No
espaço ou nos oceanos, a tecnologia atual pode significar “uma nova era
dourada” na exploração científica, afirmou o presidente do Clube dos
Exploradores na abertura da Cimeira Global da Exploração, em Lisboa.
Neste
dia 06, Richard Garriott afirmou que “é comum as pessoas que não estão
envolvidas na exploração pensarem que tudo já foi explorado”, mas defendeu que
“o crescimento exponencial da tecnologia”, sobretudo em áreas como a exploração
oceânica ou a espacial significa uma “nova era dourada” comparável à que, há
500 anos, marcou viagens como a circum-navegação do português Fernão de
Magalhães.
Numa
altura de pandemia, assiste-se a “uma pressa de voltar ao terreno mais
depressa, porque se esteve tanto tempo à espera” de algum alívio nas restrições
que permitisse recuperar o tempo perdido.
“Quando
a pandemia se manifestou e tudo encerrou, os exploradores tentaram ser bons
cidadãos e não se tornarem parte do problema, portanto muita da atividade foi
interrompida rapidamente”, referiu Richard Garriott.
Depois,
“também rapidamente, os exploradores compreenderam os mecanismos da pandemia e
como continuar a sua atividade de forma segura”, adiantou.
“É
por isso que muito trabalho de campo recomeçou, mas com protocolos para que
todos estejam seguros antes de participar, garantindo que não transportam a doença
(covid-19) e, simultaneamente, não a levam no regresso às suas comunidades.
Ainda não estamos de volta ao ritmo total”, afirmou o presidente do Clube dos
Exploradores.
Ligado
por videoconferência à cimeira, que junta exploradores de mais de 30 países, o
cineasta James Cameron apontou as ligações entre a exploração das profundezas
oceânicas e o espaço, referindo que a tecnologia desenvolvida para um fim pode
ser essencial para o outro.
Cameron,
que em 2012 fez o mergulho mais profundo até então realizado num submersível,
descendo a 11 quilômetros de profundidade, referiu que os aparelhos usados para
suportar as pressões das zonas mais profundas dos oceanos podem servir para
explorar mundos como Europa, a lua de Júpiter coberta de oceanos gelados.
O
realizador de filmes como “Aliens – O recontro final”, “O Abismo”, “Titanic” ou
“Avatar” considera que “levará décadas” até ser possível montar uma missão de
exploração de Europa, onde considera que “será mais provável encontrar vida do
que em Marte”.
Entretanto,
defende que na Terra se adiante trabalho, construindo aparelhos de exploração
pequenos, “enxames de veículos robóticos” capazes de trabalhar autonomamente,
aplicando inteligência artificial, capazes de reunir dados em massa sobre os
oceanos, onde as mudanças “levam muito tempo para compreender”.
Richard
Garriott frisou que “os exploradores estão a desempenhar um papel essencial na
proteção e preservação da vida”, porque “compreender o mundo em que se vive” é
o primeiro passo para “proteger a vida na Terra, alimentar os sete mil milhões
de habitantes ou prevenir que pandemias se espalhem pelo mundo”.
Acrescentou
que estão “habituados a enfrentar uma grande variedade de dificuldades e a
chegarem a extremos para se prepararem para elas”.
O
presidente do clube fundado nos Estados Unidos em 1904, filho de astronauta da
NASA e que se tornou “turista espacial” depois de fazer fortuna nos jogos de
computador, afirmou acreditar que “a humanidade terá que se tornar uma espécie
multiplanetária”.
“Temos
que progredir em termos científicos, econômicos e até populacionais se queremos
desenvolver a tecnologia que permita à humanidade povoar o Universo”, referiu,
indicando que, se não for “um meteorito ou qualquer ação humana que destrua a
vida na Terra, dentro de alguns milhares de milhões de anos, o Sol
expandir-se-á e destruirá o planeta”.
A
Cimeira Global da Exploração decorre até sexta-feira, repartida entre a Gare
Marítima de Alcântara, em Lisboa e o Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, com
transmissão virtual das sessões no sítio da organização.
Nação espacial
Já
nesta quarta-feira, o presidente da Agência Espacial Portuguesa, Ricardo Conde,
afirmou a ambição de tornar Portugal “numa nação espacial em 2030”, durante a
Glex Summit, em Lisboa.
Na
cimeira, que integra as comemorações do quinto centenário da viagem de
circum-navegação de Fernão de Magalhães que se assinalou em 2019, Ricardo Conde
disse que Portugal é “uma nação de exploradores” que quer continuar essa
ambição “da profundeza dos oceanos para o espaço”.
“Temos
todas as condições para isso: somos uma nação atlântica, rica em termos
territoriais. Mesmo que a maior parte seja oceano, devemos tirar proveito dessa
matéria-prima”, frisou.
Para
atingir esse objetivo, a Agência Espacial Portuguesa pretende, com a ajuda da
Europa, desenvolver novas políticas de dados, expandir a capacidade dos
teleportos, aceder a programas científicos europeus e construir uma constelação
atlântica de satélites de modo a obter conhecimentos e criar novas aplicações
de segurança para as comunicações.
“Queremos
[nos Açores] um projeto ecológico de acesso ao espaço, é uma ambição que espero
que possamos iniciar ainda este ano” através do desenvolvimento dos “novos
veículos, os Space Riders, que vão permitir experiências vivas no espaço e que
vão permitir alcançar os nossos sonhos”, expôs Ricardo Conde.
O
Space Rider surge no contexto de um “ecossistema” que está a ser criado na ilha
açoriana de Santa Maria, que conta já com estruturas como o teleporto e onde
foi inaugurada no dia 27 de abril uma antena de 15 metros dedicada à recolha de
dados científicos que vão permitir perceber as alterações climáticas.
Está
previsto que o contrato para a instalação e funcionamento do Porto Espacial de
Santa Maria vá a concurso ainda este ano, para que a obra possa ser iniciada em
2022, estando o voo inaugural previsto para 2023, disse Ricardo Conde à Lusa em
abril.
Na
Glex Summit, o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel
Heitor, declarou que o “espaço transforma a economia” e que “fornece um
enquadramento único para novas ideias, novas formas de produzir materiais
avançados e desenvolver novos produtos”.
Portugal
está a “facilitar o acesso a todos os que queiram ir para o espaço para criar
novas ideias com impacto nas pessoas e nas nossas vidas diárias, desde a
agricultura de precisão, às pescas, ao controlo dos mares”, disse Manuel
Heitor.
“Não
há limites para a exploração espacial, para observar a terra e olhar para o
espaço exterior, fazer dele um laboratório”, concluiu. In “Mundo
Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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