Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Canadá - Lusodescendente cria fundação que apoia vítimas de cancro

A ‘Together Helping Women’ foi fundada em junho de 2016 no Canadá por Ana Pereira, uma vítima de um cancro na mama, mas a organização já tem um papel importante na sociedade local

“O nosso objetivo é angariar fundos para ajudar essas mulheres (com cancro) porque temos tido poucos voluntários”, disse à agência Lusa Ana Pereira.

A responsável da fundação falava durante a terceira gala de angariação de fundos para auxiliar vítimas do cancro, organizado pela ‘Together Helping Women’. Nesta edição, o tema foi a leucemia.

“Queremos ajudar mulheres com qualquer tipo de cancro. Nesta edição, estamos a assinalar o tema da leucemia. Já abordámos outros temas, como o cancro da mama e dos ovários”, acrescentou.

Com cerca de 300 convidados, os lucros do jantar de gala reverteram para as vítimas de cancro, pessoas com “baixo rendimento, sem acesso ao seguro de saúde”, acima de tudo pessoas “mais necessitadas, como mães solteiras”, exemplificou.

Nem todas as vítimas têm acesso ao sistema de saúde de Ontário, daí que a fundação desempenhe um importante papel no acompanhamento das vítimas.

“Hoje em dia, as pessoas da comunidade portuguesa estão muito abertas. As estatísticas da Sociedade Canadiana do Cancro revelam que uma em cada duas mulheres padecem de um cancro. Há ainda muito tabu, mas as pessoas estão mais abertas”, sublinhou.

Uma das vítimas, com um tumor no cérebro, Vanina Reynoso, destacou a importância de associações como a ‘Together Helping Women’ no acompanhamento das mulheres afetadas por esta doença.

“Através destas associações conhecemos imensas pessoas que passaram pelo mesmo problema e não nos sentimos tão sozinhos. Isto é muito importante porque ajudam-nos a ultrapassar os medos”, recordou.

Ainda enviou uma mensagem de esperança a todas aquelas afetadas pela doença porque a “maior parte do tempo é difícil”, mas a “esperança é sempre a última a morrer”.

Outra das vítimas, Patrícia Rocha, há 13 anos no Canadá, natural de Póvoa de Varzim, uma sobrevivente de um cancro na mama, diagnosticado em julho de 2017, reconheceu o trabalho da fundação.

“Sempre estiveram do meu lado, nas consultas e no tratamento de quimioterapia, acompanhando-me. Disponibilizaram-se para me apoiar financeiramente, nomeadamente a peruca, mas não foi necessário. Preferi que a disponibilizassem para outra vítima que tivesse problemas com a imagem”, contou.

A fundação tem um papel importante mas as vítimas “têm de ter força de vontade, autoconfiança”, pois só assim se consegue ir até fim.

De acordo com dados de 2016 da Sociedade Canadiana de Leucemia, 138.100 canadianos padeciam de uma forma de cancro no sangue, 43.335 de um linfoma, 22.510 de leucemia e 7.455 de um mieloma. In “Mundo Português” – Portugal com “Lusa”

Estados Unidos da América - Marca portuguesa Claus Porto abre primeira loja internacional em Nova Iorque

A marca portuguesa de luxo Claus Porto, da indústria de sabonetes, abriu, esta semana, a sua primeira loja internacional em Nova Iorque, com um 'design' de interior em que tudo remete para Portugal



«Há uma ligação direta e total a Portugal», disse à agência Lusa o diretor-geral da companhia detentora Ach Brito, Francisco Neto, na loja localizada em 230 Elizabeth Street, no bairro Soho.

Todos os produtos da Claus Porto, que incluem sabonetes, cosmética, perfumaria, creme de mãos e velas difusoras, são de fabrico nacional, mantendo sempre como pilares o luxo e a excelência.

As paredes da loja de Nova Iorque são como um túnel, «inspirado nos arcos da estação de comboios de São Bento do Porto» e talhado em cortiça, «o material natural mais nobre e representativo de Portugal», explica o presidente executivo, Francisco Neto.

Um túnel branco, que também serve de montra, para que a cor seja dada pelas inúmeras embalagens decorativas dos produtos da Claus Porto.

O lavatório, no centro da loja, é feito em mármore de Estremoz e até os copos das velas difusoras são feitos de porcelana portuguesa.

A abertura de uma loja em Nova Iorque, um local que tem à volta uma grande comunidade lusófona, pode despertar «interesse especial» e «orgulho, por ser uma marca portuguesa», mas os responsáveis acreditam que a Claus Porto «não é mais acarinhada por portugueses do que por coreanos», nas palavras de Francisco Neto.

«A marca é adorada na Coreia do Sul, descobrimos isso recentemente», contou.

«O que sentimos quando vemos a marca em Tóquio, em Paris, em Londres ou aqui é uma contemporaneidade internacional», diz o diretor-geral.

Com mais de 130 anos de existência, criada no Porto em 1887 e pertencente à empresa Ach Brito a partir de 1924, a marca representa nos seus produtos muito da história de Portugal, mas é mais conhecida e comercializada fora do país.

A Claus Porto (chamada Claus & Schweder até finais dos anos 1920) «sempre teve uma vertente mais internacional» e vendeu os produtos dentro e fora de Portugal através de parceiros, distribuidores e retalhistas, enquadra Aquiles Brito, administrador não executivo da companhia Ach Brito, fundada em 1918 pelo seu bisavô, Achilles de Brito.

Os Estados Unidos sempre tiveram muito peso na faturação da empresa, revela o administrador. Antes de se estabelecer com uma loja própria, a marca já podia ser encontrada «nos melhores retalhistas dos Estados Unidos e em boutiques de luxo».

Aquiles Brito acredita que a concorrência é forte em Nova Iorque: «são empresas muito fortes, algumas delas espalhadas mundialmente, detidas por grandes grupos económicos», que ultrapassam a faturação da Ach Brito, detentora da Claus Porto.

«É um desafio mais interessante, porque é sinal que a marca tem muito potencial para crescer», diz o administrador.

Francisco Neto conclui que a Claus Porto quer «pertencer a esse clube de marcas que convivem saudavelmente. Mais do que competem, convivem». In “Revista Port. Com” – Portugal com “Lusa”

França – Uma lição da vida

“Todos podem ser forçados a usar uma cadeira de rodas um dia”, explicou o condutor perante a relutância dos passageiros

Nem todos os heróis usam capa. Em Paris, um motorista de autocarro está a ser elogiado pela sua atitude perante a falta de ação dos passageiros para ajudar um homem em cadeira de rodas a entrar no veículo.

O caso aconteceu no passado dia 18 quando os passageiros que estavam no autocarro se recusaram a abrir espaço para que a pessoa com deficiência pudesse usar a rampa para subir para o veículo.

A história acabou partilhada nas redes sociais. “Ontem, quando esperava pelo autocarro em Paris, ninguém queria abrir espaço para mim. Como ninguém se mexeu, o motorista levantou-se e gritou: “Terminus! Saiam todos…” Veio até mim e disse: ‘Você pode subir e os outros aguardam pelo próximo autocarro…'”, contou o homem acrescentando que, apesar da relutância de alguns passageiros, o motorista manteve-se firme e argumentou que “todos podem ser forçados a usar uma cadeira de rodas um dia”. In “Jornal I” - Portugal

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Macau - Ensino Superior lusófono e chinês assinam declaração conjunta de cooperação



Mais de 70 entidades ligadas ao ensino superior dos países lusófonos e da China assinaram uma declaração conjunta na qual se comprometem a promover a cooperação na mobilidade e no apoio às indústrias inovadoras e criativas. A declaração conjunta marcou o encerramento da 1.ª edição do Fórum dos Reitores das Instituições do Ensino Superior da China e dos Países da Língua Portuguesa, organizada pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior de Macau, a Universidade de Macau e a Universidade de São José.

Segundo o comunicado oficial, os responsáveis acordam em “incentivar a cooperação das indústrias inovadoras e criativas”, tanto na China continental e nas regiões administrativas especiais de Macau e de Hong Kong, como nos países lusófonos. A intenção, pode ler-se na declaração, passa por acelerar “os processos de cooperação comercial global entre os mercados emergentes dos países/regiões envolvidos”. Entre os países de língua portuguesa, o compromisso foi assinado por representantes de universidades e politécnicos de Portugal, Angola, Moçambique, Timor-Leste e Brasil.

A declaração tem mais três pontos nos quais se define o âmbito da cooperação: promover Macau “como centro de intercâmbio cultural”, desenvolver a mobilidade de estudantes e profissionais, bem como “reforçar o planeamento conjunto, a longo prazo (…), no âmbito da iniciativa [chinesa] “Uma Faixa, Uma Rota”, de acordo com as necessidades de desenvolvimento das diversas partes envolvidas, e promover a cooperação nas áreas da educação, da cultura e do desenvolvimento económico”. In “Ponto Final” - Macau

Brasil - Uma abertura para o mundo

SÃO PAULO – Documento apresentado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao novo presidente da República, ainda à época da campanha eleitoral, reafirma a importância de o futuro governo continuar buscando acordos que sejam estratégicos para o setor industrial, como as negociações com a União Europeia e o México. A essas prioridades deve-se também acrescentar a necessidade de que o novo governo reafirme tudo o que ficou acertado nas recentes negociações com o Chile para a assinatura de um acordo de livre-comércio, que tiveram início em abril deste ano de 2018.

Com a assinatura desse acordo prevista para breve, ainda dentro do mandato do atual governante, o País deixará para trás o processo de isolamento político e comercial que marcou o longo período sob a visão estreita do lulopetismo, mas que, a rigor, vem desde 1991, quando o Brasil se tornou membro do Mercosul. Desde então, o País só assinou três acordos de livre-comércio, ou seja, com Israel, Palestina e Egito, mas desses apenas o primeiro ainda está em vigor. Tudo isso num período em que houve no mundo uma explosão de acordos bilaterais e regionais.

Na América Latina, os acordos também proliferaram. Basta ver que Peru e Colômbia selaram 12 e 11 acordos de livre-comércio, respectivamente, incluindo Estados Unidos e União Europeia. Já o Chile abriu o seu mercado para 21 países, enquanto o México assinou 13 acordos. Mas, com a presença de governos de orientação populista e terceiro-mundista tanto no Brasil como na Argentina e no Uruguai, aqueles países encontraram dificuldades para acertar um tratado de larga abrangência com o Mercosul.  Aliás, para o Chile, assumir a condição de membro pleno do Mercosul sempre constituiu um processo difícil porque esse passo representaria um retrocesso, porque o país andino sempre esteve mais avançado nas reformas e na abertura econômica.

Agora, o que se espera é que essa fase venha a ser superada e, finalmente, o Mercosul possa acertar também um acordo amplo com a Aliança do Pacífico, grupo criado em 2011 por Chile, Peru, Colômbia e México, e com a Parceria Transpacífico (Trans-Pacific Partnership - TPP), que pode vir a se constituir uma ponte entre a América Latina e os mercados asiáticos Como se sabe, dessa Parceria Transpacífico faziam parte os Estados Unidos, que se retiraram em 2017. Como resposta, os demais parceiros firmaram um amplo tratado comercial que reduziu as tarifas alfandegárias e estabeleceu novas regras entre eles.

É indiscutível que hoje o Mercosul pouco significa em escala mundial e o Brasil necessita, de maneira urgente, abrir-se para o mundo, colocando fim em seu isolamento dos fluxos dinâmicos do comércio internacional e das cadeias produtivas. Isso só será possível com a assinatura de acordos de maior amplitude, que venham a permitir acesso à inovação e às tecnologias, além de envolver mais as empresas multinacionais no esforço para aumentar a capacidade exportadora do País.

Por fim, esse processo precisa vir acompanhado da parte mais difícil, ou seja, a redução do chamado custo Brasil, que é formado por carga tributária elevada, infraestrutura precária e excesso de burocracia aduaneira e hoje responde por 30% do preço dos produtos fabricados no País. Só assim os produtos nacionais poderão ser apresentados no mercado externo a preços competitivos. Dessa forma, os manufaturados voltariam a ter um peso significativo na pauta exportadora, que hoje é basicamente dominada por commodities. Milton Lourenço - Brasil


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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Angola - Porto do Namibe pode vir a ser um pólo de desenvolvimento logístico no Sul do país



O Porto do Namibe poderá vir a ser um pólo de desenvolvimento logístico na Região Sul de Angola, após a conclusão em 2019 da segunda fase das obras de modernização, disse o presidente da sociedade gestora da infra-estrutura à agência noticiosa Angop.

Segundo o presidente da Porto Comercial do Lobito, António Samuel, na primeira fase do projecto foram despendidos 24 milhões de dólares e na segunda fase irá ser despendido montante semelhante.

Segunda fase termina em Agosto de 2019

A segunda fase, que teve início em Junho último e termina em Agosto de 2019, consiste na recuperação de 240 metros de cais e na pavimentação do parque de contentores do porto, sendo que o custo é financiado por uma doação de 20 milhões de dólares da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA).

Esta obra foi adjudicada ao grupo japonês TOA Corporation, tendo o respectivo contrato de empreitada sido assinado durante uma visita a Tóquio de uma delegação liderada pelo director-geral do Instituto Marítimo Portuário de Angola (IMPA), Victor de Carvalho.

Acordo de financiamento

A JICA e o IMPA assinaram em Fevereiro de 2017 o acordo de financiamento para a segunda fase deste projecto, que estava inserido no programa de recuperação, expansão e modernização dos portos de Angola adoptado um ano antes, a 15 de Janeiro de 2016, entre os governos de Angola e do Japão.

O acordo entre os dois governos abrange a recuperação total do cais do porto do Namibe, com comprimento de 480 metros, tendo a primeira fase ficado concluída em 2011 e incidido sobre uma extensão de 240 metros em funcionamento sob operação da empresa de capitais angolanos Sogester.

O porto, que foi construído em 1957 para servir quatro províncias do Sul do país, fica localizado na cidade de Moçâmedes, antiga designação colonial que entre 1985 e 2016 foi substituída por Namibe, nome da província de que é capital, explica o portal Macauhub. In “Agricultura e Mar Actual” - Portugal

domingo, 28 de outubro de 2018

Nova Lisboa

















Vamos aprender português, cantando


Qualé ideia?
Não ouves a tua cidade a chamar por ti?
Entra na zona
não digas que tens de sair para acontecer

Eu já não vou nem tentar, ei
se a cidade quer, deixa andar
eu já não vou nem tentar, eei
mesmo sem saber, deixa tarraxar

Vem, sente, sente, sente esta nova Lisboa
sente, sente, sente esta nova Lisboa
vem, sente, sente, sente está quente Lisboa
sente, sente, sente esta nova Lisboa

Qualé ideia?
Qualé ideia?
Mas qualé ideia?
Qualé ideia?

De onde veio toda essa gente, eu não sei
dizem que tamos na moda, ma n ka krê sabê
ali sta tudu dretu, ma não tou nessa
de vender a sodadi ou a morabeza

Eu já não vou nem tentar, ei
se o batuku vai, deixa andar
eu já não vou nem tentar, eei
mesmo sem saber, deixa tarraxar

Vem, sente, sente, sente esta nova Lisboa
sente, sente, sente esta nova Lisboa
vem, sente, sente, sente está quente Lisboa
sente, sente, sente esta nova Lisboa

Qualé ideia?
Qualé ideia?
Mas qualé ideia?
Qualé ideia?

Qualé ideia?

Dino D’ Santiago – Cabo Verde


Brasil – Caetano Veloso: tempos sombrios estão a chegar ao meu país

No final da década de 60, a ditadura militar no Brasil deteve e prendeu muitos artistas e intelectuais pelos seus ideais políticos. Eu fui um deles. Os militaristas estão de volta



RIO DE JANEIRO - “O Brasil não é para principiantes”, dizia António Carlos Jobim. Jobim, que escreveu “A Garota de Ipanema”, foi um dos músicos mais importantes do Brasil, a quem podemos agradecer pelo facto de que os amantes da música em todos os lugares precisam de pensar duas vezes antes de classificar o pop brasileiro como “world music”.

Quando contei a um amigo americano sobre a linha do maestro, ele retorquiu: "Nenhum país é". O meu amigo americano tinha razão. De certa forma, talvez o Brasil não seja tão especial.

Neste momento, o meu país está a demonstrar que é uma nação entre outras. Como outros países do mundo, o Brasil está a enfrentar uma ameaça da extrema-direita, uma tempestade de conservadorismo populista. O nosso novo fenómeno político, Jair Bolsonaro, que deve vencer a eleição presidencial no domingo, é um ex-capitão do Exército que admira Donald Trump, mas parece mais com Rodrigo Duterte, o homem forte das Filipinas. Bolsonaro defende a venda sem restrições de armas de fogo, propõe uma presunção de autodefesa se um agente de autoridade matar um "suspeito" e declarar que um filho morto é preferível a um homossexual.

Se Bolsonaro vencer a eleição, os brasileiros podem esperar uma onda de medo e ódio. Na verdade, nós já vimos sangue. No dia 7 de outubro, um partidário de Bolsonaro esfaqueou o meu amigo Moa do Katendê, um músico e mestre de capoeira, devido a um desentendimento político no estado da Bahia. A sua morte deixou a cidade de Salvador de luto e indignação.

Recentemente, deparei-me a pensar nos anos 80. Estava a produzir discos e a tocar para multidões esgotadas, mas sabia o que precisava mudar no meu país. Naquela época, nós brasileiros estávamos a lutar por eleições livres depois de 20 anos de ditadura militar. Se alguém tivesse-me dito então que algum dia elegeríamos para a presidência pessoas como Fernando Henrique Cardoso e depois Luiz Inácio Lula da Silva, teria soado como uma ilusão. Então aconteceu. A eleição de Cardoso em 1994 e, de seguida, a de Lula em 2002 teve um enorme peso simbólico. Eles mostraram que éramos uma democracia e mudaram a forma da nossa sociedade ajudando milhões a sair da pobreza. A sociedade brasileira ganhou mais auto respeito.

Mas, apesar de todo o progresso e da aparente maturidade do país, o Brasil, a quarta maior democracia do mundo, está longe de ser sólida. Forças obscuras, de dentro e do exterior, agora parecem estar a impelir-nos para trás e para baixo.

A vida política aqui está em declínio há algum tempo - começando com uma recessão económica, depois uma série de protestos em 2013, o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016 e um enorme escândalo de corrupção que colocou muitos políticos, incluindo Lula, na prisão. As facções de Cardoso e da Silva ficaram gravemente feridas e a extrema-direita encontrou uma oportunidade.

Muitos artistas, músicos, cineastas e pensadores viram-se num ambiente onde ideólogos reacionários, que - através de livros, sítios e artigos noticiosos - têm denegrido qualquer tentativa de superar a desigualdade ligando políticas socialmente progressistas a um tipo de pesadelo venezuelano, gerando medo que os direitos das minorias irão corroer os princípios religiosos e morais, ou simplesmente instruindo as pessoas na brutalidade através do uso sistemático de linguagem depreciativa. A ascensão de Bolsonaro como uma figura mítica cumpre as expectativas criadas por esse tipo de ataque intelectual. Não é uma troca de argumentos: aqueles que não acreditam na democracia trabalham de formas insidiosas.

As principais agências noticiosas tenderam a minimizar os perigos, trabalhando de facto para Bolsonaro descrevendo a situação como um confronto entre dois extremos: o Partido dos Trabalhadores potencialmente a levar-nos para um regime autoritário comunista, enquanto Bolsonaro lutaria contra a corrupção tornando a economia do mercado amigável. Muitos na imprensa de grande circulação ignoram intencionalmente o facto de que Lula respeitou as regras democráticas e que Bolsonaro defendeu repetidas vezes a ditadura militar dos anos 60 e 70. Na realidade, em Agosto de 2016, enquanto votava contra Dilma, Bolsonaro fez uma demonstração pública de dedicar a sua acção a Carlos Alberto Brilhante Ustra, que administrou um centro de tortura nos anos 70.

Como figura pública no Brasil, tenho o dever de tentar esclarecer estes factos. Eu sou agora um homem velho, mas era jovem nos anos 60 e 70, e tenho memória. Então eu tenho que falar.

No final dos anos 60, a junta militar deteve e prendeu muitos artistas e intelectuais pelos seus ideais políticos. Eu era um deles, junto com meu amigo e colega Gilberto Gil.

Gilberto e eu passámos uma semana numa cela conspurcada. Então, sem nenhuma explicação, fomos transferidos para outra prisão militar por dois meses. Depois disso, quatro meses de prisão domiciliária até, finalmente, o exílio, onde ficámos por dois anos e meio. Outros estudantes, escritores e jornalistas foram presos nas celas onde estávamos, mas nenhum foi torturado. Durante a noite, porém, podíamos ouvir os gritos das pessoas. Eles eram presos políticos que os militares pensavam estar ligados a grupos de resistência armada ou a jovens pobres que foram apanhados em roubos ou na venda de drogas. Esses sons nunca saíram da minha mente.

Alguns afirmam que as declarações mais atrozes de Bolsonaro são apenas posturas. De facto, ele parece muito com muitos brasileiros comuns; está a demonstrar abertamente a brutalidade superficial que muitos homens consideram que precisam de esconder. O número de mulheres que votam nele é, em cada sondagem, muito menor do que o número de homens. Para governar o Brasil, ele terá que enfrentar o Congresso, o Supremo Tribunal Federal e o facto de que as pesquisas mostram que uma grande maioria dos brasileiros dizem que a democracia é o melhor sistema político de todos.

Eu citei a frase de Jobim - “O Brasil não é para principiantes” - para trazer um toque de cor divertido ao meu ponto de vista dos tempos difíceis. O grande compositor estava sendo irónico, mas ele falou a verdade e sublinhou as particularidades do nosso país, um país gigantesco no Hemisfério Sul, racialmente miscigenado, o único país com o português como língua oficial nas Américas. Eu amo o Brasil e acredito que pode trazer novas cores para a civilização; Eu acredito que a maioria dos brasileiros também a ama.

Muitas pessoas aqui dizem que estão planeando viver no estrangeiro se o capitão vencer. Eu nunca quis morar noutro país além do Brasil. E não quero agora. Fui forçado ao exílio uma vez. Isso não vai acontecer novamente. Eu quero que minha música, a minha presença, seja uma resistência permanente a qualquer característica antidemocrática que venha de um provável governo Bolsonaro. Caetano Veloso – Brasil in “The New York Times”

sábado, 27 de outubro de 2018

Moçambique - Prémio José Craveirinha entregue a Ungulani Ba Ka Khosa

O escritório moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa recebeu ontem à tarde, num evento de abertura da sétima edição da Feira do Livro do Songo, a distinção do prémio “José Craveirinha”, o maior prémio literário do país.

De seu nome verdadeiro Francisco Esaú Cossa, Ungulani Ba Ka Khosa nasceu em 1957 em Inhaminga, província de Sofala, tendo recebido pela primeira vez o prémio José Craveirinha de Literatura em 2007, com a obra “Os sobreviventes da noite”.

A acção foi promovida e patrocinada pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa em parceria com o Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, recebendo na altura um valor de 25 mil dólares que representa o reconhecimento pelo seu percurso literário. Baía da Lusofonia

Galiza - Gala cerimónia prémios aRi[t]mar 2018

Quarta-feira, dia 31 de outubro, a partir das 21h00, terá lugar a cerimónia de atuações e entrega de prémios aRi[t]mar da música galego-portuguesa, no “Auditório de Galicia” de Santiago de Compostela.



A Gala da música galego portuguesa será apresentada por Carlos Meixide e Iria Pinheiro e nela participarão:

A BANDA DA LOBA
SALVADOR SOBRAL
ALEXANDRE BREA
LOIS PÉREZ
CONVERGÊNCIAS PORTUGAL GALIZA

A entrada livre e gratuita até completar o aforo da sala.

Recolhida de bilhetes a partit do dia 26/10 na Escola Oficial de Idiomas e no Teatro Principal de Santiago de Compostela. Tamén no Auditorio de Galicia 3 horas antes do comezo da gala. In “Portal Galego da Língua” – Galiza

Descarrega o folheto aqui.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Portugal - PSA Sines duplica capacidade ferroviária

A PSA Sines vai duplicar a capacidade da plataforma ferroviária do Terminal XXI. As obras já começaram

Numa nota na sua página do Facebook, a concessionária do terminal de contentores de Sines dá conta que a expansão da plataforma ferroviária passa pela instalação de duas novas linhas para comboios de até 750 metros de comprimento (actualmente dispõe de apenas duas) e pela criação de mais três hectares de parque para contentores.

O porto de Sines é a maior plataforma nacional de transporte ferroviário de mercadorias, sobretudo em consequência da operação da MSC (e, mais recentemente, da aliança 2M) no Terminal XXI.

Na sua nota, a PSA Sines dá conta que decorrem as negociações para uma nova fase de crescimento do Terminal XXI e afirma o seu empenho “em dotar o nosso terminal com equipamentos de última geração, de modo a prestar sempre serviços de excelência aos seus clientes”.

Na verdade, já foi nomeada a comissão que irá renegociar, em nome do Estado, a concessão do terminal de contentores de Sines. e a concessionária prepara-se para instalar ainda este ano mais quatro pórticos de cais para facilitar as operações em terra. In “Transportes & Negócios” - Portugal

Guiné-Bissau - Erradicação de Armas de destruição maciça

“Guiné-Bissau entrega primeiro relatório de implementação do tratado”, diz deputada Suzy Barbosa

Bissau – A Presidente da Rede das Mulheres Parlamentares (PRMP), afirmou na passada quarta-feira que o país conseguiu este ano produzir o primeiro relatório de implementação do Tratado da Nações Unidas sobre a Erradicação de Armas Biológicas e Tóxicas.

Suzy Barbosa que falava no seminário dos parlamentares lusófonos africanos sobre Promoção da Universalidade da Convenção sobre Armas Biológicas e Tóxicas (BWC) e a implementação da resolução15/40 de 2004 do Conselho da Segurança das Nações Unidas, disse que o curso pretende destacar a apresentação regular de relatórios nacionais dos países membros e partilhar a versão da resolução 15 /40 da ONU em português.

“A Guiné-Bissau apesar de não assinar a convenção, aderiu-a automaticamente através do país colonizador, Portugal em 1972. Por isso, já depois da independência é já considerado membro do referido tratado”, explicou.

Para a deputada, a produção do primeiro relatório sobre a implementação do tratado 15/40 sobre armas de destruição maciça que foi entregue e aprovado pela ONU, marcou uma nova página para o país nesta luta.

Suzy Barbosa parabenizou por isso os parlamentares guineenses, porque, segundo ela, foi a acção da Assembleia Nacional Popular que alertou o Governo sobre a necessidade de produzir o relatório em causa, que finalmente foi feito pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e entregue às Nações Unidas.

“Adoptado em 1972 e a vigorar desde 1975, o BWC foi o primeiro tratado internacional a proibir o uso de uma específica categoria de armas de destruição em massa. Actualmente existem 181 países e Estados membros da convenção soberanas biológicas no mundo, e apenas 17 não o ratificaram”, esclareceu.

Barbosa salientou que a resolução 15/40 obriga à todos os Estados membros da ONU a prevenir a proliferação dessas armas.

A presidente da PRMP frisou ainda que os Estados membros, segundo as recomendações da ONU, têm a obrigação de cuidar para que essas armas não caíssem nas mãos dos chamados actores não estatais, incluindo terroristas e suas organizações, que nos últimos tempos estão surgindo principalmente em África, citando casos do grupo BoKo-Haram na Nigéria e Al Shabbat na Somália.

“Espero que no final destes dois dias de trabalhos, se possa produzir recomendações que vão ajudar na implementação deste tratado.

O seminário que terminou ontem foi financiado pelo Governo do Canadá e organizado pelo grupo de Parlamento para Acção Global e reuniu os legisladores, funcionários dos governos de oito Estados lusófonos em todo o mundo bem como dos países da língua oficial portuguesa e do comité 15/40 da ONU. In “Agência de Notícias da Guiné” – Guiné Bissau

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Brasil - Fenômeno português: legalização do aborto resulta em menos abortos

11 anos depois de legalizar o aborto por opção da mulher, Portugal apresenta queda no número de procedimentos realizados. Enquanto o assunto causa tensão no Brasil, onde o debate mais recente sobre descriminalização gerou até ameaças de morte, a estatística portuguesa se mantém confortável abaixo da média no índice de abortos realizados na Europa.



Os corredores do Centro Hospitalar da Cova da Beira, na cidade de Covilhã, região central de Portugal, conduziram a brasileira Mariana Panaro a um pequeno consultório onde, pela primeira vez na vida, poderia falar em aborto livremente. Foi em 2008, Mariana tinha 29 anos e Portugal completava o primeiro aniversário da legalização da interrupção da gravidez por opção da mulher.

"Era uma sala simpática. Tinha a mesa, duas cadeirinhas na frente para o casal sentar, do lado, a mesa ginecológica e o aparelho de ultrassom", conta Mariana à Sputnik Brasil.

Foi nesta unidade que atendeu, ao longo de nove anos, mulheres dos mais variados perfis. Ginecologista e obstetra natural de São Paulo, Mariana levou para Portugal lembranças marcantes causadas pela ilegalidade do aborto no Brasil.

"Lembro-me de ver uma adolescente, no hospital de Cotia, devia ter 17 anos, que ouviu falar que permanganato de potássio era bom para abortar. É uma substância utilizada antigamente pelos dermatologistas para secar lesões de pele. É ácido, então as mulheres enfiavam no fundo da vagina e tinham a ilusão de que seria abortivo. Lembro-me dessa menina chegar e sangrar muito, estava entrando em choque. Quando examinamos, vimos que ela tinha um buraco na parede da vagina. Se ela não fosse atendida, morreria grávida, porque aquilo não é abortivo. Ela estava se esvaindo em sangue e foi muito marcante. Qual a necessidade de uma pessoa ter que fazer isso?", se pergunta a interlocutora da Sputnik.

Mariana se mudou para Portugal em 2007, ano em que o país realizou um referendo nacional com a pergunta: "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada por opção da mulher, nas 10 primeiras semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?". Mais de 59% dos portugueses votaram a favor e a nova legislação entrou em vigor no mesmo ano.

A experiência em vários hospitais públicos do estado de São Paulo poderia ter feito Mariana estranhar a nova realidade de trabalho. O emprego no hospital de Covilhã foi o primeiro, como parte do processo para validar a especialização em Ginecologia e Obstetrícia em Portugal.

"Quando comecei a trabalhar, meu chefe perguntou logo se eu era a favor ou contra [o aborto]. Ele estava preocupado, porque o médico que fazia com ele não ia sempre e os outros todos já diziam que eram contra e não fariam", lembra a médica.

"Quando a gente faz muito plantão lá no Brasil, a gente vê toneladas de mulheres que fazem aborto ilegal, que enfiam agulhas, varas, que chegam ao hospital em choque hemorrágico, com intestino a sair pelo colo do útero. Então de tanto ver isso por lá, chegar aqui e ser legalizado, das mulheres não correrem riscos, foi algo libertador", conta Mariana.

Legalização e redução

A primeira legislação sobre aborto em Portugal é de 1984, que determinava prisão de dois a oito anos para quem facilitasse os procedimentos e de até três anos para a mulher que realizasse. A interrupção só era permitida para gestações decorrentes de estupros e casos de risco grave à saúde da mãe e do feto.

Em 1997, a lei foi alterada. As punições continuaram, mas ampliou-se o prazo para o aborto nos casos de malformação do feto (de 16 para 24 semanas) e também o conceito de estupro. A interrupção passou a ser permitida em casos de "crime contra a liberdade e autodeterminação sexual da mulher".

Em 2007, depois do referendo, o aborto por opção da mulher, quando realizado até a décima semana de gestação em estabelecimentos de saúde oficiais, deixou de ser crime.

De acordo com dados da Direção Geral de Saúde (DGS) do governo de Portugal, o número de abortos realizados no país rondava os 20 mil por ano antes da legalização. Em 2008, o registro foi de 18.615 procedimentos, 97% deles por opção da mulher. Até 2011, o número só cresceu.

A médica Ana Aroso, membro da direção da Associação para o Planejamento da Família, explica à Sputnik Brasil que a subida inicial "foi simplesmente porque passamos a conhecer os abortamentos a título oficial. Depois tivemos os anos da crise, que começou em 2008. Talvez muitas dessas gravidezes tivessem sido aceitas se não fosse a questão do desemprego nesta época".

Foi em 2012 que começou a trajetória da queda dos abortos em Portugal. A redução desde 2008 até 2016, ano da última estatística disponibilizada pela DGS, é de 14,3% no total de interrupções e de 14,4% nos casos em que foi opção da mulher.

"Há aqui vários ganhos, um deles é terem terminado os problemas de saúde da mãe quando faz a interrupção, como as perfurações dos órgãos genitais, do útero, as infecções. É todo um conjunto de melhorias que foram alcançadas ao longo destes anos", afirma à Sputnik Brasil o médico Francisco George, que chefiou a Direção Geral de Saúde de 2005 até o ano passado. Desde 2012, a mortalidade por complicações de abortos inseguros em Portugal está zerada.

Do momento em que decide interromper a gravidez até concluir o procedimento, a mulher passa por pelo menos três consultas. Na primeira, ela manifesta o interesse e é feito um ultrassom para confirmar que a gestação não ultrapassa as dez semanas. Os profissionais também avaliam se a paciente não está sendo pressionada a abortar.

"Depois existe um período de reflexão de no mínimo três dias, em que podemos disponibilizar apoio psicológico, um apoio social, de ajuda monetária quando há desemprego, caso essa seja a causa para a interrupção. No fim da reflexão há uma nova consulta. A mulher já vai ter optado se quer o regime terapêutico com medicamentos ou o cirúrgico. Habitualmente, recomendamos a primeira tentativa com medicamentos, porque é mais simples, feito em ambulatório. A medicação é dada na consulta e a segunda dose, 48 horas depois, pode ser feita no domicílio. Depois tem de haver uma terceira consulta para um acompanhamento. Temos que comprovar que houve uma expulsão completa do conteúdo uterino e falar da contracepção, sobre como evitar um novo aborto", explica a diretora da Associação para o Planejamento da Família.

O procedimento é o mesmo em unidades de saúde da rede pública ou privada, mas os perfis são bem diferentes. No sistema público, 98% dos abortos voluntários são feitos com medicamentos. Nas clínicas particulares, 97% são cirurgias.

A lei portuguesa garante o acesso ao aborto seguro para qualquer mulher, mesmo estrangeiras em situação de residência não regularizada no país. Desde 2014, quando a DGS começou a divulgar dados da nacionalidade das pacientes, as brasileiras ocupam o segundo lugar no ranking das estrangeiras a abortar por opção em Portugal. Foram 379 em 2016, atrás apenas das cabo-verdianas.

Embora não haja distinção entre residentes e não residentes, a diretora-executiva da Clínica dos Arcos, unidade privada que mais realiza abortos no país, fala sobre o interesse existente por parte de quem ainda está no Brasil.

"Elas entram em contato conosco principalmente por e-mail ou telefone", diz Sónia Lourenço. São dois os principais fatores apresentados pelas brasileiras que vêm abortar em Portugal. "A língua, que, por ser a mesma, dá mais uma segurança, mas principalmente o anonimato, incomparável com outros locais. Aqui, ela será só mais uma na multidão a fazer turismo, ninguém vai saber o que ela veio fazer", explica a gestora.

Viajar para abortar não é novidade para as brasileiras, mas só no ano passado o tema veio à tona escancaradamente. Rebeca Silva, a primeira mulher a pedir ao Supremo Tribunal Federal para interromper uma gravidez no Brasil, viajou para fazer o procedimento na Colômbia, assistida por entidades de defesa dos direitos das mulheres, depois de ter o pedido negado.

A bióloga Taís*, do Rio de Janeiro, considerou a opção depois de descobrir que estava grávida e de conversar com outras mulheres que já tinham abortado.

"Cogitei realizar em qualquer país que fosse descriminalizado". No fim das contas, Taís acabou conseguindo medicamentos abortivos na própria cidade. "O número de mulheres que já realizaram procedimentos de interrupção é extremamente maior do que imaginamos. As pessoas não falam, por ser crime, por incompreensão de algumas partes da sociedade. Mas há uma grande parcela que mantém esse diálogo vivo e forma uma rede de apoio mútuo", analisa a bióloga à Sputnik Brasil.

Média abaixo da Europa

A cearense Débora* engravidou enquanto fazia intercâmbio na Irlanda, aos 22 anos, por descuido com o uso da pílula anticoncepcional. O parceiro se esquivou.

"Fiquei desesperada. Ele deixou bem claro que era responsabilidade minha lidar com a situação, independente da escolha que eu fizesse", conta Débora em uma conversa com a Sputnik.

"Pensei no que eu poderia proporcionar para aquela criança. Eu não tinha terminado a faculdade ainda, eu sabia que seria uma responsabilidade para o meu pai, que me sustentava na época, a minha avó estava com câncer. Acabei decidindo não levar adiante por não me sentir preparada e principalmente por saber que estaria colocando um peso na vida do meu pai", adianta.

Por indicação de outra brasileira, ela procurou ajuda on-line pelo projeto Women on Web, que tem sede na Holanda e facilita o acesso a medicamentos abortivos em vários países.

A facilidade para conseguir o remédio, mesmo com a legislação irlandesa sendo considerada uma das mais restritivas do mundo na época, não aliviou o peso da decisão. "Além de todo o sofrimento físico, foram horas de cólica e dor, quando expeliu, eu vi nitidamente o feto. Isso me atormentou durante muito tempo", diz Débora.

Em maio deste ano, em um referendo histórico, os irlandeses votaram a favor da descriminalização do aborto. Agora, só a Polônia, que permite em casos extremos de risco à vida da mulher, malformação do feto e crime, e Malta, que bane sob qualquer circunstância, resistem como os dois países mais restritivos da Europa para o aborto.

Neste cenário, Portugal tem o menor prazo para a permissão da interrupção voluntária (só até a décima semana, quando a Holanda, por exemplo, permite até as 22), mas está sempre abaixo da média europeia de abortos para cada mil nascidos vivos. Foram 204 em 2014, ano dos indicadores mais recentes disponibilizados, contra 227,96 da média da Europa.

Embora o ex-chefe da Direção Geral de Saúde afirme que "não se discute mais este direito" das mulheres em Portugal, há profissionais que fazem questão de demonstrar que são contra o aborto, declarando "objeção de consciência" para não realizar os procedimentos na rede pública. A lei assegura o direito dos trabalhadores. O resultado é, na maioria dos casos, o encaminhamento para a rede privada. Na Clínica dos Arcos, 70% dos atendimentos são encaminhamentos do sistema público, "a maioria por objeção de consciência", diz a diretora Sónia Lourenço.

A Associação dos Médicos Católicos Portugueses, que defendeu o "não" no referendo pela legalização em 2007, apoia a realização da edição deste ano da Marcha pela Vida, marcada para o próximo sábado (27) em cinco cidades do país.

A iniciativa vem "em boa hora" declarou Dom Manuel Clemente, o Cardeal Patriarca de Lisboa, nas redes sociais. O religioso define o movimento como lugar de "crentes ou não crentes, mas todos crentes nesta realidade essencial que é a vida humana e a sua dignidade".

O aborto segue levantando discussões mundo afora, mas a análise dos números oficiais de Portugal mostra que o procedimento é fundamental na estruturação da política de planejamento familiar do país.

"Se houve alguma medida que se tomou e que diminuiu a mortalidade materna de uma só vez, mais do que a distribuição de antibióticos, mais do que introdução de transfusões de sangue, já que a maioria das mulheres morria com hemorragias pós-parto ou com infecções puerperais, a medida que mais depressa e que por si só diminuiu a mortalidade materna foi a legalização do aborto", afirma a médica Ana Aroso à Sputnik Brasil.

De acordo com a Direção Geral de Saúde, 94% das mulheres que abortaram por opção em 2016 aderiram a métodos contraceptivos — também de graça na rede pública — depois do procedimento.

Para Ana Aroso, a situação no Brasil não pode se prolongar. "As autoridades públicas têm números para provar, do ponto de vista da saúde da mulher, que esta é uma medida que tem que ser urgentemente tomada. Não tomar é deixar morrer mulheres desnecessariamente". Caroline Ribeiro – Brasil in “Sputnik Brasil”

*Os nomes foram alterados para preservar as identidades das entrevistadas.

Portugal – X Congresso de Ornitologia 2019 da SPEA

O X Congresso de Ornitologia da SPEA vai ter lugar em Peniche, de 2 a 5 de março de 2019. Ornitólogos amadores e profissionais podem submeter propostas de apresentações até 31 de outubro de 2018

O maior evento nacional dedicado à ornitologia decorrerá de 2 a 5 de março de 2019, na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, em Peniche. Para além das apresentações, workshops e sessões de posters, o congresso incluirá ainda saídas de campo e exposições. Até 07 de novembro de 2018, todos os ornitólogos são convidados a submeter propostas para o X Congresso de Ornitologia da SPEA.

Durante os 4 dias de trabalhos, os participantes poderão trocar ideias, apresentar projetos, discutir resultados, e ainda fazer saídas de campo a alguns locais de especial importância para as aves: as Berlengas, o Paúl de Tornada e a Lagoa de Óbidos.

“O Congresso de Ornitologia da SPEA é uma referência para todos os que se dedicam ao estudo das aves, e uma oportunidade ideal para discutir as últimas descobertas e os avanços mais recentes para quem estuda e trabalha nesta área da ciência,” diz Domingos Leitão, Diretor Executivo da SPEA.

Encontram-se já confirmados quatro oradores convidados, que este ano incluem o Prof. Rory Wilson, da Universidade de Swansea no Reino Unido, reconhecido internacionalmente como pioneiro no uso de marcadores eletrónicos não invasivos, que permitem seguir os movimentos de animais – por exemplo durante a migração – sem efeitos adversos para o animal. Para além de Wilson, haverá palestras de Paula Sobral (Universidade Nova de Lisboa), Gonçalo Cardoso (Cibio, Universidade do Porto), Richard Phillips (British Antarctic Survey) e Inês Catry (CEABN, Instituto Superior de Agronomia).

O congresso, que se realiza de dois em dois anos, atraiu 200 participantes na última edição, em Vila Real. A organização espera uma participação igual ou superior na próxima edição em Peniche. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves - Portugal