Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 31 de março de 2024

Venezuela – Réplica do Santuário de Fátima e comunidade portuguesa recebem elogios

O Governo das ilhas Canárias elogiou o empenho da comunidade portuguesa em promover a confissão mariana na Venezuela, através da construção de uma réplica do Santuário de Fátima, que parece ser pequeno para as muitas pessoas que o procuram


“Parece-me que está a ficar pequeno. Estar aqui é renascer na fé e foi isso o que senti hoje. Chegou um momento em que me apeteceu chorar [de emoção e fé] e há muitos anos que não sentia isso. Estar aqui é estar nas mãos de Deus e de Nossa Senhora de Fátima”, disse a delegada do Governo de Canárias para a Venezuela.

Isabel Jara, que é também presidente do Conselho de Residentes Espanhóis (CRE) na Venezuela falava à agência Lusa em Carrizal (26 quilómetros a sul de Caracas), durante uma visita ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, uma obra construída pela comunidade portuguesa local, inaugurada em outubro de 2022.

“É a primeira vez que visito o Santuário e estou realmente encantada, maravilhada. Passei uma manhã que me elevou o espírito e estou muito grata pelo convite”, frisou.

Por outro lado, explicou que, segundo dados do Consulado de Espanha em Caracas, na Venezuela existem atualmente 167 mil espanhóis, uma comunidade que era de mais de 200 000, mas que nos últimos anos diminuiu devido à emigração, ao “regresso ao seu país, sobretudo às ilhas Canárias”.

“Represento o Governo das Ilhas Canárias na Venezuela, fui nomeada [oelo Presidente] Fernando Clavijo, mas também sou o presidente do CRE que está presente em 63 países”, disse, precisando que atualmente “a emigração abrandou e que o país [Venezuela] tem estado numa espécie de ressurgimento”.

Por outro lado, elogiou a união, quer de portugueses, quer de espanhóis, sublinhando que esse é o caminho.

“A emigração é algo que deve estar sempre unida, porque emigrar não é fácil. Estar aqui e poder unir-se é bom. Se os seres humanos soubessem o que significa a união e estar juntos, seríamos mais felizes”, frisou.

De visita ao Santuário esteve também a professora da Universidade de Carabobo (170 quilómetros a oeste de Caracas) e também conselheira das Comunidades Portuguesas na Venezuela, Maria Fátima de Pontes, que continua impressionada como “a majestosidade” do Santuário.

“Estive cá depois da tragédia de Tejerías [de outubro de 2022, em que 54 pessoas morreram num aluimento de terras, entre os quais três portugueses], e fiquei marcada pelo santuário. Vim refugiar-me depois daquela desgraça e encontrei esta majestade, uma majestade de trabalho […] que não é uma simples obra arquitetónica”, construída durante 15 anos pela comunidade portuguesa de San António de Los Teques e Caracas.

Explicou ainda que, como conselheira local das Comunidades Portuguesas, tem tido conversações com a delegação do Governo de Canárias, que têm vários programas para atenção cidadã, que acredita poderem ser propostos ao Governo português, para aplicar em benefício dos portugueses radicados na Venezuela. In “Bom dia Europa” – Luxemburgo com “Lusa”


Macau - Há uma nova câmara de comércio lusófona na Região e Hong Kong

Uma nova câmara de comércio e indústria com sede em Macau quer ajudar as empresas dos países de língua portuguesa a ultrapassar os obstáculos no acesso ao mercado da China, disse o presidente à Lusa


A Câmara de Comércio e Indústria dos Países de Língua Portuguesa na Grande Baía de Guangdong, Hong Kong e Macau (China) é a primeira associação que pretende reunir empresas de todos os mercados lusófonos, afirmou Rodrigo Brum.

As exportações dos países de língua portuguesa para a China atingiram 147,5 mil milhões de dólares (136,1 mil milhões de euros) em 2023, num novo recorde histórico. O Brasil é o maior parceiro lusófono (82,2%) chinês, seguido por Angola (10,4%).

Quanto aos outros países, incluindo Portugal, são “muito pequeninos e, portanto”, podem e deveriam “já estar a beneficiar de uma atuação e de uma posição conjuntas” na relação com a China, defendeu Brum.

O objetivo da câmara, disse o dirigente português, é ajudar os empresários a ultrapassar “a falta de escala” para entrar na segunda maior economia do mundo e “o pouco conhecimento ou até indefinição às vezes sobre os regulamentos e a legislação chinesa”.

Brum sublinhou também a barreira linguística, as diferenças na “forma como se fazem negócios” e “as dificuldades conhecidas de exportação de produtos alimentares” para o mercado chinês.

A carne de vaca portuguesa ainda não consegue entrar na China continental, apesar de, em 2019, Lisboa ter assinado um acordo para simplificar os procedimentos de exportação de produtos alimentares para a China, incluindo a carne de ovino e de bovino.

Brum disse acreditar que “a posição coordenada das empresas dos nove países [de língua portuguesa] determina uma posição ativa nas estruturas que já estão criadas e que há que aproveitar”.

A China estabeleceu a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) como plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003.

Nesse mesmo ano, a China criou também o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, mais conhecido como Fórum de Macau, do qual Brum foi secretário-geral adjunto.

“A ambição máxima da câmara é ganhar a massa crítica para ser ouvida junto das autoridades que determinam as regras do jogo” e explicar as sugestões e dificuldades sentidas pelos empresários lusófonos, disse o dirigente.

Este ano assinala-se o quinto aniversário da Área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, uma das três principais estratégias do líder chinês, Xi Jinping, para a integração regional.

O projeto abrange as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong e nove cidades da província de Guangdong, através da criação de um mercado único e da crescente conectividade.

O produto interno bruto da Grande Baía, com cerca de 70 milhões de habitantes, supera os 1,5 biliões de dólares (1,3 biliões de euros), maior que as economias da Austrália, Indonésia ou México, países que integram o G20. In “Bom dia Europa” – Luxemburgo com “Lusa”


Os rapazes do meu tempo









Vamos aprender português, cantando

 

Os rapazes do meu tempo

 

Os rapazes do meu tempo

tinham olhos de alecrim

que perderam no momento

em que o tempo teve um fim

 

Os rapazes do meu tempo

são de um tempo que não há

e se uns deram tempo ao tempo

outros ficaram por lá

 

Outros ficaram por lá

 

Outros ficaram por lá

 

Os rapazes do meu tempo

tinham olhos cor do mar

foram vozes daquele tempo

das cantigas por cantar

 

Os rapazes do meu tempo

são de um tempo que não há

e se uns deram tempo ao tempo

outros ficaram por lá

 

Outros ficaram por lá

 

Outros ficaram por lá

 

Outros ficaram por lá

 

Os rapazes do meu tempo

são de um tempo que não há

e se uns deram tempo ao tempo

outros ficaram por lá

 

Os rapazes do meu tempo

são de um tempo que não há

e se uns deram tempo ao tempo

outros ficaram por lá

 

Paulo de Carvalho - Portugal


 

sábado, 30 de março de 2024

São Tomé e Príncipe - Stleva: manifestação cultural que dá sinais de desaparecimento

Stleva, é uma manifestação cultural santomense muito antiga que só sai à rua uma única vez por ano. Acontece na quarta-feira da Semana Santa.


«É uma manifestação para simbolizar a treva ou a escuridão por que passou Jesus Cristo no período da Quaresma. Ela sai uma vez por ano, à meia-noite em ponto, batendo à porta das pessoas pedindo licença para entrar. Entram e cantam para as pessoas» – explica Afonso Januário, técnico da Direção-geral da Cultura.

As músicas são um retrato da sociedade.

«É um pouco na base de sátiras. O que acontece na sociedade no dia-a-dia é que pegam e compõem as suas peças musicais. É uma manifestação muito bonita. Pois, diferente do Carnaval que são três dias, a stleva tem apenas um dia».

Os fazedores da stleva, treva ou escuridão em português, vão desaparecendo paulatinamente e são poucas heranças que têm deixado à nova geração. Com isso, esta manifestação cultural exclusiva da ilha de São Tomé, está em risco de extinção.

«Sobretudo a stleva é cantada em língua nacional Santomé. Significa dizer que para um jovem cantar a stleva ele tem de dominar o Santomé, o que é um défice no contexto da nossa juventude. Daí que é preciso ensinar os jovens a falar o Santomé para depois levá-los a criar também grupos de stleva como forma de manter viva a tradição. É difícil, mas o estado tem de encarrar isso como uma prioridade para salvar este elemento cultural emblemático que é preciso preservar» – destacou Afonso Januário.

Atualmente, apenas quatro grupos de stlevas ainda sobrevivem. A preservação desta manifestação cultural afigura-se como tarefa prioritária. José Bouças – São Tomé e Príncipe in “Téla Nón”


Portugal – Basta andar na rua, não é preciso ir ao Algarve

A imigração e o voto populista no Algarve. Não se tem feito ouvir na sociedade uma voz institucional, autorizada e suficientemente forte, que denuncie seriamente, tanto a exploração dos nacionais como, igualmente, a dos estrangeiros que os substituem por uma mão cheia de nada

1. Há dias, tive de me deslocar a uma povoação algarvia onde, desde sempre, passei parte das férias de verão.

Como de costume, logo pela manhã, dirigi-me ao barbeiro para aí comprar o jornal do dia.

Como quase toda a gente, gosto de preservar algumas rotinas que me identificam comigo próprio e me tranquilizam os dias, pois, deste modo, escondo, como posso, o passar do tempo e o inexorável caminho para a velhice e para outro tempo onde, necessariamente, não terei lugar.

Folheando algumas revistas e jornais, aproveitei para questionar o barbeiro, que conheço, sobre o resultado das eleições e o que pensava sobre as causas da tão brusca e massiva mudança de votação de uma população que, desde sempre, conhecera como aberta, livre e acolhedora e, por isso, algo diferente, nesse aspeto, de muitas outras existentes no país.

A resposta do barbeiro - um homem jovem que sucedeu, naquele ofício, ao pai e anterior dono do negócio - não tendo sido surpreendente, gelou-me.

«A culpa é desses desgraçados orientais que, agora, trabalham aí nos restaurantes, nos bares nas lojas, nos campos e mesmo nos uber; fizeram baixar tanto o valor dos salários que aceitam receber que nenhum português pode, agora, com eles competir, ou, estando ainda empregado, reclamar por um qualquer e devido aumento!

Os autocarros trazem-nos regularmente de Espanha, largam-nos por aí, ou vêm buscá-los quando lá há mais trabalho e mais necessidade deles.

Os que aqui beneficiam do que fazem nem sabem, nem lhes interessa saber, quanto eles ganham, pois não é com eles que contratam, mas com as empresas de trabalho temporário. Não sabem!?… claro que sabem!... mas fingem que não.»

«Então, e a Autoridade para as Condições de Trabalho não atua?» - perguntei.

«São poucos, às vezes invisíveis e parecem pouco entusiasmados com o que fazem …»

Esta explicação simples e direta para esta mudança súbita do sentido de votação de uma população que, antes, sempre se mostrara aberta e progressista e que, além disso, estava habituada a conviver e trabalhar, sem problemas e preconceitos, com toda a espécie de estrangeiros, diz muito sobre os efeitos sociais e políticos que este tipo de imigração produz em algumas zonas do país.

Diz muito, também, sobre a hipocrisia social e política em que vivemos e sobre a maneira como encaramos alguns dos problemas e contradições mais evidentemente gritantes da nossa sociedade.

O que, afinal, o jovem barbeiro me quis dizer foi que nada há de verdadeiro racismo ou xenofobia na mudança do voto dos seus conterrâneos.

Nenhum deles tinha algo contra aquelas pessoas que, quais zombies, trabalham desalmadamente, dia e noite, por um punhado de euros.

A questão situava-se, pois, nas causas e nos efeitos que daí decorriam: na desvalorização dos salários.

Sendo os salários antes praticados já de si uma miséria, e havendo uma resistência local em aceitá-los, especialmente na estação alta do turismo, os trabalhadores nacionais passaram a ver a sua capacidade de pressão esvair-se, pela sua substituição por trabalhadores estrangeiros que, na maioria, são pagos, ainda mais miseravelmente, por empresas de trabalho temporário, algumas das quais nem sequer têm sede legal em Portugal.

A razão para a opção na mudança do sentido do voto dos partidos democráticos, e alguns de esquerda, para formações de extrema-direita teve pois como uma das causas a incapacidade de o Estado – e quem o governa ou apoia a sua governação – conseguir ou querer, verdadeiramente, prevenir tal situação e efeitos.

Além de que, não se tem feito ouvir na sociedade uma voz institucional, autorizada e suficientemente forte, que denuncie seriamente, tanto a exploração dos nacionais como, igualmente, a dos estrangeiros que os substituem por uma mão cheia de nada.

A razão de ser na mudança do sentido de voto resultou, portanto, do impasse a que as forças políticas democráticas da área da governação, que antes sempre usufruíam dos favores daqueles eleitores, chegaram no que se refere à vontade e capacidade de romper, seriamente, com uma política de exploração laboral escandalosa, para a qual não são apontadas verdadeiras e visíveis alternativas.

2. Do ponto de vista dos factos, a justificação para a necessidade desta mudança radical do eleitorado parece, pois, demasiado óbvia: a inação e os limites dos meios de prevenção do Estado e o baixar dos braços da governação com tal situação.

Torna-se, ainda assim, difícil entender o como e o porquê da solução ora escolhida pelos cidadãos eleitores do Algarve.

A lógica de tão aberrante opção política só pode levar-nos a atentar no vazio político – a falta de cultura política – que, de há anos a esta parte, foi sendo fomentado na nossa sociedade.

Foi em tal vazio no desenvolvimento ativo da cidadania que encontraram espaço as «balelas» permanentemente divulgadas nas redes sociais.

Por outro lado, na medida em que uma linguagem só aparentemente técnica e estritamente financeira substituiu o discurso político institucional, ficou inteiramente invisível o projeto de futuro que a Democracia sempre deve conter.

O discurso político institucional – ou melhor, a falta dele - veio, assim, a ser suplantado e o seu vazio preenchido, progressiva e oportunamente, por meia dúzia de chavões e palavras de ordem simplistas – e mesmo primárias - difundidas, desde logo, nas redes sociais e, depois, adotadas nas ruas, aos gritos, pelos apoiantes das forças políticas contrárias ao modelo democrático-constitucional que vigora no país.

O efeito real que, com as aludidas mensagens simplistas, pretendem alcançar não se dirige, todavia, a resolver qualquer dos problemas que invocam e penalizam os cidadãos nacionais e estrangeiros.

O que na realidade pretendem é erodir politicamente a autoridade dos princípios estruturantes do Estado democrático e social e, depois, a derrubar a sua estrutura jurídico-constitucional, que, mesmo debilitada, ainda os impede de agir livremente.

Mesmo que demagogicamente aproveitados pelos populistas e prudentemente obnubilados pelas instituições estatais e pelas forças políticas que as têm governado, tais problemas existem mesmo e são, queira-se ou não, cada vez mais visíveis.

3.  A existência de tais situações – no caso, a desregulação dos salários dos trabalhadores nacionais por via da utilização de trabalhadores imigrados que se sujeitam a uma híper-exploração - é um problema real que não pode ser ignorado pelo Estado e não deve ser abordado pelos partidos constitucionalistas de uma forma envergonhada e escamoteadora da realidade.

Se, como se ouve repetidamente, os portugueses não são, na sua maioria, racistas e xenófobos, a verdade é que a concorrência no mercado de trabalho de cidadãos de outros países que se sujeitam a auferir salários, ainda mais vergonhosos do que os que nacionais auferem, cria naturalmente – e isso nada tem a ver com a cor ou religião dos trabalhadores imigrantes – uma tensão social indisfarçável.

A resposta a este problema não pode, porém, situar-se, como defendem os populistas, numa ignóbil criminalização e redobrada punição da conduta das vítimas – sim, são elas as vítimas que padecem da híper-exploração em território nacional – mas na prevenção e controle dos que, violando, ou não, as leis nacionais, são os beneficiários secundários do trabalho por elas prestado.

Mais do que insistir num reforço da fiscalização das fronteiras, na maioria das vezes ineficaz, pois a entrada de tais cidadãos na Europa não se faz, por regra, diretamente através da nossa fronteira externa (espaço Schengen), importa, isso sim, centrar o controlo de tal fenómeno naqueles que, no país, dele aproveitam sem qualquer pudor ou humanidade.

Com isso, não só ganhavam os trabalhadores imigrantes, como também os trabalhadores portugueses que, em concorrência ou não com os estrangeiros, se encontram, hoje, também, deploravelmente desprotegidos face aos sistemáticos abusos de que são vítimas e à situação de concorrência ilegal que as empresas de exploração de trabalho estrangeiro lhes impõem do ponto de vista salarial.

Se, assim, devemos denunciar os discursos de ódio, racistas e xenófobos que as forças populistas incrementam a este propósito, devemos igualmente encarar a situação, com determinação e firmeza e, discutindo-a, aberta e democraticamente, encontrar soluções realistas que beneficiem todos os trabalhadores, independentemente da sua religião, cor ou nacionalidade.

O importante é, não descurando situações que revelem antinomias menores, centrar esta discussão no que de mais grave ela efetivamente revela, isto é: a miséria dos salários que se pagam em Portugal e a falta de controlo exercido pelas autoridades portuguesas sobre os infratores que, sem qualquer piedade, se aproveitam da condição de necessidade de todos os trabalhadores e, em especial, dos que são imigrantes.

Para isso, para que esta situação escandalosa e o seu aproveitamento populista possam cessar, precisamos de ouvir, concertadamente, vozes autorizadas e também politica e civicamente fortes, designadamente dos mais altos representantes da República, dos representantes do poder judicial e do Ministério Público, da Provedoria de Justiça, dos dirigentes dos partidos constitucionalistas, dos sindicatos, dos bispos e outros responsáveis das igrejas, das pessoas da cultura e das artes, dos diretores das escolas superiores e secundárias, dos responsáveis pelos media tradicionais e seus jornalistas, dos jovens estudantes e trabalhadores democratas que navegam, com regularidade, nas redes sociais. 

Se assim acontecer, podemos estar certos, também, de que os que lançaram esta contaminada e corrosiva discussão, rapidamente dela vão desistir, pois o seu efeito poderá ser de ricochete.

Com efeito, entre os apoiantes financeiros de tais populistas contam-se, seguramente, muitos dos maiores aproveitadores desta situação.

Além de que, assim, todos, mas todos os cidadãos de boa-fé, poderão, por fim, aperceber-se das escandalosas injustiças que, quotidianamente, acontecem entre nós.

Este é, na verdade, um dos casos em que se pode dizer, sem hesitações, que «o rei vai nu». António Cluny – Portugal in Jornal I


Cabo Verde - Carlos Matos lança vídeo de homenagem a Djunga de Biluca e Humbertona

O pianista cabo-verdiano Carlos Matos lançou na passada segunda-feira, 25, o vídeo musical “Legado: Liberdadi”, que presta homenagem a duas figuras icónicas da história musical de Cabo Verde: Djunga d’Biluca e Humbertona


Neste projecto, segundo uma nota da Insulada, Carlos Matos eleva a música a um novo patamar ao abordar dois temas distintos: “Storia di nha vida” e “Despedida d’Angola”, onde sua interpretação ao piano enaltece esses temas, simbolizando um valioso legado musical que é imperativo que todos os cabo-verdianos protejam e promovam.

“Com uma entrega emocional e uma técnica apreciável, o pianista conduz-nos por uma jornada onde os conceitos de legado e liberdade se entrelaçam através da música”, cita.

Conforme a mesma fonte, Djunga d’Biluca e Humbertona estão intrinsecamente ligados à lendária Morabeza Records, considerada por muitos como a mais influente “label” da história musical de Cabo Verde.

“Djunga d’Biluca, como fundador da Morabeza Records, foi o guardião do mais valioso acervo da música cabo-verdiana. Mais do que uma simples editora, a Morabeza Records preservava as memórias e os sentimentos de todo um povo, tornando-se parte integrante da resistência cultural e política através da música”, destaca.

A mesma fonte afiança que Humbertona é reconhecido como um dos maiores violonistas da música cabo-verdiana, “deixou a sua marca na label com discos essenciais que transcendem gerações”.

“Ambos os músicos, cada um à sua maneira, demonstraram através da música que a liberdade é um direito inalienável e que a música desempenha um papel crucial na celebração dessa liberdade. “Legadu: Liberdadi” propõe-se a honrar esses legados, dando início a um projecto que promete enriquecer ainda mais o cenário musical de Cabo Verde”, sublinha.

“Humbertona e Djunga foram acervo que juramos guardar e promover e música que assumimos divulgar num projecto que começa neste primeiro vídeo e que mais estrada trará”, avançou a produção do vídeo “legadu: liberdade”.

De acordo com a mesma fonte, o vídeo é resultado de uma colaboração entre a insulada, representada por Paulo Lobo Linhares, e Matos Music, liderada pelo pianista Carlos Matos, que já partilharam experiências em outros vídeos e no álbum “Piano Solo”, lançado há dois anos. Dulcina Mendes – Cabo Verde in “Expresso das Ilhas”


Cabo Verde - Grupo Sizal lança terceiro videoclipe “Dandara” inspirado na força e resistência da mulher negra

Mindelo - O grupo mindelense Sizal lançou nas plataformas digitais o seu terceiro videoclipe “Dandara” inspirado na força e resistência da mulher negra.


Conforme informações do promotor Beto Santos avançadas à Inforpress, o ‘single’, acompanhado do videoclipe, está disponível nas plataformas e irá mostrar uma história de “resistência” da mulher negra.

Daí, segundo a mesma fonte, a opção de se fazer o lançamento no dia das mulheres cabo-verdianas.

Segundo a sinopse, a história da música remete às terras longínquas do Brasil colonial, onde a opressão e a escravidão dominavam a vida dos negros trazidos da África e no coração da Mata Atlântica, erguia-se o Quilombo dos Palmares, um refúgio de liberdade e resistência.

“Entre os bravos guerreiros que lutavam pela liberdade, destacava-se Dandara, uma mulher de alma indomável e coração valente. Com os seus cabelos trançados como correntes quebradas e olhos que brilhavam com a chama da revolução, Dandara liderava ao lado de seu amado Zumbi”, lê-se na sinopse.

A história de Dandara dos Palmares, com sua coragem e resistência contra a opressão, encontra, segundo a mesma fonte, uma “ligação poderosa” com as mulheres cabo-verdianas, que também enfrentaram desafios semelhantes ao longo da história.

“Em Cabo Verde, as mulheres desempenharam papéis essenciais na sociedade, muitas vezes assumindo múltiplos papéis como cuidadoras, trabalhadoras e líderes comunitárias. Assim como Dandara, elas enfrentaram as injustiças e lutaram pela liberdade e igualdade”, acrescenta a mesma fonte.

A música “Dandara” é o terceiro single de Sizal, grupo recentemente formado por jovens mindelenses, que decidiram fazer “uma abordagem inovadora” dos diversos géneros do cenário artístico das ilhas, fundindo-os com sonoridades modernas.

O grupo é um dos convidados a participar no Atlantic Music Expo (AME), que acontece de 01 a 04 de Abril, na cidade da Praia. In “Inforpress” – Cabo Verde


sexta-feira, 29 de março de 2024

Angola - Parque Fotovoltaico de Saurimo vai ser inaugurado

O Ministério da Energia e Águas (MINEA) inaugura, na próxima terça-feira, o Parque Fotovoltaico de Saurimo, na província da Lunda-Sul, que vai ter uma potência instalada de 26,13 megawatts (MW)


De acordo com um comunicado do MINEA, o parque vai garantir electricidade verde e abastecer mais de 170 mil famílias e uma poupança de mais de 19 milhões de litros de combustível por ano.

O objectivo do Governo, identificado no Plano "Energia Angola 2025”, é diversificar a matriz energética do país e que este tenha cerca de 60 por cento da sua população rural com acesso à electricidade.

Orçado em 38,8 milhões de euros, a empreitada comporta um total de 44850 painéis solares e vai produzir mais de 49000 MWh/ano. De forma a escoar esta energia, será construída uma linha de média tensão de 15 kV que interligará o parque solar ao posto de seccionamento que estará preparado para as futuras ligações dos postos de Tchicumina e Nhama, bem como a interligação da linha da Hidrochicapa.

Além de uma poupança de mais de 19 milhões de litros de combustível por ano, esta solução vai evitar emissões de mais de 68 mil toneladas de Dióxido de Carbono (CO2) por ano.

O Parque Fotovoltaico de Saurimo faz parte de um conjunto de sete, com uma capacidade total de 370 MWp, nas províncias de Benguela, Huambo, Bié, Lunda-Norte (Lucapa) e Moxico (Luena), que deverão estar operacionais até ao final deste ano.

No seu conjunto, os sete parques solares foram desenvolvidos por um consórcio internacional composto pelas empresas Sun Africa e MCA, estando esta última com a componente de engenharia. Isso vai permitir fornecer electricidade renovável e limpa a 2,4 milhões de angolanos, contribuindo ainda para a redução anual de emissões poluentes de cerca de um milhão de toneladas de CO2.

Os parques solares permitem, também, eliminar a necessidade de consumo de cerca de 1,4 milhões de litros de gasóleo em geradores e produção térmica, com efeitos fortemente poluentes, o que permitirá uma poupança muito significativa nos gastos com importação de combustíveis. In “Jornal de Angola” - Angola




Portugal - Universidades de Macau e Aveiro assinam acordos em várias áreas

Uma visita à Universidade de Aveiro foi mais uma paragem da deslocação a Portugal de uma delegação de instituições de ensino superior de Macau e representantes dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude. O encontro serviu para assinar um protocolo de colaboração e discutir assuntos da cooperação, da promoção de projectos de intercâmbio e troca de estudantes, assim como de colaboração na área da investigação científica


A cooperação entre instituições do ensino superior de Macau e de Portugal foi o tema base do encontro que uma comitiva do território, composta por dirigentes de universidades e representantes da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), fez à Universidade de Aveiro. Na reunião, foram discutidos assuntos relacionados com o intercâmbio entre as instituições de ambos os lados, bem como a promoção de projectos de cooperação, de troca de estudantes e do intercâmbio académico na área da investigação científica.

De entre as principais áreas disciplinares, a Universidade de Aveiro destaca-se na engenharia electrotécnica e electrónica, ciência dos materiais, ciências do ambiente, entre outras, ocupando o 344º lugar do ranking mundial das universidades e leccionando para 14 000 alunos.

Durante o encontro, o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e reitor da Universidade de Aveiro, Paulo Jorge Ferreira, fez uma apresentação sobre a situação do desenvolvimento da internacionalização da instituição, a situação geral da cooperação com as empresas, as vantagens das áreas disciplinares e o seu modelo de gestão.

Ao mesmo tempo, sob o testemunho do subdirector da DSEDJ, Teng Sio Hong, a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, a Universidade da Cidade de Macau, a Universidade de São José e o Instituto de Enfermagem Kiang Wu assinaram acordos de cooperação com a Universidade de Aveiro. O objectivo é reforçar a cooperação em várias áreas, nomeadamente de intercâmbio académico entre as instituições de ensino superior de Macau e de Portugal, e de promoção de projectos de intercâmbio e de troca de estudantes.

Antes, já outros protocolos haviam sido rubricados, como a parceria entre a Universidade Politécnica de Macau e o Centro Científico e Cultural de Macau em Lisboa, para reforço nos domínios da ciência, da cultura e da educação, e o acordo entre a Universidade da Cidade de Macau e a Universidade Lusófona no âmbito do desenvolvimento de novos projectos de cooperação entre as duas universidades, nas áreas da docência, disciplinares e de formação de quadros qualificados.

Em nota enviada às redacções, a DSEDJ revela que “coordena, de forma contínua, a integração de recursos das instituições de ensino superior”, promovendo o intercâmbio e a cooperação entre as instituições de ensino superior de Macau e de Portugal, “com vista a auxiliar na formação dos quadros qualificados necessários” para o desenvolvimento da estratégia de diversificação adequada “1+4” de Macau. Vítor Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

Alemanha - Associação que promove a língua portuguesa em Munique comemora 30 anos

A associação portuguesa “Lusofonia”, criada em 1993 na cidade alemã de Munique, pretende mostrar, através de diversos eventos, que vão desde debates a concertos, a diversidade cultural dos vários países de língua portuguesa


Mais de três décadas depois de começar a organizar as primeiras iniciativas, a diversidade continua a ser a grande preocupação e o objetivo da fundadora Luísa Costa Hölzl, que até se arrepende de não ter utilizado o plural de “Lusofonia” quando batizou a associação.

“Estou arrependida de não nos chamarmos ‘lusofonias’ no plural. A palavra lusofonia tem um eco imperial, continua a ter uma marca colonial, como se tivesse substituído a ideia de império. Não queremos isso de todo, recusamos totalmente”, apontou, em declarações à Lusa.

“O nosso objetivo sempre foi uma diversidade a vários níveis. Diversidade do lado dos países de origem dos artistas que trazemos. E os formatos, as próprias áreas artísticas, desde concertos, performance, conversas, debates, leituras, exposições de arte, ou eventos em que misturamos vários formatos”, acrescentou.

A associação começou a dar os primeiros passos em 1993 com o escritor Mia Couto. Foi o primeiro evento que contou com uma leitura e música moçambicana. Seguiram-se várias iniciativas que foram dando mais força a este trabalho.

“Em 1998, Portugal foi o país convidado da Feira do Livro de Frankfurt. Foi uma ocasião fantástica para montar uma programação bastante pormenorizada porque tivemos vários escritores que foram a Frankfurt e depois vieram até Munique. Tivemos um serão de lírica, poesia, com a edição de uma revista literária”, indicou Luísa Costa Hölzl.

O estatuto de associação cultural só foi concretizado em 2009, mas, mesmo assim, o grupo, de portugueses, alemães e brasileiros, continuou a ser pequeno.

“Somos meia dúzia de sócios”, detalhou a fundadora, nascida em Lisboa, e a viver em Munique, onde é professora de português na Universidade Ludwig-Maximilians desde 2000 e na Münchner Volkshochschule desde 1988.

“A nossa ideia foi sempre cooperarmos com outras instituições. Não fazemos nada sozinhos”, destacou, sublinhando ser também esse um dos aspetos principais da associação que coopera, muitas vezes, promovendo eventos através da newsletter.

Uma das últimas iniciativas organizada pela “Lusofonia” foi um concerto da cantora cabo-verdiana Lura. Para os dias 02 e 03 de maio estão programados vários eventos que comemoram os 50 anos do 25 de Abril, como uma exposição fotográfica, um debate político e momentos musicais.

“Procuramos sempre datas que sejam significativas, efemérides. Por exemplo, vamos seguramente ler poesia de Alexandre O’Neill, porque se celebram cem anos do seu nascimento em 2024”, exemplificou, lamentando que nem sempre seja fácil chegar a toda a comunidade lusófona.

“Não queremos ser chatos”, ri Luísa Costa Hölzl, enquanto explica a escolha de formatos diferentes para que o público, maioritariamente alemão, goste. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


França - Programa dos 106 anos da Batalha de La Lys

As quatro cerimónias que assinalam o 106.º aniversário da Batalha de la Lys, homenageando os soldados do Corpo Expedicionário Português (CEP) e as enfermeiras da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) que participaram na Grande Guerra em França, terão lugar no dia 13 de abril, em Richebourg e La Couture, e no dia 14 em Boulogne-sur-Mer e Ambleteuse


De acordo com um comunicado enviado pela embaixada ao Bom Dia, o embaixador de Portugal em França, José Augusto Duarte, presidirá às cerimónias em nome do Estado Português e será acompanhado pelo prefeito de Pas-de-Calais, Jacques Billant, pelo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas Portuguesas, José Nunes da Fonseca, pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Francesas, Thierry Burkhard, pelo cônsul-geral de Portugal em Paris, Carlos Oliveira, pelos presidentes das Câmaras de Richebourg, La Couture, Boulogne-sur-Mer e Ambleteuse, pelo presidente da Liga dos Combatentes Portugueses, Tenente-General Joaquim Chito Rodrigues, pelo vice-presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Tenente-General Marco Serronha, e por uma delegação de militares das Forças Armadas Portuguesas na Bélgica

O programa começa às 10h45 de sábado no Cemitério Militar Português em Richebourg e continua às 12h15 junto ao Monumento aos Mortos em La Couture, incluindo honras militares à chegada das entidades, deposição de coroas de flores, hinos nacionais, leitura de um poema por alunos das escolas Marcel Lejosne e Sacré-Cœur, canto por um coro de jovens de La Couture e um Porto de honra oferecido a todos os convidados em La Couture.

Após o almoço de convívio (inscrição por correio eletrónico em lacouturecc@orange.fr), haverá uma missa às 16h00 na igreja católica de Saint-Pierre em La Couture.

As celebrações recomeçam no domingo, às 9h50, no cemitério oriental de Boulogne-sur-Mer, seguidas de uma comemoração religiosa às 11h00, diante da Cruz de Cristo no cemitério de Ambleteuse, e prosseguem com uma homenagem aos combatentes do CEP e às enfermeiras da CVP às 12h00, em frente ao monumento da Cruz Vermelha Portuguesa em Ambleteuse, incluindo discursos, deposição de coroas de flores, com a ajuda das crianças do Conselho Municipal da Juventude, homenagens aos mortos, hinos nacionais e saudação aos porta-estandartes. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo

quinta-feira, 28 de março de 2024

Brasil - Michelle Bolsonaro para presidente? Ou para vice?

O que estaria pensando o governador Tarcísio de Freitas, diante da platéia repleta de bolsonaristas enfeitiçados pelo charme de Michèlle Bolsonaro no Teatro Municipal de São Paulo, diante do risco da esposa do ex-presidente inelegível, convertida numa sacerdotisa evangélica, lhe tomar a esperada candidatura à presidência contra Lula em 2026?

Pior ainda para Tarcísio, sondagens eleitorais feitas pelo PL e PP confirmam não existir outra alternativa senão Michelle em termos de popularidade e preferência dentro do eleitorado evangélico e de extrema-direita. Além disso, Michelle tem força e carisma próprios, enquanto Tarcísio só existe apoiado em Bolsonaro.

A última esperança de Tarcísio talvez seja essa: a de Bolsonaro proibir à esposa ir além da pretendida candidatura a senatoria. Neste caso, Michelle, mesmo picada pela mosca azul da ambição, teria de pensar duas vezes antes de se rebelar, pois foi ela mesma quem construiu sua imagem de esposa fiel e obediente, segundo os preceitos da Bíblia. Em todo o caso, seria estranho os partidos e os grupos dos machões anti-feministas escolherem uma mulher, de rosto e corpo bons para capa de revista, como candidata ideal à presidência.

E seriam essas as únicas razões capazes de impedir ao Brasil ter uma presidenta, quando já houve a Dilma e mesmo uma Eva na Argentina? Não! Existe outra muito mais difícil de suplantar: como reagiriam os filhos de Bolsonaro, eles que sempre se imaginaram serem os herdeiros do pai Bolsonaro e donos dessa dinastia?

Uma solução para descartar Michelle seria a de convencer Bolsonaro de partir para o exílio. Num país bem distante como a Hungria, deveria estar acompanhado de sua esposa, como manda o figurino evangélico. Caso Michelle divorciasse por não saber fazer um bom goulashe, não teria mais o apoio do eleitorado evangélico. Entretanto, essa hipótese, que parecia unir a família Bolsonaro, foi destruída pelo vazamento do vídeo de segurança da embaixada magiar em Brasília, no qual se via o ex-presidente chegar de cafeteira e travesseiro com a intenção de testar o quarto de hóspede do embaixador.

Mas alguém poderia lembrar uma outra hipótese, levantada por um canal youtube de esquerda, diante do sucesso do show montado em plena avenida Paulista pelo pastor Silas Malafaia: seria o lançamento da dobradinha Malafaia, para presidente, e Michelle, para vice-presidente. Mesmo sem sondagem feita, seria a fórmula capaz de agradar a todos, até aos filhos de Bolsonaro. A supremacia do machismo continuaria assegurada com alguém batalhador e guerreiro como um rei Daví e, na vice-presidência, Michelle seria uma espécie de dama de honra, mesmo porque sem formação política e econômica poderia ser uma catástrofe como presidenta. Ou Tarcísio presidente com Michelle vice?.

60 anos depois, alguém se lembra do Golpe de 1964?

Esquece isso! Foi esse o pedido do presidente Lula ao ministro Sílvio Almeida, dos Direitos Humanos, para evitar confrontos e choques com os militares? Em todo o caso, o ministro não teve outra opção senão a de cancelar o ato, destinado a relembrar 60 anos depois, no Museu da República, em Brasília, as vítimas das perseguições desencadeadas pelos golpistas de 1964.

E por que motivo? Para evitar tensões com os militares, em nome de uma apaziguação e para que a data seja tratada com serenidade. Em contrapartida, destacou a imprensa, o governo espera também silêncio por parte das Forças Armadas em relação ao 31 de março, sem leitura da ordem do dia com referências a essa data e sem comemorações.

E essa boa intenção lulista tem chance de ser seguida?

Dentro dos quartéis, sem dúvida não haverá, mas do lado de fora, de maneira independente e à paisana ou de pijama não se pode garantir, mesmo porque Bolsonaro pedia e dava grande destaque ao 31 de Março, na esperança de provocar um novo golpe, durante ou ao fim de seu mandato.

É o caso do almoço patrocinado pelo Clube Militar do Rio de Janeiro, ocorrido nesta quarta-feira, dia 27, cujo anúncio dizia: "para relembrar os 60 anos do Movimento Democrático de 31 de Março de 1964. O anfitrião foi o general Maynard Marques de Santa Rosa, na reserva há 14 anos, exonerado por Lula da chefia do Departamento Geral de Pessoal do Exército por críticas à Comissão Nacional da Verdade, encarregada de averiguar os crimes cometidos nos 21 anos da ditadura militar.

E, por ser domingo a data dos 60 anos do Golpe em 1964, é mais do que certo, haverá comemorações veladas ou ostensivas em muitas igrejas e congregações evangélicas e neopentecostais. Rui Martins – Suíça

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
 

Malásia - É um dos homens mais influentes da Ásia e tem nome português

Anthony Francis Fernandes, empresário de 60 anos, é malaio, o seu pai de Goa, a sua mãe indo-asiático-portuguesa (do povo Kristang) e, tal como muitos dos seus conterrâneos, carrega no nome o peso da herança que Portugal deixou na Ásia. Neste momento é dono de um dos grupos mais influentes daquele continente que detém, por exemplo, uma das maiores companhias aéreas low-cost do mundo

Em 2001, Anthony Francis Fernandes – também conhecido por Tony Fernandes – fundou a Tune Aire, empresa ligada ao setor da aviação que, mais tarde, adquiriu a Air Asia e a transformou numa das mais prósperas companhias aéreas do continente asiático.

Mais tarde criou o Tune Group, consórcio com tentáculos nos setores de hotelaria, telecomunicações, serviços financeiros, desporto, indústria criativa e linhas aéreas.

Além disto, o milionário foi também acionista maioritário dos Queens Park Rangers, em Inglaterra, e entre 2010 e 2014 liderou a Team Lotus, equipa de Fórmula 1 que depois alterou o nome para Caterham F1 Team.

A nível académico, Fernandes estudou na The Alice Smith School, em Kuala Lumpur e entre 1976 e 1983 foi aluno do Epsom College, no Reino Unido, de onde saiu para a London School of Economics e se graduou em Contabilidade. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


Eduardo Fontes: poesia em tempos de covid-19

Poeta, que sobreviveu a muito custo à pandemia, arranca versos da tragédia e mostra que é possível fazer poesia mesmo em situações de desafio

                                                                                         

                                                          I

Autor de vastíssima obra, que inclui 24 obras publicadas e mais três por publicar, Eduardo Fontes (1947), poeta cearense bastante conhecido no Nordeste, talvez porque em seus versos nada herméticos e extremamente líricos sempre se mostrou muito preocupado em exaltar suas origens, está de novo no mercado com um livro de poemas, escrito entre os anos de 2020 e 2022, como resultado da reclusão forçada pela incidência da pandemia de coronavírus (covid-19), que também o atingiu, mas da qual a muito custo escapou. Por isso, dedica a obra às vítimas da pandemia, “sobreviventes da hecatombe, tratada como mimimi”, mas que matou mais de 700 mil pessoas no Brasil.

O título, A poesia nos tempos da Covid (Fortaleza, RDE Editora, 2024), faz lembrar e constitui uma homenagem a O amor nos tempos de cólera (1985), do colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), como reconhece o próprio autor. Como seria previsível, a simplicidade que faz evocar os menestréis nordestinos está mais uma vez presente nesta obra, mas, como assinalou o poeta Anderson Braga Horta, ao analisar seu livro anterior, Poemas de amor e êxtase (2022), a composição de seus versos tornou-se “mais direta, precisa, enxuta”. É o que se pode constatar neste excerto do poema “Variações sobre o amor” em que diz:

(...) Amor dos poetas e ascetas / Que cantam nos seus versos, / Aquele desejo de estar perto / De suas musas esbeltas... / E nos tempos da cruel Covid / Quantos perderam / O amor de suas vidas, / O amor-companheiro, / O amor-entrega, / O amor-desejo, / O amor-certeza, / O amor-amante, / O amor-irmão, / O amor-papai, / O amor-mamãe, / O amor da vovó, / O amor do vovô, / O amor-órfão / À procura de quem lhe dê a mão... / O amor dos noivos / Que se queriam em comunhão / E que foram levados num batel / E viraram estrelas  no céu!...”

 

                                                         II

No texto de apresentação que escreveu para a sua própria obra, Fontes diz que esteve entre as primeiras vítimas do mortal vírus e que chegou a um ponto em que os médicos só lhe davam dez por cento de vida. Mas, felizmente, sobreviveu para atuar, através da poesia, como testemunha de um tempo em que a imprevidência, a falta de vacinas e o deboche oficial estiveram presentes nos lares e em todos os quadrantes do País. E ele mesmo se questiona: como enxergar poesia em tais condições? E responde: “Sim, é possível, pois, em todas as situações de desafio e de sofrimento pelas quais passam as pessoas, existe sempre no fim do túnel a luz da Esperança, e mesmo contida é possível conciliar amor e dor, alegria e tristeza, solidão e comunhão, saudade e presença”.

Se poesia é emoção e pensamento, o poeta não deixa de olhar o futuro e clamar aos que o leem que esqueçam aqueles que só contribuíram, com seu negativismo, para que o mal crescesse por todo o País. É o que se sente no poema “O Sol volta a brilhar”:

“(,,.) Vamos sepultar / Os arautos da morte / E da maldade, / Os que não sabem chorar / Nem se indignar dos próprios atos!... / Vamos esquecer / Os salvadores da Pátria / Que nada salvam, / Além dos próprios bolsos!... /Vamos lavá-los nas águas / do Rio do Esquecimento / Para que Creonte os leve / Para o Nada na sua barca!...” 

Por isso, sem abandonar o lirismo telúrico que se tornou também marca tanto de seus breves como de seus mais extensos poemas, Fontes trata de extrair da vida poesia, fundindo o pictórico e o sonoro, mesmo que o mundo lhe seja adverso. Poeta da emoção, procura pensar por imagens, como se vê no poema “A Poesia”:

(...) A Poesia não morre, / Mesmo na morte, / Pois a Poesia é alma, / É perfume suave, / Brisa que perpassa / Pela manhã e à tarde!... / É estrela solitária / Que se mostra no céu, / Lembrando a pessoa amada!... / É o cantar dos pássaros, / O farfalhar do vento / Nas árvores, / É a Lua no céu / A pratear a mata! / É o mar / A se espreguiçar na areia / Da praia, / É a flor a se entreabrir / Por mãos invisíveis!... / É toda a beleza / Que existe / No ar, no mar, no espaço, / De graça, / Sem cobrar taxa!...”

 

                                                         III

Nascido em Fortaleza, filho e netos de poetas, Eduardo Fontes, bacharel em Direito e em Administração, trabalhou como analista de controle externo do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e administrador no Tribunal de Contas dos Municípios, no Ceará. Conciliando com as atividades de servidor público, atuou anos a fio em órgãos de imprensa do Ceará como redator e repórter, tendo acumulado vários prêmios. Como membro da Associação Cearense de Imprensa (ACI), recebeu, em sessão solene, medalha alusiva aos 50 anos de sócio efetivo da entidade.

É autor de Exaltação à vida (poesia, 1967), livro de estreia; O alpinista (poesia, 1970); O Lagamar que eu conheci (ensaio, 1974); Vitrais (poesia, 1979); O teatro de Carlos Câmara (1982); As pouco lembradas igrejas de Fortaleza (história, Prêmio João Brígido, 1983); Pequena história do Tribunal de Contas do Ceará, em parceria com Antônio de Pádua Saraiva Câmara (1985); Cantos do outono (poesia, 1995); Rua da Saudade (poesia, 1998); Pelas mãos da poesia (2000); Na esquina da vida (crônicas, 2007); Cancioneiro de mim (poesia, 2012)|; Último trem para Pasárgada (poesia, 2013); Relicário da saudade (poesia, 2014); O baile das palavras (poesia, 2015); Ciranda poética (2018); Devaneios (poesia, 2017); Jesus, Senhor da Vida e Rei do Universo (poesia, 2017); Poemas das bodas de ouro matrimoniais (2019); O teatro da vida (contos, 2021); Poemas de amor e êxtase (2022); e Contos fantásticos e outros contos (2023), entre outros.

Membro fundador da Academia Fortalezense de Letras, participou do grupo Sin de Literatura que, na década de 1960, sacudiu o movimento artístico-cultural de Fortaleza. É cronista do Diário do Nordeste, de Fortaleza. Adelto Gonçalves – Brasil

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A poesia nos tempos da Covid, de Eduardo Fontes. Fortaleza: RDE Editora, 108 páginas, 2024. E-mail da editora: rds1048@gmail.com E-mail do autor: eduardohumbertofontes@gmail.com

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Adelto Gonçalves é mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo-Imesp, 2021), Tomás Antônio Gonzaga (Imesp/Academia Brasileira de Letras, 2012),  Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imesp, 2015), Os Vira-latas da Madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté-SP, Letra Selvagem, 2015) e O Reino, a Colônia e o Poder: o governo Lorena na capitania de São Paulo 1788-1797 (Imesp, 2019), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br