Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 31 de julho de 2018

Cabo Verde - Farol da inclusão no continente africano

Cidade da Praia – A partir do próximo ano lectivo, Cabo Verde vai ter legislação sobre a educação inclusiva, que está a ser preparada com apoio da investigadora portuguesa Célia Sousa, que considera que o país será “farol” da inclusão em África.

Depois de terem sido formados mais de 50 técnicos e professores de todo o país, Cabo Verde está a ultimar a legislação que vai regulamentar a educação inclusiva, um trabalho que começou no início do mês com apoio técnico da investigadora portuguesa Célia Sousa, coordenadora do Centro de Recursos para a Inclusão Digital (CRID) do Instituto Politécnico de Leiria (IPL).

Em declarações à agência Lusa, na cidade da Praia, Célia Sousa notou que Cabo Verde tem “boas práticas” na área de inclusão, pelo que considerou ser “pertinente” o país lançar, no próximo ano lectivo, que inicia em Setembro, uma legislação que regulamenta a educação especial.

“Esta lei é de extrema importância por várias razões. Cabo Verde será um dos primeiros países do continente africano a implementar uma legislação que regulamenta a educação inclusiva”, disse a investigadora, considerando que o país dá um “passo de gigante” e vai passar a ser um “modelo” em África, onde existem cerca de 84 milhões de pessoas com deficiência.

Segundo o censo realizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), em 2010 existiam em Cabo Verde 13948 pessoas com alguma deficiência, o que representava 3,2% da população.

“Cabo Verde será o farol da inclusão no continente africano”, prosseguiu, entendendo que quando se fala se educação inclusiva deve-se falar não só das pessoas com deficiência, mas também de pessoas de outras culturas e etnias.

Além de permitir que todas as crianças com deficiência estejam na escola, adiantou que a lei vai “mudar o paradigma da educação” em Cabo Verde, onde a “escola vai ter de pensar em todos”.

“Isto é de uma riqueza imensa porque vai permitir que se criem estratégias diferentes em sala de aula, que haja uma diferenciação do ensino, uma perspectiva diferente de como acolher as crianças, não é só uma questão de acolhimento, mas de direitos humanos”, prosseguiu a docente, dizendo que, a partir de agora, as crianças vão ter respostas adequadas de acordo com as suas capacidades.

“Com esta legislação também se deixa de ver a incapacidade da pessoa, mas passa-se a olhar para a pessoa pela capacidade, porque todos nós somos diferentes e temos capacidades completamente diferentes e é dessa diferença que nasce a riqueza de uma sociedade”, mostrou.

A lei vai abranger todas as crianças cabo-verdianas no sistema de educação, desde o pré-escolar ao ensino secundário, que terão de ter técnicas, materiais, adaptação às condições de avaliação, entre outras respostas no atendimento.

Célia Sousa avançou ainda que com a nova legislação haverá um “envolvimento crescente” da família, em que todos os pais e encarregados de educação serão ouvidos para darem o seu aval para que as medidas sejam implementadas.

A investigadora portuguesa sublinhou, por outro lado, que não é por causa de uma legislação que Cabo Verde vai se transformar num país inclusivo.

“Mas há momentos em que é necessário que a legislação saia para dar visibilidade. E tendo uma legislação, as famílias e o sistema educativo têm alguma coisa que regulamenta, alguma coisa que devem poder recorrer”, enfatizou.

A investigadora portuguesa afirmou à Lusa que a legislação vai ainda fazer com que as universidades cabo-verdianas criem cursos na área de educação especial para formar técnicos, algo que era “impensável” há uns anos porque não havia regulamentação.

Célia Sousa disse ainda acreditar que, com a criação de formação nesta área, as instituições de ensino superior cabo-verdianas poderão receber muitos alunos estrangeiros, principalmente do continente africano.

“Esta legislação vai operacionalizar uma mudança em todo o sistema educativo de Cabo Verde, desde o pré-escolar ao ensino superior”, salientou, esperando ver todas as crianças na escola, para que também possam fazer parte de uma “sociedade cabo-verdiana mais inclusiva”.

Também espera que isso se venha a reflectir em políticas de inclusão social, do turismo inclusivo e nas barreiras arquitectónicas, numa que a lei estipula que todos os edifícios escolares têm de providenciar as acessibilidades. In “Inforpress” – Cabo Verde com “Lusa”

Brasil - Comércio exterior: previsão otimista

SÃO PAULO – Apesar das previsões pessimistas que têm cercado o comércio exterior brasileiro nos últimos tempos, as exportações País, em 2018, deverão chegar a US$ 224 bilhões, o que representará um aumento de 3,1% em relação aos US$ 217 bilhões registrados em 2017, segundo dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que, em dezembro, havia previsto um total de US$ 218 bilhões.

Já as importações, segundo a AEB, deverão totalizar US$ 168 bilhões em 2018, o que equivalerá a uma alta de 11,5% em relação aos US$ 150 bilhões importados no ano passado, o que, praticamente, confirmará a previsão anterior. Com isso, o País deverá registrar um superávit de US$ 56 bilhões, com uma queda de 15,9% em relação aos US$ 67 bilhões gerados em 2017. É de se lembrar que a previsão anterior sugeria um superávit menor, de US$ 50 bilhões. Menos mal.

Obviamente, esses números podem sofrer correções, em consequência dos reflexos da guerra comercial entre EUA e China ou até mesmo em função de uma potencial crise nuclear entre EUA e Irã. Para piorar, há ainda a recente reviravolta nas relações entre EUA e União Europeia (UE). Como se sabe, Washington suspendeu a aplicação de novas tarifas ao aço e alumínio importados enquanto os dois lados negociam as questões comerciais, ao mesmo tempo que a UE decidiu ampliar suas compras de soja e gás natural liquefeito dos EUA. Além disso, decidiram reduzir as barreiras ao comércio de serviços e produtos químicos, farmacêuticos e médicos.

O que se prevê é que esse entendimento pode vir a prejudicar as negociações entre Mercosul e UE, pois, certamente, o bloco europeu já não terá tanta pressa para concluir as negociações com o bloco sul-americano. Conspirando contra o crescimento dos números das exportações brasileiras também está a grave crise econômica, comercial e cambial porque passa a Argentina, terceiro maior parceiro do Brasil.     

Seja como for, a situação do comércio exterior não é das mais complicadas. Tanto que o porto de Santos bateu recorde de movimentação de cargas no primeiro semestre, movimentando 64,5 milhões de toneladas, o que significou um aumento de 5,6% em relação ao mesmo período de 2017, quando foi registrado o recorde anterior, segundo dados da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).

Deve-se acrescentar que esse resultado poderia ter sido melhor, se não tivesse ocorrido um fato atípico, como a greve do setor de transporte rodoviário de cargas realizada ao final de maio e início de junho. Tanto que, em junho, o volume de operações ficou abaixo do registrado no mesmo mês de 2017, assinalando um recuo de 1,7%, para 10,8 milhões de toneladas. No mais, de janeiro a junho, os embarques de cargas cresceram 4,1% sobre os seis primeiros meses de 2017, ao passo que os desembarques avançaram 9,6%.

O desempenho do porto de Santos reflete o comportamento da balança comercial neste ano, com as importações crescendo mais do que as exportações. A participação do porto de Santos na balança comercial manteve-se estável, pois alcançou 27,7% do total do comércio exterior do País no primeiro semestre, com uma movimentação equivalente a US$ 54,1 bilhões.

Ou seja, o complexo portuário respondeu por 26,7% das exportações brasileiras, ou US$ 30,2 bilhões, e por 29,2% das importações, com US$ 23,9 bilhões. Isso mostra que não há razões para se cultivar o pessimismo, ao contrário do que alardeiam os pregoeiros do caos. Milton Lourenço - Brasil


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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Chile - Telescópio terrestre iguala Hubble em qualidade das imagens



Telescópio com qualidade espacial

O VLT, um dos maiores telescópios do mundo, instalado no Chile, estreou seu novo sistema de óptica adaptativa com um feito histórico: atingindo uma qualidade das imagens similar - superior em alguns detalhes - à do telescópio espacial Hubble.

Os telescópios espaciais são muito mais caros e não podem ser consertados - o Hubble até que podia, enquanto existiam os ônibus espaciais - mas têm a grande vantagem de sofrerem a interferência da atmosfera terrestre, o que gera imagens tipicamente mais nítidas.

Mas a tecnologia da óptica adaptativa está permitindo tirar essa diferença ao corrigir a turbulência da atmosfera.

O instrumento MUSE, instalado no VLT, passou a utilizar um sistema inédito de correção, chamado Tomografia Laser, usa quatro raios laser para criar "estrelas artificiais", que servem como referência para anular as variações da atmosfera momento a momento.

A estreia, em grande estilo, obteve imagens extremamente nítidas do planeta Netuno, de enxames estelares e outros objetos celestes mais distantes, comprovando que as melhorias incrementais podem permitir que os telescópios terrestres andem sempre nos calcanhares dos telescópios espaciais. Além disso, como o MUSE é um espectrógrafo (MUSE: Multi Unit Spectroscopic Explorer), a atualização permitirá estudar as propriedades dos corpos celestes com muito mais detalhe do que era possível até agora.

Limite teórico de nitidez de imagem

A nova unidade de óptica adaptativa, chamada GALACSI, deu ao telescópio um "modo de campo estreito", que corrige a turbulência atmosférica acima do telescópio em todas as altitudes, dando assim origem a imagens muito mais nítidas, embora de uma região menor do céu do que já se obtinha com o "modo de campo largo", que corrige os efeitos da turbulência atmosférica até 1 km acima do telescópio.

Com esta nova capacidade, o telescópio terrestre de 8 metros atinge o limite teórico de nitidez de imagem, não estando assim limitado à distorção atmosférica, obtendo imagens comparáveis, em termos de nitidez, às que são obtidas com o Telescópio Espacial Hubble.

Mas não pense que isso representa o fim dos telescópios em órbita: novas tecnologias de espelhos flexíveis para telescópios espaciais prometem fazer com que os observatórios orbitais abram vantagem novamente nos próximos anos.



Óptica adaptativa

A óptica adaptativa é uma técnica que compensa os efeitos de distorção da atmosfera terrestre, a mesma turbulência que faz as estrelas cintilarem quando observadas a olho nu. A luz das estrelas e galáxias fica distorcida ao passar através da camada protetora da nossa atmosfera.

Para melhorar de forma artificial a qualidade destas imagens, quatro raios laser foram fixados ao telescópio principal do VLT, projetando no céu uma forte luz alaranjada de 30 cm de diâmetro, que energiza os átomos de sódio que se encontram na atmosfera superior.

É assim que são criadas as estrelas artificiais, cuja luz é usada pelo sistema para determinar a turbulência existente na atmosfera e calcular as correções necessárias, mil vezes por segundo, que são fornecidas ao espelho secundário fino e deformável do telescópio, o qual altera constantemente a sua forma, corrigindo assim estes efeitos de distorção da luz. In “Inovação Tecnológica” - Brasil

Moçambique - 2500 quilómetros pelas praias do índico

Da Ponta do Ouro à foz do Rovuma são 2515 quilómetros de uma costa esplendorosa e miraculosamente virgem. Ou bem perto disso. Viagem país acima, mergulho após mergulho, sempre a entrar e a sair do mar. À procura do mítico tubarão-baleia ou do próximo caril de caranguejo, é impossível cansarmo-nos de Moçambique. O país visto por quem é de lá.



É domingo de manhã em Maputo e as ruas estão desertas, mas do outro lado da Avenida Julius Nyerere alguém buzina e trava a fundo para me chamar: «Zé! Zé!». Há-de ser assim no bar de um hostel do Tofo e a caminho do mercado em Vilanculos, na tarde em que paro para fotografar a mulher sentada na âncora junto à icónica porta da Capitania da ilha de Moçambique. Ou depois, já em Pemba, na esquina onde desço de chinelo no pé para a praia de Wimbi, onde os turistas dos resorts ainda estão em minoria e o Índico é sobretudo de quem nasceu aqui e nunca viu outro mar. 

Tantos anos depois, este país ainda se lembra do meu nome, ainda me trata por tu, no seu espanto todo cheio de interjeições e de pontos de exclamação. Mas por mais que eu o reconheça, e por mais que me reconheçam, é como se nunca estivesse estado aqui: pela primeira vez, chego a Moçambique de férias e acredito que posso atravessar o meu país como um estrangeiro. Pelo menos até ser desmascarado pelas interjeições e pelos pontos de exclamação: da Ponta do Ouro até à foz do Rovuma, ou mais exatamente de Maputo até ao Ibo, sempre com os pés dentro do Índico, haverá boas razões para os usar. 

País acima, venho à procura do mítico tubarão baleia que se passeia nas calmas pelas águas em frente ao Tofo e do caril de caranguejo que – é o que dizem, eu não sei porque sou estrangeiro – virá para a mesa já pronto a comer (nada de batalhas campais com martelos e demais artilharia pesada, como na Europa). 

Venho à procura das dunas de Bazaruto para confirmar (vendo tudo de cima, como quem criou o mundo) que o Índico se esmerou especialmente aqui, e dos esplendorosos mangais, para mim totalmente estrangeiros (serei sempre um maputeco e estes são os meus antípodas), do arquipélago das Quirimbas, que se abrem para eu passar na maré vaza e voltam a ser tragados pelo oceano horas depois, como num filme com muitos efeitos especiais. São cinco da manhã, o chapa para em frente ao Fatima’s Backpackers. Escolho um lugar à janela, do lado direito: quero ser o primeiro a ver o Índico. 

Quilómetro 501 
Tofo, província de Inhambane 

A mancha de coqueiros a perder de vista, como um biombo que é preciso transpor para finalmente ver o mar, depois de tanto suspense. O areal enorme onde os meninos das redondezas passam os dias a vender água de coco (que aqui se chama água de lanho), capulanas, espanta espíritos, castanhas de caju. E lá está Moçambique a tratar-me por tu: desde que me conheço como gente que percorro as ruas de Maputo sozinho com os meus amigos do bairro – brinquei com pneus, fiz carrinhos de arame, joguei à bola, e se tivesse tido de vender alguma coisa para levar dinheiro para casa também não teria sido um desprimor. O peixe fresco das manhãs de mercado. O Índico sempre tão arrebatador e tão vivo. 

Apareceram novos hotéis, os estrangeiros construíram novas casas, o mercado passou a ter novas instalações, os bares inventaram novos cocktails, e o mundo descobriu uma nova atração, o tubarão baleia. Ainda assim, o Tofo continua a ser a estância descontraída, mas sempre pronta para uma festa (a não ser na época baixa, a ideal para quem quer ter a praia por sua conta) de há vinte anos. Desta vez, porém, tenho encontro marcado com uma das mais assombrosas criaturas marinhas que habitam os mares do planeta, e por isso a adrenalina vai em crescendo desde o pequeno almoço na atmosférica esplanada do Fatima’s Nest, mesmo em cima do areal, até à hora de empurrar o bote para o mar alto e fazer figas para que o tubarão baleia ande por perto. 

É uma questão de sorte, mas também de persistência, e quanto mais ele se fizer difícil (às vezes não aparece de todo…) maior será a epifania. Não há interjeições nem pontos de exclamação que lhe façam justiça: nadar com o tubarão baleia é uma experiência da ordem do milagre, sobretudo nestas águas ainda intocadas pelo turismo de massas onde é possível tê lo só para nós e mais quatro ou cinco pessoas, longe das multidões de mergulhadores e snorkellers que o costumam rodear noutros dos seus habitats naturais. 

Depois de o ver, depois da fantasia que é tentar acompanhá lo mar adentro nem que seja por uns minutos (porque a velocidade desta criatura não é para qualquer pulmão, mesmo quando se trata, como foi o caso, de um macho jovem de «apenas» sete metros de comprimento), talvez esteja cumprida a missão no Tofo, a não ser que queiramos festejar o feito (queremos!) na esplanada de um dos melhores e mais bonitos restaurantes de Moçambique, o Green Turtle, com caipirinhas de maracujá e mojitos de manjericão, de olhar perdido no solitário dhow que acaba de se fazer ao Índico. Longa vida ao tubarão baleia, que é boa gente como se costuma dizer dos de Inhambane! E agora sigamos caminho. 

Quilómetro 715
Vilanculos, província de Inhambane

Continuo por terra mas em direção ao mar, com o Índico sempre à minha direita, por mais que se esconda atrás da savana, das lojas de beira de estrada e das aldeias de caniço. Quando volto a vê lo em Vilanculos, mudou de cor: é de um verde-esmeralda de postal ilustrado, que há de tornar se ainda mais fosforescente (parece Photoshop, mas é mesmo a realidade) à medida que for prosseguindo para norte. Tal como no Tofo, tenho uma missão aqui: atravessar pela primeira vez até às ilhas de Bazaruto. Não de avioneta, como muitos dos que se isolam do mundo nas estâncias paradisíacas do arquipélago e nunca chegam a saber que Vilanculos é uma cidade com vida própria, um mercado sempre cheio do peixe fresco que vejo os pescadores a recolherem nas suas redes artesanais (ou mesmo a apanharem à mão) desde que o Sol nasce até que o Sol se põe, e febres de sábado à noite até às tantas. É para ir de barco mesmo, sem tirar os pés do Índico, se o mar estiver de feição. 

Talvez o melhor de todo o arquipélago esteja debaixo do Índico, nos recifes de coral tipo Disneylândia que, ultrapassada a «máquina de lavar» do ponto onde as águas do canal se cruzam com o mar aberto, é possível observar em todo o seu esplendor. Atenção que não é tudo nosso: por estas paragens há animais de todos os tamanhos, incluindo os colossais dugongos, os últimos da costa africana. 

Agora que finalmente chego a este paraíso como um estrangeiro decido que o sítio de onde o quero ver fica em terra firme: do alto da imensa duna que – surpresa! – revela a imprevisível diversidade da ilha de Bazaruto, toda savana por dentro e toda praia por fora, uma praia como as que supomos que terão existido no princípio do mundo, quando ainda não fazíamos parte do ecossistema. Ou então porque é sempre bom haver um plano B, dos imensos bancos de areia que a maré baixa destapa na ilha de Benguerra e que a rasgam ao meio, confirmando que nasceu para ser este venturoso portal para o Índico.

Estou pronto para mais um caranguejo grelhado ali mesmo, em cima do carvão, e para uma cerveja estupidamente gelada. E depois volto a apanhar o barco porque não quero perder o fim da tarde na praia de Vilanculos. Até ao pôr-do-sol, as mulheres virão vender o peixe acabado de pescar, os rapazes jogarão futebol com o alarido digno de um clássico e serei capaz de provar aos mais velhos que sou de facto moçambicano puxando pelo pouco que ainda me lembro do bitonga (ou guitonga), o dialeto dominante em Inhambane. Os resorts cinco estrelas ficam do lado de lá, mas acho que é esta a minha ideia de turismo de luxo.

Quilómetro 2265
Chocas-Mar, província de Nampula 

Já não falo a língua: cheguei ao norte do país, estou em território macua. É mais difícil provar que sou moçambicano, riem-se do meu sotaque ou das minhas maneiras de estrangeirado, só acreditam quando mostro o bilhete de identidade. Passaram-se mais de 1500 quilómetros e apenas o Índico não mudou radicalmente, ainda que esteja cada vez mais luminoso, mais incandescente (sou do sul mas tenho de admitir: o mar aqui é outra coisa). 

Por uns dias desviei-me da costa, ou pelo menos da missão de não tirar os pés do Índico. Distraí-me dele com os elefantes da Gorongosa, as igrejas e os fantasmas da ilha de Moçambique. Mas antes de continuar a subir para o destino final – o arquipélago das Quirimbas – recentro-me.

E ainda bem que me recentro agora, porque até ao fim da viagem haverá mar e mar, mas não haverá visão como a que me espera pouco depois de desembarcar na praia de Chocas-Mar e de comprar meio quilo de amêijoas a quem passa: a visão que desce sobre a praia quando chega um dhow carregado de mulheres vindas do mercado e de repente o areal se transforma numa movimentada estrada a perder de vista, onde roupas de todas as cores refletem o sol do meio dia e se afastam a brilhar até desaparecerem no horizonte. É altura de voltar a abusar dos pontos de exclamação. 

Quilómetros 2468
Pemba, província de Cabo Delgado

É científico: quanto mais a norte, mais o Índico se esmera. E como a ex-Porto Amélia dos portugueses fica num dos pontos de Moçambique onde a costa mais se encaracola, mais se recorta e mais se desdobra – estamos a falar da terceira maior baía do mundo –, o que já era verdade antes aqui é verdade ao quadrado ou ao cubo. Há praias para todos, para tudo: exclusivas ou do povo, selvagens ou super equipadas, desertas ou apinhadas. 

Mas quer estejamos numa de nos enturmarmos na movida local da popular Wimbi, à procura de paz e sossego em família numa villa da mais reservada Chuíba ou à procura do paraíso para kitesurfers (e não só) de Murrebué, o mar será sempre uma experiência hipnotizante. Tanto que de repente parece possível, e a certas alturas é mesmo, caminhar sobre as águas indefinidamente, até ao infinito e mais além. Começo a duvidar quando me dizem que ainda há um último lugar onde o Índico é mais impressionante. 

Quilómetro 2547
Ibo, província de Cabo Delgado 

No imaginário de qualquer moçambicano nascido no sul do país (ou mesmo de qualquer moçambicano), o arquipélago das Quirimbas é uma espécie de última fronteira. E é mesmo, confirmarei quando se acabar o dinheiro e perceber que aqui não há ATM. A questão é que nada disso importa quando se chega ao Ibo – até porque para lá chegar já houve uma viagem de barco através dos mangais que lentamente nos foi desligando das coisas do mundo, postas em suspenso algures numa realidade paralela.

Entreposto comercial abastado nos anos negros do tráfico de escravos e da exploração do trabalho forçado sob a égide da Companhia do Niassa (1890 1929), vila colonial de muito mais relativa importância depois, o Ibo é hoje a testemunha singular da ascensão e da queda de um império, cujas marcas ficaram para sempre gravadas na arquitetura e no traçado urbano (e num herói local incontornável, o historiador amador João Batista, sempre disponível para abrir o fascinante arquivo que é a sua memória). 

Ainda que a maioria desse passado esteja em ruínas, ele continua vivo no nome das ruas («Almirante Reis», lê se numa das mais centrais), na profusão de igrejas (entretanto substituídas no quotidiano pelo predomínio das mesquitas, que dão bem conta da influência suaíli), fortes e demais edifícios coloniais que se vão reconvertendo ou morrendo de pé. Um dos mais fascinantes lugares de Moçambique, o Ibo, é também um dos mais misteriosos. Afinal, conforme a maré, e os caminhos entre os mangais que ela desvenda ou oculta, o Ibo abre-se e fecha-se ao exterior. 

Expandindo-se até à vizinha Quirimba (a que é possível, em certas horas do dia, aceder a pé numa caminhada de várias horas) e a outras ilhas descaradamente próximas da imagem mental que temos do paraíso. Ou recolhendo-se para dormir, à noite, depois do mais avassalador pôr do  Sol desta viagem de 2500 quilómetros que talvez tenha esgotado a minha reserva (e era enorme) de pontos de exclamação. José Sérgio – Moçambique in “Plataforma Macau”

domingo, 29 de julho de 2018

Voa
















Vamos aprender português, cantando


Partir é bom, chegar também
sonhar que o corpo vai mas volta
quando a tristeza vai à nossa porta
diz, serás o que ele lhe diz

Vai mas vem em marés de saudade
e voa, voa teus telhados de Lisboa
vai mas vem em marés de saudade
e voa, voa teus telhados de Lisboa

Pelos telhados de Lisboa

Saudade vai, saudade vem
não dá, quem manda em mim sou eu
e hoje o dia é meu, depois sei lá
ninguém jamais será feliz
se vive de ontem à espera de amanhã

Vai mas vem em marés de saudade
e voa, voa teus telhados de Lisboa
vai mas vem em marés de saudade
e voa, voa teus telhados de Lisboa

Vai mas vem em marés de saudade
e voa, voa teus telhados de Lisboa
vai mas vem em marés de saudade
e voa, voa teus telhados de Lisboa

Pelos telhados de Lisboa
Pelos telhados de Lisboa

Sangre Ibérico – Portugal

Composição - Paulo Abreu Lima/Pedro Jóia - Portugal


sábado, 28 de julho de 2018

Brasil – UNILAB Processo Seletivo de Estudantes Estrangeiros, PSEE 2018



A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) torna pública a abertura de inscrições para o Processo Seletivo de Estudantes Estrangeiros Unilab 2018, no período de 20 de julho a 03 de agosto de 2018, para ingresso no 2º semestre do calendário universitário do ano letivo de 2018 e no 1º semestre do calendário universitário do ano letivo de 2019, em seus cursos de graduação, para candidatos nacionais de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. UNILAB

Para se inscrever aceda aqui

Mundo Português – Faleceu Carlos Baião Morais

Faleceu na manhã desta sexta-feira, vítima de acidente rodoviário, o proprietário do jornal Mundo Português e CEO do SISAB PORTUGAL, Carlos Baião Morais.

Tinha 58 anos, a maior parte dos quais dedicados às causas da diáspora portuguesa e da portugalidade no mundo. Nas últimas décadas, foi figura de destaque na dinamização das exportações no sector agro-alimentar, tendo idealizado e desenvolvido desde 1995 o SISAB PORTUGAL, a maior feira para a exportação de produtos deste importante sector da economia portuguesa.

As comunidades portuguesas perdem uma grande referência que muita falta irá fazer.

Nunca esqueceremos as suas palavras: “é por isso que este jornal é diferente, e é por isso que nos afirmamos como nenhum outro. Somos o espelho de todos vós e todos vós, o cidadão anónimo e a sua família, são a força que nos alimenta diariamente. Ser diferente é cada vez mais difícil na sociedade globalizante em que vivemos”. Mundo Português

Portugal - Ruínas do Sanatório do Grandella estão à venda

Há quem lhes chame “palácio”, mas mais parecem uma espécie de fortaleza. As ruínas do Sanatório Albergaria, situado às portas de Lisboa, no Cabeço de Montachique, e mandado construir no início do século XX por Francisco Grandella – conhecido por ter construído os armazéns no Chiado – estão à venda. O dono, Inácio Roseiro, comprou-as há 12 anos, a meias com um amigo, mas só agora decidiram desfazer-se delas. A decisão foi tomada há pouco mais de dois meses e depois de resolvida uma “guerra” com a Câmara de Loures que durou uma década.

Quando Inácio Roseiro comprou o sanatório, cuja construção nunca chegou a ser terminada, tinha a intenção de ali fazer um lar de idosos. Acabou por mudar de ideias e pensou num centro de congressos. Só mais tarde surgiu o plano atual, que prevê a construção de um hotel. O projeto está feito, existe e respeita a traça e até a pedra do edifício desenhado em 1918 pelo arquiteto Rosendo Carvalheira. Só que o hotel nunca chegou a ver a luz do dia porque o Plano Diretor Municipal (PDM) não permitia a reconstrução. “Foi um período muito difícil”, confessa o proprietário, que comprou as ruínas na esperança de as poder recuperar. Entretanto, o PDM foi alterado e, desde há três anos, passou a ser possível reconstruir e adaptar o edifício para hotel ou outro tipo de negócio.

O problema, explica Inácio Roseiro, é que pelo meio passou uma década. “Tenho agora 72 anos e já não me sinto com forças para avançar com o projeto”, justifica. O imponente Sanatório Albergaria acabou, assim, e mais uma vez, sem ser construído. E com a venda anunciada de forma discreta através de um cartaz colocado na entrada principal das ruínas.

Nas últimas semanas, conta o proprietário, até têm chovido telefonemas. Mas todos de “curiosos”. Propostas concretas de negócio ainda não houve. As ruínas e o terreno à volta, com quase 17 mil metros quadrados, estão à venda por pouco mais de 800 mil euros. O mais difícil, acredita Inácio Roseiro, nem será encontrar quem possa pagar, mas sim quem se interesse por investir. “Não é qualquer investidor que tem interesse num edifício assim. Tem de ser um comprador muito específico, com uma visão especial sobre o lugar, as suas potencialidades e a história que encerra”, descreva. Até lá, as ruínas – que são o destino de muitas famílias nos típicos passeios de fim de semana – continuarão a ser “casa” de eventos. Inácio Roseiro tem emprestado o local para recriações históricas e outras iniciativas do género.

Uma estrela com sete pontas O Sanatório Albergaria – era este o nome que Francisco de Almeida Grandella pretendia dar ao hospital que idealizou – começou a ser construído em 1919, mas não chegou a ser acabado. Na altura, a tuberculose atingia proporções epidémicas em toda Europa e Portugal não era exceção, de tal maneira que o Estado acabou por investir, em meados da década de 1940, numa rede de 11 sanatórios públicos espalhados pelo país e geridos pelo INAT – o Instituto Nacional de Assistência aos Tuberculosos.

Grandella, industrial, político e comerciante maçom – que inaugurou o conceito de venda por catálogo e criou, em 1891, a primeira grande superfície comercial em Portugal, os Armazéns Grandella, no Chiado – quis fundar um hospital nos arredores de Lisboa, numa zona desabitada: o Cabeço de Montachique, na fronteira entre Loures e Mafra. O “plano” foi congeminado no Restaurante Abadia, no Porto, onde se realizavam as secretíssimas reuniões do grupo maçónico, boémio e amigo de patuscadas “Os makavenkos”, fundado em 1884 por Grandella e outros contemporâneos de peso, como Miguel Bombarda. Rapidamente conseguiram um terreno de 3500 metros quadrados e o arquiteto Rosendo Carvalheira juntou-se à onda de solidariedade, oferecendo o projeto – imponente e assente numa grandiosa estrela de sete pontas, inspirada num dos graus da maçonaria e que representa o “mestre perfeito”. Além dos próprios contributos – os “Makavenkos” chegaram a ter cerca de uma centena de membros –, ainda decorreu a venda de rifas, a cinco cêntimos, para angariar dinheiro para que a obra se fizesse. Diz-se, aliás, que a verba obtida – “um tesouro” – estará enterrada sob as ruínas, dentro de um cofre.

O sanatório teria capacidade para 36 doentes e o projeto contemplava áreas de apoio, fornos crematórios, enfermarias de isolamento, grandiosos jardins. Havia ainda espaço para 14 moradias que serviriam para albergar doentes ricos. Rosendo Carvalheira foi a primeira baixa do grupo de mecenas e nem chegou a assistir ao lançamento da primeira pedra, em 1919. Faleceu antes disso. Entretanto, a zona de Montachique começou a ficar mais habitada, aumentando o risco de contágio, e começaram a aparecer outros sanatórios do género nos arredores de Lisboa. Todos acabariam, no entanto, por ter o mesmo fim a partir da década de 1960: o encerramento, porque a cura para a tuberculose começou a passar pelo tratamento em ambulatório. No caso do Sanatório Albergaria, as obras pararam pouco depois de começar, ainda em 1919 e por falta de verbas. Culpa da crise que o país atravessava, acabado de sair da I Guerra, e culpa do crash de Grandella, o principal acionista e que acabaria por falir. O edifício ficou inacabado até aos dias de hoje e Grandella acabou por morrer em 1943, na languidez da Foz do Arelho. Rosa Ramos – Portugal in “Jornal I”

Sobre Francisco Maria de Almeida Grandella leia aqui

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Moçambique - UNESCO distingue Parque Nacional das Quirimbas pela conservação da natureza

O Conselho Internacional de Coordenação do Programa “O Homem e a Biosfera (MAB)” classificou o Parque Nacional das Quirimbas, na ilha do mesmo nome, localizado na província de Cabo Delgado, como área de conservação de classe mundial.



A nomeação da Reserva da Biosfera das Quirimbas, como a primeira do género em Moçambique, foi feita na passada terça-feira, na cidade de Palembang (Indonésia), durante o Conselho Internacional do MAB.

De acordo com um comunicado de imprensa enviado a nossa redacção, “este é um grande sucesso e orgulho para Moçambique, que adoptou o Programa Internacional da UNESCO “O Homem e a Biosfera” e que tem sido capaz de preparar e apresentar uma candidatura de sucesso em menos de dois anos.”

A UNESCO descreve as Reservas de Biosfera como “áreas de excelência, representativas dos ecossistemas terrestres, marinhos e costeiros mundiais.”

“Elas promovem soluções que conciliam a conservação da biodiversidade com seu uso sustentável, com foco em uma abordagem multipartidária, com particular ênfase no envolvimento das comunidades locais na gestão,” explica o comunicado.

Com a classificação recebida o Parque das Quirimbas passa a integrar a Rede Mundial de Reservas de Biosfera, facto que segundo previsões, “conduzirá a oportunidades de conservação, valorização e uso sustentável dos recursos naturais e do património cultural, para a pesquisa e o intercâmbio de conhecimento e experiências no campo da conservação da biodiversidade, mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável local”.

A Representação da UNESCO em Moçambique reagiu com “emoção e satisfação” ao facto.

“É um momento para felicitar o Governo de Moçambique pelo seu compromisso de fazer parte do Programa Internacional da UNESCO “O Homem e a Biosfera”, lê-se no documento que tivemos acesso. William Mapote – Moçambique in “O País”

Portugal - Cientistas de Coimbra invalidam teoria distinguida com Nobel da Química

A teoria de Marcus, que explica a transferência de eletrões em reações químicas, distinguida com um Prémio Nobel, foi invalidada por uma equipa de cientistas da Faculdade de Ciências de Coimbra, liderada por Luís Arnaut, foi anunciado esta quinta-feira.

“Sem margem para dúvidas, o artigo científico acabado de publicar na conceituada 'Nature Communications', do grupo Nature, prova que a teoria desenvolvida em 1956 por Rudolph Arthur Marcus”, que lhe valeu a atribuição do Nobel da Química em 1992, “está errada”, afirma a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), numa nota enviada hoje à agência Lusa.

Em causa está “a reorganização de moléculas necessária para a transferência de eletrões”, afirma a FCTUC, referindo que, para ocorrer este tipo de reações químicas, “a teoria de Marcus prevê que essa reorganização tem de ser principalmente efetuada nos solventes”.

Mas o estudo agora publicado concluiu que “não é assim”, evidenciando que “a chave para a transferência de eletrões está nos reagentes”.

Esta descoberta culmina “duas décadas e meia de estudos desenvolvidos no Departamento de Química da FCTUC, que geraram muita controvérsia dentro da comunidade científica ao longo do percurso”.

“O grande impulsionador de toda esta investigação foi o químico Formosinho Simões (catedrático da FCTUC, falecido em dezembro de 2016), que sempre questionou a teoria de Marcus”.

Formosinho Simões defendia que a chave para transferência de eletrões estava nos reagentes, mas “faltava uma evidência experimental decisiva para refutar a teoria de Marcus, pois Marcus era um cientista muito credível e a sua teoria foi premiada com o prémio Nobel da Química 1992”, conta Luís Arnaut.

Confrontado com duas visões radicalmente opostas em relação a esta reação química, Arnaut reuniu “em 1993 os químicos mais eminentes do mundo num NATO Workshop em Portugal para discutir o problema”.

O professor catedrático da FCTUC destaca que nesse encontro, “à exceção de Formosinho Simões, ninguém ousou questionar o prémio Nobel. Foi uma discussão muito intensa”.

Mas “o grupo de Coimbra não esmoreceu e avançou sozinho na conceção de experiências” que permitissem determinar qual das duas teorias estava correta.

Foram necessários 25 anos: “Foi uma tarefa extremamente difícil. Tivemos de desenhar, conceber e executar um vasto conjunto de estudos e experiências. Há múltiplas razões que justificam tantos anos de estudo, entre as quais a exigência de equipamento altamente sofisticado que nós não possuíamos, a necessidade de sintetizar moléculas que não existiam e a contratação de pessoal altamente qualificado para desenvolver o trabalho”, acrescenta Luís Arnaut, citado pela FCTUC.

Além de todas estas dificuldades, os cientistas da Universidade de Coimbra tiveram de enfrentar a crítica da comunidade científica, que “teimava em não aceitar que um Nobel da Química pudesse estar errado”, salienta a FCTUC, na mesma nota.

Após “um longo e sinuoso caminho, finalmente, em 2014”, a equipa de Formosinho Simões e de Luís Arnaut reuniu as condições adequadas para realizar “a experiência decisiva” – os resultados ficaram completos no final de 2017. O artigo científico foi submetido ao grupo Nature e, “mais uma vez, a polémica foi inevitável”, relata o coordenador do estudo.

No entanto, a argumentação dos cientistas da FCTUC “convenceu os ‘reviewers’ da revista e o artigo foi publicado” na quarta-feira.

Luís Arnaut acredita que a reação da comunidade científica “talvez vá ficar perplexa porque o que está escrito no artigo vai contra a corrente. Expõe claramente que a teoria de Marcus não funciona”.

Quanto a implicações práticas desta nova teoria – denominada ‘modelo de intersecção de estados’ –, o catedrático da FCTUC não crê que, “de repente, a teoria desenvolvida em Coimbra permita originar um produto que chegue ao mercado com vantagens relativamente aos existentes”.

“Demorámos 25 anos a realizar esta experiência, por isso é expectável que demore muitos anos para se desenvolver sistemas de uma forma diferente. Porém, o nosso modelo pode inspirar melhores soluções em áreas onde a transferência de eletrões é importante”, admite Luís Arnaut.

As reações de transferência de eletrão são a base das reações de oxidação-redução e “ocorrem em sistemas biológicos como a fotossíntese e a respiração, bem como em sistemas artificiais, por exemplo, painéis solares, polímeros condutores utilizados em televisões e computadores, optoeletrónica”, entre outros, conclui a FCTUC. In “Sapo24” - Portugal

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Macau - XXXII Festival Internacional de Música de Macau

O Festival Internacional de Música de Macau regressa entre 28 de Setembro e 28 de Outubro com um programa composto por 16 espectáculos além de actividades como “workshops”, “masterclasses” e visitas aos bastidores. De Portugal chega o grupo “Sangre Ibérico” que junta sons portugueses e espanhóis



O XXXII Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) decorre entre os dias 28 de Setembro e 28 de Outubro e tem como tema “Viver – O Momento na música”. O orçamento é semelhante ao dos anos anteriores, 30 milhões de patacas.

O programa é composto por 16 espectáculos, num total de 22 actuações, começando pela ópera “L’Eisir D’Amore”, que surge por ocasião dos 170 anos da morte do compositor Gaetano Donizetti. A produção é da Ópera de Zurique e a encenação está a cargo de Grischa Asagaroff e mostra ao público “o poder mágico do amor através da sua música magnífica”. A actuação está agendada para 28 e 30 de Setembro, no Grande Auditório do Centro Cultural (CCM).

O FIMM encerrará com dois concertos pela Staatskapelle Dresden, uma das 10 melhores orquestras a nível mundial, com uma história de mais de 400 anos. Dirigida pelo maestro Christian Thielemann, irá interpretar sinfonias completas de Schumman, o “mais romântico compositor alemão do século XIX”. Os espectáculos de encerramento decorrem também no CCM.

Em Macau estará também o Quarteto Hagen de Salzburgo, que trará clássicos alemães e austríacos, permitindo aos fãs de música vislumbrar a evolução da arte do quarteto através duma “fantástica jornada musical”. Por sua vez, a banda “Los Romero”, conhecida como “a família real da guitarra”, é composta por três gerações da mesma família.

O pianista de jazz jamaicano Monty Alexander mostra o seu talento em “Uma Vida no Jazz”. O coro “Stile Antico”, do Reino Unido, mesmo sem maestro, actua num “relacionamento harmonioso e apresenta o concerto rainha das Musas, que é uma selecção de música britânica renascentista composta durante o reinado de Isabel I”. O mesmo grupo traz o concerto “Responsórios Tenebrae”, levando o público numa viagem pela música sacra de Tomás Luís de Vitória.

Portugal Encontra Espanha

“Reunindo rumba flamenca e fado português, o agrupamento de Portugal ‘Sangre Ibérico’ oferece ao público uma noite de música latina no concerto ‘Portugal Encontra Espanha’”. A actuação está agendada para 5 de Outubro, na Casa do Mandarim.

Num resumo do espectáculo o IC questiona: “Que faíscas se libertam quando a rumba flamenca encontra o fado?”. “O fado, o género musical mais representativo de Portugal, tem melodias tocantes e melancólicas, enquanto a rumba flamenca espanhola é marcada por ritmos apaixonantes. O grupo criou uma fusão única, ganhando grande notoriedade com o seu estilo distinto”.

O colectivo é composto por André Amaro, na voz e guitarra, Paulo Maia, na guitarra flamenca e Alexandre Pereira, na voz, percussão e “cajón” flamenco, um instrumento de percussão.

De um ponto de vista mais local, Lu Jia, director musical da Orquestra de Macau, une-se à Orquestra Filarmónica de Xangai para apresentar a Sinfonia nº 8 em Dó Menor de Anton Bruckner. Espaço ainda para a música electrónica com “Batida Electrónica” que reúne as bandas “EVADE”, de Macau, e “FM3”, de Pequim. Há ainda o concerto “Bravo Macau!”, juntando Hoi Lei Lei e Raymond Vong.

Os bilhetes para os espectáculos são colocados à venda no Domingo, dia 5 de Agosto.

Como em anos anteriores, o FIMM integra ainda um programa de actividades extra. O violoncelista brasileiro Antonio Meneses, além de actuar, irá conduzir uma “masterclass” para que os estudantes locais de violoncelo melhorem as suas técnicas. Há ainda um “workshop” de música electrónica conduzido pelas bandas “EVADE” e “FM3”, transformando uma pequena caixa de plástico num instrumento experimental.

O público pode ainda visitar os bastidores do espectáculo de abertura e participar em conversas pré-espectáculo orientadas por diversos especialistas. Inês Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”