Lugar sem vida na Terra
Que
a Terra está infestada de vida é algo que tem sido atestado uma vez após outra,
com pesquisas nos locais menos amenos do nosso planeta.
Agora,
contudo, uma equipe da Espanha e da França afirma ter encontrado o primeiro
lugar na Terra onde nenhum organismo conhecido consegue sobreviver.
Jodie
Belilla e seus colegas afirmam ter usado todos os métodos científicos
disponíveis para confirmar a ausência total de vida nos lagos quentes, salinos
e hiperácidos do campo geotérmico de Dallol, na Etiópia.
A
paisagem estéril de Dallol, localizada na depressão etíope de Danakil, se
estende sobre uma cratera vulcânica cheia de sal, onde emanam gases tóxicos, a
água ferve em meio a uma intensa atividade hidrotermal e as temperaturas
diárias no inverno superam os 45° C.
É
um dos ambientes mais tórridos da Terra, com suas piscinas hipersalinas e
hiperácidas apresentando até mesmo valores negativos de pH.
Vida extrema versus nenhuma vida
No
início deste ano, uma equipe da Universidade de Bolonha, na Itália, apontou que
certos microrganismos poderiam se desenvolver nesse ambiente multi-extremo
(simultaneamente muito quente, salino e ácido), o que levou Barbara Cavalazzi e
seus colegas a apresentarem Dallol como um exemplo dos limites que a vida pode
suportar, propondo que ele seja um análogo terrestre adequado para o estudo da
vida em outros planetas, assemelhando-se, por exemplo, ao planeta Marte em seus
primórdios.
Agora
a equipe franco-espanhola publicou um artigo que conclui o contrário.
Segundo
esses pesquisadores, a conclusão de que não há vida nas piscinas infernais de
Dallol foi confirmada pelos resultados de todos os vários métodos utilizados,
incluindo o sequenciamento maciço de marcadores genéticos para detectar e
classificar microrganismos, tentativas de cultura microbiana, citometria de
fluxo fluorescente para identificar células individuais, análise química da
salmoura e microscopia eletrônica de varredura combinada com espectroscopia de
raios X.
"O
que existe é uma grande diversidade de arqueias halofílicas [Archaea: um tipo
de microrganismo primitivo que adora sal] no deserto e nos desfiladeiros
salinos ao redor do local hidrotérmico, mas não nas próprias piscinas
hiperácidas e hipersalinas e nem nos chamados Lagos Negro e Amarelo de Dallol,
onde o magnésio é abundante. E tudo isso apesar do fato de a dispersão
microbiana nessa área, devido ao vento e aos visitantes humanos, ser intensa.
"Em
outros estudos, além da possível contaminação de amostras com arqueias de
terrenos adjacentes, essas partículas minerais podem ter sido interpretadas
como células fossilizadas, quando na realidade se formam espontaneamente nas
salmouras, mesmo sem vida," afirmou Purificación Lopez Garcia, do Centro
Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS).
Vida em outros planetas
A
equipe afirma que isso demonstra a necessidade de múltiplas indicações, de
analisar todos os tipos de alternativas e de ser muito prudente com as
interpretações, antes de se chegar a conclusões em astrobiologia.
"Não
esperaríamos encontrar formas de vida em ambientes semelhantes em outros
planetas, pelo menos não com base em uma bioquímica semelhante à bioquímica
terrestre," disse Garcia.
Na
verdade, ambos os estudos representam justamente essa busca por múltiplas
interpretações, levantando discussões que mostram que o assunto está longe de
uma palavra final - as manifestações dos especialistas nos sites acadêmicos
mostram que ainda não há um consenso sobre se Dallol é mesmo o primeiro lugar
conhecido na Terra "à prova de vida".
Além
disso, como a equipe franco-espanhola reconhece, mesmo em Dallol, piscinas
completamente estéreis se alternam com outras com condições biofísicas
"ligeiramente melhores", que permitem a presença de arqueias e outros
microrganismos, como os extremófilos, o que indica que menos prudente será
indicar um corpo celeste como totalmente sem vida com base em amostragens de
poucos locais. In “Inovação Tecnológica” – Brasil
Bibliografia:
Artigo: Hyperdiverse
archaea near life limits at the polyextreme geothermal Dallol area
Autores: Jodie Belilla, David
Moreira, Ludwig Jardillier, Guillaume Reboul, Karim Benzerara, José M.
López-García, Paola Bertolino, Ana I. López-Archilla, Purificación López-García
Revista: Nature Ecology &
Evolution
Vol.: 3, pages 1552-1561
DOI: 10.1038/s41559-019-1005-0
Artigo: The Dallol
Geothermal Area, Northern Afar (Ethiopia) - An Exceptional Planetary Field
Analog on Earth
Autores: B. Cavalazzi, R.
Barbieri, F. Gómez, B. Capaccioni, K. Olsson-Francis, M. Pondrelli, A.P. Rossi,
K. Hickman-Lewis, A. Agangi, G. Gasparotto, M. Glamoclija, G.G. Ori, N.
Rodriguez, M. Hagos
Revista:
Astrobiology
Vol.:
19 Issue 4
DOI:
10.1089/ast.2018.1926
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