Trata-se de uma espécie de cegueira emocional, um estado de apatia que desliga a pessoa dos sentimentos negativos - e que causam a depressão e a ansiedade -, mas também dos positivos
As
pessoas que tomam antidepressivos não ficam apenas aptas para se ‘desligar’ de
sentimentos negativos, como também se desligam dos positivos.
A
conclusão é de um recente estudo da Universidade de Cambridge, publicado na
revista Neuropsychopharmacology, que revela
que a toma destes fármacos por apenas três semanas é suficiente para causar
aquilo a que os cientistas chama de “embotamento emocional”, um estado geral de
apatia, independentemente se a emoção é negativa ou positiva.
Para
o estudo, os cientistas analisaram 66 voluntários que, aleatoriamente,
receberam durante 21 dias ou escitalopram - um medicamento inibidor seletivo da
recaptação da serotonina (SSRI) - ou placebo. Os participantes responderam a
testes cognitivos em que, entre outros fatores, era avaliada a atenção e a
memória.
Quem
tomou o antidepressivo apresentou uma menor resposta à aprendizagem por
reforço, independentemente se esse reforço fosse positivo ou negativo, tendo
até mostrado mais lentidão na resposta a recompensas.
O
estudo destaca que “estas novas descobertas fornecem fortes evidências para um
papel fundamental da serotonina na aprendizagem por reforço”. Mas a nível de
atenção e memória, o medicamento não apresentou qualquer impacto.
Em
declarações ao The Guardian, a professora Barbara Sahakian, uma das mentoras do
estudo, diz que os medicamentos inibidores seletivos da recaptação da
serotonina, comumente usados como terapêutica para a depressão, continuam a ser
benéficos para quem lida com problemas de saúde mental, mas” tiram um pouco da
dor emocional (...), mas infelizmente parece que também tiram um pouco do
prazer”.
Mas
esta não é a primeira vez que a toma de antidepressivos é associada ao
“embotamento emocional”. Em 2021, um estudo publicado na Frontiers in Psychiatry dava
conta de que 40% a 60% das pessoas que tomam antidepressivos se sentem apáticas
emocionalmente, não sendo, porém, claro se se trata de um efeito direto da
medicação ou do estado de depressão em que a pessoa se encontra.
Os
autores deste novo estudo defendem um aprofundamento da investigação para
avaliar o impacto da toma crónica - para lá de 21 dias - dos antidepressivos na
função da serotonina e, por consequência, nas emoções. In “CNN – Portugal com “The Guardian”
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