Uma exposição sobre o Holocausto na Venezuela tenta sensibilizar novas gerações para os perigos do extremismo e serve de pretexto para recordar “homens corajosos” como diplomatas portugueses que ajudaram judeus a salvar-se
“É
importante lembrar aqueles milhões de vítimas do Holocausto, mas às vezes
esquecemo-nos dos filhos e dos sobreviventes. E [lembrar] Portugal, através de
ações de diplomatas portugueses que lutaram, e que correndo o risco de perder a
sua vida, deram o seu apoio”, disse à Lusa o presidente da organização
venezuelana Espacio Anna Frank (EAF), Milos Alcalay.
Milos
Alcalay falou à Agência Lusa à margem da exposição fotográfica “In Memoriam
2023”, uma de várias iniciativas do EAF para recordar o Holocausto e
sensibilizar as novas gerações sobre os perigos da existência de situações que
podem levar a conflitos e ao ódio
“É
importante recordar a coragem dos diplomatas portugueses, a coragem de homens e
mulheres de Portugal que ajudaram, não só através da documentação, mas também
albergando crianças cujos pais os avós tinham sido exterminados, e que nas suas
casas conseguiram, juntos, com amor, a construção, a sobrevivência”, disse
Milos Alcalay.
O
antigo representante permanente da Venezuela na ONU apontou que foi “embaixador
em Israel” e que uma das coisas que mais o impressionou “foi que no monumento
(museu) a Yad Vashem, que é a memória do Holocausto, a entrada principal está
orientada para lembrar o testemunho de homens” como os diplomatas Aristides
Sousa Mendes ou Carlos Sampaio Garrido.
Por
outro lado, expressou a “grande admiração” dos venezuelanos pela imigração
portuguesa, sublinhando que “trouxeram à Venezuela toda a esperança de
construir um mundo melhor” quando na Europa “as dificuldades económicas,
políticas e sociais, procuravam espaços”.
“Muitos
países, entre eles a Venezuela, se privilegiaram com a presença portuguesa, que
encontrou um espaço, que ajudou muito ao desenvolvimento da Venezuela em
esperança. Lamentavelmente, no mundo de hoje, temos tido situações nas quais,
às vezes parece que retornamos aos conflitos, ao ódio, ao confronto”, disse o
diplomata.
O
investigador Nestor Garrido disse à Lusa que “Portugal foi um porto de saída
para muitos refugiados que tentavam fugir do nazismo na época do Holocausto”.
“Temos
dois embaixadores (portugueses) que fizeram um trabalho de resgate de muitos
refugiados: Aristides de Sousa Mendes e Carlos Garrido Sampaio. Eles fizeram um
trabalho muito importante para deixar passar as pessoas que fugiam para a
América desde os portos portugueses”, disse o professor.
Segundo
Nestor Garrido, “alguns refugiados ficaram em Portugal e hoje as comunidades
judias de Portugal (Lisboa e Porto), estão constituídas principalmente por pessoas
que foram para Portugal na época do nazismo”.
Criticou
ainda que se façam “comparações que são más para a divulgação correta da
história”, como quando na imprensa se diz que “qualquer coisa é um genocídio,
que qualquer coisa é um holocausto e realmente não é”.
Nestor
Garrido referiu que a ONU pediu para lembrar as vítimas do Holocausto a cada 27
de janeiro, sublinhando que “quem não lembra também corre o perigo de repetir o
que aconteceu”.
“O
Holocausto não é apenas um acontecimento histórico, tem também a ver com a vida
de nós, porque o que originou, o que gerou o Holocausto ainda está a existir.
Os preconceitos e a intolerância são dos maiores perigos que tem a sociedade
atual. Cada dia os riscos e os preconceitos mudam, portanto, as pessoas têm de estar
muito conscientes do que acontece”, frisou. In “Bom dia
Europa” – Luxemburgo com “Lusa”
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