Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 31 de março de 2019

Fica tudo bem





















Vamos aprender português, cantando



Se você voltar pra ela
tente não se arrepender
vai ser difícil amar alguém
sem se querer

Melhor fazer valer a pena
e é bem melhor se conhecer
nas coisas do amor convém pagar pra ver

E fica tudo bem
fica fica fica tudo bem
fica tudo bem
fica fica fica tudo bem

Eu posso não saber de tudo
melhor as vezes nem saber
mas uma coisa eu sei ninguém
vai te dizer

Amigo, amar alguém a fundo
é coisa séria de querer
cuide de quem te quer e cuide de você

Que fica tudo bem
fica fica fica tudo bem
fica tudo bem
fica fica fica tudo bem

Fica tudo bem
fica fica fica tudo bem
fica tudo bem
fica fica fica tudo bem


Silva – Brasil

Anitta – Brasil

Lucas Silva de Souza - Brasil

sábado, 30 de março de 2019

São Tomé e Príncipe – Marinha portuguesa coopera em busca e salvamento marítimo



São Tomé – O Navio patrulha da Marinha Portuguesa, NRP Zaire, prestou auxílio durante quase dois dias a um veleiro inglês em águas de São Tomé e Príncipe, soube a STP-Press de fonte diplomática portuguesa no arquipélago.

Na tarde domingo, dia 24, o NRP Zaire, cuja tripulação já é em parte constituída por elementos da Guarda Costeira são-tomense, esteve empenhado numa missão de busca e salvamento marítimo, tendo largado do porto de São Tomé, pelas 16h00, com o intuito de prestar auxílio a um veleiro de pavilhão inglês, com um ocupante a bordo de nacionalidade australiana, – disse a fonte.

A fonte da embaixada portuguesa adiantou que a embarcação, um catamarã de 12 metros de nome Mon Ami, encontrava-se à deriva a cerca de 20 milhas náuticas a norte de São Tomé, em virtude de ter a vela danificada e os motores inoperacionais.

A primeira abordagem à embarcação ocorreu cerca das 20h00. No entanto, devido às más condições meteorológicas não se encontravam reunidas as condições de segurança para solucionar o problema, pelo que a equipa técnica enviada ao veleiro regressou ao navio.

O patrulha manteve uma vigilância constante e próxima da embarcação em dificuldades até aos primeiros alvores do dia 25 de março. Com o melhoramento da meteorologia, foi novamente enviada uma equipa técnica a bordo do veleiro que conseguiu reparar um dos motores da embarcação, evitando assim o reboque inicialmente planeado. 

Durante toda a operação de acompanhamento, até à chegada a Baía de Ana Chaves, permaneceu a bordo do veleiro uma equipa de apoio. Esta operação teve uma duração aproximada de 24 horas.

Cerca das 17h, e já à entrada da baía Ana Chaves, o veleiro foi entregue às autoridades locais que se encontravam a bordo da embarcação Rodmann 33 da Guarda Costeira de São Tomé.

O NRP Zaire prossegue a sua missão de Capacitação da Guarda Costeira de São Tomé e Príncipe, ilustrando a importância da cooperação bilateral entre estes dois países lusófonos no âmbito da segurança marítima. In “STP-Press” – São Tomé e Príncipe

Timor-Leste – Pretende renováveis a garantirem 70% da produção de energia em 2030


“Precisamos de investimento direto externo (…) para desenvolver as indústrias sustentáveis (...) e precisamos de melhorar as infraestruturas”, afirmou João Carlos Soares no discurso de abertura de uma das sessões do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF).

O responsável timorense sublinhou que esta aposta visa assegurar o desenvolvimento do país e que a meta é ter “70% de energia renovável em 2030”.

Na abertura de um painel destinado a discutir a importância da cooperação regional nos projetos ambientais e da economia verde, o diretor-geral do Ambiente de Timor-Leste frisou o trabalho que tem sido efetuado com outros países.

João Carlos Soares destacou as parcerias em áreas que vão desde o combate às alterações climáticas, à proteção da biodiversidade e das zonas costeiras, numa estratégia de conservação dos recursos naturais.

As sessões no MIECF integram oradores de cerca de 70 pioneiros ambientais, líderes de empresas multinacionais e criadores de políticas, provenientes de sete países e regiões, nomeadamente, da China interior, Holanda, Portugal, Timor-Leste, Reino Unido, Hong Kong e Macau. In “Sapo Timor-Leste” com “Lusa”

Macau - Fórum Macau coloca formação e cultura nas prioridades da relação com a CPLP



O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau) colocou ontem a formação de recursos humanos e o intercâmbio cultural entre as prioridades para 2019. Falando no final de uma reunião de ontem, a secretária-geral do secretariado permanente do Fórum Macau, Xu Yingzhen, explicou que o encontro visou realizar um balanço dos trabalhos efectuados em 2018 e aprovar o programa de actividades para este ano, tendo sido definidas cinco áreas prioritárias.

Em 2019, os principais objectivos do Fórum Macau vão centrar-se na promoção do comércio e do investimento, fomento da cooperação na capacidade produtiva, formação de recursos humanos, intercâmbio cultural entre a China e os países de língua portuguesa, bem como no apoio à construção de Macau enquanto plataforma entre a China e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

O Fórum Macau anunciou igualmente ontem a realização de uma conferência empresarial em São Tomé e Príncipe, país que só retomou relações diplomáticas com Pequim em 2016. A conferência empresarial, vai realizar-se em Julho 2019, referiu Xu Yingzhen. São Tomé e Príncipe foi, durante anos, um dos poucos países com relações diplomáticas com Taiwan durante ano, o que invalidava laços com a República Popular da China, devido à política externa de Pequim. Com este anúncio, o Fórum Macau cumpre essa nova orientação estratégica de Pequim, que visa fomentar parcerias económicas com países que renunciaram a relações diplomáticas com Taiwan. No quadro dessa estratégia de aproximação de São Tomé e Príncipe a Pequim, o primeiro-ministro são-tomense, Jorge Bom Jesus, está esta semana na China para uma série de encontros, que incluem Presidente chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro Li Keqiang. In “Ponto Final” - Macau

sexta-feira, 29 de março de 2019

Venezuela - Mais meio milhar de crianças de 4 a 12 anos aprendem português em escola pública


A Escola Estadual Pedro António Medina de Clarines fica na localidade situada no Estado venezuelano de Anzoátegui, 250 quilómetros a leste de Caracas



Com 27 anos a dar aulas e quase a reformar-se, Maria Manuela Geriante, foi convidada em novembro do ano passado para dar as aulas de português.

Desde então, diz-se «feliz e agradecida pela oportunidade» de dar aulas no seu idioma materno.

«Estou a dar português a crianças de vários níveis, desde a educação inicial até ao 6.º grau, com idades compreendidas entre 4 e 12 anos», disse a professora à agência Lusa.

Maria Manuela Geriante frisou ainda estar «muito contente» porque as crianças «gostam muito de aprender português, estão muito motivadas».

«E, estamos muito agradecidos, por terem escolhido a nossa escola para este projeto», frisou a docente, salientando que tem «510 crianças» a aprender a Língua de Camões, entre eles «apenas um filho de portugueses».

«Os outros nasceram na Venezuela, vivem na Venezuela, nunca saíram daqui (de Clarines) e estão muito contentes por aprender a falar português», sublinhou.

Maria Manuela Geriante insiste que o projeto de ensino da língua portuguesa deve expandir-se «a outras escolas de Clarines e de toda da Venezuela» e explica que «os idiomas ajudam muito as pessoas» e inclusive quem tem facilidades para aprender outras línguas também tem para matemáticas.

«Eu tenho três amores aqui, Portugal, de onde sou, a Venezuela onde vivo desde 1979 e esta escola que é a minha outra casa e a minha família também», concluiu, agradecendo ao Instituto Camões, à Fundação Luso-venezuelana de Clarines e aos cônsules portugueses de Caracas e Anzoátegui, por materializarem este projeto. In “Bom Dia” – Luxemburgo com “Lusa”

Brasil - Consórcio luso-brasileiro desenvolve tratamento inovador para feridas de pele



Um tratamento inovador e mais econômico para úlceras de pressão, feridas de pele provocadas pela diminuição de circulação sanguínea, está sendo desenvolvido por acadêmicos do Brasil e Portugal.

Professores do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC), em equipe coordenada pela professora Ana Angélica Macedo, do IFMA Campus Imperatriz, esteve reunida em Coimbra até 7 de fevereiro para realizar as primeiras análises laboratoriais.

O projeto “Preparação e Caracterização de Hidrocolóide obtido a partir de Galactomanana Reticulada para Aplicações em Úlceras de Pressão” foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão (FAPEMA) e será desenvolvido até junho de 2020.

As úlceras de pressão são habitualmente tratadas com hidrocolóides – curativos que fazem a regeneração da pele e que são produzidos com material de alto custo, explicou Ana Angélica Macedo.

O objetivo do consórcio luso-brasileiro é encontrar uma solução mais econômica por meio da extração de polissacarídeo da semente Adenanthera pavonina L., segundo a pesquisadora do IFMA. Só no final da investigação será possível quantificar a economia que este método pode representar, mas a utilização de “material vegetal biodegradável, abundante e de baixo custo” permite antecipar que os custos de produção serão reduzidos comparativamente aos métodos existentes.

“O objetivo principal, é que, no final, tenhamos um produto inovador e eficaz para úlceras de pressão para patentear e comercializar”, informou Ana Angélica Macêdo.

Parceria portuguesa

“Complementando os recursos existentes nas diferentes instituições de ensino superior, a investigação é mais célere e produtiva”, afirmou o professor Fernando Mendes, da ESTeSC, justificando assim a parceria Brasil-Portugal.

O consórcio “caracteriza bem a investigação científica nos dias de hoje: multidisciplinar e transnacional, com diferentes conhecimentos, competências e aptidões, a trabalhar em conjunto para encontrar soluções para problemas na área da saúde, e com forte impacto no indivíduo e na sociedade”, complementou.

A pesquisa reúne uma equipe de especialistas multidisciplinar, composta por três professores brasileiros (Ana Angélica Macedo e Rafael Mendonça de Almeida, do IFMA, e Cléber Cândido Silva, da UFMA), cinco estudantes bolsistas, sendo três deles do Maranhão (Gabriel Sá de Sena e Lucas Ribeiro de Sousa, do IFMA, e Romicy Dermondes Souza, da UFMA), além de quatro professores da ESTeSC: Ana Paula Fonseca e Jorge Balteiro (Departamento de Farmácia), Fernando Mendes (Ciências Biomédicas Laboratoriais) e Filipe Amaral (Ciências Complementares). In “Mundo Lusíada” - Brasil

Lusofonia - 'Português Mais Perto' já tem 600 utilizadores em todo o mundo

A plataforma online desenvolvida pelo Instituto Camões e pela Porto Editora para o ensino de português online chegou aos 600 utilizadores no segundo ano de funcionamento



O universo de utilizadores da plataforma "Português Mais Perto", que foi lançada no ano letivo 2017/2018, «é positivo e tem crescido», considerou o presidente do Instituto, Luís Faro Ramos, explicando que há pessoas a aprender português de forma remota nos cinco continentes.

«É uma plataforma online que pode ser usada com ou sem tutor», descreveu o responsável, acrescentando que esta permite aceder ao currículo que é dado em Portugal até ao 12.º ano.

O objetivo é dar a possibilidade de estudar «em sítios onde não há escolas que ensinem a nossa língua», havendo a possibilidade de escolher Português como língua estrangeira e Português como língua de herança.

O Camões pretende agora intensificar a divulgação da plataforma, cujo lançamento inicial foi feito através de projetos pilotos em escolas dos Estados Unidos e do Canadá, que receberam as licenças de forma gratuita.

No corrente ano letivo, o Instituto alargou as experiências a escolas na África do Sul, Austrália e Venezuela, e registou um crescimento dos utilizadores individuais ou grupos, que pagam licenças entre 40 e 90 euros conforme solicitem ou não um tutor.

«É importante que as pessoas saibam que existe a plataforma Português Mais Perto», frisou Luís Faro Ramos, considerando que a licença anual «não é cara».

Esse trabalho vai passar pelo novo coordenador adjunto de ensino de português na Califórnia, Duarte Pinheiro, que acaba de entrar em funções e irá coordenar a divulgação com as associações, professores e escolas.

O início da representação institucional direta do Camões na Califórnia deverá dar um impulso às atividades de promoção da língua, num Estado onde há «um potencial de crescimento».

Os protocolos estabelecidos entre o Instituto e universidades na Califórnia registam neste momento 370 alunos de português no ensino superior. In “Mundo Português” - Portugal

quinta-feira, 28 de março de 2019

Macau - Han Lili traduziu contos de Eça de Queiroz para Chinês


A directora da Escola Superior de Línguas e Tradução do Instituto Politécnico de Macau considera que a tradução é uma ponte de ligação entre as diversas culturas, daí ter traduzido uma série de contos e ensaios de Eça de Queirós para chinês. “Contos Seleccionados de Eça de Queirós” é, para Han Lili, uma oportunidade para dar a conhecer a literatura portuguesa “ao mundo chinês”



“Contos Seleccionados de Eça de Queirós” é uma obra com edição em chinês traduzida pela directora da Escola Superior de Línguas e Tradução do Instituto Politécnico de Macau (IPM), Han Lili, que integra a “Colecção de Literatura Chinesa e Portuguesa”, uma iniciativa do Instituto Cultural (IC). “É uma oportunidade de introduzir a literatura portuguesa ao mundo chinês e a Macau e apresentar os contos de Eça de Queirós”, disse Han Lili à Tribuna de Macau.

A obra está dividida em duas partes, uma dedicada a diversos contos do escritor português e outra que se debruça sobre uma série de artigos publicados no jornal brasileiro Gazeta de Notícias, intitulada “Chineses e Japoneses”.

Entre os contos do autor português que Han Lili considerou mais “interessantes” estão “Um Poeta Lírico”, “No Moinho”, “A Aia”, “O Suave Milagre”, “Singularidades de uma Rapariga Loura” e “O Tesouro”.

Se inicialmente a ideia era fazer exercícios para as suas aulas de tradução e para um projecto dos finalistas da licenciatura de tradução chinês-português, rapidamente mudou de plano. “Depois de traduzir um conjunto de contos de Eça de Queirós achei interessante publicá-los e o IC contactou-me”, explicou a docente.

Quanto a “Chineses e Japoneses”, cujo estilo de escrita “é muito diferente dos contos porque se trata de um artigo argumentativo, de uma crítica e da sua observação às relações chinesa e japonesa”, foi uma tradução feita a pedido do IC há cerca de três ou quatro anos.

Depois de já ter lido romances como “Os Maias” ou “O Crime do Padre Amaro”, que foram traduzidos para chinês na década de 90, Han Lili quis apostar em algo diferente: “Quis procurar outras obras que ainda não tivessem sido traduzidas. A razão para o ter escolhido [Eça de Queirós] foi o facto de ter sido um dos grandes escritores que inspirou o realismo e este livro [de onde foram retirados os contos] é bastante crítico. É bastante interessante e um grande escritor”.

Além de considerar que esta é uma iniciativa importante porque há, por um lado, “possibilidade de introduzir a literatura portuguesa ao mundo chinês e, por outro a literatura chinesa ao mundo lusófono”, este processo permitiu-lhe uma aprendizagem porque “uma tradução é uma leitura profunda para conhecer melhor o escritor”.

Han Lili não descarta a hipótese de no futuro traduzir mais escritores portugueses, porque crê que é “através da tradução que a cultura da china [e vice-versa] consegue sair das portas e entrar no mundo lusófono”. “De momento ando a ler José Luís Peixoto e gostaria de um dia traduzir a sua obra porque gosto muito do estilo dele”, acrescentou.

O livro encontra-se à venda em vários locais e tem um custo de 100 patacas. A obra foi apresentada pela autora, no domingo, na Feira do Livro da Primavera. Catarina Pereira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

Quénia – Quem é o professor eleito “o melhor do mundo”

Um professor de ciências da zona rural do Quénia, que doa a maior parte de seu salário para apoiar os alunos mais pobres, ganhou um prémio de US$ 1 milhão ao ser eleito o melhor professor do mundo



Peter Tabichi, membro da ordem religiosa franciscana, ganhou o “Global Teacher Prize de 2019”, conferido pela Fundação Varkey, organização de caridade dedicada à melhoria da educação para crianças carentes.

Tabichi foi elogiado pelas suas realizações numa escola sem infraestrutura, no meio de classes lotadas e poucos livros didáticos.

Ele quer que os alunos vejam que "a ciência é o caminho certo" para ter sucesso no futuro.

O prémio, anunciado numa cerimónia no Dubai, reconhece o compromisso "excepcional" do professor com os alunos numa parte remota do Vale do Rift, no Quénia.

Ele doa 80% do seu salário para apoiar os estudos dos seus alunos, na Escola Secundária Keriko Mixed Day, na aldeia de Pwani. Se não fosse a ajuda do professor, as crianças não conseguiriam pagar pelos seus uniformes ou material escolar.

Melhorando a ciência

"Nem tudo é sobre dinheiro", diz Tabichi, cujos alunos são quase todos de famílias bem pobres. Muitos são órfãos ou perderam um dos pais.

O seu objetivo é que os estudantes tenham grandes ambições, além de promover a ciência, não apenas no Quénia, mas em toda a África, afirma.

Ele venceu entre outros dez mil indicados de 179 países, entre eles a professora Debora Garofalo, ficou entre os 10 finalistas, que ensina matérias de tecnologia numa área carenciada de São Paulo, no Brasil, ou José Jorge Teixeira, professor de Física e Química da escola secundária Dr. Júlio Martins em Chaves, Portugal, que abandonou uma carreira de sucesso na Universidade de Trás-os-Montes como professor de Física, ficando entre os 50 finalistas.



Mas Tabichi diz que enfrenta "desafios com as instalações precárias" da sua escola, inclusive com a falta de livros ou professores.

"A escola fica numa área muito remota. A maioria dos estudantes vêm de famílias muito pobres. Até chegar o pequeno almoço da manhã é difícil. Eles não conseguem concentrar-se, porque não se alimentaram o suficiente em casa", contou em entrevista publicada no sítio do prémio.

As classes deveriam ter entre os 35 e 40 alunos, mas ele acaba ensinando grupos de 70 ou 80 estudantes, o que, segundo o professor, deixa as salas superlotadas.

A falta de uma boa conexão de internet faz com que ele vá até um café para reproduzir os materiais necessários para as suas aulas de ciências. E muitos dos seus alunos andam mais de 6km em estradas ruins para chegar à escola.

No entanto, Tabichi diz que está determinado a dar aos alunos uma oportunidade de aprenderem sobre ciência e ampliarem os seus horizontes.

Os seus estudantes foram bem sucedidos em competições científicas nacionais e internacionais, incluindo um prémio da Real Sociedade de Química do Reino Unido.

Fora da sala de aula

Tabichi diz que parte do desafio tem sido persuadir a comunidade local a reconhecer o valor da educação, o que o leva a visitar famílias cujos filhos correm o risco de abandonar a escola.

Ele tenta mudar a mentalidade dos pais que esperam que as suas filhas se casem cedo - encorajando-os a deixar as meninas a continuarem os seus estudos.

O professor também ensina técnicas de cultivo mais resistentes aos moradores dos arredores, já que a fome é uma realidade frequente na região.

"Insegurança alimentar é um grande problema, então, ensinar novas maneiras de plantar é uma questão de vida ou morte", disse em entrevista à Fundação Varkey.

Além do contato com as famílias, a atuação de Tabichi estende-se aos "clubes da paz" que ele organiza na escola, para representar e unir as sete tribos ali presentes. A violência tribal explodiu no Vale do Rift depois da eleição presidencial de 2007 e houve muitas mortes em Nakuru.

"Para ser um grande professor tem que ser criativo e abraçar a tecnologia. Realmente tem que abraçar essas formas modernas de ensino. Tem que fazer mais e falar menos", disse ele à fundação.

O prémio

O prémio que lhe foi conferido procura elevar o estatuto da profissão de docente. O vencedor do ano passado foi um professor de arte do norte de Londres, Andria Zafirakou.

O fundador do prémio, Sunny Varkey, diz esperar que a história de Tabichi "inspire os que procuram entrar na profissão e seja um poderoso holofote sobre o incrível trabalho que os professores fazem no Quénia e em todo o mundo, diariamente".

"As milhares de indicações e inscrições que recebemos de todos os cantos do planeta são testemunho das conquistas dos professores e do enorme impacto que eles têm em as nossas vidas", concluiu. Sean Coughlan – Reino Unido in “BBC News”

Macau – Novo sistema para aumentar as receitas por desrespeito ao tráfego de trânsito

DSAT vai instalar sistema de fiscalização de desrespeito pelos semáforos em 14 cruzamentos



A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) anunciou que vai implementar um sistema de detecção de situações de desrespeito aos semáforos e excesso de velocidade em 14 intersecções rodoviárias. O sistema vai entrar em funcionamento já na próxima segunda-feira em sete cruzamentos.

Segundo a DSAT, este sistema, para além de detectar situações de desrespeito ao sinal luminoso, detecta a velocidade dos veículos, identificando situações de excesso de velocidade, recorrendo à nova tecnologia de recolha de imagem.

A DSAT, em conjunto com o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), vai acompanhar de perto a instalação deste sistema, lê-se no comunicado. O sistema visa “combater eficazmente o desrespeito pelos sinais luminosos, o excesso de velocidade, e outras infracções”.

Esta segunda-feira entram em funcionamento os sistemas do cruzamento entre a Avenida da praia Grande e a Travessa do Padre Narciso; cruzamento entre a Avenida D. João IV e a Avenida do Infante D. Henrique; a Intersecção entre a Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida e a Rua Filipe O’Costa; cruzamento entre a Rua da Ribeira do Patane e Avenida de Demétrio Cinatti; Intersecção entre Avenida Venceslau Morais e Rua Francisco Xavier Pereira; Intersecção entre Avenida Venceslau Morais e  Avenida do Almirante Magalhães Correia; e ainda o cruzamento entre a Avenida Venceslau de Morais e Avenida do Nordeste. Em Julho vão entrar em funcionamento os sistemas em outros sete cruzamentos.

O comunicado recorda ainda que o condutor que não respeite os limites máximos de velocidade é punido com pena de multa entre 600 e 40 mil patacas, até à inibição de condução, e o condutor que não respeite a obrigação de parar imposta pelo semáforo é punido com uma multa entre mil e 10 mil patacas, até à inibição de condução. In “Ponto Final” - Macau

quarta-feira, 27 de março de 2019

Timor-Leste – Especialista defende que o país deve criar rapidamente companhia aérea pública

Díli - Um dos responsáveis de um projeto de criação de uma companhia aérea timorense defendeu hoje que Timor-Leste pode ter uma transportadora pública em três meses para combater o isolamento e os monopólios indonésio e australiano.

"Uma empresa timorense daria opções vantajosas ao país", disse à Lusa Pedro Miguel Carrascalão, especialista do setor aéreo e um dos responsáveis de um novo projeto apresentado ao Governo para a criação de uma companhia de bandeira timorense.

"Podemos resolver os problemas de preços, baixando o preço das viagens para a Indonésia e Austrália, e ganhamos mais autonomia", disse, numa referência aos custos, que considerou "desproporcionadamente elevados", mantidos pelas companhias aéreas da Indonésia e da Austrália.

Para Carrascalão, uma empresa "100% do Estado" é a melhor opção porque teria mais força do que uma empresa privada para competir na Indonésia, o principal mercado, com as empresas da transportadora estatal Garuda que voam para Díli.

Essa aposta daria opções de rotas a horários diferentes dos atuais, ligações a centros regionais, viagens de ida e volta e até voos com outras empresas em 'code sharing'.

Na proposta apresentada ao Governo, esta estratégia poderá ter um custo de até 45 milhões para o Estado "com as receitas a poderem chegar aos 80 milhões", com impacto amplo na economia timorense, indicou.

"É um negócio muito viável para o país e que dá um retorno grande, não apenas na companhia aérea, mas noutros setores. O objetivo do Estado deve ser facilitar as infraestruturas aéreas. Se os preços ficarem mais baratos as pessoas viajam para cá e gastam dinheiro em hotéis, restaurantes, no resto da economia", disse.

Para que o processo arranque, Timor-Leste deve iniciar "de imediato" o processo para a obtenção de um Certificado de Operador Aéreo (AOC, sigla em inglês), afirmou.

"A melhor solução é ter uma empresa 100% pública com o setor privado a fornecer serviços. Não há uma ilha aqui na região que não tenha os seus próprios aviões", disse Pedro Miguel Carrascalão.

"A Samoa tem aviões com ligações até à Austrália e à Nova Zelândia. A Fiji até voa para os Estados Unidos. Não faz sentido Timor-Leste não ter a sua soberania", sublinhou.

O mecanismo de menor risco é optar por um aluguer de aviões com tripulação, manutenção e seguros ("wet lease"). A segunda escolha é alugar aparelhos sem tripulantes ou demais aspetos ("dry lease"), e a terceira opção seria comprar aviões próprios e assumir a responsabilidade por todos os outros custos, acrescentou.

Nos últimos anos, Timor-Leste tem ficado progressivamente mais isolado nas ligações aéreas, dependendo de três monopólios de companhias exteriores e sem qualquer soberania no setor da aviação.

"O Governo achou que isto não era uma prioridade e deixou passar. Ficou muito dependente deste sistema e agora que os preços começaram a subir percebeu o impacto", referiu.

As empresas que ligam Díli à Indonésia "cobram preços de companhia aérea normal, mas com serviços 'low cost'", impedindo os passageiros, por exemplo, de fazer 'check-in' de bagagem de Díli até ao destino final, destacou.

A situação agravou-se por indecisões das autoridades timorenses que levaram a Singapore Airlines a anunciar o fim do contrato com a Air Timor, que a 30 de março vai realizar o último voo com aparelhos 'charter' da SilkAir.

Com um monopólio, desde 1999, na ligação a Darwin, a AirNorth, da gigante australiana Qantas, continua a manter preços por quilómetro especialmente elevados.

Para abril, o preço indicativo de uma viagem de ida e volta Díli-Darwim (722 quilómetros para cada percurso) é superior a 600 dólares americanos (cerca de 530 euros). No mesmo período, um voo de ida e volta entre Darwin e Singapura (3350 quilómetros para cada percurso) custa perto de metade.

A ligação com a Indonésia depende igualmente de um monopólio, neste caso, do grupo Garuda com as marcas Citilink e Sriwijaya. Nos últimos seis meses, os preços dos voos destas transportadoras mais do que triplicou, forçando muitos em Timor-Leste a procurar alternativas mais baratas para sair do país.

Uma viagem ida e volta entre Díli e Denpassar, capital de Bali, (1.140 quilómetros cada percurso) custa mais de 590 dólares, enquanto um voo entre Kupang, capital de Timor Ocidental, e Surabaya, segunda maior cidade indonésia, (1236 quilómetros cada percurso) custa apenas 150.

Isso significa que o preço por quilómetro e por lugar Díli-Bali é de 26 cêntimos, 20 cêntimos mais que os seis cêntimos entre Kupang-Surabaya.

A alternativa envolve uma longa viagem de carro (que pode chegar às 14 horas) até Kupang, e daí apanhar um avião até Bali, ou viajar de carro entre Díli e Atambua, próximo da fronteira, apanhar um avião para Kupang e um segundo até Bali.

"Nenhuma das empresas tem que mudar preços ou serviços porque Timor-Leste não tem alternativas. Se quiserem agora aumentar para mil dólares podem fazê-lo", alertou. In “Sapo Timor-leste” com “Lusa”

Guiné-Bissau – Entrevista ao poeta e deputado Francisco Conduto de Pina

“O melhor que o colono nos deixou foi a língua”

Foi em Bubaque, uma das ilhas do arquipélago guineense dos Bijagós, que nasceu Francisco Conduto de Pina. Em entrevista ao PONTO FINAL, o deputado e poeta da Guiné-Bissau, que passou por Macau a propósito do Festival Literário Rota das Letras, conta que o interesse pela poesia surgiu quando, em criança, caiu da bicicleta e escreveu “O Chico Caiu da Bicicleta”. A obra de Francisco Conduto de Pina tem tido duas vertentes: o elogio ao seu país e a intervenção. “A poesia pode servir como uma arma de arremesso”, diz

Francisco Conduto de Pina, poeta e político. Nascido nos Bijagós, foi lá que teve o seu primeiro encontro com a poesia. Escreveu “O Chico Caiu da Bicicleta” ainda em criança, um poema que, como o título indica, contava o infortúnio do jovem Francisco ao cair da sua bicicleta. O seu professor fez com que o poema saísse no jornal e, a partir daí, ganhou-lhe o gosto e nunca mais deixou de escrever. Sai de Bubaque, vai estudar para Bissau e, mais tarde, para Lisboa, onde acompanhou o Verão Quente de 1975. Voltando à Guiné-Bissau, torna-se deputado pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). “A poesia pode servir como uma arma de arremesso, como uma arma de chamar a atenção, como uma arma de divulgar e promover”, é assim que Francisco Conduto de Pina diz usar o facto de ser poeta ao mesmo tempo que é político. A intervenção é uma das marcas dos poemas de Francisco Conduto de Pina e ainda hoje a luta faz sentido porque “a poesia fica mais bonita se houver mais democracia”, até porque “a liberdade é uma coisa que não é estática”, diz. Além disso, passou ainda por vários cargos no Governo da Guiné, chegando a ser ministro do Turismo e do Ordenamento do Território entre 2000 e 2008. Foi o primeiro autor a publicar poesia em crioulo da Guiné. Porquê? Porque é a língua que dá autonomia e comunicação ao povo da Guiné, explica. Publica também em português, língua à qual deixa o elogio: “O melhor que o colono nos deixou foi a língua, onde nós todos fomos beber a nossa identidade”. Por fim, a Guiné, uma “miúda bonita”. É sobretudo sobre a sua beleza que a poesia de Francisco Conduto de Pina se centra: “Nunca, enquanto for vivo, nunca deixarei de cantar, descobrir, divulgar a Guiné. A nossa Guiné é linda”.

Como foi crescer em Bubaque?

Nasci numa tabanca chamada Bijante, em Bubaque, onde fiz toda a minha juventude. Depois fui parar aos padres, à missão católica, e aí fiz a minha instrução primária. Depois, como ali não havia ciclo preparatório, passámos para Bissau. Estudei em Bissau e depois chegou a altura de estudar no exterior e fui para Portugal.

Como é que foi estudar para a missão católica?

Fui parar aos padres por causa dos padres italianos. O padre era bastante amigo dos meus pais, e eu e outros colegas fomos parar à missão católica, em internato, praticamente. Lá fizemos o possível.

Uma boa infância?

Foi uma infância sem essas mordomias que as crianças de hoje têm, fiz as minhas brincadeiras, na praia a subir paus, com as nossas criatividades próprias das crianças de África. Fiz tudo aquilo que uma criança em África faz. Uma criança que nasce numa tabanca, numa aldeia, não tem electricidade, não tem carrinhos, nós é que tínhamos de fazer os carrinhos, nós é que tínhamos de fazer tudo, inventávamos tudo o possível. Uma infância que eu considero feliz.

Como é que a poesia entra na sua vida? Quando é que se começa a interessar?

A poesia entra na minha vida por causa dessa vivência na missão católica. Com os padres italianos estudávamos, tínhamos o programa de saber cozinhar, saber servir, trabalhar para poder sobreviver no dia de amanhã, e tínhamos a leitura. E eu lembro-me de quando caí da bicicleta, machuquei-me todo e depois o padre viu-me a chorar e perguntou o que é que se passava e eu contei-lhe, e ele disse: “então, escreve isso, escreve isso”. Eu lembro-me que escrevi, rasurei, fiz umas coisas, depois ele rasurou, disse-me como fazer e, como ele era correspondente do jornal A Voz da Guiné, pegou naquilo e mandou para o jornal. Depois, quando o jornal saiu na semana seguinte, ele mostrou-me e eu adorei. Depois, lá fui fazendo e fui aprendendo com ele.

Ainda se lembra do poema?

Por acaso ainda tenho esse recorte de jornal em casa. “O Chico Caiu da Bicicleta”, era o título. Contava como é que eu tinha caído.

Foi a partir do momento em que viu o seu trabalho publicado no jornal que começou a interessar-se?

É, gostei, senti-me orgulhoso.

Passando para outra fase da sua vida, como é que viveu a conquista da independência por parte da Guiné? Qual foi o seu papel?

Como deve imaginar, eu e todos os guineenses tínhamos um ardor nas veias, não podíamos não ficar satisfeitíssimos com a independência. A independência trouxe-nos o orgulho de sermos nós, orgulho de sermos guineenses, a nossa bandeira, o nosso hino. Os castigos, a tortura, a prisão, a PIDE, era uma forma de nos libertarmos do jugo colonial. Não só nós, como Cabo Verde, porque o PAIGC libertou não só a Guiné-Bissau, mas também Cabo Verde. Na altura, não podia ficar indiferente ao que estava a acontecer. Nós acompanhámos vivamente a entrada dos novos guerreiros e, por isso, cantámos, declamámos, escrevemos, não nos cansávamos de gabar o heróico povo da Guiné-Bissau. Eu estava em Bissau e ninguém ficou de fora porque era um sentimento ímpar. Nós, já crescidos, não podíamos ficar de fora, tínhamos o orgulho de termos conseguido a independência nessa altura, para não passarmos pelo massacre e vicissitudes que o colonialismo nos impunha.

Foi a partir do movimento de independência da Guiné que começou a ganhar interesse pela política, ou já vinha de trás?

Já vinha de uns anos para trás. Convivia com muitos colegas que, no decorrer dos anos, foram fugindo para a luta, para a mata. Cada vez mais, todas as pessoas ficavam atentas e os mais velhos fugiam sempre, quando chegava a uma certa altura, uma certa idade, iam para a luta. Não podíamos ficar indiferentes a isso. Ouvíamos a Rádio Libertação às escondidas, falávamos às escondidas. Toda a gente estava envolvida, directa ou indirectamente.

Tornou-se, mais tarde, deputado…

Tornei-me deputado em 1994, com a abertura da democracia.

Como é que o facto de ser poeta o influenciou enquanto deputado? O que é que um poeta pode dar à política?

A poesia pode servir como uma arma de arremesso, como uma arma de chamar a atenção, como uma arma de divulgar e promover. Uma promoção no sentido do amor, de solidariedade, de compreensão, de anunciar, de denunciar.

É nesse sentido que tenta usar a poesia na política?

Sim, sim.

E ao contrário, o que é que um político pode dar à poesia?

O político pode dar à poesia sempre que dê coisas boas dentro do país. Desde que seja compreensivo, trabalhe pela segurança social, trabalhe pelo bem-estar do povo, se for honesto, se servir. Aí, a poesia pode, em vez de ser de intervenção, passar a ser uma poesia de amor, de cantar o belo, cantar a natureza, cantar o povo e a cantar a alegria e o sorriso.

Mas há uma poesia antes de ser deputado e uma depois?

Não, não, não. Eu vou escrevendo. Eu escrevo em qualquer momento, eu escrevo de acordo com o espaço, o tempo, o lugar onde estou e com os sentimentos. Não há diferença. Não faço todos os dias poesia política.

Foi para Lisboa em 1975 e em 1981 foi estudar Artes Visuais e Belas-Artes. Isso afectou a sua poesia de alguma maneira?

Não. Com a ida para Lisboa eu fui conhecendo. Eu não sou um homem estático no espaço. Vou acompanhando o mundo e a minha ida para Lisboa ajudou-me a conhecer outras gentes, outras pessoas, conhecer outros costumes, conhecer a literatura portuguesa, conhecer outros poetas.

Esse período pós-25 de Abril também vincou a sua posição política?

Lógico. Marcou-me porque, nessa altura, era jovem e vivia-se em Portugal o chamado “Verão quente”, o período de transição entre o fascismo e o início da [Assembleia] Constituinte, da afirmação da democracia em Portugal. Isso foi mexendo comigo, foi-me dando uma experiência de vida. Eu, hoje, quando revejo o meu passado em Portugal, vejo os erros que foram cometidos nessa altura, eu procuro não os repetir na Guiné-Bissau.

Foi secretário de Estado, depois ministro do Turismo e Ordenamento do Território, entre 2000 e 2008, e foi também secretário de Estado da Juventude, Cultura e Desporto até 2016. A poesia da Guiné é mais uma forma de promover o turismo do país?

Tem ajudado. O próprio Amílcar Cabral, com a letra do hino nacional e não só, em vários temas, como o Vasco Cabral, o Hélder Proença, a Odete Semedo, a Domingas Samy, o Abdulai Silla, o Tony Tcheka, o Agnelo Regalla. Todos eles lutam, anunciam, denunciam, cantam os efeitos da nossa vivência democrática, condenam os actos repressivos, cantam a liberdade, cantam o fulgor da luta de libertação. Tudo isto dá consciência às pessoas. O Zé Carlos na música, o Aliu Bari… Tudo isso promove a Guiné. As mulheres cantadeiras de batuque também. Tudo isso faz com que a cultura guineense viva e chama a atenção.

Foi o primeiro a publicar, em nome próprio, poesia em crioulo da Guiné…

É verdade, fui o primeiro guineense pós-independência a publicar sozinho, em nome próprio.

E porque é que decidiu fazê-lo? Foi uma maneira de preservar a língua?

O crioulo é a nossa língua nacional, é a nossa língua de comunicação. Como sabe, vivemos num país onde temos muitas etnias. O melhor que o colono nos deixou foi a língua, onde nós todos fomos beber a nossa identidade. Ainda que a língua oficial seja o português, temos também o guineense, que nos dá a autonomia de estarmos em comunicação permanente entre os povos existentes na Guiné-Bissau.



Porque é que antes de o Francisco o ter feito, não havia poesia publicada em crioulo da Guiné?

Penso que por causa da censura, talvez. Mas as pessoas escreviam, podia não estar publicado, mas, quando digo que sou o primeiro guineense a publicar em crioulo é pós-independência. Há muitas pessoas antes de mim, o [Pascoal] D’Artagnan, que escrevia em português e, de vez em quando, punha uma palavra ou outra em crioulo.

O crioulo é a língua mais falada da Guiné…

É o mais falado. É a comunicação que nós temos para nos compreendermos, para divulgar, informar, consciencializar, formar as pessoas também.

Hoje já se escreve mais poesia em crioulo da Guiné?

Claro, a juventude de agora está a crescer, está rebelde no bom sentido, no sentido da escrita. A poesia, o conto, mesmo na rádio dá-se o noticiário em crioulo.

O Francisco teve algum mérito nisso?

Não, não, não. Antes de mim já se falava crioulo. É história. Se hoje é reconhecido que eu fui o primeiro, eu agradeço e fica para a história.

Qual o ponto de situação actual da poesia na Guiné? Há muita gente a fazer poesia?

Está a crescer, a nova geração está a fazer, está a escrever. Tem o campo livre para o fazer e isso é bom, que haja todos os dias a publicação. Só que temos um problema de editoras, se houvesse mais editoras ou mais incentivos por parte da cultura, se houvesse meios, haveria mais livros. É difícil serem publicados na Guiné e fora. Na Guiné temos duas ou três editoras, mas é preciso ter condições económicas.
O acesso à educação influencia o interesse pela poesia, por exemplo?

Afecta o desenvolvimento. Se afecta o desenvolvimento, afecta a poesia, afecta a literatura. Quanto menos pessoas souberem ler, dificulta toda uma caminhada. O português [António] Aleixo não sabia ler, mas era poeta, o Bocage, entre tantos outros. Nós também temos poetas que não sabem ler. Afecta o interesse dos jovens, ficam mais fechados.

A sua poesia é, muitas vezes, de índole política, de luta, de liberdade. Continua a fazer sentido fazer poesia a partir desses conceitos, hoje em dia?

Sim, a liberdade tem de ser gira, temos de lutar pela liberdade sempre, ontem, hoje e amanhã. A liberdade é uma coisa que não é estática, quanto mais houver o reforço da democracia, mais liberdade temos e o campo de acção da liberdade não pode parar, tem de ser sempre alargado. E a poesia acompanha, a poesia agradece, a poesia fica mais bonita se houver mais democracia, mais liberdade e a intervenção deixa de ser um tabu, uma coisa rígida. O povo norueguês, é o primeiro no desenvolvimento, tem poetas que pode não ser de intervenção, mas de crítica social deve haver.

Mas continua a ser necessário fazer poesia de intervenção na Guiné?

É importante fazer a poesia de intervenção no sentido de chamar a atenção, nos comportamentos dos políticos, comportamento social, comportamento entre os velhos, menos velhos, jovens, crianças.

E a mensagem passa?

Tem passado. Não é na leitura, na literatura, no papel, mas na música tem passado. Os jovens cantam rap que critica a sociedade, as miúdas e os rapazes criticam o mal e falam do bem.

Nos seus textos fala também da natureza e da beleza da Guiné…

Ah, a Guiné-Bissau é bonita, é uma miúda bonita, uma mulher. A Guiné, com a sua configuração entre o continente e a parte insular, tem coisas a que você não pode ficar estranho, tem de acompanhar a vista, o cheiro, o aroma, o tacto.

Isso passa através da poesia?

Passa. Então não? A Guiné é bonita. Nunca, enquanto for vivo, nunca deixarei de cantar, descobrir, divulgar a Guiné. A nossa Guiné é linda.

A poesia de intervenção e a poesia da natureza complementam-se?

Lógico, a intervenção, quando é divulgada, deixa de ser nossa, passa a ser das pessoas. Intervenção é de intervir, não de luta, mas de intervir, de mostrar os sentimentos e a vivência que tem sido feita. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”