Um colóquio organizado pelo académico macaense Joaquim Ng Pereira pretende divulgar várias abordagens, de entre as várias vertentes da mobilidade, que o fenómeno migratório assume uma configuração muito particular em Macau. Entre os palestrantes estão o presidente da Associação dos Macaenses, Miguel de Senna Fernandes, a professora Maria Antónia Espadinha e o investigador Carlos Piteira, entre outros
Organizado
pelo académico macaense Joaquim Ng Pereira, o colóquio “Mobilidade em Macau:
vertentes do fenómeno migratório”, promovido pelas Comissão de Migrações e Comissão
Asiática da Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL), terá lugar no próximo dia
25 de Janeiro, pelas 11h (hora em Portugal), no Auditório Adriano Moreira na
sede da SGL, numa sessão híbrida em formato presencial e online. “A
mobilidade é muito mais que um estudo estatístico. São histórias de pessoas,
experiências pessoais e o conhecimento de culturas e a sua interiorização na
vida colectiva e pessoal dos migrantes ou visitantes”, começou por dizer Ng
Pereira ao Ponto Final.
Nessa
óptica, acrescenta o organizador, “as minhas expectativas são as de dar a
conhecer este universo de pessoas que vêm ou vão para Macau e Portugal, e fazer
uma abordagem na sua vertente qualitativa”. “É um encontro de culturas.
Encontramos Macau em Portugal e Portugal em Macau. Este reconhecimento
facilitará o relacionamento e o respeito que ambos os lados merecem”, referiu.
Joaquim
Ng Pereira recorda ainda o momento-chave que se vive com a abertura das
fronteiras, depois de três anos de restrições pandémicas. “As saídas e entradas
de pessoas serão, nesse sentido, excelentes oportunidades de comunicação e
transmissão de conhecimento e relacionamento. Tal potenciará o transporte desse
conhecimento para outros territórios, ainda que subtil. Mas isso, espero, trará
uma consciência epistemológica sobre os macaenses e os portugueses, e
desenvolver interesse para conhecer melhor os dois povos”, explicou ainda ao
nosso jornal.
O
programa abrange temas tão vastos como imigração, cultura, geografia ou língua.
A sessão de abertura contará com um discurso proferido pelo presidente da SGL,
o professor Luís Aires-Barros, e também com a presença da presidente da
Comissão de Migrações, a professora Beatriz Rocha-Trindade, e do presidente da
Comissão Asiática, o Embaixador Fernando Ramos Machado. Joaquim Ng Pereira,
enquanto organizador e moderador, também estará neste primeiro painel.
Vinte
minutos depois, pelas 11h20, está marcada a primeira intervenção do dia. Miguel
de Senna Fernandes, através de ZOOM – uma vez que fará a sua palestra desde
Macau, onde serão 19h20 -, debruçar-se-á sobre o tema “Imigração e Cultura –
Uma perspectiva da comunidade macaenses”. Durante cerca de meia-hora, o
presidente da Associação dos Macaenses (ADM) falará de uma Macau
“tradicionalmente o ponto de encontro de vários povos”, que “foi o lugar de
passagem para muitos oriundos de várias terras a caminho de outros destinos”. A
Comunidade Macaense teve a sua experiência migratória desde meados do século
XIX a começar com a fundação de Hong Kong. Que impacto teve para a sua cultura
e identidade? Qual o papel das organizações Macaenses – as Casas de Macau? Que
futuro para os Macaenses? Estas são algumas das questões lançadas por Senna
Fernandes.
A importância dos macaenses
Pelas
11h50 é altura de o investigador no Instituto do Oriente do ISCSP/Universidade
de Lisboa Carlos Piteira abordar o tema “Macau terra de migrações: uma
narrativa singular”, onde o macaense vai discorrer sobre “os fluxos migratórios
que proliferaram e proliferam neste território”. Neste contexto, “procurarei
realçar, não tanto a perspectiva generalista deste fenómeno, mas sim e apenas,
um dos seus aspectos mais singular: O referencial da comunidade macaense na
génese populacional e o seu papel na vida social do território, apelando assim
a uma narrativa pessoal e singular suportada numa reflexão afectiva e
apologética da importância dos macaenses na configuração populacional de
Macau”, explicou Piteira, citado pela nota de imprensa da SGL.
Cerca
de trinta minutos depois, é a vez da professora Maria Antónia Espadinha tecer
considerações sobre “Migração estudantil, outras percepções de quem aprende em
outras geografias”. A docente ligada ao grupo de pesquisa da Universidade
Católica sobre tradução aprofundará o tema das migrações de estudantes de
Português no triângulo China-Macau-Portugal, procurando “referir os vários
tipos de migrações estudantis da China para Macau, de estudantes de Macau para
Portugal e da China para Portugal, via Macau”. “Centrar-nos-emos especialmente
nos estudantes de Português do ensino superior de Macau, a partir da última
década de noventa do século XX, sem esquecer outros estudantes de outros
cursos. Não se trata simplesmente da frequência de cursos de Verão, mas também
de estadias de mais longa duração, meses ou anos. Alguns dos jovens
universitários “migrantes” alteraram mesmo os seus objectivos. Alteraram, na
verdade, a sua maneira de ver o mundo”, considera Maria Antónia Espadinha na
sua sinopse.
Depois
do almoço, que está marcado das 13h às 15h, segue a apresentação da professora
aposentada Maria Helena do Carmo com “Odisseias: memórias de uma viajante no
Oriente”, onde a antiga professora vai deixar o seu testemunho e experiência
enquanto migrante em África e Macau. Relatos da sua vida pessoal. O que viveu,
sentiu e experienciou na sua odisseia em outros lugares, absorvendo as suas
culturas e filosofias. O amor por Macau levou-a ainda ao estudo do Patuá, a fim
de melhor se integrar na mente macaense, expressa em língua crioula. O saber
não ocupa lugar. O Patuá, tal como a gastronomia, a música e os cantares,
marcam a presença portuguesa no território, para que permaneça eternamente.
O Patuá
Pelas
15h30 é a vez de Raul Leal Gaião, investigador nas áreas de Lexicologia,
Dialetologia e Crioulística, falar sobre o Patuá. “Formação do crioulo de Macau
e mobilidade social: o crioulo de Macau é uma língua resultante dos contactos
efectuados pelos portugueses com diversas comunidades e culturas do Oriente,
que contribuíram para as trocas linguísticas que se fixaram neste falar, de
base portuguesa e integrando influências malaias, indianas, chinesas,
japonesas, filipinas e mesmo africanas, devido a um longo processo de
assimilação de uma diversidade de experiências culturais pela afluência ao
território de indivíduos oriundos de diversas regiões do continente asiático,
uma vez que os portugueses, durante o século XVI e XVII, foram os
intermediários privilegiados entre a China e outras regiões asiáticas e
europeias do lucrativo comércio externo chinês até 1865”, explica o palestrante
na sua sinopse.
Por
fim, a última intervenção, antes do debate marcado para as 16h30, cujo
moderador é Joaquim Ng Pereira, fica a cargo do presidente da Fundação Casa de
Macau, Álvaro Augusto Rosa. “O linguajar do português de Macau” é a proposta do
académico, que considera que Macau “tem sido o ponto de confluência de
comerciantes, aventureiros, piratas e migrantes desde os idos tempos dos
descobrimentos portugueses”. “A presença portuguesa em Macau, desde há 500 anos
para cá, é composta, essencialmente, por militares, clérigos e comerciantes, e
essa presença constante fez nascer uma nova comunidade local a que se designou
de macaense, graças, em parte, à sua miscigenação. Essa comunidade local,
permeável às influências de povos diversos que afluíam ao território, fez
emergir hábitos e costumes alternativos aos portugueses (como é notório, por
exemplo, na culinária). Aos poucos, fez generalizar um modo particular de falar
português. O macaense, no seu seio particular, não fala português como um
lisboeta. Como sucede com a região nortenha de Portugal ou o Alentejo, o
macaense, em casa ou em ambiente informal, tem um linguajar próprio”, sugere
Álvaro Augusto Rosa na sua apresentação. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Ponto Final”
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