O poeta, encenador e contista, nascido naquela cidade minhota, passou por Macau nos anos de 1980 onde foi quadro do Instituto Cultural. A sua poesia já foi traduzida para chinês e a sua obra poética já foi estudada por conhecidos de Macau, como José Carlos Seabra Pereira ou Beatriz Basto da Silva. Foi amigo próximo dos consagrados David Mourão-Ferreira e Sebastião da Gama. António Manuel Couto Viana chegou a receber o Prémio Camilo Pessanha da Fundação Oriente. Ao Ponto Final, o arquitecto Carlos Marreiros recorda uma pessoa “alegre” e “bem-disposta”, que deixou marca no território
O
Município de Viana do Castelo deu início, na semana passada, às comemorações do
centenário do nascimento do poeta, contista, dramaturgo e ensaísta António
Manuel Couto Viana, nascido naquela cidade minhota em 24 de Janeiro de 1923.
“Queremos materializar um conjunto de acções durante este ano para continuarmos
a projectar uma personalidade que marcou a arte e a literatura não só de Viana,
mas também do país e até do mundo pela relevância que assumiu em alguns
espaços, como Macau”, afirmou Luís Nobre, edil vianense, numa nota de imprensa
citada pelo município.
Couto
Viana integrou os quadros do Instituto Cultural (IC) entre 1986 e 1988, tendo
exercido as funções de professor no território, então administrado por
Portugal. Colaborou na criação de um Conservatório de Música, Dança e Teatro e
ministrou um curso intensivo de arte dramática. “Não nos podemos esquecer do
nosso passado, nos nossos melhores e de quem nos influenciou e continua a
influenciar para cuidarmos no nosso colectivo e António Manuel Couto Viana
marcou Viana do Castelo e o país”, acrescentou o presidente do Município
minhoto.
Ao
Ponto Final, Carlos Marreiros, que foi cenógrafo de Couto Viana, recorda um
homem “alegre” e “bem-disposto”. “Fez muito por Macau e pela cultura de Macau
em apenas três anos”, notou o arquitecto macaense que, na altura, estava na
Revista da Cultura e havia fundado o Círculo dos Amigos da Cultura de Macau.
Posteriormente, Marreiros foi presidente do IC, de 1989 a 1992.
O
artista plástico fala ainda num homem que “toda a gente gostava” e que também
era um “sincero apreciador das tascas chinesas”. “Gostava de uma boa conversa e
de rir. Era uma pessoa muito alegre e pouco introvertida”.
Em
Macau, António Manuel Couto Viana foi ainda próximo do padre Manuel Teixeira.
Ambos trocaram poemas sobre o Natal no antigo jornal Gazeta Macaense. O
religioso “foi determinante para a integração e ambientação de António Manuel
Couto Viana a Macau”, conforme escreveu o também poeta e professor António
Aresta na revista Oriente Ocidente do Instituto Internacional de Macau (IIM),
em 2017.
Lápide e conferência
Agora,
os vianenses prestam homenagem a um homem da terra com a aposição de lápide
comemorativa na casa onde António Manuel Couto Viana nasceu, tendo sido ainda
promovida, na biblioteca municipal, uma conferência evocativa dedicada ao
autor, com a presença de Artur Anselmo, presidente da Academia das Ciências de
Lisboa. “Comemoramos 100 anos do seu nascimento e parece-me ser o momento certo
para darmos continuidade a um reconhecimento que tem sido materializado no
tempo”, notou ainda Luís Nobre na ocasião.
Após
a sua morte, em 2010, a Câmara Municipal de Viana do Castelo criou o Prémio
Escolar António Manuel Couto Viana que já vai em 12 edições, às quais
concorreram 544 trabalhos, tendo sido agraciados 155 autores. Os vencedores da
13.ª edição, a decorrer este ano lectivo, deverão ser conhecidos a 8 de Junho,
dia em que faleceu o escritor, aos 87 anos.
António
Manuel Couto Viana nasceu em Viana do Castelo a 24 de Janeiro de 1923 e morreu
em Lisboa a 8 de Junho de 2010. O autor vianense viveu sempre ligado às artes e
às letras. Poeta, dramaturgo, contista, ensaísta ou autor de livros para
crianças, entre outras valências, publicou meia centena de livros de poesia e
cerca de oitenta títulos de outros géneros literários, com relevo para os
livros de ensaios e memórias.
Quando
se mudou para Lisboa, aos 23 anos, criou amizades duradouras com escritores de
renome como David Mourão-Ferreira ou Sebastião da Gama, entre outros.
Paralelamente
à sua vida académica e de docente, demonstrou sempre interesse no mundo da
representação, tendo sido actor e encenador em diversos teatros como o Teatro
Estúdio do Salitre, o Teatro de Ensaio do Teatro Monumental e o Teatro do
Gerifalto. Participou ainda em espectáculos infantis e também da Companhia
Nacional de Teatro.
Diplomou-se
em Teatro, em Veneza, na Itália, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian,
corria o ano de 1966. A sua actividade artística mereceu-lhe o Prémio Nacional
António Pinheiro por duas vezes e o Prémio da Crítica.
Foi
ainda orientador artístico da Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra,
Mestre de Arte de Cena do Teatro Nacional de São Carlos e as de colaborador da
Ópera de Câmara do Real Theatro de Queluz. Participou ainda em diversas séries
televisivas e filmes.
A
sua estreia literária aconteceu em 1948 com o livro de poemas “O avestruz
lírico”. Com David Mourão-Ferreira e Luiz de Macedo dirigiu as folhas de poesia
“Távola Redonda”, a revista de cultura Graal, fazendo ainda parte do conselho
de redacção da revista Tempo Presente.
A
obra poética de António Manuel Couto Viana figura em antologias de língua
portuguesa, e os seus poemas já foram traduzidos para castelhano, inglês,
francês, alemão, russo e chinês. A sua poesia foi já estudada por David
Mourão-Ferreira, Artur Anselmo, Tomaz de Figueiredo, Eduíno de Jesus, Rodrigo
Emílio, João Maia, Franco Nogueira, João Bigotte Chorão, José Carlos Seabra
Pereira, Beatriz Basto da Silva, Mário Saraiva e Joaquim Manuel Magalhães.
Foi
galardoado com o Prémio Antero de Quental por duas vezes, o Prémio Luso-Galaico
Valle-Inclan, o Prémio Nacional de Poesia, o Prémio da Academia de Ciências, o
Prémio de Literatura da Sociedade Histórica da Independência de Portugal e o
Prémio Camilo Pessanha da Fundação Oriente.
Foi
agraciado com a Banda da Cruz de Mérito, Grã-Cruz da Falange Galega e Grande
Oficialato da Ordem do Infante D. Henrique. Viana do Castelo atribuiu-lhe a
Medalha de Mérito Cultural e dedicou-lhe, a si e à sua família, uma sala na
nova biblioteca municipal. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Ponto
Final”
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