Vinte anos após a transferência de administração de
Portugal para a China, Macau está a ser rapidamente integrada no continente
chinês, através da criação de uma grande metrópole no Delta do Rio das Pérolas
Na
localidade chinesa de Hengqin, milhares de operários de construção trabalham
dia e noite para garantir que um novo porto, que agilizará a circulação de
pessoas e bens entre o continente e Macau, é inaugurado a 20 de Dezembro,
quando se celebra o aniversário da transição. A Zona Piloto de Comércio Livre
de Hengqin, que pertence à cidade de Zhuhai, já está ligada ao território
outrora administrado por Portugal, e hoje uma região semiautónoma chinesa e
capital mundial do jogo, por um posto fronteiriço aberto 24 horas por dia e um
túnel de acesso ao novo campus da Universidade de Macau, cujo terreno foi
arrendado por Zhuhai à região.
Mas
o novo porto, que ficará sob a jurisdição de Macau, assim como terrenos
adjacentes, permitirá que o fluxo entre o continente e a região, e vice-versa,
se reduza a um só controlo fronteiriço, face aos actuais dois – saída e
entrada. Actualmente, um autocarro transporta os passageiros entre os dois
postos de controlo. “Devido à sua localização única, o Governo Central atribui
grande importância a Hengqin”, descreve à agência Lusa o director do comité
administrativo local, Yang Chuan, num ostentoso hall de exposições, dedicado ao
desenvolvimento da localidade, e equipado com painéis LED e ecrãs interactivos.
O
novo porto servirá também como um ‘hub’ para uma “futura conexão entre o trânsito”
e uma ligação ferroviária subterrânea entre Macau e a linha Hengqin – Cantão, a
capital da província de Guangdong. “Desde o início que as nossas orientações
são promover a cooperação entre Guangdong, Hong Kong e Macau e, sobretudo,
promover o desenvolvimento diversificado das indústrias de Macau”, aponta.
Hengqin
conta já com o maior oceanário do mundo, o Chimelong Ocean Kingdom, que integra
um complexo com mais de 130 hectares e inclui salas de espectáculo e hotéis de
luxo. Assimilando uma herança arquitectónica de Macau, a localidade construiu
também calçadas portuguesas.
A
integração insere-se no projecto apadrinhado pelo Presidente chinês, Xi
Jinping, a Área da Grande Baía – uma metrópole mundial, construída a partir de
Hong Kong e Macau, e nove cidades de Guangdong, através da criação de um
mercado único e da crescente conectividade entre as vias rodoviárias,
ferroviárias e marítimas.
Devido
à herança portuguesa e britânica, respectivamente, Macau e Hong Kong têm as
suas próprias leis básicas e gozam de um alto grau de autonomia, incluindo ao
nível dos poderes executivo, legislativo e judicial.
Guangdong
é a província chinesa que mais exporta e a primeira a beneficiar das reformas
económicas adoptadas pelo país no final dos anos 1970, integrando três das seis
Zonas Económicas Especiais da China – Shenzhen, Shantou e Zhuhai. O PIB da área
que compõe a Grande Baía, cuja população é de cerca de 70 milhões de
habitantes, aproxima-se dos 1,5 mil milhões de dólares – maior que as economias
da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20.
Além
de integrar Macau e Hong Kong, Pequim pretende também transformar o modelo de
crescimento da região: o objectivo é reforçar o consumo doméstico e serviços em
detrimento das exportações e manufactura. “O Governo quer usar a Área da Grande
Baía para encurtar a lacuna [tecnológica] que a China tem com os Estados
Unidos, Japão e outros países desenvolvidos”, diz à Lusa Edmond Wu, professor
de Economia na South China University of Technology, em Cantão. “Existe nesta
região uma cultura de inovação”, explica o docente.
As autoridades de
Hengqin oferecem reduções fiscais para empresas dos sectores de alta tecnologia
ou serviços. “A nossa aposta não é a manufactura: queremos atrair indústrias de
alta tecnologia, finanças, biofarmacêutica ou saúde”, realça Yang Chuan. “Os
nossos maiores atractivos são o acesso ao enorme mercado da China [continental]
e os canais e janelas de comunicação internacionais convenientes e únicos
devido à proximidade a Macau e Hong Kong”, resume. João Pimenta – China “Agência
Lusa” in “Ponto Final”
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