O
Presidente de Cabo Verde, e em exercício da CPLP, defende um novo estatuto para
os observadores associados, que deverá ser alargado em breve a três dezenas,
não descartando um futuro alargamento da comunidade.
“Não
excluo que possa vir a acontecer [alargamento do número de Estados-membros],
não excluo que possa vir a acontecer. Mas neste momento, pelas informações que
tenho, tem havido é muitos pedidos de observadores associados, que são o dobro
dos países membros”, disse o chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos
Fonseca, em entrevista à Lusa, a propósito da cimeira de chefes de Estado e do
Governo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), a realizar em
Luanda, a 16 e 17 de julho.
A
cimeira marca o fim da presidência cabo-verdiana — que será assumida nos
próximos dois anos por Angola – e os 25 anos da CPLP, que colabora com cerca de
80 organizações da sociedade civil, “que trabalham nos países da CPLP e que têm
um estatuto de observador consultivo”, mostram “a vitalidade” da organização.
Integram
a CPLP Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Guiné
Equatorial, Timor-Leste, Brasil e Portugal.
Depois
do alargamento, como Estado-membro, à Guiné Equatorial, aprovado na cimeira de
2014, em Timor-Leste, Jorge Carlos Fonseca espera que na XIII Conferência de
chefes de Estado e de Governo, em Luanda, seja possível “avançar-se um pouco”
no estatuto de observador associado, atribuído atualmente ao dobro do número de
países membros.
“Talvez
se justifique uma espécie de estatuto”, defendeu Jorge Carlos Fonseca, que
termina três anos também como presidente em exercício da CPLP.
“Que
compromissos devem ter com a CPLP, que direitos é que têm, como é que podem
contribuir para a afirmação e desenvolvimento da CPLP, poderão participar em
iniciativas e projetos de desenvolvimento de cooperação empresarial para a
CPLP”, elencou, recordando que países como Senegal, Namíbia, Croácia, Japão,
Estados Unidos ou Itália já são observadores associados na comunidade.
“A
CPLP hoje em dia é uma rede grande de interconexões. Os países membros atingem
cerca de 270 milhões de falantes, é muita gente, está em todos os continentes.
E essa rede de observadores associados também se dissemina por todas as
regiões. Podem ser potencializadas muitas conexões e mesmo através de
organizações a que cada um desses países pertencem. Nós e a Guiné-Bissau na
CEDEAO, Angola e Moçambique na SADC, Portugal está na União Europeia – mas na
União Europeia estão vários outros países que têm o estatuto de observadores
associados -, e na Mercosul está o Brasil”, explicou o Presidente
cabo-verdiano.
Relações
que, defende, têm de ser “exploradas no bom sentido do termo”.
“Um
alargamento da CPLP, por princípio, tem o requisito que são países de língua
portuguesa. Eu sei que me pode dizer ‘bom, entrou a Guiné Equatorial’. Mas o
requisito é exatamente tornar-se um país de língua portuguesa, por isso é que
no roteiro de adesão e no Programa de Integração há uma componente muito forte
da língua portuguesa, também como língua oficial, de ensino da língua”, disse
ainda Jorge Carlos Fonseca.
Na
cimeira de Luanda, acrescentou, são de esperar “decisões” sobre pedidos do
estatuto de observador associado ou de observadores consultivos, mas também
questões de ordem política, embora a agenda da conferência não esteja ainda
totalmente concluída.
“A
questão das ações terroristas em Moçambique, em Cabo Delgado, merecerá atenção
dos chefes de Estado”, garantiu.
Acrescentou
que a cooperação económica e empresarial dentro da CPLP estará igualmente na
agenda da conferência e que haverá decisões “sobre o aprofundamento da difusão
e divulgação da língua portuguesa e promoção do seu estatuto”, como língua
“cada vez mais internacional”.
Ainda
sobre a violência e ataques insurgentes em Cabo Delgado, norte de Moçambique, e
nomeadamente a ausência de resposta no terreno por parte da comunidade
lusófona, Jorge Carlos Fonseca diz que “não se pode pedir à CPLP o que a CPLP
não pode dar”.
“E
não pode dar aquilo que não cabe na natureza da organização. A CPLP é uma
organização intergovernamental, foi pensada sobretudo como uma instância de
cooperação e concertação política e diplomática. A CPLP não é, por exemplo, uma
organização como a NATO ou como a União Europeia ou como a União Africana ou
até como a CEDEAO, que pode dispor de forças de intervenção, de forças
militares. Agora, pode fazer e está a fazer, e tem feito, pode participar, por
exemplo, na formação, no fornecimento de equipamento, através de consultores. É
uma forma de participar. Agora, dispor de um do exército ou de uma força de
intervenção, isto não cabe, até hoje pelo menos, na natureza da CPLP”, alertou
o presidente em exercício daquela organização.
Contudo,
sublinhou que alguns países membros da CPLP, como Angola e Portugal, estão a
apoiar diretamente Moçambique.
“Mas,
naturalmente, pode haver a possibilidade de se apoiar mais. É uma questão que
possivelmente pode ser discutida nesta cimeira”, admitiu Jorge Carlos Fonseca. In “Mundo
Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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