de vida e os encargos com a educação dos filhos, diferentemente do que é garantido por lei, de forma justa, aos colegas em mobilidade nas mesmas escolas. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


Cabo Verde - “Mais um melodia” é o álbum de estreia da artista Cláudia Sofia

O CD é composto por 10 faixas, todas da autoria da cantautora

O álbum de estreia intitulado “Mais um melodia” da cantora e compositora Cláudia Sofia foi lançado nas plataformas digitais. O CD é composto por 10 faixas, todas da autoria da cantautora.

Segundo um comunicado da produtora Insulada, este lançamento marca um momento especial na trajetória da artista natural de São Vicente, “consolidando a sua identidade musical e apresentando ao público um trabalho repleto de sonoridades que refletem as suas raízes cabo-verdianas e influências globais”.

“Monte Cara”, “Amor Fluri”, “Darlina”, “Nha Xodó”, “Li Tá Ama”, “Fogo di Aniz”, “Crush”, “Sapatinho da lika”, “Mais um Melodia” e “Dona Guara” são os singles que compõem o álbum “Mais um melodia”. A maioria das músicas foram gravadas em 2023 e as restantes em 2024.

O trabalho discográfico foi produzido pelo alemão Markus Leukel e conta com a participação de músicos como Lúcio Vieira, José Afonso, Ronny Rodrigues e instrumentações que vão do tradicional às cordas de violinos ou aos sopros do trombone e do saxofone.

Além do álbum, a mindelense também lançou o seu sítio oficial, um espaço onde é possível acompanhar as novidades sobre datas de concertos, lançamentos musicais e conteúdos exclusivos.

A jornada de Cláudia Sofia na música começou desde tenra idade, tendo aos 4 anos subido ao palco para interpretar a canção “Ná Óh Menino Ná” de Eugénio Tavares. Estudou na escola Praça Nova, onde desenvolveu a sua formação artística. Aos 7 anos, representou o arquipélago num concurso em Portugal ao qual voltou quatro anos mais tarde, tendo sido a vencedora.  Aos 10 anos, foi presenteada pelo pai com o seu icónico “violão rosa”, que se tornou o seu aliado na composição e interpretação musical. No ano seguinte venceu o Pequenos Cantores em São Vicente

A artista tem sido uma presença assídua na cena musical de Mindelo, tendo já atuado na capital do país numa gala organizada pela Fundação Dret.u. Além disso, a convite do Banco Mundial, compôs e apresentou a música “Biodiversity” no evento “Country Climate Development Report”.

Em 2024, a cantautora fez a sua primeira digressão europeia, totalizando 21 concertos na Alemanha, Áustria e Portugal. Segundo a Insulada, o sucesso da digressão garantiu novos espetáculos para 2025 nestes países. Aline Oliveira – Cabo Verde in “Balai Cabo Verde”


sexta-feira, 28 de março de 2025

Cabo Verde – Artista Zulu lança o seu primeiro single "Cise é Testemunha"

Mindelo - A artista cabo-verdiana Zulu lançou nas plataformas digitais o seu primeiro single "Cise é Testemunha", uma homenagem a Cesária Évora, reconhecida mundialmente como a maior embaixadora da música e cultura de Cabo Verde.



De acordo com a produtora Harmonia, mais do que um tributo, "Cise é Testemunha", que antecede ao lançamento do primeiro EP da cantora, celebra a riqueza cultural cabo-verdiana, a diversidade do seu povo e a história da nação. 

“A música nasce de uma fusão única entre elementos modernos do jazz e a liberdade musical dos instrumentistas, combinando-se harmoniosamente com ritmos tradicionais como o tabanka e o funaná. A canção destaca a beleza e diversidade do povo cabo-verdiano, trazendo à tona a reflexão sobre o respeito às etnias e a importância do bem comum entre os povos”, refere a Harmonia.

De acordo com a produtora, no "DNA cabo-verdiano convergem influências de várias origens, e este tema é um chamado à consciência das raízes genéticas e culturais deste povo”. 

Conforme a mesma fonte nesta música, que representa a primeira composição conjunta de Zulu com o músico e produtor Hernâni Almeida, ambos procuram estabelecer uma conexão entre diferentes gerações, resgatando a essência do passado e transportando-a para o presente de forma inovadora em uma sonoridade única.

“Além de sua interpretação Zulu também assina a letra de Cise é Testemunha cuja construção foi orientada pela forma falada e enriquecida com harmonias idealizadas por Hernâni Almeida”, destacou ainda a mesma fonte, acrescentando que o processo criativo aconteceu nos momentos de estúdio na Harmonia, em São Vicente, durante a fase inicial de definição das direções musicais do projecto. In “Inforpress” – Cabo Verde


Para recordar o famoso “caso Padilla”

Luta do poeta Heberto Padilla contra a opressão do regime cubano permanece viva

      

Ao revirar papeis e livros, encontrei uma entrevista que fiz em dezembro de 1988 com o poeta cubano Heberto Padilla (1932-2000). Foi uma entrevista feita por troca de correspondência, ainda a uma época em que não se dispunha dos meios digitais. Na carta que me enviou por correio com as respostas para as perguntas que eu lhe havia remetido, Padilla dizia que gostaria muito de conhecer melhor o Brasil, já que só tivera a oportunidade de passar algumas horas no Rio de Janeiro, a caminho de Buenos Aires, onde iria participar de uma feira de livros, em 1985.

Era uma época em que estava para lançar o seu livro La Mala Memoria (Barcelona, Plaza & Janes Editores, 1989) e aproveitava a oportunidade para me pedir que fizesse gestões com editores brasileiros para ver se publicavam por aqui sua obra. Tentei algumas editoras, mas ninguém editor manifestou interesse. Meu relacionamento com Padilla, que sempre foi à distância, deu-se porque já havia algum tempo que eu colaborava com o tablóide literário Linden Lane Magazine, que era editado por sua mulher, a poeta Belkis Cuza Malé (1942), desde 1985, em Princeton, Nova Jersey, Estados Unidos.

Nesta entrevista, que foi publicada no Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo, em 4 de fevreiro de 1989, nas páginas 4 e 5, o poeta faz um resumo das lembranças que guardava do famoso “caso Padilla”, episódio que se deu em 1971, à época em que lançara o livro Provocaciones, poemas. Antes disso, porém, em 1968, ganhara o grande prêmio da União Nacional dos Escritores e Artistas de Cuba com o livro Fuera del Juego, no qual não ocultara mazelas das autoridades cubanas de então. 

Em 20 de março de 1971, seria detido, com sua mulher, acusados de “atividades subversivas”, até que, em razão de pressões internacionais, como confessa na entrevista abaixo, foi solto 37 dias mais tarde, depois de assinar uma “declaração de autocrítica” em que se assumia como “contra-revolucionário”. A “declaração de autocrítica” de Padilla, porém, haveria de suscitar, na América Latina, América do Norte e Europa, reações de intelectuais como Mario Vargas Llosa (1936), Julio Cortázar (1914-1984), Gabriel García Márquez (1927-2014), Susan Sontag (1933-2004) e Jean Paul Sartre (1905-1980). Diante das pressões, o regime liderado por Fidel Castro (1926-2016) reconsiderou a decisão, procurando dar um fim ao chamado “caso Padilla”. 

No entanto, embora liberto, o poeta só teria permissão para deixar o país em 13 de março de 1980, quando então mudou-se para os Estados Unidos, por intercedência do senador norte-americano Edward Kennedy (1932-2009). Em 1981, lançaria o romance En mi jardin pastan los héroes (Barcelona, Editorial Argos Vergara), que, segundo alguns críticos, seria uma referência jocosa e dissimulada a Fidel Castro, a quem muitos cubanos chamavam às escondidas de El Caballo (O Cavalo). Essa referência, porém, não está confirmada nesta entrevista.

Depois de seu primeiro casamento com Bertha Hernandez, com quem teve três filhos, Giselle, Maria e Carlos, casou-se com  Belkis Cuza Malé , com quem teve Ernesto. Seu casamento com Belkis Cuza Malé terminou em divórcio, em 1995. Em 2018, Benigno S. Nieto, seu amigo, lançou o livro Heberto Padilla – el poeta que engañó a Fidel Castro (Princeton, Linden Lane Press). E, em 2022, o cineasta espanhol Pavel Giroud produziu o documentário El Caso Padilla, o que prova que até hoje o assunto ainda repercute.

Para melhor compreensão do texto, passei a entrevista para o português e coloquei onde foi possível as datas de nascimento e morte das personagens citadas.


1 – O que fazias antes da revolução cubana e o que fizeste depois?

Padilla – Antes da revolução, eu trabalhava profissionalmente como jornalista, tendo atuado em jornais, revistas e emissoras de rádio e também na televisão, para a qual escrevi vários programas dramáticos. Ao mesmo tempo, fazia literatura: poemas, ficções, ensaios. Mas, em 1956, saí de Cuba exilado e estive em Nova York até o triunfo da revolução. Nesta cidade, incorporei-me à agência Prensa Latina, mas quase de imediato me mudei novamente para Cuba, onde continuei trabalhando com a agência e no jornal Revolución. Neste último, fui editor da página de noticiário internacional ao mesmo tempo em que colaborava intensamente com o suplemento Lunes de Revolución, que era dirigido pelo escritor Guillermo Cabrera Infante (1929-2005). Em 1960, fiz parte de uma delegação de jornalistas cubanos que foram convidados para uma viagem a Grã-Bretanha. Ao meu regresso, depois de uma estada que se prolongou por um mês em que transmiti informações constantes sobre a nossa visita a Londres, fui nomeado chefe dos correspondentes da agência Prensa Latina em Grã-Bretanha. Precisamente em Londres nasceu minha filha María. Depois, e já com duas filhas, fui nomeado correspondente em Moscou da revista Bohemia e do jornal Revolución, conjuntamente com o jornalista Juan Arcocha (1927-2010), e, ao mesmo tempo, também trabalhei no semanário soviético Novedades de Moscú, que havia lançado sua edição em espanhol. Foi sobretudo este trabalho que me permitiu conhecer de perto a vida soviética em um de seus momentos mais interessantes. Fiz amizade com numerosos artistas e escritores: Evgueni Entushenko (1933-2017), Bella Akhmadulina (1937-2010), Yuri Kazakov (1927-1982), Yuri Vasiliev (1939-1999), entre outros. Fiz a primeira antologia de jovens poetas cubanos que se publicou em russo. Foi uma estada inesquecível e enriquecedora. Lá conheci o comunismo real, suas virtudes e seus defeitos. Era a época de Nikita Khrushchov (1894-1971) e todas as tremendas deformações que o stalinismo criou na sociedade soviética. Para mim, foi também uma experiência desoladora, pois o entusiasmo da revolução cubana não nos permitia escutar as advertências do XX Congresso do Partido Comunista da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A imprensa cubana não fazia eco das mudanças que estavam ocorrendo na União Soviética. De Fidel Castro para baixo, todo mundo na direção política da revolução continuava enamorado de Josef Stalin (1878-1953). Carlos Rafael Rodríguez (1913-1997) chegou a dizer num famoso discurso que “os antistalinistas de hoje são os anticomunistas de ontem”. E, durante a revolução, não fui apenas jornalista, mas membro do conselho de direção do Ministério de Comércio Exterior, gerente de uma de suas empresas, representante, com sede em Praga, desse mesmo Ministério nos países socialistas e escandinavos, além de diretor internacional do Conselho Nacional de Cultutra. Fiz muitas coisas, pois numa revolução a gente se converte numa pessoa de múltiplas atividades.


2 – Mas, enfim, o que foi o “caso Padilla”?

Padilla – Foi um erro desnecessário, em primeiro lugar. Tudo surgiu porque o júri do Prêmio Nacional de Literatura da União de Escritores e Artistas de Cuba, do qual faziam parte o poeta cubano José Lezama Lima (1910-1976) e o crítico inglês Jack N. Cohen (?), entre outros, outorgou-me por unanimidade o prêmio de 1971. Por outro lado, ninguém foi declarado finalista. Meu livro Fuera del Juego foi qualificado pela direção executiva da União de Escritores como um texto crítico, amargo e, por extensão, contra-revolucionário. Realmente esta era a opinião da política, não da União de Escritores. Nicolás Guillén (1902-1989), que era o presidente da entidade, negou-se a participar da ofensiva contra a minha pessoa, razão pela qual a polícia decidiu que o vice-presidente da União, José Antonio Portuondo (1911-1996), tomasse o assunto em suas mãos. De maneira que não houve entrega de prêmio nem recepção, mas apenas ataques dos “duros” no poder. O livro tampouco seria publicado, fato que também ocorreu com minha mulher, Belkis Cuza Malé, que concorreu no gênero de biografia. Quando o escândalo chegou aos ouvidos de Fidel Castro, este decidiu que se havia de publicar imediatamente Fuera del Juego com um prefácio em que apareceria a opinião do júri e da direção executiva da União de Escritores. Dois membros negaram-se a assinar o prefácio – ambos haviam votado a favor de meu livro –, os poetas José Lezama Lima e José Zacarias Tallet (1893-1989). O livro foi publicado de imediato e o público, que conhecia o escândalo, esgotou a edição em poucas horas.  

O paradoxo nestes fatos é que a maioria dos poemas que mais foram questionados pela polícia política (lá essa polícia exerce funções de vigilância e censura) havia sido publicada na revista Casa de las Américas e no órgão oficial do Conselho Nacional de Cultura, sem que ninguém fizesse qualquer objeção ao seu conteúdo. A razão do ataque a minha pessoa era outra: eu havia opinado abertamente nas páginas do jornal dos jovens comunistas, Juventud Rebelde, sobre os perigos que cercam qualquer mudança revolucionária. E, evidentemente, mencionei o stalinismo e defendi meu amigo Guillermo Cabrera Infante dos ataques da polícia política que terminaram por provocar sua saída do Ministério de Relações Exteriores. Naquela época, Guillermo era conselheiro cultural na Bélgica. Naquele artigo, ataquei diretamente a polícia. Isto suscitou a resposta da direção do jornal, mas se permitiu que eu respondesse. Pouco depois, essa direção foi substituída e meu artigo apareceu com o título “Resposta a uma redação de saída”.

Naquele momento eu tinha o apoio de homens como Juan Marinello (1898-1977), Carlos Franqui (1921-2010) e Alberto Mora Becerra (?) e, antes disso, de Ernesto Che Guevara (1928-1967), com quem discuti em mais de uma ocasião sobre os problemas da construção do socialismo em Cuba, mas o poder destes homens foi decrescendo como por arte de magia e Marinello, presidente do velho Partido Comunista, Franqui, fundador do diário Revolución, Alberto Mora, comandante e ministro de Comércio Exterior, e até Guevara, já falecido então, que fora ministro das Indústrias, eram olhados com reserva. Não influíam. Os “duros” continuavam esperando a oportunidade para impor suas ideias. Naquele momento, sonhavam com uma revolução cultural à maneira chinesa e queriam que o exército tomasse as rédeas da vida cultural. Raúl Castro (1931) converteu-se em chefe deste movimento. A revista Verde Olivo, órgão oficial do exército cubano, foi a tribuna na qual fui atacado em um extenso artigo intitulado “Las provocaciones de Heberto Padilla”, bem como todo o grupo de escritores e poetas que tinham participado do suplemento literário Lunes de Revolución, considerado liberal e cosmopolita. A “revolução cultural” entrou em cena. Os artistas teatrais, os músicos, os pintores e os escritores foram expulsos de seus postos de trabalho sob a alegação de que não “preenchiam os parâmetros” de artistas revolucionários. No lugar deles, ascenderam aqueles que a polícia política queria.


3 – Como viveste depois do “caso Padilla” e como se deu a tua saída de Cuba? Quem te ajudou? Dizem que Gabriel García Márquez teve participação decisiva nisso? É verdade?

Padilla – Vivi em prisão domiciliar durante nove anos. Todos os meus passos estavam seguidos pela polícia. Na ocasião de uma de suas visitas a Cuba, consegui comunicar-me com García Márquez no Hotel Riviera, contei-lhe minha situação e pedi sua ajuda. Ele, entre outros, ajudou-me.


4 – Como é a sua vida nos Estados Unidos hoje?

Padilla –   Aqui faço várias coisas. Dou aulas de literatura latino-americana e escrevo para jornais e revistas. Tenho uma coluna fixa que se publica nos Estados Unidos e nos países latino-americanos. 


5 – Um desses periódicos é o Linden Lane Magazine?

PadillaLinden Lane é obra de minha mulher, Belkis Cuza Malé. Ela o dirige e diagrama. É um periódico literário independente que se mantém com subscrições e anúncios. Nós o temos mantido há sete anos.


6 – Como poeta, qual é a principal influência em tua obra? Como era o movimento poético em teu tempo em Cuba?

Padilla – Desde menino, quando aprendi o idioma, a poesia me atraiu consideravelmente. Minha estada juvenil nos Estados Unidos deve ter tido um papel importante. Daqui vem o amor por uma poesia concreta, comunicativa. A poesia que se escrevia na América hispânica, quando eu comecei a escrever meus primeiros textos, era deplorável.  O hermetismo e a grandiloquência governavam a cena literária. Lamentavelmente, não tivemos um Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).


7 – Podes nos contar a história de tua novela En mi jardin pastan los héroes

Padilla – Trata-se de minha segunda novela, escrita há mais de vinte anos. O título é um verso do poeta salvadorenho Roque Dalton (1935-1975). Não é uma novela de tese; eu diria que é uma novela em que o amor a uma mulher e a uma esperança política se debatem contra o fundo de uma Cuba revolucionária. A novela foi publicada na Espanha, Estados Unidos, França, Alemanha, Itália e Suécia e tem sido compreendida perfeitamente. É curioso que na Espanha venderam-se cem mil exemplares e em Buenos Aires trinta mil. Estive no lançamento argentino em 1985 e fiquei surpreso com o fato de a edição ter se esgotado em uma semana. Mas em Cuba não foi publicado. Os   dirigentes políticos cubanos pensam que é uma obra pessimista. Não sei porquê. Eu me baseei em um fato real, na história do ciúme que sente um homem pelo passado de sua mulher. Ela havia sido amante de um dirigente revolucionário que morre em combate e cuja imagem pública acossa este homem até levá-lo à beira da loucura. Conheci este casal e fui testemunha da tragédia. Claro, a novela não é só isso. Há outras vidas, outros países, outras aventuras. O verdadeiro personagem é Havana, a Havana revolucionária com seu turismo revolucionário e suas tensões.


8 – Como está hoje a literatura cubana no exílio? E a literatura em Cuba hoje? Tens contato com ela?

Padilla – O único autor de prestígio que permaneceu em Cuba é Nicolás Guillén, velho, enfermo e marginalizado. O resto está no exílio. Pensa em Guillermo Cabrera Infante, Reinaldo Arenas (1943-1990), José Triana (1931-2018), Eduardo Manet (1930), Belkis Cuza Male, só para citar alguns nomes. O que se escreve hoje em Cuba é uma literatura oficial com uma temática exclusivamente política, mas, obviamente, há muitos jovens rebeldes que fazem uma obra clandestina à altura da nossa de melhor tradição. Eu recebo constantemente textos de Cuba que conseguem sair clandestinamente do país e parecem notáveis.


9 – Pensas em voltar a Cuba? Tens esperança? E que te parece como será Cuba sem Fidel? E a sucessão de Fidel? O regime haverá de se abrandar?

Padilla – No ano passado, em Madri, recebi um convite para visitar Cuba. O primeiro secretário e o conselheiro cultural da Embaixada de Cuba em Madri fizeram uma entrevista com o novelista espanhol J.J. Armas Marcelo (1946) e pediram-lhe para que me comunicasse o convite. Em seguida, tive uma entrevista com ambos funcionários na presença de Armas Marcelo. Os cubanos me disseram que era hora de terminar com o “caso Padilla”, mas eu os adverti dizendo que era melhor esperar que se publicasse meu último livro intitulado La Mala Memoria – que sairá em vários países no mês de março de 1989, pois ali conto em detalhes o que foi verdadeiramente o “caso Padilla”. Este caso aconteceu há quinze anos e a revolução já completou trinta. Todos temos envelhecido. A vida cubana também se fez mais velha e trágica. Em alguns lugares, ao fim de trinta anos, ainda conserva sua aureola romântica, mas os únicos que podem falar daquela revolução são os cubanos que a fizeram e que a sofrem. Creio na necessidade de justiça social, mas o comunismo não conseguiu impor-se em nenhuma parte. Na União Soviética e na China compreendeu-se isto, mas Castro segue empenhado numa ortodoxia staliniana que só aumenta o desespero e a miséria de Cuba. É triste, mas é assim. Se Castro desaparecesse, terminaria com o projeto de um sistema que nunca conseguiu implementar em Cuba. Algum dia saberemos melhor que hoje.


10 – Estás escrevendo uma nova novela ou outro livro de poemas?

Padilla – Bem, depois de La Mala Memoria, que será editada dentro de dois meses, tenho prontos outra novela, Prohibido el gato, e um livro de poemas, Herencias. Adelto Gonçalves - Brasil

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Adelto Gonçalves, jornalista, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Fernando Pessoa: a Voz de Deus (Santos, Editora da Unisanta, 1997); Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003, São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1981; Taubaté-SP, Letra Selvagem, 2015), O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo – 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br


Moçambique - Intervenção da Igreja Católica na guerra colonial retratada em livro

Severino Ngoenha e Padre José Luzia defendem que há uma necessidade de se revisitar a história da intervenção da Igreja Católica na vigência do colonialismo português em Moçambique, numa altura em que se vive a terceira vaga da colonização. Os dois falavam durante o lançamento da obra “Moçambique: da colonização à guerra colonial, a intervenção da Igreja Católica”.



Uma obra escrita por dois escritores portugueses, Manuel Vilas Boas e Amadeu de Araújo, que retratam a intervenção da Igreja Católica no período colonialismo português em Moçambique. Uma intervenção que ajudou o país a perceber a ligação que existia entre a religião e a política.

Padre José Luzia, um dos entrevistados no livro é convidado a fazer comentários no lançamento do livro, disse que havia uma ligação directa entre a política e a religião, tal como a relação entre Dom Manuel Vieira Pinto, então Bispo de Nampula, e Samora Machel, então presidente da República.

“Quero dizer, o testemunho que temos, sobretudo do Vieira Pinto e o meu, não é tanto do tempo colonial. Atenção, que o Vieira Pinto ainda ficou até 2001. Portanto, é toda a relação de Vieira Pinto com Samora Machel”, disse o Padre José Luzia.

O sacerdote revelou ainda que o conteúdo do livro deve levar os leitores a uma percepção profunda da ligação entre religião e política. “Neste momento, nós precisamos de, ao ler este livro, perceber a profundidade, por um lado, do Evangelho de Jesus, porque agora às vezes aparece aí nas redes sociais que eles vieram com o Evangelho, mas ficaram com a terra e nós ficamos com a religião. Não é verdade”, revela. 

E dá exemplo do que acontece com o próprio, quando diz que “aquilo que sou, politicamente, e sou profundamente político, não sou capaz de fazer uma homilia sem meter a mão na política. Não sou capaz. Porque, de facto, a fé e a política estão dentro de mim como alguma coisa que actua permanentemente. E eu não sou um crente a olhar celestialmente para as nuvens. Eu sou crente na conjuntura, e por isso fui o primeiro a ser expulso de Moçambique, a seguir à independência”.

Já Severino Ngoenha, que foi chamado para fazer a apresentação do livro, começou por dizer que  as apresentações dos livros não têm que dizer o que os autores querem trazer, “têm que dar razões para as pessoas irem ler livros”.

Ngoenha disse que o livro “Moçambique: da colonização à guerra colonial, a intervenção da Igreja Católica” é um convite para rever uma parte da história moçambicana, mas também para revisitar a historiografia nacional.

“Estamos a 150 anos da terceira vaga da colonização, aniversário da escravatura, estamos a 50 anos de independência, o que foi a missão cristã. Recordar-se que em 1962, Paulo VI foi o primeiro a receber Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos, a dizer que, de um lado, o cristianismo não tem nenhuma novidade para os povos africanos, porque afinal de contas, a primeira terra do cristianismo foi a África, desde o primeiro século do cristianismo, e em segundo lugar a dizer que é legítimo que os africanos lutem pela independência, e foi a primeira grande personalidade a levantar-se contra a colonização e o aparecimento de libertação. Então, a Igreja tem os seus pecados, tem as suas virtudes, tem uma historiografia complexa e muitas vezes é tomada com demasiada simplicidade. Então, isto é um convite para revermos uma parte da nossa história e um convite da historiografia nacional para tomar a sério este tema”, revelou o filósofo.

O lançamento do livro, que já está à venda nas livrarias, contou com a participação de académicos, religiosos e estudantes. Elísio Uamusse – Moçambique in “O País”


Casamansa - Uma nação com uma história colonial formatada ainda em busca da autodeterminação

É imperativo, hoje mais do que nunca, compreender que a questão da Casamansa não pode ser reduzida a um simples conflito regional ou económico. Por trás desta luta secular está a história de uma nação, uma nação cujas fundações remontam a muito antes da integração forçada no Senegal sob o domínio colonial francês. Uma história há muito ignorada pelas elites políticas e pela mídia dominante, que preferem reduzir este conflito a uma simples rebelião interna, longe das raízes profundas que explicam a sua persistência.



Uma nação acima de tudo, ignorada e negada

Sob o jugo da colonização, Casamansa não era uma “região” do Senegal. Era uma nação independente, com fronteiras naturais e um povo unido por uma identidade política e cultural distinta. Os seus limites geográficos estendiam-se do Oceano Atlântico até às margens do Rio Falémé, perto da atual fronteira com o Mali. Casamansa não foi anexada por razões de desenvolvimento ou estratégia geopolítica, mas por uma decisão puramente administrativa das autoridades coloniais francesas, que ignoraram a história e as especificidades deste povo. Esse apego, imposto sem consulta, transformou uma sociedade orgulhosa e independente numa mera "região" marginalizada do Senegal, um apego que, mais de sessenta anos após a independência, continua a alimentar uma profunda divisão entre o povo de Casamansa e os senegaleses.

Anexação forçada: uma ferida aberta

As fronteiras traçadas pelos colonizadores franceses eram arbitrárias. Eles ignoraram as realidades sociais, culturais e históricas dos povos que governavam. Ao integrar a Casamansa no Senegal sem o consentimento dos seus habitantes, a França cometeu uma grave injustiça. Essa anexação forçada não apenas violou os direitos do povo da Casamansa, mas também semeou as sementes de um conflito que, após a independência em 1960, continuou a crescer em escala. É fundamental entender que, além das desigualdades económicas e das promessas não cumpridas, a causa do povo de Casamansa é, acima de tudo, um clamor pelo reconhecimento do seu direito à autodeterminação, pela sua dignidade como um povo distinto.

Um povo na procura de reconhecimento e dignidade

Os cidadãos da Casamansa não estão apenas exigindo maior autonomia económica. A luta deles é muito mais ampla: diz respeito ao reconhecimento de sua identidade política, cultural e histórica. Eles não estão simplesmente a procurar investimentos ou melhores condições de vida. O que eles exigem é respeito fundamental aos seus direitos como povo, um respeito que começa com o reconhecimento da sua história. Por muito tempo, o Estado senegalês, herdeiro de uma divisão colonial injusta, continuou a considerar Casamansa como uma "região rebelde", em vez de entender que se trata de uma nação inteira, cujas aspirações legítimas não podem ser ignoradas.

Casamansa: uma nação na procura do seu destino

O destino da Casamansa não se limita à construção de estradas, pontes ou infraestrutura. Esta não é uma questão de subdesenvolvimento a ser resolvida por medidas económicas. Trata-se de restabelecer a verdade histórica e reconhecer que esta nação foi destituída de sua autonomia e poder pelas decisões arbitrárias dos colonizadores. O processo de paz em Casamansa nunca poderá ser alcançado até que esta injustiça fundamental seja reconhecida. O Senegal não poderá reivindicar uma verdadeira reconciliação com a Casamansa enquanto continuar a tratar esta região como uma simples subdivisão administrativa.

A urgência do reconhecimento

A paz em Casamansa nunca poderá ser alcançada por meio de repressão militar ou promessas vazias de desenvolvimento económico. Isso requer uma profunda consciência e um diálogo político sincero, baseado no reconhecimento de uma verdade histórica: Casamansa foi anexada contra a sua vontade, e este povo tem direito à autodeterminação. Somente reconhecendo os direitos históricos do povo de Casamansa poderemos iniciar um verdadeiro processo de cura e reconciliação.

Uma nação por direito próprio

Para o Senegal, mas também para a África Ocidental como um todo, o reconhecimento de Casamansa como uma nação independente é essencial. A solução para este conflito não está em esquecer ou minimizar a história colonial, mas em compreender que a Casamansa foi anexada pela violência, e que essa violência continua a marcar a história do povo casamansês O reconhecimento dessa história ajudará a construir uma paz duradoura, finalmente dando a este povo o lugar que ele merece na comunidade das nações.

Casamansa não é apenas uma “região”. É uma nação independente, cuja história foi pisada e cuja voz, há muito ignorada, continua a exigir justiça. Para que a paz seja possível, é essencial reconhecer esta verdade histórica e admitir a injustiça original: a da anexação de um povo soberano pela força. Somente este reconhecimento pode abrir o caminho para uma verdadeira reconciliação e um futuro compartilhado. Antoine Bampoky – Casamansa in “Journal du Pays”


quinta-feira, 27 de março de 2025

Macau - Amélia António exorta MNE a “explicar” posição de Portugal em relação à China

A presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM) defendeu, numa antecipação à visita de amanhã do ministro dos Negócios Estrangeiros português ao território, a importância de Paulo Rangel esclarecer a comunidade portuguesa sobre o posicionamento do Governo relativamente à China.



“Estamos aqui, sofremos as consequências dessas relações [entre Portugal e China], boas ou más. Tivemos relações muito próximas durante muito tempo, o que se alterou com a covid. Ainda não vi as coisas voltarem a ser como eram, e penso que era importante o senhor ministro explicar qual é a posição”, declarou à Lusa Maria Amélia António, referindo que Portugal não tem de “alinhar fielmente com tudo o que se diz na Europa e, sobretudo, nos EUA”, salientou.

Antes da pandemia, lembrou, existia “comunicação permanente” e “muito intercâmbio” entre as autoridades portuguesas e chinesas. Hoje é perceptível um “endurecimento relativamente aos portugueses” em matéria de imigração em Macau, declarou Maria Amélia António, sublinhando, porém, não poder afirmar categoricamente se a posição está relacionada com “esse afastamento” entre a China e o Ocidente.

As autoridades de Macau não aceitam desde o ano passado novos pedidos de residência no território para portugueses, para o “exercício de funções técnicas especializadas”, permitindo apenas justificações de reunião familiar ou anterior ligação ao território. As orientações eliminam uma prática firmada após a transição de Macau, em 1999. A alternativa para um nacional português garantir o Bilhete de Identidade de Residente (BIR) passa por uma candidatura aos programas recentes de captação de quadros qualificados. Outra hipótese é a emissão de um ‘blue card’, autorização limitada ao vínculo laboral, sem os benefícios dos residentes, nomeadamente ao nível da saúde ou da educação.

Estas limitações têm afectado a CPM na contratação de profissionais para integrarem a Escola de Arte e Ofícios. Mencionando a relação estratégica entre a China e o universo de língua portuguesa e o interesse de Pequim na língua portuguesa, a líder associativa lamentou a postura “um pouco contraditória”.

“Não podemos fazer omeletas sem ovos, nós que estamos aqui e que trabalhamos com a cultura portuguesa e com a língua portuguesa, temos muita dificuldade em ter pessoas que substituam aquelas que foram saindo. Saíram muitos portugueses de Macau, e trabalhar nestas áreas com essa falta [de pessoas com essas qualificações] é muito complicado”, rematou.

Também o presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) considerou os novos obstáculos à residência de portugueses “uma questão importante”, embora admita que a história não é garante de “estatuto especial”. “Como português, pessoa em Macau, claro que gostaria que os meus patrícios fossem bem tratados e, naturalmente, que a residência em Macau seja sempre facilitada”, ressalvou Miguel de Senna Fernandes.

O presidente da APIM notou que a dificuldade de contratação teve impacto na Escola Portuguesa (EPM), sob a tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Espera-se, referiu, que o Estado português “continue sempre a prestar uma atenção especial” à EPM.

Senna Fernandes, também vice-presidente da Fundação da EPM salientou, porém, uma “atitude distante” das autoridades portuguesas “em relação às coisas de Macau”. A viagem de Rangel à RAEM, acredita, vai trazer poucas mudanças. “É um pró-forma, porque, sem querer ser pessimista, não estou a ver que faça muita diferença. Mas, claro, que é sempre bom que o ministro dos Negócios Estrangeiros visite Macau. (…) Nunca fez diferença. Aliás, nunca nenhum político ou ministro em Macau tem feito alguma diferença”, referiu. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”


Galiza - Água tóxica e um cheiro nauseabundo: como a criação de porcos transformou uma cidade espanhola num "monte de esterco"

Os moradores têm muito medo de beber água dos poços locais ou de abrir as janelas por medo do fedor das criações de gado que se encontram próximas



Pela primeira vez na história da justiça, cidadãos espanhóis entraram com uma ação judicial contra autoridades nacionais e regionais por causa da criação intensiva de porcos.

Os moradores dizem que a má gestão da poluição causada por décadas de criação industrial de porcos tornou a vida na sua comunidade "inviável" - e está a colocar a sua saúde em risco.

É a primeira vez que um tribunal na Europa ouvirá um caso sobre os impactos nos direitos humanos das operações intensivas de pecuária em fontes de água.

Moradores têm medo de beber água de poços

Existem centenas de herdades de criação intensiva de suínos e aves na região de A Limia, na Galiza, que dependem do que são vistas como aprovações automáticas das autoridades locais para operar.

Tanto a lei nacional quanto a europeia exigem que as autoridades protejam a saúde e o bem-estar dos moradores locais. Os reclamantes argumentam que, legalmente, esse princípio deve determinar se as instalações de agricultura industrial são aprovadas.

No entanto, as condições de vida na área tornaram-se terríveis, fazendo com que os moradores tenham medo de beber água dos poços locais ou de abrir as janelas por medo do fedor das criações de gado que estão próximas.

Nalguns casos, o abastecimento de água municipal também foi poluído.

“Estamos tão preocupados com a poluição que até a ideia de caminhar perto do reservatório se tornou inviável”, diz Pablo Álvarez Veloso, presidente da associação local de moradores e autor do caso.

“No entanto, em vez de avisar a nossa comunidade sobre a verdadeira extensão da poluição na área, as nossas autoridades locais estão a alegar que a água está em 'boas condições'. Todo o ano, eles dizem que as crianças podem nadar e brincar no reservatório sem um aviso à vista de quão tóxica a água pode ser.”

“Durante os meses mais quentes do ano, temos medo até de abrir as janelas para refrescar a casa, porque é quando o cheiro do reservatório é pior”, acrescenta Mercedes Álvarez de León, outra reclamante no caso e proprietária de uma empresa local.

Como a representante da Friends of the Earth, Blanca Ruibal, que apoia o caso, resume sucintamente, “[a cidade] tornou-se um monte de esterco”.

Moradores espanhóis levam autoridades ao tribunal por poluição causada pela criação de porcos

Como as repetidas tentativas de pedir às autoridades locais e outras que resolvam a poluição que assola a área falharam, os moradores da cidade de As Conchas estão agora tomando medidas legais.

O grupo entrou com uma ação no Tribunal Superior de Justiça da Galiza pelo que eles alegam ser uma violação da legislação nacional e europeia.

Eles são apoiados pelas instituições de caridade ambientais ClientEarth e Friends of the Earth Spain. Entre os reclamantes está a organização de consumidores CECU, representando a região de A Limia.

“Tentámos muitas vezes levantar essas questões diretamente com o governo local - mas acreditamos que não estamos sendo ouvidos”, diz Álvarez Veloso. “Então, estamos a tomar as questões nas nossas próprias mãos - estamos indo ao tribunal para proteger a nossa comunidade.”

A poluição causada pela criação de porcos pode colocar os moradores em risco de cancro

Um nível extremamente elevado de nitratos foi registado no reservatório local, o que é um fator de risco bem conhecido para vários tipos de cancro, incluindo cancro da tiroide, mama, ovário, estômago, pâncreas e bexiga.

A sua presença também foi associada ao linfoma não-Hodgkin (LNH) e à metemoglobinemia, uma doença potencialmente fatal originária do sangue.

Além de nitratos, estudos encontraram no reservatório bactérias resistentes a antibióticos, conhecidas por causar doenças muito difíceis (e em alguns casos impossíveis) de tratar.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que estes tipos de superbactérias resistentes a antibióticos estão entre as dez maiores ameaças à humanidade.

O forte odor dessas instalações intensivas é produto, como alega a denúncia, de partículas finas no ar, que podem causar problemas respiratórios e asma, principalmente em jovens e idosos. 

“Durante o verão, as dores de cabeça que tenho desde 2012 só pioram e ficam mais frequentes. Fui ao médico várias vezes para descobrir o que está a causar isto e eles parecem não conseguir descobrir. Acho que é por causa dessa poluição”, diz Álvarez de León.

“A situação está tão ruim que tem dias que nem saio de casa.”

Novas fazendas ainda estão a receber licenças apesar das preocupações com a saúde

Mesmo com os riscos claros à saúde pública expostos no processo e as dificuldades que os moradores de As Conchas enfrentam diariamente, as autoridades locais continuam a permitir que estas fazendas industriais operem como estão.

Licenças ainda estão a ser concedidas para novas herdades, apesar das obrigações que as autoridades têm sob a constituição espanhola, a Convenção Europeia de Direitos Humanos e a legislação ambiental nacional e europeia.

“Acreditamos que as autoridades estão a falhar com esses moradores, pois, apesar de saberem e verem o impacto em tempo real da criação industrial de gado na área, elas continuam a aprovar esses locais repetidamente”, diz a advogada da ClientEarth, Nieves Noval.

“Esta falha é ilegal - e levou à situação com a qual os nossos reclamantes têm de conviver dia após dia. A poluição descontrolada colocou a sua saúde em risco e comprometeu a sua água, o ar que respiram e o solo em que cultivam os seus próprios produtos agrícolas.”

As autoridades regionais da Galiza disseram que estão a trabalhar com os conselhos locais e a indústria de criação de suínos para encontrar soluções - e acrescentaram que o governo nacional também deve envolver-se.

Numa declaração enviada por correio eletrónico à Reuters, as autoridades da Galiza disseram que estão "a trabalhar num projeto de economia circular para a pecuária sustentável que envolve a transformação de resíduos em recursos". Euronews.green