A nova coordenadora residente das Nações Unidas em Timor-Leste disse que a sua principal acção será com as próprias agências da ONU no país, defendendo a necessidade de uma mudança de mentalidades sobre a forma como opera
“O
papel mais importante que vou fazer aqui vai ser com a própria ONU. A ONU
precisa de uma mudança de mentalidades sobre a forma como opera”, disse Funmi
Balogun em entrevista à Lusa. “O papel da ONU está alinhado com o processo de
reforma da ONU, que começou em 2019, globalmente, para ver exatamente o que os
países e as pessoas precisam e como é que as Nações Unidas podem
verdadeiramente contribuir”, referiu.
Em
Timor-Leste há cerca de um mês, e reconhecendo que ainda está no processo de
aprendizagem sobre a situação local, Funmi Balogun aponta a necessidade de
maior coordenação entre as próprias agências da ONU e a forma como atuam com o
Governo.
“Aqui
em Timor-Leste, o que vejo, apesar do meu curto tempo aqui, tem a ver com
coerência em governação, política e sistemas. Olhar para a ‘big picture’
e ver como a ONU pode ajudar a identificar quais são os passos mais críticos e
estratégicos que podem ser integrados, de forma sistemática”, explicou. “Que
políticas, que passos, como estão a ser implementadas, se os vários setores
envolvidos estão alinhados e se falam entre si. O papel da ONU é poder
identificar essas questões críticas, reunindo especialistas”, frisou.
Mais
do que trazer recursos financeiros, vincou, a ONU pode contribuir com
“experiência, lições aprendidas, que se deve somar à experiência existente no
país, procurando assim ajudar o Governo”. “Muitas vezes quando se está a fazer
um trabalho, as pessoas ficam amarradas aos seus mandatos e aos seus serviços.
Focam-se independentemente nos problemas, decide-se o que se deve fazer em cada
uma das áreas, mas esquecemos que tudo tem que ser integrado”, enfatizou.
Reconhecendo
que os recursos da ONU são limitados, e que os recursos disponíveis do Governo
timorense são muito maiores, Funmi Balogun questiona-se sobre a forma mais
estratégica de atuar, ajudando a mobilizar todos os setores para que os
programas possam ser “estrategicamente implementados”.
E
entre os objectivos prioritários, alinhados com os do Governo, destaca
“nutrição, sistemas alimentares, educação, reforma do setor público”, setores
onde deve ser feita “uma análise adequada e implementados passos simples e
estratégicos com metas alcançáveis que definam recursos necessários para as
alcançar”.
Admitindo
favorecer o modelo de apoio orçamental direto, Funmi Balogun nota que isso
exige a construção de “confiança no sistema”, procurando “garantir que os
sistemas são confiáveis, trabalham bem e assim tornar mais fácil o apoio
orçamental”.
Recordando
que, tradicionalmente, o principal papel da ONU em Timor-Leste tem sido de
serviços humanitários, a nova coordenadora residente vinca que esse modelo deve
ser reservado apenas para situações graves.
A
ONU “deve antes estar a apoiar o Governo nos trabalhos de prevenção e
planeamento, alocar recursos para lidar com desastres”, disse. “Sim, é fácil
fazer projetos. Toda a gente gosta de projetos, servem como montra. Muitas
vezes a equipa nacional e internacional muda. Ficam alguns anos e querem deixar
algum legado, alguns projetos. Mas isso não vai levar às mudanças estruturais
que são necessárias”, sublinhou.
Por
isso reitera a necessidade de análise interna, de ver como as agências da ONU
podem “trabalhar de forma diferente, melhorar os próprios sistemas internos.
“Ver como operamos, se somos coerentes, ver até se as agências que estão aqui
são atualmente as mais adequadas tendo em conta o que há para fazer. Quando se
fala de mudança há sempre resistência, porque as pessoas estão habituadas a
trabalhar de uma certa forma”, nota.
Vincando
a paixão que une os quadros das Nações Unidas no terreno em torno em garantir a
melhor prestação de serviços, Funmi Balogun defende que importa capitalizar
nessa força e ver “que mudanças pequenas podem ser feitas para aumentar o
impacto” das iniciativas. “Não devemos ver desafios como um falhanço, mas como
uma oportunidade para ver se podemos mudar algumas coisas para conseguir
melhores resultados”, vincou.
Funmi
Balogun conta mais de 30 anos de experiência a trabalhar e a liderar projectos
humanitários, de paz e desenvolvimento na ONU e em organizações
não-governamentais (ONG) internacionais.
Antes
de ser nomeada para Timor-Leste, Balogun era responsável da Normativa Humanitária
e Coordenadora de Ação da ONU Mulheres, agência onde liderou a resposta global
das mulheres da ONU às crises humanitárias.
Nas
anteriores funções, deu ainda apoio aos escritórios da ONU Mulheres para
reforçar a integração de temas de igualdade de género na resposta humanitária
das Nações Unidas em países afectados pela crise.
A
nigeriana esteve também destacada na Etiópia e no Quénia, trabalhando com
várias instituições, incluindo a ONG Federação Internacional do Planeamento
Familiar (International Planned Parenthood Federation).
Balogun
liderou a coordenação interagências das Nações Unidas em avaliações conjuntas,
no desenvolvimento e aplicação de programas conjuntos da organização, incluindo
sobre violência de género, governação e proteção contra a exploração e abuso
sexuais. Actualmente, a presença da ONU em Timor-Leste engloba 21 agências
residentes e não residentes. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”
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