Os arquitetos lusófonos representam 18% do total de profissionais mundiais, uma percentagem “significativa”, disse esta semana à Lusa Rui Leão, presidente do Conselho Internacional dos Arquitetos de Língua Portuguesa (CIALP), que assinala este ano 30 anos de existência
A
organização não-governamental (ONG) é formada pelos membros das ordens
profissionais de arquitetura dos países e territórios lusófonos, que
“representam uma população de mais de 230 mil arquitetos”, o que corresponde “a
18% dos arquitetos mundiais”, afirmou Rui Leão.
O
presidente do CIALP recordou que a ONG, criada em 1991, e de que fazem parte
Brasil, Portugal, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique, Goa e Macau, “precede a criação da CPLP [Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa]”, fundada em 1996, defendendo a importância da associação
para promover “a cultura partilhada” nestes territórios.
“A
arquitetura, a comida e a língua são coisas que estão na raiz do nosso
encontro”, afirmou. “O que nos liga é muito forte, tem a ver com uma maneira de
estar e de entender o mundo, que é muito própria, e que ultrapassa todas as
dimensões do colonial e do pós-colonial, porque de facto o que partilhamos é
incomensurável”, defendeu.
“É
uma expressão cultural que atravessa todos estes espaços, independentemente do
que nos separa”, acrescentou.
Segundo
Leão, que preside ao CIALP desde 2016, a organização tem promovido a troca de
experiências entre os seus membros, a exemplo de “um programa de voluntariado
com o Governo de Brasília, há quatro anos, de gestão urbana nas favelas”, que
permitiu que “arquitetos africanos, portugueses e de Macau pudessem trabalhar
diretamente com as comunidades nas 10 favelas principais” da capital brasileira.
“Uma
aprendizagem enorme de um lado e de outro do Atlântico”, considerou Leão, que
gostaria de “continuar a explorar” este tipo de abordagem também em África.
“O
Brasil é muito inovador nessa área de reconversão das favelas e de aplicação do
microfinanciamento e da autoconstrução, e isso são respostas que se aplicam
completamente nas cidades de Angola, Cabo Verde, Moçambique e Guiné-Bissau”,
defendeu o arquiteto, que vive em Macau.
Para
assinalar o 30.º aniversário, a ONG organiza este ano uma série de quatro
seminários na ‘web’ sobre o “património lusófono”, que arrancou hoje com
uma palestra sobre o património arquitetónico português em África, com a
participação do arquiteto angolano Francisco José Miguel e do moçambicano Luís
Lage, além de Victor Leonel, vice-presidente do CIALP e presidente da União
Africana dos Arquitetos.
A
série, que se prolonga até dezembro, inclui ainda palestras sobre o património
lusófono na Ásia, “com destaque para Goa e Macau”, Brasil e Portugal, em datas
ainda a agendar, disse Rui Leão, sublinhando que, apesar de haver muitos
estudos de arquitetos portugueses sobre o património arquitetónico colonial, é
importante ouvir os profissionais nos países em que este se encontra.
“Alguns
de nós têm voz há 500 anos e outros só ganharam voz há 40”, depois do 25 de
abril, disse, defendendo que “é importante haver interpretações que partam de
Angola, Moçambique” e de outros países membros sobre a herança patrimonial
portuguesa.
No
âmbito das comemorações dos 30 anos, o CIALP inaugura ainda, em 18 de julho, a
vídeo-exposição “Diálogos Emergentes”, um filme que mostra o trabalho de 11
arquitetos de Macau, Goa, São Tomé, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde,
Brasil e Portugal, na área da habitação.
O
filme, realizado em parceria com a Dinâmia’CET-IUL (Centro de Estudos sobre a
Mudança Socioeconómica e o Território do Iscte), com o apoio do instituto
Camões, “vai permitir mostrar a enorme diversidade que existe, nestes países,
na forma de construir e de fazer cidade”, mostrando ao mesmo tempo muita coisa
que os une, disse Rui Leão.
O
CIALP, associação de direito privado sem fins lucrativos, com sede em Lisboa, é
constituído pelas associações profissionais de arquitetos dos países e
territórios de língua portuguesa, sendo parceiro institucional da União
Internacional dos Arquitetos (UIA) e observador consultivo da CPLP. In “Bom dia
Europa” - Luxemburgo
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