O
padre luso-descendente, José António da Conceição, materializou o sonho de ver
construído o santuário de Nossa Senhora de Fátima, de Carrizal (sul de
Caracas), que quinta-feira foi consagrado pelas autoridades religiosas
venezuelanas.
Na
cerimónia, de mais de três horas de duração, estiveram ainda presentes,
autoridades diplomáticas venezuelanas, e políticos locais, o secretário de
Estado das Comunidades Portuguesas, António Cafôfo e o presidente do Governo da
Região Autónoma da Madeira, Miguel Albuquerque.
Segundo
Paulo Cafôfo, trata-se de “um complexo que, além de muitas valências, que vão
desde a parte cultural, a educativa ou do ensino da língua, a da arte e da
criatividade é o centro da portugalidade de Portugal na Venezuela”.
“E,
isso deve-se a esta comunidade, uma comunidade que, curiosamente, não subtraiu.
Estamos a falar de portugueses que vieram para cá, para a Venezuela, mas que em
vez de esquecerem Portugal, somaram Portugal à Venezuela”, frisou o político.
O
dia da consagração, na quinta-feira, 13 de outubro, “é um dia que ficará na
história, por esta obra ter sido inaugurada, num dia também tão simbólico para
quem é católico e quem tem fé”.
Segundo
o padre luso-descendente, para construir o santuário foi preciso “muito trabalho”
e surgiram “muitas dificuldades, mas a nossa Mãe (Nossa Senhora) fez que a
construção desse templo em honra dela seja uma realidade”.
José
António da Conceição explicou que “em 07 de Outubro de 2006” quando “pela
primeira vez viajava a Portugal, para ver a família, que vive no Norte, perto
de Espinho”, baixou até Fátima (Leiria). “Na missa pedi a Nossa Senhora que me
ajudasse a fazer realidade o sonho que tinha de construir uma igreja nesta
localidade”.
“Não
foi fácil. Houve a tentação de abandonar tudo, mas a Mãe (Nossa Senhora) sempre
me consolou e ajudou-me a levantar e a continuar em frente”, frisou.
À
comunidade portuguesa diz que “que tenha muito ânimo, esperança, sobretudo que
fortaleça a sua fé” que Nossa Senhora de Fátima “nos empuxa para a frente, nos
dá muita força e quando o desânimo nos invade, ela afasta-o para que
avancemos”.
Por
outro lado, o arcebispo Baltazar Porras, explicou que se trata de “uma réplica
não tão pequena do Santuário de Fátima em Portugal, e daqui, a fé pode ajudar
neste serviço, na promoção de tantos valores sociais, culturais, económicos,
mas também com ensino e profissionalização em toda uma série de campos”.
“E
depois algo mais que também é importante é que se torne um centro de divulgação
dos valores portugueses. Porquê? Porque essa cultura (portuguesa) tem
contribuído muito para a Venezuela”, disse, durante uma conferência de
imprensa, após a consagração do santuário.
Segundo
Baltazar Porras, a presença dos portugueses “tem sido mais forte nos últimos 70
anos”.
“Se
incorporaram no nosso meio, criaram famílias, ensinaram muitas artes e ofícios
que nós venezuelanos não tínhamos, desde a gastronomia a muitas outras formas
de trabalho. Por isso só podemos estar gratos e ver que a pluralidade de
culturas, o respeito e a ajuda mútua, e o que se faz com alegria e sacrifício,
dá origem a estas obras”, disse.
O
arcebispo sublinhou que gostaria de felicitar os lusitanos, em nome de toda a
Igreja venezuelana e chamou a atenção que “há coisas que podem e têm de ser
feitas, mesmo no meio de circunstâncias adversas, sobretudo na atenção aos mais
necessitados, a crianças, adolescentes e anciãos”.
O
novo embaixador de Portugal na Venezuela, João Pedro Fins do Lago, disse à Lusa
que sentiu “que estava em Fátima” e que “sentiu Fátima já mesmo antes de hoje,
na primeira vez” que visitou o santuário.
“Senti
essa fé e essa dedicação. Senti nos olhos e nas palavras das pessoas que
estavam aqui empenhadas a construir este templo e todo toda a estrutura que o
apoia. Senti uma grande fé”, disse à Lusa.
O
diplomata sublinhou que “é essa mesma fé que se vê no Santuário de Fátima” e
que “é claramente uma réplica daquilo que é a fé portuguesa, e a alma
portuguesa, aqui nos Altos Mirandinos”.
“Hoje
sentimo-nos portugueses com grande orgulho, com grande fé, com consciência da
importância que têm as nossas raízes, de queixo levantado, com grande
dignidade. E, sentimo-nos portugueses irmãos, entre os nossos irmãos
venezuelanos, sentimos sobretudo uma grande comunhão”, disse.
A
construção do santuário foi uma iniciativa da comunidade portuguesa local, à
qual se juntaram imigrantes de outras nacionalidades, nomeadamente libaneses e
italianos, bem como venezuelanos.
Na
obra, de 22 mil metros quadrados, foram investidos até agora 19,5 milhões de
dólares (19,9 milhões de euros), sendo necessários mais três milhões para a
conclusão, habilitar os salões de aulas de português, de uso múltiplo e uma
casa de retiro espiritual. Por terminar estão ainda os salões de catequeses e a
iluminação do estacionamento.
Acordo com a Madeira
O
secretário de Estado das Comunidades Portuguesas desafiou a Madeira a avançar
com um “acordo de cooperação” em benefício dos luso-venezuelanos e o presidente
do Governo regional, Miguel Albuquerque, respondeu que há condições para essa
concertação.
“O
que a comunidade quer é uma união e uma coesão por parte dos poderes políticos,
no sentido de haver uma entreajuda que possa beneficiar estes portugueses (…)
por isso espero que da parte do Governo regional e do senhor Presidente do
Governo [da Madeira] possamos aqui trabalhar em conjunto”, disse.
Paulo
Cafôfo falava em Caracas, na residência do embaixador de Portugal, João Pedro
Fins do Lago, durante uma conferência de imprensa conjunta com Miguel
Albuquerque.
“Temos
aqui alguns desafios, porque a Venezuela, infelizmente, tem nos últimos anos
atravessado um período conturbado do ponto de vista social e económico, que
exige por parte do Estado uma intervenção para (…) valorizar a comunidade”,
disse o político.
O
secretário de Estado das Comunidades manifestou admiração pela comunidade
luso-venezuelana, sublinhando que quem teve sucesso não se esquece dos mais
vulneráveis e, portanto, a solidariedade é também uma marca desta comunidade.
“Mas
a verdade é que nos últimos anos temos atravessado graves dificuldades e a
conjugação de esforços é essencial”, frisou.
Por
outro lado, Miguel Albuquerque sublinhou: “o Governo regional visa, em primeiro
lugar, tratar dos interesses da nossa comunidade, em particular da comunidade
da Venezuela, que conheço muito bem”.
“E,
neste momento estão criadas as condições para criarmos essa concertação de
objetivos e de trabalho”, disse.
Albuquerque
aproveitou para “louvar os líderes da comunidade que trabalham voluntariamente
e sobretudo um conjunto de diplomatas” que, nos consulados, fez “um trabalho
excepcional nos momentos difíceis que a Venezuela atravessou”.
Albuquerque
recordou as enxurradas de 1999 no estado de Vargas e os apoios às populações
mais vulneráveis através de instituições como a Igreja Católica e recordou o
papel do padre Alexandre Mendonça (1954-2021) e da organização Damas de
Beneficência que criaram o Lar da Terceira Idade Padre Joaquim Ferreira.
“Estão
criadas as condições para termos um trabalho mais assertivo e mais concertado
que as instituições do Estado, no sentido de servir os interesses da nossa
comunidade”, afirmou o presidente do Governo regional da Madeira.
Paulo
Cafôfo explicou que propôs, em junho, “um acordo de cooperação com os governos
das regiões autónomas”: “até à data ainda não tivemos oportunidade de fechar” o
que espera “possa acontecer”.
Cafôfo
disse que a Madeira pode contribuir em matéria de serviços, a nível dos
serviços consulares, da promoção da cultura, da difusão de iniciativas, da
formação técnica para funcionários da Direção Regional das Comunidades e dos
Assuntos Externos.
E
também em questões relacionadas com os gabinetes de apoio aos emigrantes, sendo
para tal necessário que “o Governo regional pudesse adaptar a Lei n.º50 de
2018, no sentido da descentralização possibilitar que os municípios da RAM
[Região Autónoma da Madeira], à semelhança dos do território continental,
pudessem ver criado estes gabinetes de apoio aos emigrantes”.
Fundamental
também a criação de condições para incentivar ainda mais os investimentos na
Madeira, através do Programa Nacional de Apoio ao Investimento da Diáspora. In “Mundo
Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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