Especialistas disseram ontem que mais jovens timorenses do que nunca entendem português, mas que é necessária mais prática de uso da língua, em todos os níveis de ensino, para fomentar o uso oral e escrito
No
arranque das VII Jornadas Pedagógicas, na Universidade Nacional Timor Lorosa’e
(UNTL), académicos referiram-se ao progresso feito no ensino do português em
Timor-Leste, destacando o crescente número de jovens que conhecem a língua.
Mas, ao mesmo tempo, apontaram preocupações sobre um processo que tem de ser
reforçado a todos os níveis de ensino, da pré-primária em diante, para que
possa depois ser consolidado no ensino superior.
“Desde
que existe a UNTL que temos trabalhado na introdução da língua portuguesa,
apesar das dificuldades iniciais. Tem sido algo gradual e já estamos num
patamar diferente, com a língua portuguesa mais desenvolvida”, sublinhou o
vice-reitor para Assuntos Académicos, Samuel Freitas, na abertura das jornadas.
“Mas cabe a cada um fazer esse trabalho. A língua portuguesa vai para a frente,
dependendo da vontade de cada um. E há muitos estudantes que entendem, mas para
quem falar ou escrever é mais difícil, o que mostra a falta de prática da
língua”, disse.
Intervindo
na mesma ocasião, Benjamim Corte-Real, diretor do Centro de Língua Portuguesa
da UNTL, disse que a evolução dos últimos anos, com cada vez mais jovens a
entenderem a língua portuguesa, mostra que o português “deixou de ser a língua
da elite”.
“Essa
visão, de há 10 anos, era uma ilusão. Até porque na prática a decisão do
português como uma das duas línguas oficiais foi feita na Assembleia
Constituinte que, de facto, era uma representação da vontade democrática do
povo timorense”, disse o docente. “E não nos devemos ficar por dizer só que é a
língua oficial. É a língua do povo, porque o povo assim o quis, porque entrou
no seu reportório diário. Não é a elite que canta em português nos bailes e nas
festas de casamento aos sábados. É o povo, jovens e adolescentes”, ilustrou.
Mostrando-se
convicto na contínua progressão do português em Timor-Leste, Corte-Real disse
que a língua portuguesa “não pode ser desvinculada da afirmação de identidade”
do povo timorense. “O português, pela sua parceria linguística, cultural,
histórica com o tétum, já é uma realidade. É uma realidade pela sua
complementaridade com o tétum, na afirmação do pilar da entidade e é com este
objetivo e visão que continuamos a trabalhar”, afirmou.
Também
Afonso de Almeida, vice-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da UNTL, destacou a
progressão registada no ensino e no uso do português na instituição, afirmando
que toda a direção e várias faculdades continuam muito empenhadas neste
processo.
O
dirigente destacou recentes apresentações de trabalho de mestrado em que os
alunos usaram o português, mas vincou que é preciso fazer mais, especialmente
fora de faculdades “pioneiras” nesta questão como as de Direito, Educação e
Ciências Exactas.
“Fizemos
um estudo para ver se as faculdades estão a ensinar em língua portuguesa, mas
dizem-nos que em várias ainda estão em fase de transição [o indonésio é uma das
opções]. Mas essa transição vai até quando? Vamos ter que estar com esta
transição até quando?”, questionou Afonso de Almeida. “Obviamente isto não
depende só da UNTL, mas das qualidades do ensino secundário, de jovens que até
tentam fazer trabalho em português, mas depois com professores não dão essa
oportunidade de trabalhar em português. É algo que temos que melhorar”, disse.
Para
a embaixadora de Portugal em Díli, Manuela Bairos, estes esforços podem ser
apoiados com a “produção de materiais didáticos”, permitindo enquadrar e apoiar
professores a todos os níveis de ensino. Fortalecer a capacitação de professores,
mas também de funcionários e do público em geral é “fundamental e necessita de
ser encarado com meios e recursos agressivos”, disse Bairos. A diplomata
defendeu mais programas infantis em língua portuguesa nas televisões, planos de
leitura, bibliotecas municipais e o reconhecimento de que o sistema de ensino
“não vive em compartimentos fechados”, tendo por isso que se atuar a todos os
níveis de escolaridade. “Vejo com satisfação a vontade de jovens, pais e
sociedade em geral em investir na aprendizagem da língua portuguesa como parte
da sua identidade de nação”, disse ainda, reiterando o compromisso de Portugal
em apoiar no fortalecimento do ensino e da consolidação do português “em
aliança com o tétum”, em Timor-Leste.
Organizadas
pelo Centro de Língua Portuguesa da UNTL e na sua sétima edição, as jornadas
são subordinadas ao tema “Ler e falar o mundo em português”. Promovidas no
âmbito do projeto FOCO-UNTL e em articulação com a Embaixada de Portugal em
Díli, as jornadas incluem seminários e debates sobre vários temas, incluindo a
situação geral do ensino da língua portuguesa em Timor-Leste. In “Ponto
Final” – Macau com “Lusa”
Sem comentários:
Enviar um comentário