Um investigador português integrou uma equipa
internacional que reconstruiu o primeiro genoma completo do extinto
periquito-da-carolina, tendo concluído que o desaparecimento da espécie foi um
“processo abrupto” atribuível à ação humana direta
O
estudo, em que participou o geneticista Agostinho Antunes e que foi publicado
hoje na revista “Current Biology”, revela a história evolutiva deste
pássaro norte-americano declarado extinto no início do século XX.
“O
estudo tentou decifrar uma situação que, do ponto de vista biológico, é
bastante interessante e que tem a ver com o facto de uma espécie de periquito
que era bastante frequente se ter extinguido na região dos Estados
Unidos", disse à agência Lusa Agostinho Antunes, coordenador do Grupo de
Genómica Evolutiva e Bioinformática do Centro Interdisciplinar de Investigação
Marinha e Ambiental da Universidade do Porto.
O
periquito-da-carolina era “um caso único” na família de papagaios por ser a
espécie que vivia na latitude mais a norte, com uma distribuição desde o sul da
Nova Inglaterra até ao Golfo do México e até ao leste do Colorado.
Apesar
de voar em bandos barulhentos de centenas de indivíduos, foi amplamente caçado
durante as últimas décadas do século XIX, em parte para obtenção de penas para
decorar chapéus.
“Estes
periquitos únicos tinham uma coloração muito bonita, com verde no corpo,
amarelo na cabeça e laranja no rosto. Era uma ave icónica que foi descrita por
vários ilustradores conhecidos”, descreveu Agostinho Antunes.
Ainda
assim, a causa de sua extinção permaneceu controversa. De acordo com Agostinho
Antunes, embora a sua mortalidade excessiva possa estar associada à destruição
recente de habitat e à caça ativa, a sua sobrevivência também pode ter sido
afetada negativamente pelo facto de a sua área se tornar cada vez mais irregular
ou pela exposição a patógenos de aves.
Para
o professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, a extinção desta
espécie de “forma abrupta” - o último exemplar morreu em 1918 - constituiu “uma
perda muito grande”, porque “sempre que se perde uma espécie não há
possibilidade de a repor”.
Para
fazerem a sequenciação do genoma da ave, os cientistas reuniram amostras do
osso da tíbia e dos dedos de um espécime preservado numa coleção particular em
Girona, Espanha, da naturalista catalã Marià Masferrer.
Para
mapear o genoma completo da ave extinta, foi sequenciado primeiro o genoma de
um parente vivo próximo, o 'Aratinga solstitialis' ou periquito-do-sol da
América do Sul.
Os
resultados apontaram que “não existe nenhuma prova de uma diminuição da
variabilidade genética, que se encontra normalmente associada ao declínio
natural de populações, o que coloca uma marca muito precisa nesta situação: o
envolvimento dos humanos na extinção destas espécies”, disse Agostinho Antunes.
Por
outro lado, a investigação permitiu compreender algumas adaptações únicas desta
espécie. “Estes periquitos alimentavam-se de uma planta que contém um poderoso
tóxico que não os afetou, mas que os tornou notoriamente tóxicos para os
predadores”, explicou. In “Sapo 24” – Portugal com “MadreMedia / Lusa”
Sem comentários:
Enviar um comentário