O novo álbum da cantora guineense Eneida Marta, que surge na segunda-feira nas plataformas digitais, é ao mesmo tempo “um disco feito em família”, em pleno confinamento, e um “acordar de consciência” sobre a Guiné-Bissau
Intitulado
“Family” por ter sido produzido pelo filho e pelo irmão da cantora, Ruben Azziz
e Gerson Marta, o disco é uma homenagem à família – “a minha base e o meu
alicerce” –, mas também uma declaração de amor à Guiné-Bissau, disse a cantora,
em entrevista por telefone à agência Lusa desde Bissau.
Na
capa, uma fotografia do casamento dos seus pais – “onde tudo começou” – remete
para o lado mais familiar do álbum.
A
história começa durante o primeiro confinamento da pandemia, quando Eneida
Marta, considerada uma embaixadora da música guineense e cuja obra assenta nas
raízes tradicionais da música africana, desafiou o filho mais novo a fazer-lhe
uma canção diferente de tudo o que já tinha cantado.
Ruben
Azziz apresentou-lhe então a canção Kuma, no estilo trap, um subgénero do rap
com elementos da música eletrónica, que a artista temeu não conseguir cantar.
Mas
a canção, que fala sobre “os sucessivos golpes de Estado na Guiné-Bissau”, saiu
e teve uma boa receção no público: “As pessoas falaram muito daquele tema, não
só por ser num estilo novo, também pelo próprio tema em termos de lírica”,
contou a cantora, que descobriu no filho “um talento escondido bem grande”.
Azziz
foi então convidado para produzir o álbum e acabou por juntar também o tio,
irmão de Eneida. Dessa união saiu “uma produção em família”, gravada também
“num estúdio de família em Portugal”, o que deu origem ao nome do disco.
A
par da família, o sexto disco de Eneida Marta é também inspirado na
Guiné-Bissau.
“A
minha Terra é a minha inspiração. (…) Vou buscando sempre temas que retratam a
atualidade do meu país”, contou, ressalvando, no entanto, que não canta só “a
crítica negativa, mas também a construtiva”.
Enquanto
Kuma é um grito de revolta perante os constantes golpes e atentados políticos
sobre o povo da Guiné-Bissau – “Estamos com desgosto / Ser líder pela força /
Chegou-nos / O futuro está adiado” – a canção Allan Guiné é “um grito de esperança”,
disse Eneida Marta: “Esperança num país próspero (…) esperança na recuperação
da nossa irmandade, da nossa harmonia”.
A
cantora, com 20 anos de carreira, destaca ainda o novo single, “Fidalgo”, um
tema da também cantora guineense Dulce Neves, gravado há mais de 20 anos, que
“retrata muito bem aquilo que está a acontecer também na Guiné-Bissau neste
momento: a falta de emprego; as mulheres na rua, com os filhos, à procura do
que dar de comer aos filhos”.
“Percebi
que esse tema era tão atual, apesar de ser um tema já antigo”, contou,
sublinhando que o impacto que a canção teve superou “completamente” as suas
expetativas: “Nunca fui parada tantas vezes na rua para me darem os parabéns
pelo single e o que me marcou mais foi receber um telefonema da autora do tema
às sete da manhã, completamente emocionada (…). Eu, sem palavras, só lhe
respondi que quem tem de agradecer sou eu por ela existir no meu percurso”.
Para
Eneida Marta, os temas Kuma, Allan Guiné ou Fidalgo são todos “um acordar de
consciência para um assunto ou para outro”.
Questionada
sobre que mensagem quer transmitir com o disco aos guineenses, a cantora
respondeu apenas: “Amor”.
O
álbum “Family” foi lançado nas plataformas digitais na passada segunda-feira e
a edição física chegará no dia 17 de outubro. In “Balai Cabo Verde” – Cabo Verde
com “Lusa”
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