Ao entrar para a escola portuguesa comunitária de New Bedford, nos Estados Unidos, há seis anos, Leslie Vicente achou que o currículo era “antiquado” e não tinha nada a ver com o perfil da emigração de hoje em dia. A forma de ensino e de trabalho com as crianças era adaptado a gerações antigas, considerou Leslie Vicente, diretora da escola portuguesa de New Bedford, Discovery Language Academy, em entrevista à Lusa
“As
professoras da primeira classe só falavam português com os alunos”, o que
assustava as crianças luso-americanas, nascidas nos EUA e que nunca tinham
aprendido a língua em casa com os pais ou avós.
Mesmo
que a cidade de New Bedford tenha uma grande percentagem de portugueses ou
lusodescendentes (entre 40% a 60% dos habitantes dizem ser portugueses ou
descendentes), a diretora declarou que “já não são os alunos de 1980, que são
criados pelos avós e falam português em casa”.
“São
alunos cujos avós já trabalham, já não estão em casa; os pais falam mal
português ou pouco ou nada”, fruto de serem segunda ou terceira geração de
portugueses nos EUA.
Chegarem
a aulas onde os professores só falam português, que para as crianças é como uma
língua estrangeira, só criava mais preocupação aos alunos, que voltavam para
casa muito desanimados, às vezes a chorar, e a querer desistir.
“Eu
disse – isto não faz sentido, as crianças estão em pavor”, referiu Leslie Vicente,
recordando a sua própria experiência: “Eu lembrei-me que quando eu cheguei aos
Estados Unidos, era ao contrário”.
Leslie
Vicente nasceu nos Estados Unidos, mas viveu uma parte da sua infância em
Portugal e quando regressou aos EUA “só falava português”, mas foi diretamente
colocada numa escola norte-americana, em língua inglesa, que não conhecia tão
bem.
“Eu
ficava horrorizada e depois comecei a ter notas más, e não era por não ser
inteligente, era porque eu não entendia”, partilhou.
De
modo que, agora, os professores da escola começam a comunicar com os alunos em
inglês e, consoante a evolução, passam a falar cada vez mais português.
Em
2015, quando entrou para a escola portuguesa, que antes se chamava Portuguese
United for Education, Leslie Vicente vinha com o objetivo de inspirar
entusiasmo aos alunos e pais luso-americanos em reaprender ou até descobrir as
raízes portuguesas.
“Por
coincidência, pouco tempo depois, Portugal ganhou a Taça Europeia e havia um
entusiasmo aqui na nossa comunidade (…) como nunca se viu”, recordou a
diretora.
O
nome desta escola privada, registada como uma organização sem fins lucrativos,
foi mudado para Discovery Language Academy, com alusão à era história dos
Descobrimentos, para mudar a opinião que havia de que “a escola é só para
portugueses”, explicou.
Desenhos
e bandeiras de outros países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique, Timor-Leste, São Tomé e Príncipe) são expostos pelas
salas e corredores da escola, que se localiza no DeMello International Center,
fundado por um português, que junta e alberga na baixa de New Bedford várias
instituições e associações portuguesas.
Além
dos brinquedos e livros coloridos, os quadros interativos, uma sala de
realidade virtual e outros equipamentos próprios de uma escola mais avançada
apelam ainda mais aos sentidos e interesse das crianças.
No
entanto, a Discovery Language Academy já não é só para crianças e não só para
ensinar a língua portuguesa.
Em
New Bedford, considerou Leslie Vicente, “há pessoas que se esquecem que estão
nos Estados Unidos e pensam que estão em Portugal”, porque “vai-se a qualquer
lado” e a maioria fala português.
Ter
o conforto de falar português ou a língua materna num país estrangeiro pode
tornar a vida mais fácil, mas também mais difícil para os emigrantes mais
velhos que nunca chegaram a aprender inglês.
“Já
vieram de Portugal há muitos anos ou de outros países. Tinham os filhos que
traduziam para eles, mas esses filhos já são grandes, já são casados, já têm os
seus próprios filhos, que são nossos alunos”, relatou Leslie Vicente.
“E
nós dizemos que nunca é tarde para eles aprenderem inglês”, reforçou a
professora, completando que a escola concentra-se em ensinar português aos mais
novos e inglês aos mais velhos.
As
idades dos alunos de inglês na Discovery Language Academy vão dos 20 aos 70
anos.
Dão-se
“ferramentas” de língua inglesa para que todos os emigrantes tenham a sua
independência de recorrer a qualquer serviço nos EUA, sejam hospitais,
correios, mercearia ou restaurantes, sem “estarem preocupados com ‘quem vai
traduzir para mim hoje?’”.
“Eles
aprenderem inglês suficiente para lhes dar uma independência e serem um
bocadinho livres e não estarem amarrados aos filhos, aos netos ou à sua casa”,
concluiu a diretora. In “Bom dia Europa” – Luxemburgo com “Lusa”
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