O
Museu da Língua Portuguesa, uma instituição sediada na icónica Estação da Luz
desta metrópole brasileira, incendiou-se no final de 2015, mas seis anos depois
vai abrir as portas ao público, no coração de São Paulo, oferecendo um passeio
turístico historicamente rico e socialmente inclusivo pela quinta língua mais
falada do mundo.
Embora
existam 260 milhões de falantes de português espalhados por nove países, poucos
espaços no mundo são especificamente dedicados a essa língua românica.
A
Estação da Luz de São Paulo é uma delas. Os três pisos daquela emblemática
estação de Metro e comboio, originalmente construída em 1901 e utilizada por
centenas de milhares de pessoas todos os dias, voltará a ser um espaço
interactivo de celebração da língua de José Saramago e Joaquim Maria Machado de
Assis a partir de 31 de Julho.
O
museu começou a operar em 2006, mas foi envolvido pelas chamas em 21 de Dezembro
de 2015, um incêndio que matou um bombeiro que morreu por inalação de fumaça e
provocou dor aos falantes e conhecedores da língua portuguesa.
Isa
Grinspum, uma das curadoras da exposição permanente do museu, disse à Efe que
se lembra do incêndio como se fosse ontem. Recordou que estava a voltar para
casa de carro quando recebeu uma ligação de uma estação de televisão a pedir
comentários sobre o incêndio.
Diz
que inicialmente pensou que era brincadeira, mas quando parou o veículo e viu
que era verdade, começou a chorar. “Foi um choque tremendo, uma perda enorme,
mas deu-nos a possibilidade de repensar o museu, o que é uma oportunidade
única”, referiu.
O backup
de cópias de segurança possibilitou a recuperação do acervo quase inteiramente
digital do museu, embora a estrutura original projectada pelo arquiteto
brasileiro Paulo Mendes da Rocha (1928-2021) – vencedor do prestigioso Prémio
Pritzker de Arquitectura em 2006 – e do seu filho Pedro se tenham perdido.
Uma
investigação concluída em Junho de 2019 determinou que a causa do incêndio foi
provocada por um defeito num dos reflectores do edifício.
Mas
agora, após uma grave crise económica e uma pandemia que é responsável por
quase 550 mil mortes naquele país sul-americano, o Museu da Língua Portuguesa vai
ser finalmente reinaugurado no dia 31 de Julho e oferecerá várias novas
experiências aos visitantes.
Esse
novo começo vem após um “intenso processo de reconstrução” que levou anos e
contou com a contribuição de artistas, intelectuais e músicos, disse a
directora técnica do museu, Marília Bonas. Ao todo foram gastos na
reconstrução, 16,5 milhões de dólares norte-americanos
O
museu inicia uma nova fase com o mesmo abrangente objectivo de antes: celebrar
as diversas formas da língua portuguesa falada em todo o mundo.
Esses
diferentes dialectos são o resultado de influências culturais indígenas e
africanas, bem como da incorporação de elementos linguísticos de uma variedade
de outras línguas, incluindo japonês, espanhol e italiano.
O
museu traça a história da língua portuguesa, desde as suas origens latinas, às
influências africanas até às suas múltiplas variedades actuais, que vão desde
os tipos de português falados nas áreas rurais aos encontrados nas favelas das
maiores cidades do Brasil.
“A
ideia é propor um espaço de diálogo, reflexão e descoberta de todo esse
potencial da língua portuguesa. Em última análise, trata-se de responder à
pergunta, ‘o que esta língua quer e o que ela pode fazer?’ Parafraseando
Caetano Veloso”, disse Grinspum em referência ao famoso compositor e cantor
brasileiro“.
Uma
descoberta, por exemplo, diz respeito à origem da palavra “samba” que, segundo
uma teoria, deriva da palavra bantu (família de línguas do sul da África)
“samba” ou “semba”, que significa um tipo de dança semelhante ao batuque, em
que os dançarinos comprimem as barrigas de maneira sugestiva.
Nos
últimos anos, no entanto, uma nova corrente etimológica vinculou a palavra
“samba” ao verbo kimbundo (uma língua bantu) (ku) samba, que significa “rezar”.
O
museu aborda também a história da língua portuguesa de um ponto de vista
crítico, nomeadamente através do exame do violento processo de colonização e da
violência brutal que causou aos povos indígenas e aos milhares de escravos
trazidos de África. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Agências Internacionais”
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