Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Timor-Leste – Oé-Cusse Ambeno, o trabalho continua

“Não há casamento possível entre isolamento e desenvolvimento”



Hoje de manhã, 31 de Julho de 2019, último dia do exercício de funções como Presidente da Autoridade da Região Administrativa Especial de Oé-Cusse (RAEOA) e das Zonas Especiais para a Economia Social de Mercado de Timor-Leste (ZEESM TL), partiu do Aeroporto Internacional de Oé-Cusse “Rota do Sândalo” Mari Alkatiri.

Durante o tempo em que “trabalhou para a região” Mari Alkatiri promoveu o desenvolvimento de Oé-Cusse Ambeno tanto no factor económico como social. Desde a construção de infraestruturas básicas para melhor circulação da população ao aeroporto internacional, o investimento na agricultura e no turismo, nas pessoas com principal destaque os jovens e as mulheres, a aposta em novas tecnologias, permitindo que os mais jovens tenham acesso nos primeiros anos da vida escolar aos mais avançados meios tecnológicos, mais e melhor saúde, mais e melhor escolas, o acesso à formação profissional, não esquecendo o início do projecto de industrialização da região na área têxtil, não descurando a boa gestão dos dinheiros públicos.



Como não é possível desenvolvimento com isolamento, Mari Alkatiri apostou na cooperação internacional como uma porta de oportunidades para melhorar o bem-estar económico e social da população e encontrou em Portugal e na Índia parceiros que compreenderam o seu esforço para o progresso de Oé-Cusse Ambeno. As sementes estão lançadas para o futuro.

Para conhecer o trabalho desenvolvido por Mari Alkatiri nas mais diversas vertentes aceda aqui. Baía da Lusofonia


Lusofonia - Até final do século haverá 500 milhões de falantes de português no mundo



Segundo o governo de Portugal, até final do século haverá 500 milhões de falantes de português no mundo.

“Há estimativas que apontam para que até 2060 a língua portuguesa possa vir a ser falada por 380 milhões de pessoas e até ao final do século o número aumente para 500 milhões de falantes de língua portuguesa, em todo o mundo”, indicou José Luís Carneiro.

Segundo o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, “há indicadores muito claros relativos ao crescimento em todas a regiões do mundo”.

“Como exemplo há três anos havia três universidades na China a ensinar língua portuguesa. Atualmente são mais de 40. Já na África do Sul a procura e a oferta para apreender a língua portuguesa ronda os 40%”, exemplificou o governante.

José Luís Carneiro falava no decurso do seminário ”O regresso do Emigrantes” que decorreu, em Vimioso, no distrito de Bragança, e que juntou uma plateia composta por antigos e atuais emigrantes.

O secretário de Estado acrescentou ainda que na costa Ocidental de África, desde a Costa do Marfim à Namíbia, “há uma procura crescente da língua portuguesa”. Na América do Sul, o fenômeno é idêntico em países como a Argentina.

“A língua portuguesa é muito relevante para a cultura, mas, também para a economia, nomeadamente na América Latina e na África Austral, razão pela qual os indicadores mostram um crescimento do português, via Ministério dos Negócios Estrangeiros e Instituto Camões”, vincou José Luís Carneiro.

“É na América Latina onde o português é mais falado, mas as estimativas apontam para que, no final do século, a língua portuguesa venha ser mais falada no continente africano, devido a crescimento demográfico espectável para países como Angola ou Moçambique”, acrescentou. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”

Angola - Projeto de produção de mel sustentável desenvolvida por uma brasileira



Segundo divulgou a Unesp, a brasileira Marisa Rodrigues realiza trabalho de extensão rural em Angola, levando o conhecimento para ajudar as comunidades rurais no País.

Ela ainda é aluna de doutorado na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias Câmpus de Jaboticabal, e sua pesquisa focada no comportamento e genética de abelhas Apis mellifera.

Marisa, visitou Angola pela primeira vez em 2014, viu um enorme potencial da produção de mel e voltou em 2016 como consultora em um projeto de produção de mel sustentável, onde trabalha com apicultores rurais para produzir mel de forma sustentável.

O projeto é coordenado pela aluna e foi criado por uma rede de apicultores que trocam experiências, conhecimentos e materiais de apicultura, proporcionando meios de subsistência alternativos para os agricultores na vila da Chibia na Angola.



O projeto chamou a atenção do Ministério do Ambiente da Angola, nomeadamente o Instituto Nacional de Biodiversidade e Áreas Protegidas (INBAC). Nesse contexto o INBAC contactou a aluna sobre os conflitos entre humanos e elefantes, particularmente dentro do Parque Nacional do Bicuar na província de Huíla e na Comuna de Cambondo, na província do Cuanza Norte.

Marisa sugeriu o uso de cercas de abelhas como uma barreira ecológica, com base na pesquisa pioneira do projeto Save the Elephants (http://elephantsandbees.com/). Dessa forma, em abril deste ano, a aluna construiu um protótipo funcional de uma vedação de colmeias suspensas.

Em Junho, com o patrocínio da empresa Jardins da Yoba, a aluna visitou o projeto coordenado pela Dra Lucy King, no Quênia, onde firmaram uma parceria. Dessa cooperação, a aluna conseguiu uma doação para seu projeto em Angola para a construção de 30 colmeias suspensas na comuna de Cambondo, província de Cuanza Norte.

Além de realizar seu projeto fora do Brasil, Marisa desenvolve trabalhos educacionais em escolas municipais levando conhecimento sobre o mundo das abelhas e a importância de sua preservação. In “Mundo Lusíada” - Brasil

terça-feira, 30 de julho de 2019

São Tomé e Príncipe – Hotel vai nascer na Lagoa Azul



É um dos resultados do Fórum Empresarial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, realizado no início de Julho em São Tomé.

A Agência de Promoção de Investimentos que organizou o encontro dos empresários em São Tomé, anunciou que a Direcção Geral do Turismo conseguiu acordo com uma empresa da China, para construir um hotel na região da Lagoa Azul. «Um projecto foi aprovado. É a construção de uma unidade turística na Lagoa Azul», anunciou o Presidente da APCI.

Segundo Rafael Branco, o projecto inicial estava avaliado em 60 milhões de dólares. No entanto grupo privado chinês que vai construir o hotel na Lagoa Azul, reclamou que o espaço a ser concedido para erguer o hotel, não é suficiente para uma injecção de 60 milhões de dólares. «O Investidor considera que não há espaço suficiente para construir um hotel de 60 milhões de dólares, e considera que 30 milhões seriam suficientes», explicou.

Para além do projecto para construção de um hotel na Lagoa Azul, o fórum de empresários da China e da CPLP em São Tomé, permitiu ao empresariado são-tomense negociar com parceiros sobretudo da China, cerca de 30 outros projectos de investimentos. «O nosso sector privado sofre de várias limitações. Mas houve projectos muito bem apresentados, com os critérios exigidos. No entanto, um dia, não é suficiente para fechar um negócio», sublinhou o Presidente da APCI.

As empresas nacionais que partilharam projectos com as congéneres da China e da CPLP, continuam a negociar, as possibilidades de investimentos. «Tivemos conhecimento de alguns empresários que manifestaram ter feito bom negócio, estando a decorrer as negociações entre as partes», acrescentou Rafael Branco.

A Agência de Promoção de Investimentos de São Tomé e Príncipe, foi instituída no ano 2012, mas segundo Rafael Branco, presidente nomeado em 2019, só agora está a dar os seus primeiros passos. «A agência não é ainda o que o país precisa. Precisa ser mais dinâmica, e que possa seguir os passos do investidor, e acompanhar o sector privado nas diferentes fases de implementação dos projectos», pontuou.

A realização do décimo quarto fórum empresarial China – CPLP, entre os dias 7 e 8 de Julho, foi o primeiro desafio da instituição. Mesmo assim deu nota positiva aos seus trabalhos na organização do Fórum que trouxe mais de 400 empresários, a maioria chineses, à descoberta das potencialidades de São Tomé e Príncipe.

Ainda para este ano, a APCI, pretende realizar mais dois fóruns empresariais em São Tomé. O Primeiro será com empresários angolanos e já está marcado para Setembro próximo.

Segundo Rafael Branco, em parceria com Portugal, também será realizado este ano um fórum entre pequenos e médios empresários de Portugal e de São Tomé e Príncipe. Abel Veiga – São Tomé e Príncipe in “Téla Nón”

Austrália - Parlamento aprova tratado de fronteiras marítimas com Timor-Leste

O parlamento australiano aprovou ontem o tratado sobre as fronteiras marítimas com Timor-Leste, ratificado há uma semana pelo parlamento timorense, após uma década de disputa entre os dois países

A ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Marise Payne, considerou que o tratado "resolve uma disputa longa sobre as fronteiras marítimas no contexto do desenvolvimento do Greater Sunrise" e lança as "fundações para um novo capítulo nas relações bilaterais".

O líder da oposição, Anthony Albanese, disse durante o debate na Câmara dos Representantes, na sexta-feira, que a prolongada disputa "não ajudou à imagem australiana de boa vizinhança com uma das nações mais jovens do planeta".

"Com a aprovação do tratado, a Austrália está agora pronta para, conjuntamente com Timor-Leste, desenvolver os campos de gás Greater Sunrise em benefício dos dois países", adiantou o Governo australiano num comunicado conjunto dos gabinetes do primeiro-ministro e ministros das Finanças, Negócios Estrangeiros e Recursos.

"Greater Sunrise gerará novas oportunidades de rendimento, desenvolvimento comercial e industrial para Timor-Leste e uma importante parte da futura economia timorense", reforça o comunicado.

O Governo australiano sublinha que o tratado estabelece as fronteiras marítimas permanentes entre os dois países e uma "moldura legal estável para o desenvolvimento dos recursos de gás e petróleo no mar de Timor".

"Mantém o compromisso da Austrália com as regras internacionais e a resolução pacífica de disputas e reflete o compromisso total com a independência, soberania e sustentabilidade económica de Timor-Leste", acrescenta-se no texto.

O tratado resultou de um processo de conciliação obrigatória iniciado por Timor-Leste em 11 de abril de 2016, no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), e concluído com a assinatura do documento em 06 de março de 2018 em Nova Iorque.

O processo permitiu “alcançar uma solução global negociada para a disputa sobre a delimitação permanente das respetivas fronteiras marítimas”, que inclui “a concordância sobre a ligação inextrincável entre a delimitação das fronteiras marítimas e a criação do regime especial para os Campos do Greater Sunrise”.

O Parlamento Nacional timorense tinha ratificado em 23 de julho o tratado que define as fronteiras marítimas permanentes entre Timor-Leste e a Austrália, depois de aprovar várias alterações legislativas, mas com os votos contra da Fretilin, na oposição.

Os textos vão agora para o Presidente da República, que tem até 30 dias para decidir vetar ou promulgar.

Em caso de veto, os diplomas regressam ao Parlamento Nacional onde basta serem confirmados por maioria simples – que a coligação do Governo detém – para que o Presidente da República os tenha de promulgar.

O parlamento alargou a sessão legislativa até 15 de agosto para lidar com esta questão.

O Governo pretende que a troca de notas com a Austrália, que marca a entrada em vigor formal do tratado, ocorra em 30 de agosto, quando se cumprem 20 anos do referendo em que os timorenses escolheram a independência. In “Sapo Timor-Leste” com “Lusa”

China - Ensino de português chega a prestigiada universidade

Uma das mais prestigiadas universidades da China vai passar a ter português como disciplina opcional, já no próximo ano letivo, ilustrando a crescente importância dos países lusófonos para o comércio e diplomacia chineses, foi anunciado.

A partir de setembro, a Universidade Qinghua vai oferecer português como disciplina opcional aos alunos de todos os cursos de licenciatura, disse à agência Lusa fonte da instituição.

Localizada no norte de Pequim, a Qinghua é uma das mais prestigiadas universidades chinesas e onde se formaram muitos dos líderes do país, incluindo o atual Presidente chinês, Xi Jinping, e o antecessor, Hu Jintao.

Estabelecido em 1911, o ‘campus’ da Qinghua foi construído a partir de um antigo jardim imperial do século XVIII, preservando os lagos, espaços verdes e edifícios centenários.

A universidade tem mais de 25 mil estudantes, segundo o sítio oficial da instituição, e destaca-se sobretudo pelo ensino de engenharia.

A aposta da Qinghua reflete a crescente necessidade da China em formar melhores quadros para trabalhar com os países de língua portuguesa, face à evolução das trocas comerciais, que só em 2018 se cifraram em 147 354 milhões de dólares (131 206 milhões de euros), um aumento de 25,31%, em termos homólogos.

O destaque vai para Angola e Brasil, cujas trocas com a China compõem a maioria deste comércio.

Nos últimos anos, a China tornou-se, também, um dos principais investidores em Portugal, comprando participações em grandes empresas das áreas da energia, seguros, saúde e banca, enquanto milhares de particulares chineses compraram casa em Portugal à boleia dos vistos ‘gold’.

A contar com a Qinghua são já 34 as universidades da China continental que têm português como cadeira opcional, entre as quais 25 que oferecem também licenciaturas em português.

No total, mais de 1500 estudantes chineses frequentam agora cursos em português.

Até 1999, apenas a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim e a Universidade de Estudos Internacionais de Xangai ofereciam licenciaturas em português. In “Bom dia Europa” – Luxemburgo com “Lusa”

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Portugal - CADOES, o programa informático que vai facilitar o trabalho de antropólogos e arqueólogos

Os investigadores Francisco Curate, do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), e João d’Oliveira Coelho, da Universidade de Oxford, desenvolveram um programa informático que vai facilitar o trabalho de antropólogos e arqueólogos no processo de identificação e caracterização do sexo de esqueletos humanos, quer em contexto forense quer em contexto arqueológico.

O designado “CADOES: Classificação Automatizada de Dados Osteométricos para Estimar o Sexo” resulta de uma investigação, cujos resultados foram publicados na revista “Forensic Science International”, que partiu dos dados de um trabalho realizado em 1938 pelo cientista José Antunes Serra - uma descrição antropológica clássica do complexo pélvico de uma amostra de restos esqueléticos portugueses do final do século XIX ao início do século XX, que incluiu 256 indivíduos (131 mulheres e 125 homens) da Coleção de Esqueletos Identificados da Universidade de Coimbra.



Com base nesses dados, refere Francisco Curate, «desenvolvemos diferentes algoritmos de classificação que geram modelos osteométricos de elevada precisão, sendo possível analisar 38 variáveis do complexo ósseo pélvico (altura da bacia, ângulo púbico, ângulo sacro-pélvico, conjugata obstétrica, etc.), ou seja, com os dados em bruto fornecidos no trabalho descritivo de 1938, criámos novas abordagens para a estimativa de sexo com base em características morfométricas do complexo ósseo pélvico».

Os investigadores centraram-se na região pélvica pelo facto de esta ser a região do corpo humano que apresenta maior grau de dimorfismo sexual e por assumir grande importância na identificação do sexo, que por sua vez é um passo fundamental para estabelecer o perfil biológico de esqueletos humanos, como, por exemplo, saber a idade que o indivíduo tinha à data da morte ou a sua estatura.

A principal mais-valia do CADOES, disponível gratuitamente no sítio responsivo “osteomics.com”, onde é possível aceder a outros sistemas desenvolvidos por investigadores do Laboratório de Antropologia Forense da FCTUC, «é a flexibilidade, permitindo efetuar um conjunto alargado de análises de forma rápida. É um sistema user friendly (amigo do utilizador) que pode ser usado por qualquer investigador em qualquer parte do mundo», salienta Francisco Curate.

«É uma ferramenta credível, que simplifica processos e minimiza o grau de erro. Disponibiliza ainda ilustrações que indicam a forma mais adequada de efetuar as medidas dos ossos e caminhos para explorar os dados fornecidos», acrescenta.

Este programa permite também trabalhar com pequenos fragmentos de ossos, o que representa um avanço na identificação de esqueletos, dado que, «infelizmente, a pélvis é uma região que se preserva menos bem, que se fragmenta muito», esclarece o também investigador do Laboratório de Antropologia Forense da FCTUC.

Além de facilitar o trabalho da comunidade científica da área, este novo programa informático tem um grande potencial como recurso pedagógico, «podendo ser utilizado em sala de aula para explorar a anatomia da região pélvica, por exemplo em escolas secundárias», finaliza Francisco Curate.

O artigo publicado na revista Forensic Science International está disponível: aqui. Universidade de Coimbra “Faculdade de Ciências e Tecnologia” - Portugal

Malaca - Guardião da herança portuguesa desapontado com falta de apoio

O responsável do museu do Bairro Português em Malaca, Malásia, está desapontado com Portugal por não ajudar na remodelação do espaço, visivelmente degradado, que conta uma história do legado português com mais de 500 anos



Em entrevista à Lusa no museu situado no coração do Bairro Português em Malaca onde se estima viverem ainda mil a dois mil luso-descendentes em cerca de 180 casas, Jerry Alcantra afirma estar desapontado com os portugueses que “dizem querer ajudar”, sem que esta chegue. “Não quero ofender ninguém, só digo o que deve ser dito”, sublinha o lusodescendente.

Carpetes velhas, molduras partidas e danificadas, quadros rasgados, pratos do séc XVI partidos, entre algumas outras relíquias em relativo bom estado, é o cenário que se vê ao entrar neste espaço, no qual se procura preservar uma história que remonta a 1509 quando Diogo Lopes Sequeira, enviado do Rei D. Manuel, aportou em Malaca para estabelecer relações e dois anos mais tarde Afonso de Albuquerque desembarcou, demoliu a Grande Mesquita, e levantou no local uma fortaleza que seria um importante entreposto comercial.

“Um museu precisa de ter boas molduras, boas luzes (…) isto assim não pode ser considerado um museu”, diz, visivelmente triste e revoltado, Jerry Alcantra, que toma conta do museu há sete anos.

O lusodescendente explica que antigamente o museu era em parte subsidiado pelo estado de Malaca, mas que “agora eles não têm dinheiro” e por isso toma conta do local de forma gratuita, pedindo apenas a quem entra algum donativo.

Para Jerry Alcantra, o facto de as autoridades malaias não ajudarem resulta de os luso-descendentes serem praticamente todos católicos romanos, num país onde o islamismo é a religião oficial, praticado por mais de 50 por cento da população malaia (31 milhões de habitantes). O budismo (17 por cento) e o taoismo (12 por cento) estão à frente do catolicismo, que é praticado por cerca de 8 por cento da população do país. “O Governo [da Malásia] não nos ajuda porque nós não somos malaios, isto é um país muçulmano, eles não nos vão ajudar, nós somos católicos romanos”, afirma.

Este cenário, juntamente com o facto de os portugueses os “terem deixado para trás”, põe em risco a própria manutenção deste legado. “Os portugueses deixaram-nos para trás”, acusa, garantindo que, apesar de tudo, aqui neste pequeno recanto de Malaca o bailado, a música, o português ‘antigo’, o Natal e as festas de São Pedro são rituais respeitados e praticados religiosamente por esta população.

“A cultura é o que nos resta para nós termos a noção que somos portugueses, mais nada. Nós não parecemos portugueses, nós somos a quinta geração”, diz, sublinhando que o cruzamento de culturas tem sido feito ao longo de 500 anos, até através do casamento.

“Se eu falar devagarinho vocês [os portugueses de Portugal] entendem”, dando depois alguns exemplos como “comer, beber, branco, janela”, em crioulo de matriz portuguesa kristang, uma língua agora ameaçada de extinção, que emprega a maior parte do seu vocabulário do português, mas a sua estrutura gramatical é semelhante ao malaio e extrai as suas influências dos dialectos chinês e indiano.

“O meu pai é português e a minha mãe é chinesa, o que é que isso faz de mim? Como é que querem que eu me pareça convosco?”, aponta. Miguel Mâncio – Portugal in “Hoje Macau” com “Agência Lusa”

OIT - 2021 será o Ano Internacional para a Erradicação do Trabalho Infantil

A Assembleia Geral das Nações Unidas instou a comunidade internacional a empreender atividades para erradicar o trabalho forçado e o trabalho infantil, e declarou 2021 como o Ano da Eliminação do Trabalho Infantil



GENEBRA - A Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou por unanimidade a resolução declarando 2021 como o Ano Internacional para a Erradicação do Trabalho Infantil e solicitou à Organização Internacional do Trabalho para assumir a liderança. da implementação.

A resolução destaca o compromisso dos Estados Membros de “Adoptar medidas imediatas e eficazes para erradicar o trabalho forçado, pôr fim às formas contemporâneas de escravidão e tráfico de pessoas e assegurar a proibição e eliminação das piores formas de trabalho infantil, inclusive o recrutamento e uso de crianças-soldados e, até 2025, acabar com o trabalho infantil em todas as suas formas.”

A Assembleia Geral reconheceu a importância da Convenção da Idade Mínima, 1973 (Nº 138) e da Convenção sobre as Piores Formas de Trabalho Infantil, 199 (Nº 182) - cuja ratificação pelos 187 estados membros da OIT é quase universal - assim como a da Convenção sobre os Direitos da Criança.

Também reconheceu a importância de “revitalizar parcerias globais para garantir a implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. incluindo o alcance dos objetivos e metas relacionados à erradicação do trabalho infantil.”

A Argentina assumiu a liderança da promoção deste compromisso internacional, como seguimento da IV Conferência Mundial sobre Erradicação do Trabalho Infantil, realizada em novembro de 2017 em Buenos Aires. A resolução foi apoiada por 78 países.

“Esperamos que este seja mais um passo na intensificação de esforços e progresso, dia a dia, em direção a um mundo em que nenhuma criança seja submetida a trabalho infantil ou exploração e um mundo em que o trabalho decente para todos seja uma realidade”, disse Martín García Moritán, delegado da Argentina para as Nações Unidas.

Nos seus 100 anos de história, a OIT sempre trabalhou para abolir o trabalho infantil; Uma das primeiras convenções que adoptou foi o Acordo que regulamenta a idade mínima na indústria (No. 5, 1919).

A Organização é parceira da Aliança 8.7 e serve como Secretaria da Aliança Mundial para erradicar o trabalho forçado, formas contemporâneas de escravidão, tráfico de pessoas e trabalho infantil no mundo.

Evolução substancial foi alcançada nos últimos anos, em grande parte devido à intensidade das campanhas promocionais e mobilização nacional apoiada por medidas legislativas e práticas. Entre 2000 e 2016, a redução mundial do trabalho infantil no mundo foi de 38%.

"Nas últimas duas décadas, a luta contra o trabalho infantil ganhou um impulso extraordinário", disse Beate Andrees, chefe do Serviço de Princípios e Direitos no Trabalho. “No entanto, ainda existem 152 milhões de crianças imersas no trabalho infantil em todo o mundo. É claro que temos que intensificar ainda mais as nossas ações, e a decisão da Assembleia Geral de declarar 2021 o Ano Internacional para a Erradicação do Trabalho Infantil será muito útil para chamar a atenção para os milhões de meninas e meninos que ainda trabalham no campo, nas minas e fábricas.”

As estimativas da OIT indicam que em 2016:

152 milhões de crianças entre 5 e 17 anos de idade estão em situação de trabalho infantil; quase metade deles, isto é, 73 milhões, realizam trabalhos perigosos.

Trabalho infantil perigoso é mais prevalente entre crianças entre 15 e 17 anos de idade. No entanto, um quarto de todas as crianças que fazem trabalho perigoso (19 milhões) têm menos de 12 anos de idade.

Quase metade (48%) das vítimas de trabalho infantil tem entre 5 e 11 anos de idade; 28 por cento, entre 12 e 14 anos; e 24 por cento, entre 15 e 17 anos.

O trabalho infantil concentra-se principalmente na agricultura (71%), que inclui pesca, silvicultura, pecuária e aquicultura; 17% em serviços; e 12% no sector industrial, incluindo mineração.  

Portugal – OGMA abre candidaturas para programa de estágios OGMATON



A OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal tem a decorrer até 06 de outubro de 2019 as candidaturas para o novo programa de estágios OGMATON, destinado a alunos com formação em engenharia, matemática, gestão, direito, economia e ciências sociais.

Em comunicado, a OGMA explica que, entre os requisitos necessários estão o facto de o candidato ter dois anos de experiência profissional, bom nível de inglês, atitude “problem solver” (resolução de problemas), capacidade de interação, persistência e capacidade de ultrapassar desafios.

Durante a primeira fase do processo de seleção para o Trainee – OGMATON serão selecionados 60 finalistas que terão de passar por uma maratona de 12 horas de solução de desafios técnicos. Deste grupo sairá os 20 ‘trainees’ que vão integrar a empresa a partir de novembro durante 12 meses. In “Mundo Português” - Portugal

Brasil - Escola Portuguesa de Santos prepara Centenário e pede colaboração de ex-alunos



A Escola Portuguesa de Santos está completando 98 anos de fundação neste ano, e já pensando no seu centenário, em 2021, para que a data possa ser celebrada com muita festa.

A direção da escola programa para o Centenário uma Missa na Catedral de Santos, uma sessão solene na Câmara Municipal, um jantar dançante em uma das instituições luso-brasileira da cidade e o lançamento de um livro que registrará toda a história da Escola Portuguesa até os 100 anos.

“Para isso, pretendemos contar depoimentos e fotos da época de ex-alunos, e aproveitamos para, através do Jornal Mundo Lusíada, convocar aqueles que tenham alguma contribuição nesse sentido que contatem diretamente a Escola” declara o presidente José Augusto do Rosário.

A Escola Portuguesa conta atualmente com 110 alunos, em período parcial (80) e integral (30). Além de educação pré-escolar gratuita, os alunos recebem uniformes de verão e inverno, material escolar e aulas de informática educativa.

“Contamos hoje com professores experientes e qualificados, passando às crianças não só o conhecimento, mas também, compartilhando o seu carinho constante” descreve Rosário.

A Escola serve às 110 crianças sete refeições diárias, contando com auxílio de uma nutricionista e cozinheiras especializadas.

A instituição é suportada por mantenedores da comunidade Luso-brasileira em parceria com a Prefeitura Municipal de Santos e supervisionada pela Secretaria Municipal de Educação (SEDUC).

História

A Escola Portuguesa foi fundada em 24 de julho de 1921, produto do entusiasmo de um grupo de portugueses, entre os quais sobressaía o seu idealizador, Prof. Antônio Maria Guerreiro, com a “finalidade difundir a instrução desde a tenra idade”. Neste período abrigava alunos, na sua maioria, filhos de cidadãos portugueses da cidade.

Foi figuras de destaque na direção da escola nesta época o Sr. Cordovil Fernandes Lopes, pai de Silvio Fernandes Lopes, ex-Prefeito de Santos, que governou a cidade entre os anos de 1957 e 1961.

Muitos foram os que se habilitaram os bancos da antiga Escola Portuguesa, dentre eles, o Sr. Vitor de Sousa, da Agência de Turismo Vasco da Gama, até hoje colaborador da Escola.

Em 1971 a Escola teve que interromper suas atividades.

Em 1986, representantes da comunidade luso-brasileira decidiram reabrir o estabelecimento, assumindo sua direção, nomeadamente, Manuel Tavares da Silva, José Augusto Martins Ogando dos Santos, Alfredo Martins, Armênio Mendes, João Simões, Antonio Lopes, Ernesto Vieira e mais tarde o Sr. Fernando Martins e Sr. Toninho Reis, quem trouxe o atual presidente para a Escola Portuguesa.

Desta fase em diante, a Escola Portuguesa passou a atender, exclusivamente, crianças de famílias de baixa renda, com idades entre três e seis anos, residentes nas áreas do Paquetá, Vila Nova, Mercado, Centro e Monte Serrat, com o apoio de padrinhos e contribuição da Prefeitura Municipal de Santos.

“Nestes anos todos, a Escola vem cumprindo fielmente o seu papel de dar os primeiros passos a estas crianças, que gozam de um ambiente amoroso e saudável, proporcionado pelos professores, funcionários e voluntários que participam da administração” diz José Augusto.

“Elas não só dão seus primeiros passos na vida sociável, como também recebem uma dose excepcional de amor e carinho” defende.

Segundo ele, o trabalho forja cidadãos mais humanos e mais fraternos, não só pelo bem delas como de todos. “No momento em que vemos o mundo tomando um rumo incerto, onde a paz está em risco, açoitada por ondas terroristas, guerras, intolerância de todas as ordens e violência desmedida, não podemos ficar de mãos atadas sem nada fazer, temos que nos indignar, pois não é esse o mundo que queremos para nossas crianças. Não é esse o legado que queremos deixar para as gerações futuras”.

Defendendo que a sociedade deve fazer sua parte, o presidente ainda “apela” para que todos ajudem entidades assistenciais, que também se dedicam às causas sociais. “O nosso grupo, composto por vários voluntários, têm se doado ao máximo, por acreditarmos que esse é o caminho para termos crianças felizes, e no futuro, adultos mais responsáveis e do bem” disse Rosário, finalizando que o grupo da Escola faz sua parte “por uma cidade melhor, um país melhor e um mundo melhor”. In “Mundo Lusíada” - Brasil

domingo, 28 de julho de 2019

Portugal – Futuro terminal de contentores Vasco da Gama terá concessão de 50 anos

50 anos é o prazo previsto para a concessão do terminal de contentores Vasco da Gama, em Sines. O Governo autorizou o lançamento do concurso público



O futuro concessionário do terminal de contentores Vasco da Gama, o segundo do porto de Sines, poderá contar, à partida, com um prazo de 50 de anos, como contrapartida ao investimento que lhe será exigido, calculado em 642 milhões de euros.

O novo terminal deverá acrescentar três milhões de TEU/ano à capacidade de movimentação de contentores do porto alentejano. A nova infra-estrutura contará com uma frente de cais de 1 375 metros, suficiente para operar em simultâneo três navios de 24 000 TEU. Para o que disporá de 15 pórticos de cais de última geração.

Ainda de acordo com o programa aprovado em Conselho de Ministros, o terminal Vasco da Gama disporá de fundos de -17,5 metros e de um terrapleno de apoio de 46 hectares.

O investimento na construção e operação do terminal será integralmente por privados.

O comunicado do Conselho de Ministros não refere a realização das obras marítimas que serão necessárias ao terminal. Esse investimento, a acontecer, e de montante desconhecido, deverá em princípio ser suportado por fundos públicos.

O Executivo sustenta que o impacto económico do novo terminal deverá ser de 524 milhões de euros, 0,28% do PIB e 0,33% do VAB, sendo esperada a criação de 1 350 postos de trabalho na fase da operação.

PSA em Sines por mais 20 anos

Também o Conselho de Ministros aprovou os termos da renegociação do contrato de concessão do Terminal XXI com a PSA Sines.

A concessionária investirá 547 milhões de euros no terminal de contentores de Sines, aumentando a sua capacidade, dos actuais 2,3 milhões para 4,1 milhões de TEU/ano.

Para tal, a frente de cais será prolongada até aos 1 950 metros (1 720 metros + 200 metros), o que permitirá a operação simultânea de quatro navios de última geração.

A capacidade de movimentação de cargas será reforçada com a instalação de mais nove pórticos de cais super-post-panamax (passarão a ser 19) e 30 pórticos de parque, além da modernização e aquisição de outros equipamentos.

Para acomodar o maior volume de contentores, o terrapleno de apoio será ampliado, de 42 para 60 hectares.

Em contrapartida ao investimento acordado, o prazo da concessão será alargado em 20 anos.

O comunicado do Conselho de Ministros sublinha ainda o facto de a PSA Sines ter abdicado do direito de preferência, que na prática lhe concedia o exclusivo da movimentação de contentores naquele porto, e sem o qual seria impossível avançar com o projecto do terminal Vasco da Gama.

Juntos, os dois investimentos, previstos na Estratégia para o Aumento da Competitividade dos portos representam mais de 1 100 milhões de euros de origem privada aplicados em Sines. In “Transportes & Negócios” - Portugal

Vento











Vamos aprender português, cantando


Sei de alguém que olha pra mim
eu olho pra ti também
somos feitos de marfim
fomos feitos pra ninguém
vou levar-te a um lugar
onde podes descobrir
onde vês o que é fatal
o que é bom e o que faz rir
sou do vento, do que quero ver
sei do tempo do seu maldizer

Sei de quem gosta de mim
eu gosto de ti também
riso doce e alecrim
roupa leve que não sai
vou levar-te a um lugar
onde podes descobrir
onde vês o que é fatal
o que é bom e o que faz rir
sou do vento, do que quero ver
sei do tempo do seu maldizer
sou do vento, do que anda ao deus-dará
sou do tempo, dessa falsa paz

Beatriz Pessoa - Portugal


sábado, 27 de julho de 2019

Galiza – Revista “Revirada Feminista” um altifalante do feminismo com escuta no mundo lusófono

“Graças à nossa escolha ortográfica, na Revirada chegamos a feministas de países como Moçambique”. O PGL conversa com Paloma Fidalgo, membro da equipa editorial da revista feminista, que apresenta o seu quinto número, 'Receitas feministas antifascistas', com conteúdos que debatem a luta política diária




Recém chegada desde Kuala Lumpur, Paloma Fidalgo toma o sol no terraço do Pichel, em Compostela. Ela é uma das quatro pessoas membro da equipa editorial de Revirada Feminista. O PGL fala com a ativista feminista sobre o projeto da revista, que acaba de tirar do prelo o seu quinto número, e a sua função dentro do tecido de movimentos sociais da Galiza.

Chegais ao número 5 da Revirada, que novidades traz esta nova entrega?

O número novo pretendia dar resposta a um tema de bastante atualidade, tristemente, que é o tema dos fascismos. Está cada vez mais presente na nossa sociedade e nos meios de comunicação. Então quisemos fazer um  pouco um jogo de palavras, porque o tema da cozinha sempre foi entendido como um tema feminino, pelo que queríamos fazer unas receitas antifascistas. Esperamos então que assim a gente pudesse refletir sobre como combater o fascismo, desde o dia a dia, desde os bairros, desde as nossas casas porque afinal é algo transversal, não é só estar nas instituições e nos meios. Impata-nos a nível diário.
Tem isto algo a ver com as figuras centrais do número? Por que escolhestes Marielle Franco, Agnès Varda e Pastora Dominga. São três figuras de referencia muito diferentes: uma ativista brasileira, uma diretora francesa, uma mãe galega…

A verdade é que nessa tempada que estivemos a preparar o número chegaram as noticias das suas mortes que são muito distintas mas, como sabemos, os feminismos são muito transversais. Vai desde Pastora da Corunha, que fazia trabalho nas cadeias e desde os bairros –as três editoras da Corunha conheciam-na–, até o caso de Agnès Varda –que é pioneira da nouvelle vague– ou o tema de Marielle que temos próxima porque com o tema da língua sentimos muito perto Brasil. Tentamos achegar-nos mais aos países lusófonos e foi-nos muito impatante o seu assassinato. É muito transversal porque afinal o feminismo toca-o tudo. Toca desde as altas instâncias de governo, digamos, até o dia a dia. E estas mulheres demonstram que o feminismo está por todo o lado.

A Revirada já leva tempo a vogar. Como nasceu a ideia da sua criação?

Eu cheguei depois. As fundadoras foram Giada, Mariola e um moço chamado Pablo, quem já não está na equipa editorial. A revista começou um pouco pela ideia de ter um projeto feminista continuado no tempo porque muitas vezes parece que o feminismo é de reação. É dizer, por exemplo, o governo cria um problema com uma lei do aborto, e o feminismo reage. Não havia um movimento continuado, e queríamos criar um movimento continuado de reflexão de difundir e criar vozes. Não dependermos de outros, senão tomar a iniciativa. Foi criado na Corunha e eu uni-me com outra moça.

São todas de diferentes pontos do país? Quem está detrás da Revirada?

Somos todas muito distintas. Agora mesmo somos quatro moças. Está Mariola, da Corunha, e está Sara, que é uma moça que vive em Compostela. Está também Giada, que é italiana que vive desde há muitos anos na Galiza. De facto, fala muito melhor o galego ca mim, é muito humilhante [risas]. E depois estou eu, que sou de Ourense mas realmente vivo em Kuala Lumpur, em Malásia. Para trabalhar fazemos muito Skype, mas agora como estou a passar cá uns meses, aproveito para trabalhar mais na revista. Todas tentamos escrever quando temos tempo. E, como todo ativismo, é uma dedicação de tempo da nossa vida, do nosso trabalho, para algo que não é retribuído.

Como é o processo de criação de cada número?

Pois o processo começa com uma chuva de ideias para decidir o tema do próximo número. Há temas que são muito claros, como o do último número, que nos encantou. Depois de escolher o tema, lançamos a proposta às colaboradoras. As colaboradoras podem ser qualquer pessoa, pode animar-se quem for. Então a colaboradora é qualquer pessoa que se sinta interessada em mandar-nos algo. Limitamos uma deadline de, imagina, três meses, e a gente manda os seus textos para que nós façamos seleção.

No início é verdade que Revirada começou como uma web onde aglomerar todas estas vozes e ter a revista como exemplo, mas o certo é que afinal a revista acabou por absorver tudo e colher mais pulo [ri]. É claro, não temos orçamento para colocar todo aquilo do que gostaríamos. Por exemplo, não temos capacidade para meter mais páginas, publicarmos todas as coisas que nos chegam a cor, como é o caso das contra-capas, que são super lindas.

Então, as editoras o que fazemos é ler todos os textos, selecionar quais podem entrar melhor no tema ou não… Praticamente não se descarta nenhum texto porque a gente que trabalha um texto para enviar não costuma enviar algo fora de tema… Também gerimos a página web e o Facebook, e intentamos fazer um conglomerado dos movimentos sociais, de eventos que haja… Damos voz para intentar dinamizar.



O financiamento desde onde chega?

Pois temos a parte de Classificadas, na contra-capa. São negócios com uma perspetiva feminista como Étik@s… Elas achegam algo para a revista, e depois nas páginas do interior temos também algo de publicidade de negócios que são afins mas não se auto-definem diretamente como feministas. Houve também no inicio um investimento inicial que se vai recuperando aos poucos.

Ainda que utilizais outras normas ou línguas na vossa publicação, por que a escolha linguística do galego reintegrado como ‘norma veicular’?

Quando Revirada foi fundada, duas das fundadoras utilizam a norma reintegracionista, e a sua escolha foi ciente. O outro fundador não a utilizava mas concordava. Que passa? Que afinal a publicação pretende ser um alto-falante do feminismo, pelo que respeitamos a língua e norma que cada pessoa utilize nos textos que envia. Por isso publicamos em galego ou em castelhano ou em francês, se nos mandam. Porém, a nossa linha é o reintegracionismo porque todas concordamos com isto. E isso chamou a minha atenção, porque não há muitíssimas iniciativas na Galiza que utilizem o reintegracionismo. E isso convenceu-me sobre o projeto [risas].

A publicação toma o pulso dos movimentos sociais feministas na atualidade, integrando debates e polémicas vivos nestes espaços como a utilização da violência, a utilidade dos protocolos, o pos-colonialismo… Quais achas ou achais na equipa que são os principais desafios dos feminismos galegos atualmente?

Temos falado muito deste tema, e pensamos que está muito inconexo. Falta muita posta em comum, falta união, sentar todas a falar, sermos mais transversais… É um problema geral do feminismo global, porque é muito branco, heteronormativo.. E não damos voz às pessoas raçalizadas, pessoas com diversidade funcional… É um tema que todo feminismo tem, e no feminismo galego deveríamos ser mais politizadas, mas no final todas temos empregos muito precários e precisamos investir muita energia. Não é fácil ser ativista e feminista, complica a vida, a verdade [ri]. É o problema que penso eu que tem o feminismo galego. Muita desunião. Nós agora estamos com o do protocolo, que o apresentamos com a Revirada, porque Giada foi uma das que trabalhou nisto.

Atualmente os mídia e, em geral, a voz hegemónica é masculina e branca. Nas redes sociais, na criação cultural, na opinião dos meios de massas… Contra isto, como percebeis a receção do público cara a vossa publicação?

Pois… A verdade é que o reintegracionismo ajudou-nos muito com o feedback que recebemos. Há um feedback que não esperávamos, sobretudo de países lusófonos. Por exemplo, agora incluímos o trabalho de umas raparigas de Moçambique, que quando nos chegou quase desmaiamos todas! [ri] Chegamos super longe! Quer que sejamos lidas em Brasil ou em Portugal, em diversos festivais feministas… É muito positivo, a verdade, que estejas a fazer algo na Galiza e sejas lida além daqui. Depois, nas apresentações que fizemos, uma foi na Comuna, na Corunha. E chamou-nos muito a atenção que vieram muitos moços, porque às vezes semelha que sempre somos mulheres no feminismo e não é certo. Semelha que interessa muito o tema do Protocolo para a prevenção e abordagem das violências machistas nos movimentos sociais.

Podes explicar um bocado em que consiste este Protocolo?

Realmente, o protocolo é de Giada e de outras moças de Compostela, e estamos a apresentá-lo conjuntamente com a revista porque por questões laborais não houve oportunidade de dar-lhe a difusão necessária antes, e por isso aproveitamos esta oportunidade para dá-lo a conhecer. O protocolo é uma ferramenta que está baseada noutra que tinham em centros sociais da Catalunya, então está adaptado à realidade galega e melhorada. É uma ferramenta para quando há uma agressão machista num centro social, ou num movimento de esquerdas, para saber como enfrentar esta situação sem recorrer à justiça patriarcal. Porém, claro, por muito que sejas de esquerdas não significa que não vaia haver agressões, e há mil casos assim. Afinal, o protocolo é uma ferramenta para as mulheres e os homens, para as assembleias dos centros sociais… para parar as agressões.

Uma vez que já chegais ao quinto número… qual é o vosso plano de futuro para a Revirada?

Agora estamos intentando difundir a revista, quanto antes, melhor. Por exemplo, estamos a programar uma apresentação na Gentalha do Pichel, em Compostela. Queremos ir ao festival Agrocuir, de Monterroso, para fazer uma apresentação ou levar um posto de informação. A nossa ideia principal é dar-lhe difusão porque leva muito trabalho e não queremos correr ao seguinte número sem dar-lhe difusão. A verdade é que a publicação está a atrair outros perfis que não pertencem aos feminismos de esquerdas clássicos e está chegar às apresentações gente que vem mais pelo âmbito da arte, pessoas que nunca antes estiveram numa associação feminista. E queremos fazer isso, abrir ainda um bocado mais onde fazemos as apresentações para não falar sempre para gente conhecida que já nos conhece.

E a longo prazo… Em que gostarias que se convertesse a revista?

Sim, por pedir… [ri] Queremos revisar o formato, neste tempo que vamos colher pensamos em mudar cara a um formato mais jornalístico, aumentar o número de páginas… porque temos muitos conteúdos que não colhem na revista atual. E a periodicidade… Pronto, poder publicar cada três meses seria genial, mas tendo em conta que trabalhamos é muito mais difícil. In “Portal Galego da Língua” - Galiza