Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Angola - “Literatura angolense foi fundamental para o crescimento das letras no país”

O professor e pesquisador Lígio Katukuluka reconheceu, em Luanda, a importância da “geração angolense” no processo de afirmação e desenvolvimento da literatura nacional ao longo dos anos

O pesquisador que foi o convidado da última edição da tradicional Maka à Quarta-Feira, realizada na União dos Escritores Angolanos (UEA), uma iniciativa da própria direcção, abordou o tema “Ele, nós e os outros: A instituição literária angolense de finais do século XIX e início do século XX, entre rosas e espinhos”.

Lígio Katukuluka disse que a temática proposta é uma pesquisa mais aprofundada que tem vindo a desenvolver desde a licenciatura. O professor disse que a dinâmica implementada pelo Movimento Literário Angolense na época, foi fundamental para o crescimento da literatura no país devido às expressões endógenas dos povos de Angola.

“A literatura angolense foi marcada com um espírito nativista bastante conciso e construíram-se bases profundas de sentimentos de pertença aos ideais e a cultura africana”.

O prelector explicou que o tema é um subsídio para a história da literatura angolana e serve para analisar “os filhos da terra” que produziram através das experiências ao longo dos anos.

“Estes escritores produziram através das próprias experiências literárias um conjunto de reflexões centradas na ideia de uma promoção dos ideais africanos e a independência do país, ainda no século XIX”.

Estes escritores, prosseguiu, trouxeram reflexões profundas do ponto de vista científico e literário, com uma forma de pensar cautelosa e contundente. A título de exemplo, referiu o nome de Mário António Fernandes de Oliveira, que nas suas obras traz uma perspectiva crioula da literatura angolana.

O pesquisador enfatizou que o escritor e poeta Joaquim Dias Cordeiro da Mata é um dos maiores nomes e considerado por muitos pesquisadores o pai da literatura angolana. “Considero o escritor como sendo o pai da literatura angolense.”

A expressão cultural e a forma como Cordeiro da Mata reproduzia a visão do mundo, reforçou, era a partir dos ideais angolenses, por ser um exemplo do sentido etnocêntrico e elitista.

“Cordeiro da Mata era um intelectual e apesar de ter produções literárias de defesa da literatura do povo ambundo, ainda assim, reproduzia ideais de superioridade para com os outros povos indígena, por conta destes elementos, é que o considero o pai da literatura angolense e da angolana”, justificou. Armindo Canda – Angola in “Jornal de Angola”


França - De Odivelas para Bayonne: bailarina Joana Rodrigues integra companhia Illicite

A jovem bailarina portuguesa Joana Rodrigues, de 19 anos, acaba de se juntar à companhia de dança Illicite, sediada em Bayonne, França, e dirigida pelo coreógrafo português Fábio Lopez. Joana vai integrar o elenco do próximo espetáculo da companhia, a emblemática peça O Lago dos Cisnes



De acordo com o LusoJornal, a entrada da bailarina nesta companhia acontece no âmbito de um programa de inserção profissional, resultado de um protocolo estabelecido entre a Illicite e o AZA Program de Lisboa. Joana Rodrigues concluiu recentemente a sua formação na Escola de Dança do Conservatório Nacional (EDCN), instituição por onde também passou Fábio Lopez.

Na Illicite, a jovem portuguesa junta-se a um grupo de uma dezena de bailarinos de diferentes nacionalidades, entre os quais outro português, David Claisse, também formado na EDCN. Natural de Odivelas, Joana mudou-se recentemente para Bayonne e já iniciou os ensaios para o novo espetáculo.

Apesar da sua idade, Joana Rodrigues conta já com uma experiência consolidada, tendo trabalhado sob a orientação de nomes como José Luís Vieira, Catarina Moreira, Fernando Duarte, Gabriela Cogumbreiro, Guilherme Dias e Gabriela Mushroom.

O Lago dos Cisnes é considerado o auge da elegância pós-romântica do final do século XIX, imortalizado em diversos filmes populares como “Cisne Negro”, “A Princesa Encantada” e “Billy Elliot”. No sítio eventick.eu, pode-se ler que a vontade de Fábio Lopez (coreógrafo e diretor artístico) de recriar este projeto surge do seu desejo de tornar a dança neoclássica cada vez mais acessível e próxima de todos. Esta nova criação, concebida para celebrar os 10 anos da Companhia Illicite Bayonne, dá vida às mais belas páginas da icónica música de Tchaikovsk. Para mais informações e bilhetes para o evento, clique aqui. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


França - Consulado em Paris: apresentação de livro sobre imigração portuguesa

O Consulado-Geral de Portugal em Paris será palco, no próximo dia 6 de fevereiro, da apresentação do livro “Les Portugais en France: Une Immigration Invisible?”, uma obra que analisa a presença portuguesa em França desde o início do século XX. O evento decorrerá nos Salões Eça de Queirós, a partir das 18h30, e contará com a participação de especialistas no tema

A sessão terá a presença de Sónia Ferreira, antropóloga e coordenadora da publicação, Yasmine Siblot, socióloga, e Dominique Vidal, sociólogo, que vão debater os diferentes momentos e perspetivas da imigração portuguesa em França, um fenómeno muitas vezes descrito como “invisível”.

À semelhança dos belgas, italianos, polacos ou espanhóis no início do século XX, brancos e católicos, os portugueses foram considerados “bons imigrantes” que não representavam um problema, tornando-se, assim, “invisíveis”. No entanto, esse grau de invisibilidade levou a ocultar as particularidades desta imigração popular e rural, mas também política até 1974 e, posteriormente, intra-europeia desde a adesão de Portugal à União Europeia. Além disso, ignorou temas como o racismo, o papel das mulheres no processo de integração e o impacto da história colonial de Portugal. Síntese das pesquisas realizadas desde 1970, esta obra procura dar visibilidade a esta imigração, que foi a mais numerosa em França entre 1970 e o final dos anos 1990.

O livro, dirigido por Sónia Ferreira e Irène dos Santos, é composto por um conjunto de estudos académicos que abordam o impacto da comunidade portuguesa na sociedade francesa, bem como os desafios e conquistas dos emigrantes ao longo das décadas. A presença de investigadores de renome promete um debate enriquecedor sobre o papel da diáspora portuguesa e a sua influência no país de acolhimento.

Aberto ao público, este evento será em francês e é uma oportunidade para todos os interessados na história da imigração portuguesa em França, promovendo uma reflexão sobre a identidade, a integração e a contribuição da comunidade lusa para o tecido social francês. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


“Prisão, flores e luar”: mergulho em busca do eu

A personagem-narradora do romance de Carla Dias desfia uma série de inquietações, nunca contradições pessoais mesquinhas, mas profundas, angustiosas – e que libertam

Poesia se faz apenas com palavras? A uma consulta de um poeta de 24 anos, no “Correio” do semanário Zycie Literackie (Vida Literária), a polonesa Prêmio Nobel Wislawa Szymborsksa (1923-2012) respondeu assim: “Não tente ser poético a qualquer preço: a poeticidade é chata, porque é sempre secundária. A poesia, como, aliás, toda a literatura, retira suas forças vitais do mundo em que vivemos, das vivências realmente vividas, das experiências realmente sofridas e dos pensamentos que nós mesmos pensamos. É preciso descrever o mundo continuamente, porque, afinal, ele não é o mesmo de tempos atrás”. [Correio literário ou como se tornar (ou não) um escritor, tradução de Eneida Favre, Belo Horizonte, Editora Âyiné, 2024, p. 37].

No recente Prisão, flores e luar (Sinete, 2024), Carla Dias [Santo André, 1970; vive em São Paulo] deixa claro que conhece bem o que disse a poeta polonesa. Autora de oito livros e artista de múltiplos talentos, Carla buscou o alto teor de poesia desse romance curto, denso, na experiência de vida. Essa é a fonte do vigor poético que a escritora expressa, num grande mergulho em busca do eu, por meio de sua personagem-narradora, quase um alter ego da autora.
 

Trata-se de uma narrativa bonita (igualmente, a edição gráfica, da própria escritora), viva, forte, inquietante e, acima de tudo, que traz esperança, defende a vida, o amor entre os seres humanos. Carla Dias dribla com maestria a tentação do clichê romântico do ponto de ruptura, não é nem um pouco niilista. Sem pieguismo, ela busca e encontra saída, alento, esperança (“O que seria de nós sem a tal esperança?”, p. 19). A instabilidade existencial da narradora não traz desordem mental ou desalento sem alternativa. É firme em sua lucidez, nunca vacilante.

Essa atmosfera do romance e a determinação da personagem-narradora têm sua raiz na personalidade da autora. Além de poeta e prosadora, a escritora é fotógrafa (com olhar de cineasta) e baterista – a música pontua o livro (“Com a música eu me comporto melhor até comigo”, p. 15). Também editora, domina e executa todas as tarefas da produção e divulgação de um livro, desde a preparação do texto, diagramação, capa, orelha, sites, redes sociais etc. Para essa profissional inquieta, incansável, não há trabalho impossível. Sua personalidade forte, plena de vida, ecoa em Prisão, flores e luar, com poesia desde o próprio título e na abertura de capítulos.

Eis o trecho mais lírico do romance, o parágrafo inicial da página 93 (bastaria dividi-lo em versos para se tornar um poema): “Abri janelas, portas, frestas e sorrisos. Abri tréguas, suspeitas, rezas. Abri um vinho. Bebi do corpo, do sonho, do hálito e das palavras. Bebi do gesto, do medo, do vento, bebi fantasmas. Olhei montanhas, o sol, a lua e olhei nos olhos. Olhei figuras, castas, impuras, olhei os mortos. Criei dilemas, filmes, loucuras e confusão. Criei poemas, asas, música, criei paixão. Pintei o rosto, o fogo, as formas. Pintei encontro, desencontro, e as horas. Senti vazio, eco, frio e senti medo. Senti virtude, dom, instinto, senti segredo. Feri o homem, o bicho, o frágil e feri o tempo. Feri quem fere, forte, opaco, feri o zelo. Amei em silêncio, pássaros, atos e amei o mundo. Amei delírios, épocas, acasos e o absurdo”.

A autora e a narradora (em alguns momentos, pode-se dizer o eu lírico, graças à densidade poética do texto, como o excerto transcrito acima e vários outros trechos do romance) sabem que a sua essência está no que viram, aprenderam, viveram e construíram (esses verbos podem ser conjugados no presente) ao longo da existência. “Conhece-te a ti próprio” é o mais célebre dos provérbios délficos, lembra Oliver Taplin em Fogo grego (tradução de Ana Maria Pires et alii. Lisboa, Gravida, 1999, p. 2). “Quem sou?” sempre foi e será uma questão filosófica do ser humano, uma interrogação metafísica, busca da essência, da identidade, o que distingue um dos outros. Essa preocupação com o ser (imutável), não como ter (algo transitório), está presente na narrativa de Carla Dias. Para Georg Lukács, “o romance é a forma da aventura do valor próprio da interioridade”. Ele diz ainda em A teoria do romance (tradução de José Marcos Mariani de Macedo, São Paulo, Duas Cidades/Editora 34, 2000, p. 91): “... seu conteúdo é a história da alma que sai a campo para conhecer a si mesma, que busca aventuras para por elas ser provada e, pondo-se à prova, encontrar a sua própria essência”.

A narradora de Prisão, flores e luar desfia uma série de inquietações (“A gente nunca sabe direito da gente”, p. 74), nunca contradições pessoais mesquinhas, mas profundas, angustiosas – e que libertam. Questiona tudo, sem tormento ou desespero; ao contrário, com esperança, fé no encontro, na solução. Inicialmente reclusa no pequeno apartamento, a personagem-narradora inquieta-se e inquieta o leitor. Só para começar: “A felicidade é uma libertina e, vez em quando, entrega-se à revelia” (p. 12). Sensível, ligada à dor alheia, a narradora pergunta: “Tudo bem se eu chorar? É que vi acontecimento de guerra na televisão” (p. 17). Num monólogo que se torna diálogo com um eu que se desdobra, a narradora se questiona (“Mas quem sou eu para dizer a você o que importa?”, p. 13) e, mais adiante, encontra uma interlocutora que pode ser a própria sombra, nomeada Cora (“É feito ser um anjo infernal”, p. 67. “A dualidade.”). Ela expõe a solidão de um modo singular: “O amor é o copo sobre a mesa” (p. 19). 

A dualidade, oscilação do estado de alma, marca o romance de Carla Dias, como nos trechos seguintes. “Acordo à noite e sinto uma arrebatadora falta vazia de definição. Recorro à música para aliviar saudade, escorrego a caneta no papel, o sentimento se espalha” (p. 23). “Pedir paciência é sempre véspera de confusão” (p. 32). “Estou pétala. As pétalas não resistem à queda. Eu resisto, pois creio não ser a minha vez, já que pouco sei; tenho muito a aprender” (p. 36). “Preciso sobreviver para aprender a viver” (p. 38). “Duas taças de vinho e um rodopio pela sala. Meu coração partido se debruça na janela da esperança” (p. 42). “Sou pássaro. Tenho os olhos atentos ao acontecimento abaixo de mim. Enquanto sobrevoo a terra sinto vertigens, lânguido corpo de pássaro a se perder entre nuvens” (p. 45). “Minha matéria precisa de torpor” (p. 51). “Como não tentar ser feliz?” (p. 52). “Porque o amor é um superar constante” (p. 55). “Sabe a sensação de se tornar explosão? Eles explodiam e se transformavam em planetas independentes” (p. 60). “E eu chego com a ideia de trocar o medo por uma flor, assumidamente partidária da esperança” (p. 60). “Já imaginou a imensidão do que somos?” (p. 64).

Os exemplos são inúmeros. Só mais alguns. A narradora dialoga com seus demônios, mas para se livrar deles: “[Uma música] Invoca meus demônios, e eu abrigo muitos deles. São eles a me induzirem a girar o corpo, movimento espontâneo, em busca de proteção” (p. 74). Vejam que beleza: “Sairei por aí brilhando a luz de um pecado que é quase prece” (p. 77). “Sou hóspede da vida, às vezes, sou vulcão, fogo alastrando e tomando conta, ainda assim: só” (p. 79). “A madrugada me levou para um passeio interno. Pensei que jamais voltaria de lá” (p. 94). “Ser é trabalho árduo” (p. 107).

O leitor há de perceber em Prisão, flores e luar evocações ou ressonâncias de Clarice Lispector, Fernando Pessoa e outros autores consagrados. No entanto, são ecos quase em surdina, livres, renovados por Carla Dias, mesmo porque, ainda que a alma humana tenha halos permanentes, o mundo se renova, agora é outro, como observou Wislawa Szymborsksa, e todo grande escritor sabe. Hugo Almeida - Brasil

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Prisão, flores e luar, romance de Carla Dias. São Paulo: Editora Sinete, 2024, 124 páginas, R$ 55,00. https://www.sineteeditora.com.br/ Site da escritora: https://carladias.com.br/

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Hugo Almeida, jornalista e escritor, é doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP). Autor, entre outros livros, de Vale das ameixas (romance) A voz dos sinos, ensaio livre sobre o sagrado, a mulher e o amor na obra de Osman Lins, ambos publicados em 2024 pela Sinete. Almeida participa da coletânea Minas Gerais – Contos e confidências, organizada por Luísa Coelho (Gato Bravo, Lisboa, 2024): Site do autor: https://hugoalmeidaescritor.com.br


quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Portugal - Festival Literário Correntes d’Escritas assinala legado de Camões e Camilo

O Festival Literário Correntes d’Escritas, que se realiza na Póvoa de Varzim, distrito do Porto, vai dedicar parte da programação da sua 26.ª edição ao legado das obras de Luís de Camões e Camilo Castelo Branco.



O certame, que acontece entre 15 e 22 de fevereiro nesta cidade do litoral norte, reúne, desta vez, 100 autores de expressão ibérica, sendo 30 estreantes no evento, numa lista de convidados onde figura o cabo-verdiano Germano Almeida, Prémio Camões de 2018 e autor do novo livro “Crime nas Correntes d’Escritas”.

“Estando a festejar os 500 anos [do nascimento] de Luís de Camões tínhamos de o assinalar no Correntes d’Escritas como o grande poeta português. Já Camilo Castelo Branco, que tinha uma grande ligação à Póvoa de Varzim, onde passava grandes temporadas, é um dos grandes artífices da nossa língua, e quando se comemora os 200 anos do seu nascimento não poderíamos ficar indiferentes”, explicou hoje Luís Diamantino, vereador com o pelouro da Cultura da Câmara da Póvoa de Varzim, na apresentação do evento.

O autarca, que foi um dos obreiros da criação do Correntes d’Escritas, está em final de mandato e mostrou-se satisfeito por o festival se ter, nestes anos, estabelecido no panorama cultural português

“O importante é ter ajudado a que o Correntes exista por si só, independentemente das pessoas que o organizam. Sempre acreditei que isso iria acontecer, e ver um recente estudo que aponta que 30% da população portuguesa já teve contacto com o evento através da Comunicação Social é muito gratificante e importante para uma cidade que tem como desígnio a cultura, o lazer e o turismo”, acrescentou Luís Diamantino.

Um dos momentos altos do Correntes d’Escritas será a atribuição do Prémio Literário Casino da Póvoa de Varzim, no valor 25 mil euros, e que este ano tem a concurso 11 obras, de autores de língua portuguesa, de países como Portugal, Brasil e Angola.

A concurso estão livros de João Luís Barreto Guimarães, Luísa Freire, Andreia C. Faria, Adília Lopes (1960-2024), Jorge Gomes Miranda, João Melo, Ricardo Gil Soeiro, Paulo Tavares, Eucanaã Ferraz, Bernardo Pinto de Almeida e Nuno Júdice (1949-2024), sendo o vencedor conhecido no dia inaugural do evento.

Ainda nesse primeiro dia terá lugar, no Cine-Teatro Garrett, palco central do evento, a conferência de abertura, proferida, este ano, por Hélder Macedo, poeta, romancista, professor e investigador literário português, radicado há vários anos em Inglaterra, que vai subordinar a sua intervenção ao tema “Luís de Camões: conhecer não ter conhecimento”.

Nesta 26.ª edição do Correntes d’Escritas serão reforçadas algumas das atividades âncora do certame, como a feira do livro, exposições, sessões nas escolas e também a ida do evento às freguesias do concelho da Póvoa de Varzim, com a presença de escritores.

“Finamente vamos conseguir levar o Correntes d’Escritas a todas as freguesias da Póvoa de Varzim, é um grande desafio, mas que estamos certos que vai aproximar, ainda mais, as pessoas a este evento”, sublinhou o vereador Luís Diamantino.

Segundo números divulgados pela organização, desde a primeira edição, no ano de 2000, já passaram pelo Correntes d’Escritas 1000 autores, num evento que totaliza um número total de 200 mil espectadores, tendo sido, nos últimos 25 anos, lançados mais 500 livros durante o festival. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”


França - Associação Internacional dos Lusodescendentes lança mapeamento dos escritores lusófonos a residir fora do seu país de origem

A Associação Internacional dos Lusodescendentes (AILD) lançou o processo de mapeamento dos escritores portugueses que escrevem em português e a residir fora de Portugal, num projeto coordenado por Sara Novais Nogueira, mestre em Línguas, Literaturas e Civilizações Lusófonas e também diretora cultural da delegação da AILD em França.



A AILD tem vindo a desenvolver ações e atividades junto das Comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, “em prol da promoção da língua e cultura portuguesa”, como é disso exemplo o recente concurso literário “As minhas férias em…”, ou o projeto “Literanto” em França ou ainda o “Portuguese in Translation Book” no Reino Unido.

Sara Novais Nogueira “tem vindo a desenvolver e coordenar o projeto extraordinário de enorme sucesso Literanto” diz uma nota da associação enviada ao LusoJornal. Literanto “é um projeto de desenvolvimento e cooperação cultural, linguístico, civilizacional e artístico – lusófono, que pretende, acima de tudo, desenvolver a língua portuguesa através das artes – para portugueses, lusodescendentes e para quem quiser aprender o português e conhecer mais sobre a língua, a cultura e as civilizações lusófonas e os seus artistas” diz a nota de imprensa assinada por José Governo, Diretor executivo da associação. “Pretende reforçar a importância da educação da língua portuguesa desde a primeira infância e a riqueza literária que esta contém devido à sua multiplicidade cultural e civilizacional, assim bem como divulgar e promover a língua, a leitura e a literatura lusófona em França e, acima de tudo, a do público infantojuvenil, através das múltiplas artes”.

O mapeamento dos autores/escritores lusófonos a residirem fora do seu país de origem, irá ter início em França e depois vai estender-se a outras geografias do mundo onde residem comunidades portuguesas, “com o objetivo de os valorizar, de saber quem são e quantos são, e posteriormente dar corpo a um projeto do nosso plano de atividades para 2025, que é a realização da Feira do Livro e do Autor – Autores de língua portuguesa pelo mundo, que se realizará em Portugal em parceria com um município em território português e com quem estamos já em contacto”.

Os autores/escritores lusófonos interessados serão contactados ou poderão registar-se livre e diretamente AQUI que permitirá o acesso a um formulário que deverá ser preenchido e submetido pelo próprio. In “LusoJornal” - França


Angola – Mbaxi dya Kadi Ndaka lança livro de provérbios

“Sosoyo? Sola! provérbios e adivinhas” é o título do novo livro do escritor Mbaxi dya Kadi Ndaka lançado no Auditório do Memorial Dr. António Agostinho Neto (MAAN), em Luanda. O acto está enquadrado na agenda do espaço cultural e nas celebrações dos 50 anos da Independência Nacional

A obra de literatura tradicional angolana é uma colectânea de provérbios e adivinhas, constituindo uma homenagem ao legado do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, quando escreveu que “às nossas tradições havemos de voltar”.

“Sosoyo? Sola! provérbios e adivinhas” foi prefaciado pelo escritor António Fonseca e editado pelo Memorial Dr. António Agostinho Neto. O livro faz parte da colecção “Havemos de Voltar” e representa a manifestação do domínio da literatura de tradição oral angolana, nas línguas kimbundu, umbundu, kikongo, dihungu e português.

Mbaxi dya Kadi Ndaka é pseudónimo literário de Sebastião Pedro Cristóvão, em obediência aos valores culturais e tradicionais. O autor nasceu a 25 de Junho de 1963, na localidade de Kakolombolo, comuna de Kyangombe, município do Lucala, província do Cuanza-Norte. 

“Sosoyo? Sola! provérbios e adivinhas” sucede o livro “Kilombwelelu kya SDizwi dya kimbundu - Gramática de Kimbundu”, edição 2014, Dondo. Actualmente é técnico do cerimonial do protocolo do Governo Provincial do Cuanza-Norte e docente colaborador na Escola Superior Pedagógica da mesma província. Alice André – Angola in “Jornal de Angola”


Brasil - Redes também revelam dramas pessoais

Vamos fazer uma pausa e esquecer Trump, Gaza, as fake news bolsonaristas, os imigrantes expulsos e dedurados nos Estados Unidos, para registrar haver também dramas pessoais no mundo dos influenciadores sociais, compartilhados com seus seguidores pelo youtube, em busca de uma confidência ou de uma terapia.

O Canal Meteoro existe há sete anos e é o mais importante dos canais youtube de esquerda nas redes sociais brasileiras com um milhão e setecentos e cinquenta mil inscritos. Sua evolução tem sido rápida, começou como canal de cultura para se transformar num canal de informações e discussões políticas. Seus criadores e animadores, Álvaro Borba e Ana Lesnovski, no começo pouco apareciam mas se tornaram populares nas redes sociais.

Por isso, todos se inquietaram quando, de repente, o Canal parecia ter saído do ar. A surpresa veio com um quadro de aviso, no qual se lia:

"O Meteoro nasceu da união entre Álvaro e Ana, e cresceu enquanto construíamos nossa relação, desenvolvendo-se em torno de nossa parceria na vida e no trabalho.

Por gratidão e respeito ao público que conquistamos nos últimos sete anos, informamos que estamos nos separando. O Meteoro e a TV Cringe continuam. Algumas transformações de ordem prática serão necessárias; por isso, ficaremos com o Plantão fora do ar entre 13 e 25 de novembro, enquanto nos reconfiguramos.

Voltamos em seguida de casa nova, mas com o mesmo compromisso de sempre com um jornalismo sensível, sério, feito em equipe e com amor. Agradecemos o respeito à privacidade e também o apoio da audiência, com o qual Meteoro sempre contou em todos os momentos".

Pouco antes da crise no Meteoro, Álvaro Borba tinha aceitado um debate com Arthur Duval, deputado federal cassado, do Canal Mamãe Falei, no qual, segundo as críticas, foi derrotado, mais do que isso, massacrado. Álvaro também teria sido criticado por ter utilizado a IA para fazer algumas capas do seu canal.

Depois de ter sumido, do Meteoro, Álvaro ressurgiu num outro canal, Arvro, partindo do zero inscrito, no qual num tom um tanto lamuriento (que irritou influenciadores e mesmo influenciadoras da direita e extrema, adoradores da imagem do homem macho e viril) explicou a situação.

Para Álvaro, ele perdeu o casamento com Ana na esteira dessas críticas. E, no seu primeiro vídeo depois da crise, mostrou seu lado humano de quem acredita no "amor romântico, no felizes para sempre e na monogamia. Quando eu me proponho viver a vida com alguém, eu não faço isso pensando se acaba, quando acaba, eu  faço isso na expectativa sincera de que seja pra sempre. E um momento como esse é doloroso; o que me resta é assumir a fragilidade. Se foi um erro, esse eu assumo com orgulho por acreditar no amor"

E, na sequência, contou ter vendido a casa, na qual ia montar os estúdios do Meteoro, ficando sem ter onde morar mas sem dívida para pagar. E se queixa de ter regredido na saúde com a crise e voltado a fumar. Se propõe a um processo de reabilitação física e emocional e talvez espiritual.  E voltar a produzir, mas sem concorrer com Meteoro, humildemente admitindo não estar no seu melhor.

Atualmente, Álvaro parece ter recuperado sua boa forma, tem viajado e seu canal ARVRO já tem mais de cem mil inscritos.

O drama emocional da jornalista-escritora Vanessa Bárbara

A Rádio Novelo é a maior produtora brasileira de podcasts ligados a temas jornalísticos, tendo como principais valores a preocupação com a inclusão e com a liderança feminina, enquanto toda sua estrutura está baseada numa equipe com diversidade racial e de gênero. A equipe, liderada pela linguista e intérprete Branca Vianna Moreira Salle, foi definida numa reportagem da revista Veja como "a fantástica fábrica de podcasts".

O alcance e a penetração dos podcasts da Rádio Novelo é enorme e seus áudios acabam sendo comentados pela mídia e nos grandes canais youtube. Assim, o podcast CPF na Nota, de Vanessa Bárbara, viralizou nos principais canais da inteligência paulistana e  meios literários, sendo propagado no boca a boca e tema de debate no Uol, Folha e no canal Meteoro.

Antes de gravar o  podcast, Vanessa tinha publicado, em 2015, um romance ficção Operação Impensável pela editora Intrínseca, no qual contava a história de um casal, Tito e Lia, cujas relações se deterioraram depois de cinco anos de casamento. Embora premiado como Prêmio Paraná de Literatura, o relato pessoal da escritora não tinha provocado reações por nele terem sido utilizados nomes fictícios.

Entretanto, Vanessa gravou o podcast como experiência pessoal, embora utilizasse o mesmo pseudônimo do marido, Tito, utilizado no livro. Isso permitiu uma rápida identificação do nome real do marido, André Conti, um dos proprietários da Editora Todavia. Por tabela, logo foram descobertos os nomes dos quinze amigos do marido, integrantes do grupo no qual eram revelados os gostos sexuais das esposas e os das amantes nas aventuras extraconjugais.

A descoberta da traição do marido veio da nota fiscal do hotel, onde ele passara com a amante, enviada para o CPF. Diante da viralização atual do podcast, o editor André Conti assumiu e se penitenciou "manipulei e coagi minha ex-esposa de forma machista e misógina".

O jornalista Henry Bugalho publicou no seu canal youtube "detalhes sórdidos da elite literária brasileira" revelando alguns dos nomes do grupo de quinze de André Conti. Rui Martins – Suíça

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Internacional - Estudo mostra que emissão de axiões pode alterar processo de evaporação de buracos negros

Um estudo da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em colaboração com a Universidade de Oxford, evidencia que a emissão de axiões pelo efeito de Hawking pode alterar completamente o processo de evaporação de um buraco negro. Os detalhes da investigação estão publicados na revista Physical Review Letters.


 

Os axiões são partículas hipotéticas muito leves, eletricamente neutras e fracamente interativas, o que as torna extremamente difíceis de detetar. Foram propostos pela primeira vez na década de 1970 para explicar algumas das propriedades da interação forte. A teoria de cordas, em particular, prevê que existam centenas ou, até mesmo, milhares de espécies de axiões com massas diferentes.

Esta publicação mostra ainda que ao contrário da emissão de fotões, eletrões ou outras das partículas que conhecemos, a emissão de axiões pode fazer um buraco negro rodar mais depressa sobre si mesmo. «Simulamos computacionalmente a evaporação de um buraco negro desde os primórdios do universo até aos dias de hoje, tendo em conta a emissão das partículas conhecidas e de um número arbitrário de axiões», explica João Rosa, docente do Departamento de Física da FCTUC e investigador do Centro de Física da Universidade de Coimbra (CFisUC).

«Ficamos muito entusiasmados com os resultados que obtivemos, porque percebemos que poderíamos determinar se existem ou não centenas de axiões leves, como prevê a teoria de cordas, simplesmente medindo a velocidade com que os buracos negros primordiais rodam sobre si mesmos», revela o físico, acrescentando que buracos negros com massas diferentes, por estarem em diferentes fases de evaporação, terão também velocidades de rotação distintas, dependendo apenas de quantas espécies de axiões existem na natureza. 

O estudo demonstra ainda que a rotação tem um efeito mensurável no espectro da radiação de Hawking emitida por um buraco negro, ou seja, na variação da intensidade da radiação com a energia. «Assim, se encontramos um ou mais destes buracos negros poderemos usá-lo como um autêntico laboratório de física de partículas. De acordo com os dados astrofísicos de que dispomos, estes buracos negros deverão ser relativamente raros, sendo, no entanto, possível que um ou mais passem suficientemente perto do sistema solar nos próximos anos para os conseguirmos observar», acredita o físico. 

Por fim, foi possível concluir que a evaporação dos buracos negros primordiais poderá ter permeado o universo de axiões que viajam a velocidades muito próximas das da luz, o que constitui uma outra “assinatura” da teoria de cordas que os cientistas podem procurar detetar. Universidade de Coimbra - Portugal


Macau - Uma “odisseia” de portugueses no “mar de gente” do Ano Lunar da China

João Simões está preocupado, nas vésperas de viajar de comboio para a terra natal da mulher, em Chenzhou, porque ainda não comprou os bilhetes, e o trânsito de centenas de milhões de chineses no novo ano lunar não espera.



“Este ano ainda não consegui comprar bilhetes. Todos os anos é difícil. Mas, normalmente, uma semana antes já tenho bilhetes. Talvez haja mais pessoas a viajar”, arriscou o português radicado em Macau.

Durante uma ‘semana dourada’, centenas de milhões de pessoas vão viajar no interior da China, na maior migração anual do mundo, para receber junto dos familiares o Ano Lunar da Serpente, que este ano calha entre 28 de Janeiro e 04 de Fevereiro.

Nesta odisseia embarcam, mais uma vez, três portugueses, que descreveram à Lusa como é viajar nesta altura do ano.

Desde 14 de Janeiro, quando começou o ‘chunyun’, um período de 40 dias antes e depois do início do Ano Lunar da Serpente, e até sexta-feira, a empresa ferroviária estatal chinesa China State Railway Group já tinha vendido online mais de 297 milhões de bilhetes.

“Para mim, Ano Novo Chinês sempre foi sinónimo de muita gente e começa logo ao passar a fronteira” para a China continental, diz João Simões, professor no Instituto para a Investigação sobre os Países de Língua Portuguesa da Universidade Cidade de Macau.

Na RAEM, a polícia decidiu destacar mais pessoal para os postos fronteiriços, perante a previsão de entradas e saídas de quase 5,4 milhões de pessoas durante a ‘semana dourada’, mais 3% do que no mesmo período de 2024.

“Um mar de gente. Aquela chegada à estação de comboios de Cantão Sul. Essa é a primeira ideia que tenho do Ano Novo Chinês, desde os primeiros anos em que comecei a passá-los na China continental”, diz Simões.

De acordo com a imprensa estatal, quase 20,2 milhões de passageiros devem passar por Cantão Sul, uma das mais movimentadas estações ferroviárias da China, na capital da província de Guangdong. A estação recrutou 1575 voluntários para ajudar os viajantes durante este período, incluindo alguns que falam inglês e cantonês.

João Coimbra Sampayo, um português casado há seis anos com uma chinesa, diz também que “viajar na China, por si só, não é fácil”, mas no Ano Novo Chinês, “é muito mais chato por causa das filas”.

João Simões descreve-as: “Há as filinhas todas para [o controlo de] a segurança. Há a fila para ir comprar não sei o quê, uns biscoitos, por exemplo. Há a fila para entrar no comboio…”.

Apesar da escala do movimento humano, “não se vê confusão. As coisas parecem que funcionam, são ordeiras. Isso é curioso. Como é que num país com tanta gente as coisas funcionam tão bem”, sublinha o académico.

O Conselho de Estado, o executivo chinês, disse esperar este ano nove mil milhões de deslocações internas durante o ‘chunyun’, o que será um recorde para um país com uma população de 1,4 mil milhões.

“Acho que a China tem essa magia”, diz com um sorriso Charlotte Yuan Tian, casada há 11 anos com um português. “Parece caótico, mas depois as coisas funcionam. Mesmo nas ruas, parece tudo muito confuso, mas depois as coisas vão andando”.

Charlotte vai de avião para a terra natal, Chengdu, a capital da província de Sichuan, no sudoeste da China, mas ainda tem memórias de viajar de comboio durante o Ano Novo Lunar, durante a noite, para visitar os avós numa zona rural.

“A carruagem ia cheia, cheia, cheia, nem podíamos pôr os pés, não tínhamos sítio para nos sentarmos, mas, já não sei como, a minha mãe arranjou um lugar e tive de ir ao colo dela, já grande, com nove anos”, recorda a professora, hoje radicada em Macau.

Mais de 30 anos depois, a China tem os comboios mais rápidos do mundo, mas certas coisas não mudaram.

“Os comboios apinhados de gente, em pé, malas e crianças por todo lado. Aqueles banquinhos desdobráveis. Crianças a comer massas instantâneas. Esta é uma das imagens que eu tenho do Ano Novo Chinês”, diz João Simões.

Ainda assim, desde que se casou, em 2014, o professor vai praticamente todos os anos passar este período à terra natal da mulher. “Nem se pondera outra coisa, é como ir no Natal a Viseu”, explica.

O Ano Novo Lunar é normalmente comparado com o Natal nos países ocidentais, mas João Coimbra Sampayo diz que a importância da principal festa das famílias chinesas “é amplificada ao máximo”.

“Em Portugal é muito fácil uma pessoa voltar a casa em qualquer altura do ano. Em muitos casos, na China isso é impossível. É impossível a família reunir-se, o homem com a mulher, os filhos e os pais, sem ser no Ano Novo chinês”, aponta Sampayo.

“Por isso, são sentimentos fortíssimos. Bebe-se muita aguardente de arroz, fala-se muito”, até porque muitos dos que viajam “foram das suas terras trabalhar para as cidades e não têm o ‘hukou’ dessas cidades. Portanto, não podem levar a família”, acrescenta.

O ‘hukou’ é o sistema chinês de residência que, na prática, impede os trabalhadores migrantes vindos das áreas rurais de terem acesso à saúde e os seus filhos de frequentarem escolas nas grandes cidades.

O regresso à terra natal é também aproveitado para oferecer os chamados ‘hong bao’ (‘lai si’ em cantonês), envelopes vermelhos com dinheiro, que normalmente são dados pelos mais velhos aos mais novos.

Mas nas zonas rurais, por vezes, são os filhos que trabalham nas cidades que dão ‘hong bao’ aos pais, diz Charlotte Yuan.

O rápido envelhecimento da população da China tem colocado maior pressão no já frágil sistema de segurança social, com um número crescente de chineses a recusarem-se a pagar para o sistema de pensões, que está há muito subfinanciado.

“Se os pais não têm uma reforma grande, dependem um pouco desse dinheiro que os filhos vão mandar”, explica Charlotte.

É o caso dos sogros de João Simões: “Eles estão na casa dos 70 anos, não têm reforma, não têm nada”.

“Na altura do Ano Novo Chinês, os filhos aproveitam para entregar uma quantidade maior de dinheiro, que é para dar-lhes para viver durante algum tempo”, acrescenta o professor. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com Vítor Quintã “Agência Lusa”


Galiza - Associação de Docentes de Português da Galiza reuniu-se com os grupos políticos do Parlamento Galego

A DPG (Docentes de Português da Galiza) voltou ao parlamento galego para reunir-se com os grupos políticos para falar da necessidade e pertinência de continuarem a convocar mais vagas de português para o ensino secundário da Galiza



Perante o iminente anúncio da OPE 2025 onde se explicitará o número de vagas por especialidades para o próximo concurso de educação, a DPG manteve reuniões com os diferentes grupos parlamentares com o intuito de transmitir a necessidade de que mais um ano continue a convocatória regular de vagas para a especialidade de português no secundário com opção de aquisição de especialidade por parte de quem já é docente mas especialista doutras matérias. 

Além disso foram tratados outros assuntos relativos ao assentamento e regularização do ensino da língua portuguesa nas escolas galegas

No dia 26 de dezembro de 2024 na parte da manhã, Marcos Vence e Loaira Martínez reuniram-se com o grupo do PP, sendo recebidos pelos deputados Carmen Pomar e José Luís Ferro.

No mesmo dia 26, à tarde, a reunião com o BNG foi feita de maneira telemática e nela participaram por parte do grupo parlamentar as deputadas Iria Taibo e Mercedes Queixas, e em representação da associação assistiram Carme Saborido e Loaira Martínez..

Por último, na manhã do dia 3 de janeiro de 2025, as representantes da DPG foram recebidas pelo deputado Julio Abalde Alonso do PSdeG no parlamento.

Em todas as reuniões o ambiente foi distendido e mostrou-se interesse nas nossas propostas sendo que os e as representantes dos diferentes grupos parlamentares apoiaram as nossas demandas visando o crescimento progressivo do português no ensino público galego. Associação de Docentes de Português da Galiza in “Portal Galego da Língua”


Angola - Escritor Ntony Kunsevi destaca prémio como incentivo à escrita

O escritor Ntony Kunsevi “Fwantondwa”, vencedor da segunda edição do Prémio Literário da Fundação Gianni Gaspar Martins (GGMF), na categoria de poesia, disse, em Luanda, que a consagração “trouxe um ar de esperança na minha vida"



O vencedor que falava, sexta-feira, na União dos Escritores Angolanos (UEA), durante a entrega do galardão e cheque de um milhão de kwanzas, pelo livro de poesia “A sintaxe dos prestígios da língua”, explicou que a conquista do concurso chegou num momento em que enfrentava muitos desafios na vida.

O escritor explicou que foram momentos complicados que o fizeram levantar muitas questões sobre a vida. ‎Fwantondwa considerou, por isso, que a façanha simboliza uma nova etapa da carreira, e coincidentemente, no mesmo dia do anúncio foi realizada a apresentação oficial do livro “A sintaxe dos prestígios da língua".

O jovem, na obra, apresenta como reflexão para os leitores várias abordagens do quotidiano, como exemplo, traz a questão da ingratidão, amor, exaltação da beleza feminina, mistério, entre outros.

Os temas provocam questionamentos, cujas respostas, disse o autor, encontram-se no interior de cada leitor. "As respostas são resultantes da experiência de cada indivíduo", referiu.

Fwantondwa agradeceu à Fundação GGMF pela iniciativa, principalmente, por surgir num momento em que se verifica a diminuição de prémios literários em Angola. Segundo o escritor, o prémio GGMF dá sinais claros que veio para marcar gerações de escritores.‎

O responsável pela organização do concurso, Edson Nuno, mostrou-se feliz pelo momento que marcou a entrega do prémio ao vencedor do concurso e por mais um aniversário da Fundação Gianni Gaspar Martins (GGMF), que se assinalou no mesmo dia.‎

Edson Nuno afirmou que a educação é a base do desenvolvimento de qualquer sociedade, e a leitura, um instrumento importante para se educar. Por isso, prosseguiu, a qualidade na produção dos livros é fundamental para a qualidade da educação no país.

Segundo o coordenador, o prémio literário GGMF, surge para ajudar a aumentar a qualidade na produção de obras, concedendo oportunidades a pessoas com uma grande capacidade criativa, mas que ainda se encontram no anonimato, permitindo, desta forma, a descoberta de novos talentos na literatura angolana.

"O prémio visa, de um modo amplo, fomentar o gosto pela leitura e escrita, defender e valorizar a Língua Portuguesa, incentivar a criação literária e divulgar obras com o nível de excelência que se exige", explicou.

O responsável do prémio garantiu, ainda, que a fundação está comprometida com a literatura angolana, por acreditar ser uma arte que ajuda na formação do homem novo, no bem estar das crianças e mulheres.

Fundamentos do júri

De acordo com os fundamentos apresentados pelos três, de cinco júris que votaram na obra, “a preocupação dos sujeitos poéticos de cada texto que a obra dispõe não só estar focada na concretização de cativar o leitor (por meio da linguagem), como, também, o convida a contemplar temáticas da vida quotidiana.

Na obra apresentada pelo escritor e crítico literário Hélder Simbad, continuam os argumentos dos júris “é uma proposta alinhada à poesia ecléctica, na qual a liberdade na construção dos versos demonstra o estilo do autor da obra. Estamos diante de um texto poético que procura reconstruir vivências por meio de palavras, com reflexões sobre a realidade social”.

No texto, sobressai a invocação, a veneração, o ego e a manifestação da sapiência que antecede a presença física. "É um texto que procura enaltecer o sentido da vida por meio de metáforas.

Estamos diante da busca de conhecimento do passado para se vibrar a memória de hoje. A coisificação com uma indeterminação dos objectos, por seu turno, é uma marca que o referido texto procura trazer, numa perspectiva estética, combinando a voz do poeta”, ressalta o relatório final.

O júri desta edição, responsável por eleger a obra vencedora, foi composto por David Calivala (docente universitário e crítico literário da província de Benguela), Josefa Conde (docente universitária e escritora de Luanda), Hamilton Venocanya (professor, crítico literário, do Cunene), Estêvão Ludi (docente universitário, escritor e crítico literário) e Bel Neto (escritora). A primeira edição, na categoria de Prosa, teve como vencedor o escritor David Gaspar, com o romance “542 anos em coma”.

A Fundação Gianni G. Martins (GGMF) é uma organização não-governamental, privada, sem fins lucrativos, constituída a 24 de Janeiro de 2020, cujo objectivo é a implementação e o apoio de projectos sociais que visam o aumento das capacidades intelectuais das crianças, adolescentes e jovens adultos. De igual modo, a Fundação apoia também projectos que promovem a preservação do ambiente. Gil Vieira – Angola in “Jornal de Angola”


terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Internacional - Estudo da Universidade de Coimbra mostra que a qualidade ecológica dos rios pode ser inferior devido à presença de espécies exóticas

Um estudo da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) concluiu que poucos índices biológicos usados na monitorização dos rios contemplam a análise das espécies exóticas e que a abundância de espécies exóticas está associada à degradação dos rios, tendo um efeito significativo na abundância e presença das espécies nativas.


  

Esta investigação internacional, liderada por Maria João Feio, com a participação de Janine Silva e Sónica Serra, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da FCTUC, está publicada na revista científica Journal of Environmental Management

«Este estudo teve como objetivo compreender, a nível mundial, se a avaliação da qualidade ecológica dos rios reflete a presença de espécies exóticas (não-nativas de uma região) nos ecossistemas ribeirinhos. Em Portugal, assim como em toda a Comunidade Europeia, e em vários países do mundo, existem índices baseados nas comunidades aquáticas de peixes, invertebrados, microalgas e plantas aquáticas, considerados bioindicadores de qualidade ecológica», explica Maria João Feio.

No entanto, de acordo com a especialista, quando muitos destes índices foram desenvolvidos não existiam ou não eram conhecidas tantas espécies invasoras aquáticas. «Desta forma, tentamos perceber quais destes grupos biológicos têm mais espécies exóticas reportadas e conhecidas, se os índices existentes contemplam a avaliação específica de espécies exóticas e se, contemplando ou não, os índices refletem o efeito das espécies exóticas na qualidade do ecossistema», revela. 

Além disso, os autores concluíram ainda que, em 17 países dos seis continentes, as espécies exóticas mais reportadas dentro dos grupos de bioindicadores aquáticos são os peixes, devido ao seu tamanho, valor comercial e maior conhecimento histórico das espécies nativas. No que respeita às microalgas exóticas, são as menos conhecidas, seguidas dos invertebrados bentónicos. 

«Em Portugal, temos situações distintas conforme o elemento biológico utilizado na avaliação da qualidade dos rios. O índice usado para as comunidades de peixes já inclui uma métrica que avalia a presença e abundância de espécies exóticas. Já o de plantas aquáticas, inclui uma avaliação parcial dessas espécies, e, no caso dos invertebrados, o índice oficial não contempla uma avaliação das espécies exóticas. Assim, podemos ter avaliações que sobrevalorizam a qualidade biológica dos rios nestes últimos casos. Embora isso dependa da influência que uma dada espécie tenha no ecossistema, que não é sempre a mesma», termina Maria João Feio.

Perante estes resultados, os especialistas recomendam a inclusão de métricas específicas para espécies exóticas nos índices de qualidade biológica utilizados na avaliação ecológica dos rios; o aumento da investigação da taxa de exóticos de grupos de organismos aquáticos mais pequenos; a necessidade de investir na identificação taxonómica ao nível da espécie em programas de monitorização, de forma a reconhecer espécies exóticas; e a  necessidade de incentivar comportamentos que previnam invasões aquáticas nos rios, entre outras medidas. Universidade de Coimbra - Portugal


Lusofonia - Grupo Lusófona avalia criar ensino profissional em Angola e Cabo Verde

O Grupo Lusófona deverá criar em breve em Angola e em Cabo Verde estabelecimentos de ensino profissional, correspondendo ao interesse das autoridades dos dois países, disse à Lusa a fundadora, Teresa Damásio



Administradora do Grupo Ensinus, que integra o Grupo Lusófona, Teresa Damásio destaca que aqueles dois países têm necessidade de mão-de-obra qualificada para a indústria e para os serviços.

As autoridades angolanas e cabo-verdianas “têm demonstrado, efetivamente, muito interesse neste tipo de ensino. Começa a haver um tecido empresarial e mesmo necessidades industriais diferentes nas várias regiões” de Angola e Cabo Verde pelo que “obviamente que o ensino profissional começa a ser muito necessário”, na medida em que “é fundamental um bom ensino profissional para uma boa economia”.

A criação de estabelecimentos de formação profissional em Angola e Cabo Verde replica o que o Grupo Lusófona já tem em Moçambique e na Guiné-Bissau.

Autora do livro “O Estado das Coisas – Visões Sobre a Igualdade, o Ensino e o Estado do País em geral”, Teresa Damásio apresenta nesta sua obra as suas reflexões sobre temas como gestão e liderança, política, educação, igualdade de género e cooperação com África.

Com cerca de 27 mil alunos a frequentar atualmente diferentes graus de ensino, em estabelecimentos de ensino superior e médio nos países de língua portuguesa, à exceção de São Tomé e Príncipe e de Timor-Leste, o Grupo Lusófona já formou cerca de 30 mil sendo o “grupo que tem as maiores escolas profissionais em Portugal”, destacou.

Teresa Damásio reconhece que a fuga de cérebros é um problema, designadamente em Cabo Verde. “Nós trabalhamos para que isso não aconteça, não é? E, portanto, nós qualificamos as pessoas para que isso não aconteça. Eu diria que em Cabo Verde isso é um problema, de facto, completamente espelhado nos estudos científicos e nas estatísticas”, destaca. “Cabo Verde tem um problema muito grave, assumido pelas autoridades cabo-verdianas, que os jovens saem todos de Cabo Verde para virem estudar para fora”, acrescenta.

Teresa Damásio anuncia que a Câmara Municipal do Mindelo, a segunda cidade do país, já deu terrenos ao Grupo Lusófona para a construção de uma residência universitária. “Aquilo que nós entendemos é que Cabo Verde tem a situação geopolítica, geoestratégica, perfeita para acolher alunos da África Ocidental”, afirma.

Ao contrário de Cabo Verde, na Guiné-Bissau a fuga de cérebros não se verifica. “É muito curioso. Os quadros querem sempre voltar à Guiné, ou seja, aquela questão da ‘guineendade’”, salienta Teresa Damásio, referindo-se ao conceito de identidade nacional, à vivência sociocultural do guineense ou à língua crioula. “Portanto, aquele sentimento muito forte de pertença que os guineenses têm, efetivamente sente-se. E, por isso, é que eu entendo, eu e o nosso Grupo, entende que quando se olha para a Guiné-Bissau, tem que se perceber que a Guiné foi e deverá continuar a ser um parceiro de excelência no seio da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]”, frisa.

Teresa Damásio considera que tal se deve à localização geográfica do país, encravado numa região esmagadoramente francófona. “A Guiné é um país da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental], é um país da UEMOA [União Monetária e Económica da África Ocidental]. Ou seja, a pressão francófona na Guiné-Bissau leva a que o Estado, as autoridades e todos os agentes económicos devam ter uma enorme preocupação em consolidar os laços” com Portugal. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”


Timor-Leste - Governo paga parte da dívida a hospitais no estrangeiro

O vice-primeiro-ministro de Timor-Leste, Mariano Assanami Sabino, afirmou ontem que o Governo timorense já pagou parte das dívidas a hospitais da Malásia, Indonésia e Singapura, que recebem doentes timorenses. “No início deste ano, pagámos as dívidas aos hospitais de Singapura, Malásia e Indonésia, num montante total superior a 12 milhões de dólares [11,4 milhões de euros]”, disse à Lusa o vice-primeiro-ministro.



Questionado sobre a informação de que a dívida do Governo timorense a hospitais nos três países totaliza os 30 milhões de dólares (28,6 milhões de euros), Mariano Sabino esclareceu que, neste momento, a dívida não ultrapassa os 20 milhões de dólares (19,1 milhões de euros). “Já pagámos quase metade das dívidas que tínhamos. Agora, aguardamos que o Ministério da Saúde realize auditorias adequadas e verifique corretamente as evidências e os recibos, para que possamos continuar a pagar”, explicou. Mariano Assanami falava no parlamento, à margem da discussão da Conta Geral do Estado de 2023.

O vice-primeiro-ministro também assegurou que o Governo está a estudar mecanismos para melhorar as condições do Hospital de Lahane, em Díli, de forma a possibilitar o tratamento de pacientes com casos menos graves em Timor-Leste. Mas, salientou, os casos graves continuarão a ser enviados para tratamento no estrangeiro. “Estamos a olhar para o futuro e queremos reduzir custos, mas temos de garantir as condições necessárias para salvar vidas e gerir bem estes casos”, acrescentou.

Muitos cidadãos timorenses recebem anualmente tratamento no estrangeiro devido à incapacidade do sistema de saúde do país para realizar determinados procedimentos e tratamentos. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”


Estados Unidos da América - Os macaenses na diáspora têm uma identidade cultural forte, conclui estudo

Para avaliar a identidade cultural da comunidade na diáspora, o Projecto de Estudos Macaenses e Portugueses da Universidade da Califórnia analisou as respostas a um inquérito de 327 macaenses, espalhados por 10 países e 200 cidades



Apesar de em diferentes pontos do mundo, os macaenses na diáspora mantêm ligações familiares, sobretudo através da Internet, e têm uma forte identidade cultural. São as principais conclusões de um estudo do Projecto de Estudos Macaenses e Portugueses da Universidade da Califórnia, que avaliou, de 30 de Junho até agora, 327 pessoas, em 10 países. Os resultados vão ser publicados no início do próximo mês, mas o Ponto Final conversou antes com o director deste departamento, Roy Xavier.

Com o objectivo de determinar quantos descendentes de macaenses da diáspora mantêm as suas ligações familiares e identidade cultural, foi distribuído um inquérito com 11 perguntas a milhares na diáspora, com a ajuda do Conselho das Comunidades Macaenses e das 13 Casas de Macau espalhadas pelo mundo. “Encontrei também muitos macaenses através da Internet, das redes sociais e da minha correspondência pessoal”, acrescenta Roy Xavier.

Uma identidade forte com recurso à tecnologia

A principal conclusão que o investigador retira é que a “identidade cultural da comunidade macaenses é muito forte”, apesar dos 500 anos de história e de migrações. Afinal, cerca de 70 por cento dos inquiridos identificou-se logo como “macaense e luso-asiático”.

Em segundo lugar, conclui ainda que estavam bastante conscientes de onde vinham as suas famílias no que toca à história. “Muitas das pessoas que inquiri olham para a sua história através dos antepassados, da história e, muitas vezes, do meu trabalho”, diz, acrescentando: “Estão muito conscientes de onde vêm as suas famílias, seja de Portugal, Goa, Macau, Hong Kong, Xangai ou outros sítios.”

Outro ponto interessante deste estudo diz respeito à dimensão das famílias, importante para estimar a “dimensão da população luso-asiática” no mundo. “Percebemos que a média era de 30 ou 35 membros vivos, família imediata ou alargada, enquanto 20 por cento têm mais de 100 membros vivos, muitos espalhados pelo mundo”, diz. Mas como mantêm o contacto? “Percebemos que usam especialmente as redes sociais — fazem-no, sobretudo, por divertimento, mas também para manter o contacto”, refere, explicando que “isto é particularmente relevante para uma comunidade na diáspora, que está espalhada em diferentes países”. É assim que conseguem “manter a sua identidade cultural”, recorrendo à tecnologia para conseguirem “a consciência história” do seu local de origem. “E, muitas vezes, isso é traduzido ou comunicado aos seus filhos”, acrescenta.

As principais diferenças referiam-se ao tipo de população, se é activa ou se já está reformada. “Neste caso, tivemos uma participação de mais de 50 por cento de reformados”, diz, explicando que isso é “compreensível”, já que se trata do grupo “com mais interesse em aprender sobre a história e passar a mensagem à geração seguinte”.

Como a população parece estar mais velha, o uso dos média parece mais proeminente. E, se o primeiro inquérito, realizado em 2012, foi feito, sobretudo, por email e distribuído em papel, “agora tudo foi feito através da Internet e das redes sociais”, permitindo que mais pessoas possam participar. O número de pessoas que responderam, ainda que não pareça muito grande, “é bastante bom”.

Sobre o sítio onde se encontram, a maioria parece estar concentrada nos Estados Unidos, Austrália, Brasil e Europa, enquanto uma menor percentagem está na Ásia. “Ficámos surpreendidos por perceber que 10 por cento da comunidade ainda se encontra, de alguma maneira, no sudeste asiático”, refere, acrescentando: “Menos estão em Macau, mas mais em Hong Kong e à volta do sudeste asiático.”

Sobre os motivos que o levam a coordenar este estudo, Roy Xavier realça que se trata de um esforço para “apurar a identidade e de que forma esta consegue manter-se ao longo dos anos”, mas também, considerando os últimos desenvolvimentos políticos em Macau e Hong Kong, torna-se particularmente importante a percepção que existe nas duas regiões administrativas especiais. “Muitas pessoas na diáspora, especialmente a geração mais jovem, os que têm entre 20 e 55 anos, trabalham em sectores ligados à tecnologia e penso que é uma das chaves do seu interesse na China”, diz, explicando que o gigante asiático, especialmente na Grande Baía, tem um grande foco nesta área. “Por isso, parte do estudo é perceber se a identidade cultural dos macaenses pode traduzir-se numa forma de ligar o Ocidente e o Oriente”, conclui.

O que se procurou avaliar

Ao inquérito responderam macaenses (ou luso-asiáticos), definidos no estudo como “descendentes de portugueses mestiços da Ásia com ligações familiares na China, Sudeste Asiático e Índia, e especificamente de Goa, Macau, Hong Kong, Xangai, Cantão, Japão, Malásia, Singapura ou Timor”. Os seus antepassados não precisavam de ser de Macau, mas devia haver uma ligação cultural na sua família com os portugueses na Ásia durante os últimos 500 anos.

O inquérito contém 11 perguntas, em português e em inglês, preparadas pelo Projecto de Estudos Portugueses e Macaenses, da Universidade da Califórnia, e pela Escola de Saúde Pública da Universidade do Estado da Geórgia, ambas nos Estados Unidos.

As primeiras oito perguntas procuraram recolher informação demográfica e determinar as identidades culturais no seio das comunidades macaenses (ou luso-asiáticas) espalhadas pelo mundo. As últimas perguntas pretenderam aferir as condições físicas e mentais de todos os inquiridos.

Procurando perceber se a identidade e memória, através da família, se mantinha ou, como refere Roy Xavier, se se identificavam com a identidade cultural, procurou perceber em que categorias os inquiridos se enquadravam — euro-asiáticos, luso-asiáticos, europeus, chineses, americanos. “Estávamos a tentar perceber se eles retinham a identidade cultural de Macau, como luso-asiáticos, no geral, e macaenses, em particular, e queríamos ver onde eles se enquadravam e ter uma ideia do tamanho da população”, diz. No inquérito, perguntaram-lhes, numa escala, onde eles se situavam, para além da faixa etária e género. “Inquirimos sobre a identidade, onde estão localizados, de onde vêm as famílias — Portugal, Goa, Macau, Xangai, Hong Kong, até ao Sudeste Asiático, incluindo Timor”, acrescenta.

Este estudo, que já tinha sido realizado três ou quatro vezes anteriormente, desta vez incluía duas perguntas sobre saúde. “Uma sobre saúde em geral, por se tratar de uma população activa, mas também reformada”, refere, acrescentando que a outra diz respeito à saúde mental. “Se sentem ansiedade e coisas do género, quantos dias por mês não se sentem bem”, diz.

Os motivos do estudo

Na introdução dos resultados preliminares do estudo, divulgados em Agosto no site Macstudies.net, o investigador Roy Xavier, também ele macaense, explica os motivos, pessoais e profissionais, que o levam a querer estudar esta comunidade. “Para perceber os papéis que os macaenses (luso-asiáticos) tiveram no desenvolvimento de Macau, Hong Kong, Xangai e outras regiões do sudeste asiático, e a sua migração para outros países depois da Segunda Guerra Mundial”, diz. Outro motivo é “para documentar as histórias dos membros da comunidade, passada e presente, cujas biografias e escritos testemunham o desenvolvimento colonial, a expansão do comércio da China e as origens da actual economia global”, declara ainda, acrescentando um último item: “Usar o Projecto de Estudos Portugueses e Macaenses e as redes sociais para envolver qualquer pessoa que esteja interessada em perceber, contribuir e preservar a história cultural dos macaenses de origem portuguesa.”

Tratando-se esta da quarta vez que realiza um estudo do género, Roy Xavier, afirma que “este tem sido refinado ao longo dos anos”. Luciana Leitão – Portugal in “Ponto Final” 


segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Portugal - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde aposta em alternativa aos antibióticos para combater super-bactérias

Investigação apoiada pela Fundação “la Caixa” e pela FCT foi publicada na «Nature Communications» e abre caminho para o tratamento de bactérias patogénicas multirresistentes



Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) descobriu que a presença de um açúcar (ramnose) na superfície da bactéria Listeria a torna mais agressiva e mais resistente aos antibióticos e que a presença desse açúcar, em particular, se deve exclusivamente à proteína RmlT. Os investigadores apostam agora numa droga que não mate a Listeria, mas que consiga inibir a proteína RmlT tornando a bactéria menos virulenta e mais sensível aos antibióticos. Esta descoberta, que abre caminho para o tratamento de bactérias patogénicas multirresistentes, foi publicada na prestigiada revista Nature Communications.

Este trabalho de investigação foi desenvolvido no i3S com o apoio do 6.º Concurso CaixaResearch de Investigação em Saúde 2023, promovido pela Fundação “la Caixa”, em parceria com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

As infeções causadas por bactérias Gram-positivas, como Staphylococcus, Enterococcus, Streptococcus ou Listeria, constituem um grave problema de saúde pública e um dos principais desafios da medicina moderna. Atualmente, assistimos ao aparecimento não só de novos agentes patogénicos, mas também de novas estirpes bacterianas com propriedades de virulência reforçadas e/ou maior resistência aos antibióticos. Listeria monocytogenes, por exemplo, é o agente patogénico de origem alimentar responsável pelo maior número de casos de hospitalização e mortes na Europa.

A equipa do i3S, que se tem centrado no estudo da bactéria Listeria monocytogenes, concluiu que “a proteína RmlT tem um impacto significativo na virulência bacteriana e na resistência antimicrobiana, já que é ela quem transfere o açúcar para as estruturas da superfície da bactéria, simultaneamente colocando factores de virulência na parede bacteriana e impedindo o antibiótico de atuar eficazmente”, explica Didier Cabanes, líder do grupo «Molecular Microbiology» do i3S, que liderou o estudo.

Para estudar o mecanismo da RmlT em Listeria, acrescenta Ricardo Monteiro, primeiro autor do artigo, “gerámos uma bactéria mutante sem o açúcar e verificamos que, de facto, ela ficou menos virulenta. Além disso, os antibióticos mostraram-se mais eficazes contra este mutante”.

A descoberta de um novo alvo terapêutico – a proteína RmlT – “permite-nos agora avançar para uma droga que atue especificamente nesta proteína”, acrescenta o investigador.

O objetivo, explica Didier Cabanes, “não é matar a Listeria, mas sim torná-la mais «fraca» para depois os antibióticos serem mais eficazes. Uma vez que a RmlT é muito similar a outras proteínas existentes em bactérias patogénicas que normalmente são multirresistentes e muito graves em ambiente hospitalar, como os Staphylococcus, a droga em que estamos a trabalhar poderá ser adaptada para combater outras super-bactérias”, sublinha. Universidade do Porto - Portugal