Está a decorrer na galeria do Museu de São Roque, em
Lisboa, a exposição “Um Rei e Três Imperadores. Portugal, a China e Macau no
tempo de D. João V”, que relembra, entre outras efemérides, o aniversário da
transferência de administração de Macau. Jorge Alves, curador, fala ao HM da
mostra que revela uma visão global das relações entre China e Portugal, sem
esquecer o papel de Macau como importante entreposto comercial
Até
ao dia 5 de Abril do próximo ano poderá ser visitada no Museu de São Roque, da
Santa Casa da Misericórdia (SCM), em Lisboa, a exposição intitulada “Um Rei
e Três Imperadores. Portugal, a China e Macau no tempo de D. João V”, com
cerca de meia centena de obras que espelham “as relações luso-chinesas na sua
dimensão global, centrando-se na primeira metade do século XVIII – um dos
períodos mais intensos e relevantes do relacionamento entre Portugal e a
Europa, e a China”. Além de celebrar os 20 anos da transferência de transição
de Macau para a China, a mostra marca também o 40º aniversário das relações
diplomáticas entre Portugal e a China e os 450 anos de existência da SCM de
Macau.
O
Hoje Macau falou com o seu curador, Jorge Santos Alves, que nos falou do carácter
exclusivo de algumas peças, “uma boa parte delas nunca antes expostas ou pouco
vistas em Portugal”. Estas pretendem mostrar “as quatro principais dimensões do
relacionamento entre Portugal e a China”.
A
mostra contém uma “parte temática”, que mostra ao público o trabalho das
embaixadas e o relacionamento político e diplomático que se estabelecia com o
império chinês.
“Havia
uma dimensão económica e comercial muito importante na época, baseada na
importação de mercadorias chinesas pela Europa e Portugal, incluindo um
importante produto que é o chá. Temos na exposição moedas de prata que eram
trocadas pelo chá nos mercados, objectos que entram no nosso quotidiano, como
os bules.”
Jorge
Santos Alves destaca ainda o facto de os objectos mostrarem que estas trocas
comerciais se faziam não apenas entre Macau e Cantão, mas também através de
Lisboa, “com viagens organizadas em Portugal”.
Religião e diplomacia
A
mostra no Museu de São Roque conta também o importante papel que os jesuítas
tiveram na China da época e que protagonizaram enormes avanços culturais,
científicos e tecnológicos através do armamento, instrumentos musicais ou
matemática, entre outros elementos. Há ainda uma parte dedicada aos ritos
cristãos, no sentido de perceber se os chineses os podiam ou não seguir. “Este
é um debate que perturba um pouco as relações entre China e Portugal”,
esclarece Jorge Santos Alves.
A
exposição fecha com um núcleo inteiramente dedicado à Macau da primeira metade
do século XVIII, quando se vivem “grandes desafios”, graças “ao ajustamento a
novos parâmetros políticos que vêm de Portugal, com a nomeação de governadores
e a entrada em cena de companhias de comércio da Europa e dos EUA”.
Nesta
época, “a comunidade macaense foi absolutamente relevante na sobrevivência da
cidade, a nível da diplomacia e tradução”, o que permitiu manter “este
relacionamento de Macau com a China e entre Portugal e a China”. “Foi no século
XVIII e diria que até aos dias de hoje”, defendeu Jorge Santos Alves.
A
exposição do Museu de São Roque é também composta por vários retratos. Um deles
foi cedido pela SCMM e é de Francisco Xavier Roquette, português metropolitano
que foi viver para Macau e que deixou o maior testamento à SCMM. “Este quadro é
também uma homenagem a Macau, portugueses e luso-asiáticos que garantiram ao
longo do tempo a sobrevivência de Macau”, disse o curador.
Contudo,
a obra que Jorge Santos Alves destaca é “um quadro feito por um jesuíta francês
de uma concubina e que é um exemplo perfeito, quer pelo valor e beleza do
quadro, quer pelo significado do diálogo cultural entre Europa e China no
século XVIII”. Andreia Sofia – Macau in “Hoje
Macau”
andreia.silva@hojemacau.com.mo
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