Um investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) participou numa investigação internacional que descobriu uma nova flora de angiospérmicas (plantas com flor), recolhida no Cretácico Inferior de Catefica, na região de Torres Vedras.
Este
trabalho de investigação, publicado na revista FOSSIL IMPRINT, com o
título “The Early Cretaceous Mesofossil Flora of Catefica,
Portugal: Angiosperms”, pretende, essencialmente,
relacionar a evolução temporal da flora de angiospérmicas com modificações
estratigráficas, ambientais e climáticas tendo em vista a caracterização de
paleoambientes e paleoclimas.
De
acordo com Mário Miguel Mendes, investigador do MARE e coautor do estudo, «os
cientistas envolvidos têm tentado determinar elos de ligação, correlacionando
os órgãos florais preservados no registo fóssil com as angiospérmicas atuais,
na procura do estabelecimento de linhas evolutivas das etapas iniciais da
evolução do grupo».
«Neste
trabalho, a combinação da microscopia eletrónica de varrimento (MEV) com a
técnica não destrutiva de microtomografia de raios-X por radiação de sincrotrão
(realizada no Instituto Paul Scherrer, em Villigen, Suíça) possibilitou a
realização de análises detalhadas e minuciosas dos vegetais fósseis e a
identificação de 67 espécies de angiospérmicas. Inclusive, foram descritos
cinco novos géneros e seis novas espécies para a ciência, o que é simplesmente
extraordinário», afirma.
«Nesta
flora destaca-se a ocorrência de estruturas estaminadas com grãos de pólen in
situ muito semelhantes aos produzidos pelos atuais géneros Ascarina e Hedyosmum
(ambos atribuíveis à família Chloranthaceae). Estas estruturas
masculinas foram descritas como novo género e espécie - Proencistemon
portugallicus gen. et sp. nov», descreve o investigador da FCTUC.
Segundo
Mário Miguel Mendes, o novo género Proencistemon é dedicado a Pedro
Proença e Cunha, professor catedrático do Departamento de Ciências da Terra da
FCTUC, «pelos contributos de vulto que tem dado no âmbito da estratigrafia do
Cretácico português».
As
angiospérmicas constituem cerca de 230 mil espécies da flora moderna e são
essenciais para a manutenção da vida na Terra. No entanto, ainda pouco se sabe
acerca das condições que terão presidido à radiação e diversificação deste
grupo de plantas extremamente importante que atualmente domina os ecossistemas
terrestres.
«Assim,
na minha opinião, os estudos da vegetação cretácica são absolutamente
imprescindíveis para o conhecimento das etapas iniciais de desenvolvimento das
plantas com flor e para a caracterização dos paleoambientes e dos paleoclimas
em que estas viveram. Portugal, a nível global, é uma região que reúne
condições excelentes para o estudo desta temática», considera o cientista do
MARE.
«Neste
momento estamos dedicados ao estudo de toda a flora de “não angiospérmicas” de
Catefica, nomeadamente, fetos, coníferas e plantas do grupo BEG (Bennettiales-Erdtmanithecales-Gnetales).
A combinação de todos os resultados irá permitir compreender em que condições
se desenvolveu aquela flora», conclui.
Este
trabalho foi realizado em colaboração com investigadores da Dinamarca, Estados
Unidos, República Checa e Suécia, tendo recebido financiamento do Swedish Research
Council, da United States National Science Foundation, da Czech Grant Agency,
assim como do MARE/ARNET da Universidade de Coimbra. Universidade de Coimbra
- Portugal
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